Herdeiro Imperfeito escrita por My Dark Side


Capítulo 4
Dança


Notas iniciais do capítulo

Eu sou uma pessoa que não sabe cumprir horários, como devem ter percebido...
Eu tentei escrever o capítulo para quarta, não deu. Sexta? Fim de semana? Sinto muito, eu fiquei sem saber como começar e terminar esse.

Bem vindos novos leitores e um obrigada pelos comentários!

Nós vamos ver um outro lado da Gina hoje (ela se tornou a minha personagem feminina favorita) e um pouco mais sobre o príncipe!

Vejo vocês nas Notas Finais!



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— E um dois três, um dois três. Isso, muito bem. Vocês guiam as damas, girem-nas com delicadeza. — vi o instrutor balançar pensando na canção. — É uma valsa, tem que ser esplêndida!

Olhei para a Ginevra, ela deu de ombros. Para a aula de dança chamaram as criadas mais experientes, e tive a sorte de ter a minha própria como parceira. Sozinho, nunca passaria pela minha cabeça que ela possuía já uma longa estadia no palácio, constrangia-se tão facilmente...

— Você está muito rígido. — ela comentou banalmente.

Rígido? Uma piada de certo, eu nunca dancei com uma garota na minha vida! Parte do motivo se dá ao ter estudado sozinho, com a minha avó, às vezes meus pais ajudavam. Nunca tive que convidar uma menina para dançar sem que fosse a minha prima — que tem apenas sete anos.

— Se continuar desse jeito vai espantar todas as duquesas, condessas, princesas... E outras realezas. — a menina soltou um riso fraco. — O baile de aniversário do rei é importante.

Isso quase todos os selecionados esqueceram até o nosso tutor falar — quem descobrir não ser o Pablo, estava bom demais para ser verdade. O homem se afastou durante os primeiros dias por causa de um problema de saúde e deixou tudo nas mãos do sobrinho aprendiz.

Seria eu uma pessoa horrível para desejar que ele se ausentasse novamente?

— A família real italiana está vindo, assim como a francesa. E outros grandes aliados de Illéa.

— Se sua intenção é me fazer relaxar com a conversa, temo que esteja tendo o efeito contrário.

O silêncio permaneceu por mais alguns minutos até o professor fazer a rotação, para dar a chance de todos os selecionados aprenderem a dançar.

O incrível é que tinham uns rapazes que dançavam tão bem que meu queixo quase caiu. E eu repito: quase. Isso me fez observar melhor o tipo físico deles, e uau. Sério, dançarinos são incríveis, principalmente se você olhar nos ângulos certos... É uma ida para o paraíso.

Bom, voltando deste breve momento ‘caçando alvos’, eu preciso prestar atenção, senão algum fofoqueiro vai contar para o príncipe que eu tento agarrar todos os rapazes com o olhar. O que não é mentira, mas vossa alteza não precisa ter conhecimento de que eu prefiro muito mais os guardas — e selecionados.

— Você já teve um encontro com o príncipe?

— Ainda não, e você? — respondi sem interesse, ter ou não um encontro não era minha prioridade no momento...

— Também não... Ele convidou o meu primo, mas...

— Seu primo? — interrompi virando a cabeça rápido. — Seu primo está aqui? Vocês dois foram escolhidos? Como...

— Ele vive em uma província diferente e nós somos pouco parecidos. — ele deu de ombros. — Leo vive em Bonita e eu vivo em Panamá.

Já é complicado quando você compete apenas por si, com família? Imagine! Se em competisse contra alguém da mi...

Bom, isso se tivesse alguém.

Meus olhos capturaram um flash de cores que me fez virar a cabeça a tempo de ver um dos selecionados e Ginevra indo ao chão.

Ele era... de Sumner, talvez? Seu nome apitou na minha cabeça como um alarme, e senti-me mal por ele ter sido escolhido para dançar com ela. Jean era tão forte quanto Cherles, muito alto e corpulento, tinha força bruta e parecia não conhecer as palavras ‘delicadeza’ e ‘gentileza’.

— Deixe-me ajuda-la, senhorita. — aproximei-me.

— Esta inútil tropeçou nos próprios pés e nos levou ao chão. — ela inspirou fundo com a declaração dele, abri a boca para falar algo, mas ela apenas apoiou a mão no meu ombro e me calou com um olhar.

Sério, quando aquela criatura tímida que mal falava podia ter tanta intensidade?

— Senhor, peço desculpas. Apesar das leis físicas deixarem claro que por sua massa muscular e sua estrutura, vir ao chão por um erro meu é um equívoco. Assumir o erro é uma qualidade nobre. — ele parecia pronto para interromper quando ela continuou, surpreendentemente. — Tropeçou e escorregou na minha saia, ela é uma réplica dos vestidos normalmente usados por nossas senhoritas em bailes, por isso deve tomar cuidado. — ela se curvou e saiu.

Cocei a cabeça, um pouco aturdido. Ela tinha todas essas palavras na ponta da língua? Não é possível... Na maioria das vezes eu só encontro o que eu realmente queria dizer horas depois, quase quando um dia já se passara.

A maioria dos selecionados nem notara a confusão, mesmo com o som da queda, pareciam absortos demais olhando para os próprios pés tentando acertar os movimentos. Cherles e Zeno conversavam, Thomas já estava distraído observando Leo; Ethan, Evan e Henrique cochichavam...

— Hey, o que aconteceu aqui? — Higor se aproximou com passos rápidos. — Eu só vi a sua criada deixando o salão com uma expressão bem irritada.

— Ginevra? Irritada? — eu não conseguia fazer a conexão entre as duas palavras.

— Ultrajada, ela parecia mais intimidadora que a Vilinne. — ele passou a mão pelo cabelo crespo, tirando-o dos olhos.

— Quem é Viviane?

— Villiane. — corrigiu. — É a chefe ou monitora, você deve ter visto ela no primeiro dia. Alta, beleza bruta, loira com olhos claros...

— Aquela que tem cílios ruivos? — ele parou por um momento e me encarou, piscando repetidas vezes absorvendo a pergunta.

— Você prestou atenção nos cílios dela? — depois de quase um minuto ele perguntou, torci os lábios, desviando o rosto. — Como assim você prestou atenção nos cílios da mulher? Eu não ia notar de qualquer jeito por causa... esquece.

Ele realmente parecia achar que eu tinha problemas.

Hum... Agora me pergunto se vai ter algum baile a fantasia durante a minha estadia, porque Halloween é apenas em outubro, e estamos em junho ainda, pelo menos teremos a Festa de Gratidão.

Quais serão as nossas tarefas depois? Eu acho que teremos uma aula de história, já que não podemos ter contato com “trabalhos de príncipe” até chegarmos na Elite, e ainda faltam... Dezenove eliminações para acontecer.

— E então? — Higor perguntou inclinando a cabeça na minha direção.

— Então o que? — franzi as sobrancelhas e ele suspirou. — Oi? Você estava falando comigo?

— Estava sim, mas deixa para lá. Agora são as valsas entre os selecionados.

— Como é...? — ele me empurrou na direção da pista e alguém já me puxou como par.

— E aí, lindeza, como está a sua semana?

Arqueei as sobrancelhas e sorri, claramente e visivelmente irritado com o apelido.

— Eu estava tentando falar com você já tem um tempo... Você conseguiu se tornar amigo do Sas, e acho isso incrível. Que língua você fala com o poliglota?

— Não sou sua ‘lindeza’, minha semana estava ótima. E acho que minha relação com esse tal de ‘Sas’ não é da sua conta, certo? — respondi depois de alguns segundos.

Ele soltou os dedos da minha cintura, empurrando-me levemente para fazer um giro.

— Em nenhum momento disse que você era meu, lindeza. — não consegui associar suas feições a nenhuma das fotos dos selecionados antes da transformação. — ‘Sas’ é o Alexie. E pela sua cara confusa, eu sou um selecionado, só que a minha transformação foi tão pesada quanto a sua.

— Eu falo alemão com ele, e você?

— Francês é minha segunda língua. — percebi que ele conduzia e o deixei fazê-lo, seria uma perda de tempo trocar as posições. — Ry, o que acha do príncipe? — ele inclinou a cabeça na direção da porta, só assim percebi quem nos observava na tentativa de uma dança.

— Bonito, charmoso, gentil. — sorri recordando do dia em que minha pessoa atrapalhada tropeçou e recebeu aquele sorriso junto de uma ajuda. — Centrado.

— Focado? Interessante... Acho que já ganhou alguns pontos com ele então. — ele se aproximou e sussurrou na minha orelha. — Comigo também.

Separei os lábios em choque e o encarei, minha boca tremia querendo dizer algo, mas não aconteceu, as palavras não vinham.

Aquele baixinho era petulante.

Ele tinha alguns centímetros a menos, o que fazia ele ter de se levantar na ponta dos pés para falar no meu ouvido, e ainda assim ele tem essa atitude? Como é que ele...

— Hora de trocar de pares. — ele assoviou chamando a atenção de alguém. — Até mais, lindeza.

Senti mãos firmes me segurarem, mas ao contrário do que eu esperava, automaticamente ele colocou as mãos no meu pescoço, deslizando uma para meu ombro e outra para a minha mão.

— Olá, Ryan. Gosta dessa aula? Por que eu estou amando ela. — ele falou colocando ênfase no fato de ‘amar’. — Não estou sendo irônico, eu realmente gosto de dançar. Os movimentos fluem como um simples respirar, talvez isso se dê ao fato de minha mãe ser encantada por esse tipo de arte. — Zeno pausou, respirando e percebi a estranha cor de seus olhos, um azul esverdeado, ou seria um verde azulado? — Cherles contou o motivo de estar tão estressado no avião, e agora somos bons amigos. Gostaria de fazer o mesmo com você, mas você parece evitar fazer contato.

Ele girou, nesse momento eu percebi: eu não estava guiando. Olhei para os lados, nós estávamos no oposto do salão. Quando andamos tudo isso?

— Se você quer guiar, eu posso te deixar, mas preste atenção.

Estaquei, o controle que ele tinha se dissipou, e senti o peso de ser um líder.

Ele esperou, paciente, até eu começar a dar os primeiros passos, hesitante. Para me distrair ele começou a tagarelar, ainda assim nós estávamos lentos e meus movimentos eram rígidos. Acho que a profecia de Ginevra vai se concretizar: vou espantar as donzelas.

Zeno colocou a cabeça no meu ombro, eu não sabia que podia ficar mais rígido até aquele momento.

— Você já teve algum amigo? Já viveu com alguém que não fosse da sua família? Lutou pelos seus objetivos pelo menos uma vez ou se deixou levar pela correnteza?

Subitamente ele se afastou para outro lado do salão.

Eu... eu nunca...

Senti meus olhos formigarem, sacudi a cabeça e segui os outros, todos estavam enfileirados na frente do príncipe. Fiquei com a cabeça baixa, não queria vê-lo, eu estava envergonhado — não por ele, óbvio. As palavras de Zeno foram mais verdadeiras do que ele deveria pensar que eram.

— Senhor... Wain? Poderia me acompanhar?

Levantei os olhos, ele estava com o braço estendido para eu segurá-lo, e em poucos passos nos afastamos do salão.

— A semana parece um pouco atolada. — ele riu consigo mesmo. — Gostaria de ter um dia livro apenas para conhece-los bem, mas as obrigações e relatórios me afastam dos meus desejos.

Foram poucos minutos em que ele conversou sozinho, sem questionar, pedir opinião, apenas falando, e sua voz era confortadora. A sensação era parecida com... Minha mãe. É, quando eu era pequeno e minha mãe me abraçava e ficava contando histórias e memórias para me acalmar, distrair e mostrar o amor de mãe.

Genuinamente ele se preocupava conosco, isso é incrível.

— Eu gosto de música, minha voz é terrível, o que faz eu invejar quem tem esse dom. Os instrumentos têm cada um, sua peculiaridade, sua emoção. Uma orquestra simplesmente parece envolver todo o coração, dançar com sua alma. Isso é outra coisa que eu simplesmente detesto: dançar. É lindo assistir, eu aprecio ver a flexibilidade e delicadeza dos movimentos. Dança e música são um casal perfeito. Infelizmente, eu tenho esse problema: uma perna de pau. Tropeço com facilidade e não sei fazer giros. Lembro-me de uma vez que derrubei a professora do palanque, a substituta torceu o tornozelo e a criada caiu no chão e eu fui em cima dela. Simplesmente constrangedor.

Nós não estávamos mais com os braços entrelaçados, ele gesticulava com as mãos, enfatizando algumas partes exageradamente. Já tinha aberto o blazer e afrouxado a gravata, o que me fez indagar se ele tinha esse mesmo hábito com todos.

— Particularmente, eu nunca vi muitas coisas grandiosas. As danças foram apenas com a minha prima, eu fico parecendo uma armadura quando danço com alguém. A minha criada disse que eu vou...

— ‘Vai espantar todas as duquesas, condessas, princesas... E outras realezas’? — ele arqueou as sobrancelhas, sorrindo. — Gina sempre fala isso quando me dá aulas, ela é requisitada como substituta da substituta devido a minha incrível habilidade em estragar o ‘momento perfeito’.

Como um sorriso pode transformar uma pessoa, isso é incrível. O gelo dos olhos se partiu e o fogo se abrandou; o que antes era uma incrível beleza mortal se tornou uma beleza invernal. Como as folhas de bordo no outono e o gelo do inverno, chocolate quente também.

— Você pareceu muito embaraçado com o Zeno.

— Ele tem o dom de conduzir sem que você perceba. — murmurei.

— Realmente! Ele me conduziu, sendo que fingia ser a menina. Eu achei isso incrível. — suspirou. — É uma pena que a maioria o veja... — ele balançou levemente a cabeça negando a ideia.

O príncipe ri, ele é gentil, sabe se divertir. Ele tem defeitos e talentos, ele é humano como todos nós, por que demorei tanto a perceber isso?

— Agora deixe-me perguntar uma coisa um tanto quanto pessoal, cavalheiro. — nós paramos na entrada de um novo salão. — Se pudesse se perder em um mundo, em qual seria?

Um mundo? Isso é um tanto confuso...

Perder-me em um mundo de folhas, flores, inverno e outono. Deixar as poucas cores do verão e primavera colorirem o meu dia, esquecer-me de quem sou e quem deveria ser. Não me importar com as pessoas ao redor, não ter problemas, ser apenas eu e o mundo...

— Eu ficaria privilegiado de me perder no mundo das cores, alteza.

— Pois bem, então espero que o faça. — terminou, abrindo a porta e tirando toda a razão da minha mente.

Abismado.

Perplexo.

Maravilhado.


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Notas finais do capítulo

Vamos começar as 'apostas'?

Quais são os shipps que vocês já formaram? O que acham que tem nesse quarto?
Eu quero saber, estou curiosa, porque eu já formei shipps impossíveis na minha cabeça.

A história vai ser dividida em três partes, e vocês saberão quando aparecer um banner novo.
Estou pensando também em mudar conforme... Vocês têm algum em mente? Deem uma pequena lista sobre os possíveis selecionados que vocês gostariam de ver o ponto de vista, por favor.



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