Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 53
Desentendimentos


Notas iniciais do capítulo

Tá, esse é só para dar a sapatada mesmo hahahaha Amo vocês, juro. Boa leitura, mesmo que seja mais curtinho ♥



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    Voltei à exposição, fingindo que tudo ia bem. Meus pais nem pareciam ter notado que eu tinha dado uma leve sumida. Sorri, aliviada. Vi Nina olhando a peça que Lysandre tinha feito, que aliás tinha ficado bem melhor que a minha. Eu ia tentar falar com ela para dar um tempo, mas preferi deixar para Lysandre. Ele era melhor em lidar com sua fã do que eu.

    – A gente pode conversar? – Voltei ao meu corpo com a voz sedutora no meu ouvido. Suspirei. Eu tentei tanto correr dele, para ele estar ali pregado em mim, de novo. Virei-me, tentando aumentar um pouco a distância entre meu corpo e a cintura dele.

    – Olha, Dake, eu...

    – Vai ser rápido. Prometo. – Eu fiquei meio chocada ao ver que ele conseguia fazer uma cara que não envolvesse um sorriso daqueles de comercial de pasta de dente. – Por favor?

    – É, beleza. – E ele foi andando na direção do vestiário. Oh oh. Alarme vermelho. Continuei seguindo, mesmo que só para esclarecer que hoje não rolaria nada entre a gente. Ele aproveitou a distração lá fora e ficamos os dois dentro do vestiário masculino. – Dake...

    – Você mudou. Começou a fugir de mim do nada. Medo de mim, linda? – Proximidade alarmante. Há uns dois meses atrás eu estaria toda derretida, naquele momento eu só estava tensa. – Eu já comecei a sacar, relaxa que eu não mordo.

    – Dake, o que a gente teve foi legal, mas...

    – Apareceu outro, é? Quem é?

    – Eu. – Fechei os olhos, aproveitando para segurar os braços do Dake e empurrá-lo um pouco. – E você pode deixa-la em paz, por favor?

    – Ah, o cara da corrida. Calma, cara, não fiz nada.

    – E nem vai. – Complementei, só então reparando que Lysandre tinha vindo parar do meu lado, quase bufando de ódio. Ele assumiu uma pose bem mais firme frente ao suposto rival, com aquela carinha mal humorada.

    – É, eu entendi. Se qualquer dia precisar de uma ajuda, eu estou por ai. Vai que esse aí não dá conta.  

    Eu temi pela vida do Dake. Sinceramente, eu fiquei com medo de ter que apartar a briga, ainda mais vendo aquele sorriso debochado na cara de Dake. Eu segurei a manga de Lysandre numa mera tentativa de fazê-lo se acalmar, mas desencadeei foi outra coisa. Ele me puxou para si e praticamente atacou minha boca. Nesse ponto eu não posso nem reclamar, parece que a raiva acendeu um fogo nele que eu estava amando.

    – Já entendi, parceiro, fica frio. Anna, eu já dei meu recado, se precisar... – E me soprou um beijo, antes de sair. Segurei Lysandre de novo, suspirando. Ele me fitou, ainda meio irritado.

    – Sinceramente, esse sujeito...

    – Lys, relaxa, ele já foi.

    – Eu sei, mas...Me irrita saber que ele já teve a chance de encostar um dedo que fosse em você, quanto mais te beijar.

    – Não vai mais acontecer, é isso que importa. E você é bem melhor, sem agrados. – E era verdade. Dake podia ter aquela pegada de quem sabe que é bom de serviço, mas com Lysandre, ah, era bem diferente. Tinha todo o carinho, a consideração, o afeto...E a habilidade também, não por isso.

    – Sem agrados?

    – Uhum. A gente devia sair daqui, eu estou no vestiário masculino, afinal. E já devem anunciar quem vai ganhar. O seu ficou muito bom. – Sorri, ainda presa no abraço do tal beijo. Ele sorriu, segurando o meu rosto.

    – O seu também. Vamos.

    Eu saí na frente, disfarçando. Até porque eu não devia estar ali nem sozinha. Fui para o pátio, meu pai me procurando de longe. Fui até ele, sorrindo. Ele abriu um braço para me receber.

    – Seu trabalho ficou ótimo.

    – É, não foi o pior.

    – Não seja modesta, amor. Ficou lindo, eu tirei várias fotos.

    Ri da minha mãe, com o celular em mãos. Ela tinha sua noção de arte, mas não acredito que ela ia realmente ser honesta sobre aquilo. Deixei de lado. Ela voltou a olhar ao redor, dando palpites na tela de alguém. Acho que era a de Castiel. Ri. Ele bem que merecia uma crítica.

    – Com licença, senhorita. – A diretora me encontrou e pediu licença aos meus pais. – Você viu o senhor Savin?

    – Não, senhora. Quer ajuda para encontra-lo?

    – Seria bastante útil, senhorita. Obrigada. Se não for incomodo...

    – Eu vou procura-lo. Licença.

    A escola estava bastante vazia já que todos estavam esperando a tal premiação do lado de fora. Olhei rapidinho pelas salas, mas nada. Nos lugares de cada oficina, no grêmio e na sala dos professores. Nada. Decidi subir para o segundo andar, e dei sorte. Ele estava lá, olhando a janela no final do corredor. A que dava para a vista da cidade e não do pátio.

    – Patrick?

    – Anna, oi. Como vai?

    – Bem, o senhor?

    – É, foi um bom dia. Mais um na conta destes fios brancos.

    – A diretora está esperando para distribuir os prêmios.

    – Ah, claro. Esse prêmio. Não deixe que os outros saibam, mas acho algo bastante idiota. Motivar a arte com um objeto. Mata a alma da arte.

    – Eu entendo o que quer dizer. Se você não sente, sua obra não passa de algo vazio e sem mensagem. 

    – É, é isso. Mexe com algum tipo de arte? Já vi que escultura não é seu forte.

    – Eu não. Eu costumava tocar, mas parei faz um tempo. É minha mãe quem pinta nas horas vagas.

    – Entendi. Posso perguntar por que parou?

    – Eu não tinha mais o espírito.

    – Vamos, a diretora nos espera. – Encerrou-se o assunto. Ele deu aquele sorriso sutil dele e, com as mãos nas costas, desceu as escadas. Fui atrás dele, simplesmente para me juntar aos meus pais novamente.

    O pátio estava cheio. Meu pai era facilmente localizável pela altura, mas minha atenção parou em outro ponto notável. Lysandre. Ele estava sério, tenso, enquanto Nina continuava com a cara besta de sempre. Quis me aproximar, ficar no seu campo de visão só para certifica-lo de que ia ficar tudo bem. Ele me viu, mas logo voltou a falar com Nina. 

    – Nina, tem que parar. Eu não quero mais que perca sua vida me vigiando e querendo me agradar.

    – Mas eu não me importo, Lys. Eu gosto. Eu sei tudo de você.

    – É por isso mesmo, Nina.

    – Eu sei que você precisa de ajuda, seu pai nessa situação é complicado e...

    – Vigiou minha família? Você enlouqueceu?

    Opa. Perigo iminente. Pela primeira vez na vida vi Lysandre fechar a cara e começar a erguer a voz. E também inédita foi a hesitação de Nina. Comecei a me mover para perto dos dois, mas não tive tempo.

    – Agora chega. Você passou de qualquer limite, Nina. Sai daqui e não volta mais, a minha família e o que eu faço só diz respeito a mim. Anda.

    – Lys... – Não sei quem falou antes, se foi Nina ou eu, mas não importava. Menos de dois segundos que a menina tinha saído chorando, gritando como ele era mal e ingrato. Nesses dois segundos, Lysandre me encarou e foi tempo o suficiente para se arrepender. Ele saiu correndo, esbarrando nos outros, chamando a criança chorosa pela multidão.

    Corri atrás, óbvio. Naquele minuto o que eu menos me importava era com o que iam dizer. Eu tinha que ter certeza de que ia ficar tudo bem entre os dois. Afinal, Nina também não merecia ser tratada feito um cão sarnento só por ser levemente viciada nele.

    – Anna, onde...? Anna! – Nathaniel. Olhei para trás, só para ter a certeza de que ele realmente tinha vindo atrás de mim. Considerando o tanto que eu estava desesperada, ele devia ter imaginado algo de ruim comigo. Só que não foi comigo.

    – Nina, espera! ­– Por sorte ela tinha conseguido passar da metade da travessia da rua, ainda chorando. A voz de Lysandre só foi abafada pela buzina alta que soou por todo o quarteirão.

   – Lysandre! – Chamei-o, mas óbvio que ele não teve tempo. No mesmo momento que minha boca encerrou a palavra o som do corpo se chocando no asfalto há metros de distância e dos freios do carro simplesmente já tinham tomado conta do ar.

   Reparei que só não tinha pulado na cena junto pelo aperto firme no meu braço. Nathaniel, com certeza. Foi a voz dele quem gritou pedindo ajuda. A tal premiação no colégio parou, as pessoas se juntando para ver o que se passava. E eu só consegui ver a caminhonete imensa dando ré e fugindo de fininho. Quis me soltar e correr atrás dele, mas Nathaniel ainda me segurava. E Castiel passou voando do meu lado, indo parar de joelhos do lado do amigo desacordado.

   – Nath, ele fugiu...

   – Eu gravei a placa.

   – Ele precisa de socorro.

   – A escola toda parece já ter feito isso. Olha, fica tranquila, ok? – Tinha sangue. Mais sangue do que me fazia bem e mais do que eu gostaria de ver no rosto de traços firmes. Nath me virou, vendo o olhar vidrado em todo aquele líquido. – Olha para mim. Só para mim, obrigado. Ele vai ficar bem. Tudo bem?

   A sirene. Eu queria tanto me virar e ir lá ajudar Castiel ou os paramédicos, mas o que poderia fazer? Nathaniel pareceu aproveitar para me consolar, dizendo algo que meu cérebro parecia não assimilar tanto assim.

   – Quando Priya chegou, o dia que te encontrei no cemitério...Eu fiquei com tanto medo quanto você está, mas você está aqui. Lysandre estava lá, esperando por você. Eu acho que pode esperar também, ok? – Lysandre estava lá. Confesso que na minha memória só sobrara Nathaniel chorando no meu colo. Esperar. Eu podia fazer aquilo, certo? Ele ficaria bem, mesmo com uma pancada tão forte.

   – Anna. Eu estou indo para a loja do Leigh. – Rosalya. Nathaniel me soltou e deixou minha amiga me pegar, dizendo que ele avisaria meus pais do acontecido. E que eu estaria em casa ainda hoje. Concordei, era um ótimo acordo. Sai atrás de Rosalya, enquanto a ambulância já se dirigia ao hospital mais próximo.


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Notas finais do capítulo

Bjs, migos :3