A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 2
1.2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/665850/chapter/2

Aspen e a Ideia

Estou com os olhos fixos na lápide diante de mim. O ar está pesado, as nuvens carregadas de um cinza escuro assustador. Logo caíria uma tempestade daquelas, mas eu não fazia nenhum esforço para me levantar de seu túmulo.

Acariciei o mármore gélido, como se assim pudesse senti-la aqui comigo, mas essa sensação não veio. Solto a respiração lentamente pela a boca aberta, fechando meus olhos com força.

–Sinto sua falta, mãe.

Depois de mais alguns minutos, me ergo rapidamente e dou uma inspencionada ao meu redor, olhando para além das lápides sombrias que me cercavam. Do outro lado do portão uma menina mexia seus braços finos loucamente, gesticulando para que eu me aproximasse.

Acabo abrindo um sorriso genuíno ao vê-la. Me esgueiro pelo cemitério sempre bem limpo e cuidado até encontrar o lugar por onde eu havia entrado. Pulei o portão graciosamente, já estava acostumada a fazer aquilo.

–Você parece um menininho! -Reprovou Marlee enquanto franzia os lábios.

Dou de ombros e jogo meus cabelo para trás.

–O que você me trouxe? -Perguntei animada, quase dando pulos de emoção. Amava ganhar presentes.

Marlee sorriu tão animada quanto eu, mas fez charme.

–Quem disse que eu trouxe algo pra você hoje? -Retrucou enquanto engatava seu braço no meu e me puxava para o lado oposto do cemitério. Achei graça daquilo, ela era tão medrosa!

Quando chegamos na parada de ônibus, nos sentamos no banquinho de madeira velha que estava por ali. Observamos por alguns instantes enquanto gotas gordinhas e pesadas manchavam o asfalto e faziam barulho no metal acima de nós.

Marlee suspirou ao meu lado, então me virei para fitá-la e saber o motivo.

–Fiz chapinha hoje. -Explicou, mas sem tirar os olhos da chuva que ainda era fraca.

Dei uma risadinha, e recebi um cutucão em troca.

–É pra você. -Disse ao me entregar um embrulho de cor rosa choque. Meus olhos brilharam e meu sorriso alargou-se pelo o rosto inteiro.

Agradeci e peguei o pacote de suas mãos. Está muito bem lacrado, então tive certa dificuldade em abri-lo. O plástico duro escondia uma pequena caixa.

–O que é? -Perguntei, mas não esperei respostas. Ao abrir a caixa me deparei com uma foto nossa quando recém tínhamos nos conhecido. Há quase três anos atrás, apenas alguns meses depois de mamãe ter falecido. Junto com a foto, uma cartinha dizia que eu era sua melhor amiga e que a faculdade não iria nos separar...beberíamos café e fariamos nossos filhos serem amigos como nós. Ao final, ela me desejou feliz aniversário.

Me virei para ela, respirando fundo para não chorar. Havia feito um trato comigo mesma de que deixaria minhas lágrimas rolarem apenas quando fosse algo digno. Não que a amizade dela não fosse, mas não queria que me vissem chorando.

Marlee me abraçou forte, escondendo o rosto nos meus cabelos soltos.

–Feliz aniversário! -Quase berrou no meu ouvido. Começo a rir e me afasto para poder olhar em seus olhos.

–Você é incrível! E eu nunca vou me afastar de você, mesmo que você queira! -Eu digo com sinceridade.

Marlee, mantega derretida como sempre, permitiu que suas lágrimas caíssem, mas logo secou-as com a manga da blusa e respirou fundo.

–Hoje é um dia feliz, não vou chorar -murmurou mais para si mesma do que para mim. Depois, seus olhos se cravam nos meus. -Já sabe pra qual faculdade irá se matricular?

Suspirei e recostei as costas no banco, balançando as pernas enquanto pensava no assundo. Bom, não havia no que pensar, não pretendia fazer faculdade. Mas não diria isso para ela, sabia que faria drama e eu não queria isso.

Dei de ombros de novo. Marlee revirou os olhos, e então focou-os ao longe por alguns segundos, até que um sorriso surgiu em seu rosto.

–Você já tem 18 anos, cara! Nem tô acreditando, mês que vem sou eu! -Empolgou-se toda. Abri um sorrisinho amarelo.

Para mim, a cada ano que passava, era uma sentença de morte que se aproximava. A dolorosa lembraça de que anos atrás, meu pai me vendera para um tal de Lorde não sei das quantas.

–Se anime, America! -Exclamou ao me dar um tapinha no braço. A fitei bem no instante em que verificava seu relógio dourado e franzia o cenho.

–Por quê não pedimos para o motorista de seu pai vir nos buscar? -Indagou.

–Você sabe que evito tudo o que seja dele.

–Birra de criança -ela diz, frustrada por ter que esperar sabe-se lá quanto tempo até o nosso ônibus chegar.

–Você não entende.

Ela levantou-se e foi até o meio da rua com as mãos espalmadas em cima da cabeça, para ter uma visão previligiada. Quando voltou, seus olhos estavam atentos e curiosos, fincados no meu rosto.

–Então me explique.

Eu não podia, era humilhante demais. Suspirei pesado.

–É só birra mesmo -concordo, desviando o olhar, dando a entender que não queria mais tocar nesse assundo. Marlee não disse mais nada.

30 minutos mais tarde, pegávamos o busão lotado. Marlee dissera que chegaria atrasada na minha festa.

...

Quando entrei no meu quarto fechei a porta e me jogue em cima da cama de joelhos, para poder ter força de levantar o colchão e pegar as últimas cartas que Aspen havia me enviado. Então, me deitei de barriga para cima, sorrindo a toa enquanto lia e relia suas palavras, enquanto imaginava ver seu rosto mais uma vez.

E seria hoje.

Me sentei na cama com as pernas cruzadas, de repente muito nervosa. E se eu tivesse mudado? Será que ele ainda gostaria de mim?

Haviamos combinado de não usar de tecnologias para nos comunicarmos, apenas cartas (era mais emocionante). E tinha sido assim durante dois anos e pouco, assim que nos conhecemos no funeral de minha mãe. Aspen Leger é um primo distante da família e mora longe. Era o único que sabia do Contrato Nupcial que papai havia me envolvido.

E agora, nos veríamos pela a segunda vez, e agora completamente apaixonados um pelo o outro. Eu podia imaginar sua boca na minha, o sabor daquele beijo.

Comecei a rir sozinha e apertei o travesseiro de penas contra o peito. Papai havia insistido em trazer toda famíla para comemorar minha maior idade, no início eu teimei e disse que não queria. Mas no final, acabei percebendo que seria o momento ideal para ver Aspen.

Com o coração saltitante, comecei o processo para me arrumar. Geralmente me arrumava em trinta minutos no máximo, mas hoje a ocasião era especial.

Quando estava prestes a dar a última passada de rímel em meus cílios, May apareceu com os olhos brilhando de alegria e batendo palmas freneticamente.

–Você está linda, America! -Elogiu-me com um abraço. Ela vestia-se como uma verdadeira dama, vestido branco de tule e renda e sapatilhas brilhosas. A maquiagem era leve e nos cabelos fez babyliss.

–Você que está -eu digo, ao abraçá-la também.

–Papai está te esperando, os convidados já começaram a chegar.

Assenti com a cabeça firmemente, mas por dentro estava tão nervosa que não sabia se minhas pernas comportariam meu peso.

–Diga a ele que já estou indo.

May sorri mais uma vez antes de sair tão saltitante quanto quando havia entrado.

Me olhei no espelho mais uma vez. Um vestido longo e vermelho vivo, decotado nas costas e marcado na cintura. Com certeza meu pai acharia vulgar e ficaria chocado, e este era um dos objetivos da noite.

O outro era deixar Aspen com a boca aberta.

Desci as escadas calmamente, deslizando as mãos pelo o apoio para me manter firme. Vaguei os olhos pelo o salão de festas e fiquei surpresa em constatar que estava perfeito. As cores que eu gostava, a flores....tudo. Então me lembrei que tínhas dinheiro para dar uma festa dessas. Depois do contrato, tínhamos dinheiro para muitas coisas.

Balancei a cabeça vagamente, tentando não deixar que esse pensamento se fixasse na minha cabeça.

Não naquela noite.

Assim que meus pés encostaram no piso firme do salão, meu pai apareceu sorrindo. Mas assim que prestou mais atenção no que eu vestia, seu sorriso diminuiu até que se transformou em uma carranca. Agora foi minha vez de sorrir.

Eu estava preparada para ouvir um sermão, mas um rapaz apareceu para interromper. Ele estava mais alto, os cabelo negros caíam até a altura das orelhas e os olhos verdes me examinavam.

Olhei para baixo, corando.

–Como você cresceu! -Disse meu pai, ao passar os braços pelo o corpo forte do cara. Então, afastou-se e me contemplou: -Lembra-se dele, America? É Aspen!

Fiz que sim com a cabeça e mordi o lábio, tentando esconder o sorriso e o nervoso.

–Obrigado. -Aspen me olhou nos olhos e depois desviou para meu pai. -Não somente eu, pelo o que pude ver.

Papai soltou uma risada.

–Não mesmo.

Meu pai avistou o senador entrando no salão no mesmo momento que eu, então despediu-se de nós e se aproximou do senhor que já estava velho demais pra trabalhar... na minha opinião, né.

Foquei em Aspen novamente e fiz um gesto para que me seguisse até a parte de trás do jardim, estava vazio lá.

–America, você...

Não deixei com que concluísse a frase. Nos beijamos embaixo da minha árvore favorita, e eu tinha feito isso de propósito. Assim, toda vez que fosse para perto dela, lembraria do meu primeiro beijo com Aspen.

Quando estavámos quase sem ar, nos afastamos e eu me joguei em seu peito, abraçando-o forte.

–Isso é tão estranho! -Eu digo, com uma risada e um ar surpreso ao mesmo tempo.

–O quê?- Ele sussura em meu ouvido.

–Parece que sempre nos vimos, não consigo acreditar que faz dois anos que você não aparecia!

Ele riu.

–Sinto a mesma coisa.

Ficamos por um momento nesta posição, ninguém queria dizer nada para estragar o que construimos naquele momento, mas depois de alguns minutos ele pigarreou e se afastou de mim para poder olhar em meus olhos.

–Trouxe uma coisa que você me deu, e um presente para você.

De um lado do paletó azul escuro ele tirou uma rosa vermelha e deixou acima da minha orelha. Depois, pegou um pedaço de papel. Seus olhos corriam pelas as letras, me deixando ansiosa. Quando finalmente encontrou o que queria, ele me fitou com um sorriso aterrador nos lábios.

"Queria fugir com você. Se fosse com você, qualquer lugar bastaria." –Então dobrou a carta e a guardou novamente no bolso do paletó, com muito carinho.

Eu reconhecia aquelas palavras. Tinha escrito na minha última carta.

–Vamos, America?-Perguntou, a esperança particamente saía de seus poros.

Eu queria dizer que sim, mas não dava. Não por mim ou por meu pai, mas por May...vê-la tão feliz em seu vestido caríssimo hoje me fez parecer injusto tirar isso dela...ainda mais a esta altura do campeonato.

–Não dá- sussurrei.

Aspen se entristeceu um pouco, mas me abraçou. Ele era igualzinho como nas cartas, como na primeira vez em que nos vimos. Era como se tivessemos passado esse tempo todo juntos.

–Eu sei...nem deveria ter cogitado...

O cortei com um beijo rápido e estalado.

–Mas eu tenho uma ideia.

Ele ergueu as sobrancelhas e sorriu.

–Qual?

–Vou infernizar tanto a vida daquele mauricinho do Maxon, que ele vai querer se separar depois de uma semana de casados. Assim, o contrato seria rompido por ele e não por mim! Nossa família não pagaria nada se a decisão fosse dele.

Assim que as palavras sairam de minha boca, me dei conta de que era verdade. Aquele realmente era um bom plano.

Aspen me apertou contra si.

–Essa é a minha garota.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!