A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 3
2.0




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É Chegada a Hora

–Já chega, America! - Exclamou meu pai ao bater as mãos com força sobre a mesa, fazendo com que May desse um pulo na cadeira. Permaneci imóvel em meu lugar, a minha mandíbula estava trincada.

Tirei o guardanapo do colo e, me controlando muito para não jogá-lo em sua cara, o deixei em cima do meu prato quase vazio.

–Com licença. - Digo sem olhar diretamente em seus olhos, temendo que isso me fizesse desmoronar.

–Fique onde está. - Exigiu entre dentes. Obedeci. Por mais que repetisse que ele não era um pai de verdade pelo o que fez comigo, eu não conseguia deixar de considerá-lo de tal forma. O que apenas piorava a dor.

Me voltei de frente para ele, tomando cuidado para não dizer nada precipitado que pudesse acabar ferindo May.

Papai respirou fundo, claramente tentando manter a calma com a filha rebelde, a ovelha negra da família. Rá, como se eu não tivesse motivos para isso!

–O que está acontecendo com você? Esse seu comportamente revoltado, a mania de retrucar tudo o que eu digo... - Ele agora desliza a mão pelo o rosto suado. - Mereço respeito, sou sei pai, oras!

Lhe lancei um olhar feroz. Ele não dissera aquilo. Balancei a cabeça devagar, sentindo o sangue subindo pela a minha cabeça, mas me mantive quieta por alguns segundos e então respondi:

–Você sabe muito bem o motivo. - Falo, querendo soar firme e raivosa, mas a notinha magoada ficou explícita. Meu pai percebeu e emudeceu por um breve momento, e quando voltou a falar, sua voz era mais gentil.

–Pensei que você tivesse compreendido a importância disso, que com o termpo, America, você pudesse ver que tudo o que tenho feito é para o nosso bem.

Respiro fundo para disfarçar minha respiração ofegante. O encaro.

–Tudo bem. - Murmuro secamente. Meu pai escora-se na cadeira e suspira.

–Você tem a tendência em fazer tempestade em copo d'água, e quando estiver em Londres irá perceber do que estou falando. - Ele gesticulou para a cadeira em que estivera minutos antes. - Sente-se e vamos terminar o jantar em paz. - Concluiu, parecendo cansado.

Permaneço de pé, e quando tenho certeza de que minha voz soaria firme, respondi:

–Já terminei e estou cansada, vou dormir um pouco. Amanhã será um grande dia, não é? - Meus olhos fixaram-se nos dele e então parti rumo ao meu quarto.

Vesti minha camisola e me sentei na beirada da cama. Tentava a todo custo não chorar, mas a cada segundo que se passava a tarefa se tornava mais difícil. Quando escuto uma batidinha fraca e hesitante na porta digo para minha irmã entrar. Sabia que seria ela, May não iria conseguir dormir sem antes saber como eu estava. Ela ainda usava a roupa do jantar e caminhou de cabeça baixa até sentar-se ao meu lado. Envolvi seus ombros com meu braço e repousei meu queixo no alto de sua cabeça.

–Daqui a dois dias será seu aniversário de 21 anos. - May diz de repente. Meu coração se aperta dentro do peito, mas não respondo, então ela continua: - Você vai tá longe de mim e do pai...e isso é tão injusto! - Choramingou.

Solto um suspiro pesado. Você nem imagina o quanto, May.

–Voltarei logo e então passaremos juntas todos os meus aniversários até o fim de nossas vidas. - Eu digo ao afastá-la um pouco de mim. May ainda mantinha os olhos baixos.

–Você promete? - Agora seus olhos esverdeados encaram os meus. Abro um sorriso cúmplice.

–Prometo. - Falo e ergo o dedo minguinho.

–Isso é tão de criança. - Retruca ela, mas ergue seu minguinho e enlaça-o no meu, e então sorrimos uma para a outra, agarrando-nos à esperança de minhas palavras.

Quando estava sozinha novamente no quarto, deitada confortavelmente em minha cama, comecei a pensar sobre o motivo que causou o estresse com o papai na hora do jantar.

Meu estômago embrulhou.

Amanhã será o início do meu purgatório. Viajar rumo a um país desconhecido, me encontrar com um desconhecido, para uma vida desconhecida que me esperava.

Me levantei num rompante, me sentindo ansiosa e nervosa. Lavei meu rosto com a água fresca da torneira no banheiro, quando terminei de me secar na toalha branca recém trocada e limpa, peguei um punhado de papeis da última gaveta do roupeiro e sentei-me na cadeira de estofado rosa, de frente para a mesa da escrivaninha.

A única coisa de bom nisso tudo era que ficaria mais perto de Aspen, mesmo não podendo vê-lo durante minha estadia na casa dos Schreave. Ao menos estaríamos no mesmo país.

"Querido Aspen

Amanhã bem cedo pegarei um avião rumo a Londres. Fico feliz porque estaremos mais próximos do que nunca, mas minha infelicidade é latente. Não consigo parar de pensar em como minha vida irá se transformar em um caos, enquanto tudo o que eu queria era ficar com você, me casar e ter filhos com você. Mas tenho fé em Deus de que tudo isso passará o mais rápido possível, você sabe...sou uma pestinha quando quero. Maxon não irá me suportar por muito tempo.

Fique sabendo que eu te amo muito, muito mesmo.

Com amor,

America Singer."

Dobrei a carta ao meio e a enfiei dentro de um envelope. Peguei o meu perfume predileto e burrifei algumas gotas dentro no papel.

Suspirei e desci as escadas devagar, dobrei o corredor em direção à cozinha e então virei para a esquerda, onde Anne dormia quando não estava de folga.

Bati fraquinho algumas vezes, me sentindo culpada por acordá-la, mas ansiosa demais para esperar até amanhã. Houve um barulho de dentro do quarto e de repente uma mulher de uns 51 anos abre a porta. Quando percebe que sou eu, ela sorri.

–America, o que está fazendo aqui à essa hora? - Perguntou, mas sem nenhum indício de raiva na voz ou no rosto.

Ergui a carta que segurava junto ao peito e suspirei baixinho.

–Vou enviar, não se preocupe. - Diz ela sem precisar de explicação, afinal, quantas vezes já tinha feito isso? Perdi até as contas.

A abracei forte e beijei-lhe a testa.

–Vou sentir sua falta. - Murmuro enquanto puxava fiozinhos de minha camisola.

Anne assentiu. Ela não era muito demonstrativa com suas afeições, mas comigo e May era diferente. Mesmo nunca tendo dito que nos amava, ficava óbvio para nós três que ela faria qualquer coisa por nós.

–Você logo vai voltar. - Disse ao me abraçar novamente.

–Assim espero, Anne. Assim espero.

...

Estou desembarcando com uma bolsa enorme e uma mala de rodinha, levara o básico. O aeroporto está tumultuado e eu preciso ficar quase na ponta dos pés para poder enxergar direito. Assim que as pessoas se dispersaram um pouco, pude finalmente dar uma bela olhada no pessoal que segurava plaquinhas com nomes, quase todos sorrindo.

Imagine que Aspen faria isso comigo, mesmo já me conhecendo. Me peguei sorrindo disso, mas logo meu sorriso esmaeceu. Ali, com uma placa branca com um America Singer pintado de vermelho, está um senhor extremamente sério, vestido como motorisma, ao que parece.

Nossa, mandaram o motorista sozinho vir me buscar! Será que isso era um sinal de como eu seria tratada naquela casa?

Marchei pisando forte no chão, o rosto empinado.

–Sou a America. - Digo ao ficar diante do homem.

Ele me olha de alto abaixo e faz um gesto para pegar a minha bolsa.

–Não precisa...obrigada.

–Sou o Eduardo, e serei o seu motorista até a sua nova casa.

Engoli em seco e respirei fundo, fechando os olhos por alguns segundos.

–Pois então, Eduardo, vamos.

O carro era enorme, a cidade era linda. O carro mantinha uma velocidade mais baixa do que a que eu estou acostumada, e me perguntei se era porquê é costume por aqui, ou se Eduardo era mais gentil do que parecia e queria que eu aproveitasse a vista da minha nova cidade.

Ao passar pelo o portão automático e seguir pelo o caminho sinuoso e cheio de curvas em direção à casa do Lorde, me dei conta de que havia sido um erro demininá-la de casa.

Era uma mansão! Por mais que eu estivesse acostumada a ver casas luxuosas, até mesmo a minha era, eu não imaginava ver algo assim. É extravagante, imponente, cheia de janelas enormes, e deve ter muitos cômodos.

Quando entramos dentro da casa, digo mansão, não havia ninguém para me receber. O que era bom, eu acho.

Uma mulher de uns trinta e poucos anos entrou, vestindo um terno elegante e feminino, sorrindo para mim ao estender sua mão. A peguei e dei um breve balançar.

–Sou Silvia, a governanta.

–America, mas acredito que você já sabia da minha vinda.

Silvia alargou mais o seu sorriso e concordou com a cabeça.

–Claro, todos os empregados já estão cientes. Vou lhe mostrar seu quarto, e se precisar de qualquer coisa é só me chamar com este Walktalk. – Diz ela ao me entregar um pequeno aparelho.

–Tudo bem.

Ela fez um sinal para que eu a seguisse, e assim eu fiz. Subimos uma escada enorme para o segundo andar, quando começamos a andar pelo o corredor gigante, Silvia parou diante da quarta porta. Sua mão pousou em cima da maçaneta, mas não abriu a porta.

Seus olhos escuros focaram-se no meu rosto, e sua expressão sugeria que pedia desculpas.

–Senhorita America, sinto em informar que a família Schreave não poderá cumprimentá-la por enquanto, houve um problema. Se preferir, o almoço poderá ser servido no quarto.

Fiz um gesto com as mãos e lhe abri um sorriso autêntico e tranquilo.

–Mas não precisa se preocupar, no jantar todos se reunirão para vê-la. - Silvia abriu a porta, mas eu ainda absorvia suas palavras. Meu coração acelerou e meu estômago se contorceu.

– Seu quarto, senhorita. - Murmurou quando não me movi para entrar.

–Ah, sim, obrigada.

Dei um passo para dentro do quarto, mas Silvia não me seguiu. Olhei para ela, mas a mulher já se afastava.

–Precisando de qualquer coisa é só me chamar pelo o walktalk. Seu almoço será servido dentro de minutos. Até logo, senhorita.

E saiu apressada, parecia que tinha muito o que fazer.

Fechei a porta e fiquei olhando para a madeira chique e pintada de branco dela.

Vou dormir e quando acordar estarei livre desse pesadelo, disse para mim mesma diversas vezes.

Mas eu não era infantil o suficiente para acreditar nisso, infelizmente.


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Notas finais do capítulo

Comentários...alguém lendo? Alo alo alo hahahah