Herdeiro Imperfeito escrita por My Dark Side


Capítulo 3
Entrevista


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindos os novos leitores!

Hoje eu vou apresentar (finalmente) o príncipe! Feliz, não é? Sem falar que nós teremos mais alguns selecionados e os membros da família real!



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— Senhor Wain, levante-se. — peguei o travesseiro e coloquei minha cabeça embaixo dele. — Senhor Wain, isso não é aceitável.

Alguém abriu as cortinas ao mesmo tempo que arrancaram o travesseiro da minha cabeça, me fazendo rolar para o lado e cair da cama.

— Por que? — reclamei com os olhos quase fechados, percebi Olivia cobrindo a boca.

— A entrevista com o príncipe é agora de manhã. — Jean olhou para a minha escrivaninha. — Vejo que já começou a usar os materiais que separamos para o senhor. Agora falta comportar-se de acordo.

Eu não sei se os meus ajudantes são exagerados, mas eu fui o terceiro a chegar no saguão, ainda bocejando do sono precário. Eu não deveria ter começado a desenhar, por causa disso eu fui dormir passando das duas horas da manhã.

Alex já estava lá embaixo, conversando com Higor, que parecia tentar ensinar o básico do inglês para que ao menos o cumprimento saísse de acordo. Comecei a andar ao redor, tentando absorver a maioria dos detalhes para o desenho que faria após o café da manhã. O chão era de mármore e fazia os passos ecoarem, as paredes tinham cores claras, com detalhes em dourado. Haviam mesas com jarros de flores enfeitando e dando um aroma natural ao palácio.

— Agora que todos estão aqui, acompanhem-me ao salão dos homens. O príncipe gosta de pontualidade, e todos já estão atrasados. — Pablo segurou a prancheta junto ao corpo e virou as costas.

Bufei e corri para acompanhar seus passos, assim como os outros. Ele não estava errado, no entanto, quando disse que o príncipe já se encontrava no salão, a nossa espera.

Eu consegui segurar, mas outros poucos realmente suspiraram ao vê-lo. O príncipe se levantou e fez uma mesura.

— Espero que a noite tenha sido agradável. — os olhos cor de gelo fitaram cada um individualmente. — Gostaria de conversar com todos, mas o café da manhã nos espera e prometo que serei breve nesta entrevista. — ele esticou a mão na direção para o primeiro da fila, convidando-o a se aproximar.

Eu estranhei a falta do simplório ‘Sejam bem-vindos’, então creio que a noite não tenha sido muito agradável. Talvez ele estivesse tenso, ou algo do tipo. Quem sabe ele não estava sonhando com dragões? Dragões loiros que usam roupas de empregada e tentam sequestrar o camponês que é o amor da sua vida.

Eu acho que esse foi o meu sonho. Por que será que eu sonhei com isso mesmo? Eu queria me lembrar...

— Jovem, está gostando do palácio?

— Eu nunca imaginei que as coisas poderiam ser assim. É real. — o menino ao meu lado falou, e prestei atenção na sua resposta. — Parece um sonho. Veja todos estes detalhes, as decorações... é simplesmente incrível.

— Obrigada pela sua resposta, agora vamos ao próximo... Senhor?

— Wain. — completei com um sorriso e inclinando a cabeça. — Qual é a sua pergunta, donzela? — o modo como a chamei a fez corar, e o câmera riu.

— O que acha do príncipe? Poderia dar uma descrição breve de vossa alteza? — ajeitei minha postura e cruzei as pernas.

— Apenas posso dar a descrição física, já que a personalidade verdadeira ainda me é desconhecida. — a entrevistadora arqueou as sobrancelhas. — Uma lâmina forjada pelo melhor dos ferreiros. Seus olhos são afiados como uma espada, mas se adquiríssemos a cor, eles seriam estalactites. Perfurando a alma e exigindo a verdade. Já seu cabelo é o fogo das queimadas, aquelas que acontecem naturalmente quando o ar é seco demais e a fagulha se acende de surpresa. Duas palavras para descreve-lo seriam: beleza mortífera.

A entrevistadora demorou alguns segundos para conseguir me agradecer e ir para o próximo. Passaram-se mais quinze minutos para que eu fosse chamado e me sentasse em frente a vossa alteza.

E ele fazia jus as palavras que usei para descrevê-lo, talvez o fato dele parecer tão fatal, tão inalcançável, fosse o principal motivo para eu aceitar me inscrever.

— Senhor Ryan Wain.

— Vossa alteza. — fiz uma mesura. — É um prazer lhe conhecer.

— O mesmo. — sua voz era... macia, não era possível fazer a distinção entre grave e agudo. — Conte-me, o que faz?

— Sou um artista, senhor. Gosto de traduzir com traços, rabiscos e cores o que vejo com meus olhos. Alguns usam palavras para se expressar, gosto das manchas que se transformam em algo belo. — respondi e expliquei.

— O que gosta de fazer além de pintar? — ele apoiou o queixo na mão e me estudou, como se eu fosse uma espécime desconhecida.

— Brincar com a minha família. Nós passamos nossas poucas tardes livres entretidos com jogos de tabuleiro, menos quando minha prima está em casa. Ela faz da casa um palácio ou mansão e cria obstáculos e faz todos participarem. — fitei o teto, relembrando o desespero quando as brincadeiras começavam.

— Quantos anos ela tem?

— Sete, ela é um tesouro. — suspirei. — Que é mais forte que muitos por aqui. — murmurei, mais para mim do que para o príncipe.

Quando olhei para o príncipe, ele estava com a cabeça tombada e os olhos pareciam fitar uma imagem em sua mente.

— Obrigado pela entrevista. — ele se levantou, repeti o gesto, fiz uma mesura e andei para perto dos outros. — Aqueles que pedi para me acompanharem, por favor. — se dirigiu para a porta, junto de um grupo de seis ou sete.

— Aqueles que permanecem, podem me seguir para a sala de jantar. — Pablo ajeitou os óculos. — Sentem-se onde estão seus nomes. E vocês tem de reverenciar todas as vezes que virem um membro da família real.

Entramos em duplas, para não sermos tão desorganizados, depois de cumprimentar tanto o rei quanto a rainha, nos sentamos. Eu estava ao lado de um homem negro, seu nome era... Henrique, acho que é isso.

— Onde eles estão? — perguntei apontando para a cadeira que estava na minha frente e ao meu lado.

— Provavelmente foram dispensados. Eliminados. Menos a cadeira do seu lado, ela não tem um nome.

Olhei para a direita novamente, e percebi que era verdade. Coisa curiosa...

— Desculpa a demora, senhores. — o príncipe entrou, preparei-me para levantar, mas ele dispensou o costume com um gesto. — Eu quem deveria ter chegado mais cedo, perdoem. Bom dia, mãe. — ele beijou a bochecha da rainha e apoiou a mão no ombro do pai, sentando-se m seguida. — Onde estão as minhas irmãs?

Um trompete começou a tocar e fez todos endireitarem a postura e procurarem a origem do som. A porta estava entreaberta e por ela duas meninas idênticas entraram; as reconheci de outros eventos, e por vê-las todas as sextas durante o Jornal Oficial.

As princesas, irmãs gêmeas do príncipe. Elas usavam vestidos iguais, que um pouco acima dos tornozelos e rodados, a cor amarela deixava-as com um ar alegre, e os trompetes estavam em suas mãos.

— Patia, acho que nós estamos atrasadas. — a menina com coroa de tranças comentou, se aproximando e puxando uma cadeira da nossa mesa para sentar-se conosco.

— Dari, você tem que perceber que os convidados chegam cedo, as anfitriãs nunca se atrasam. — a outra se sentou ao meu lado. — Lembra-se daquele filme antigo que vimos? Não é simplesmente fabulosa essa frase?

— É verdade, temos que fazer outra sessão de cinema assim que a... Você está babando. — ela apontou para um garoto sentado perto da cabeceira, ele passou a mão no queixo tão rápido que eu não pude ver se era verdade ou não.

— Voltem a comer, nós apenas nos sentamos. Nossa beleza é estonteante, não paralisante.

Eu nunca imaginei que as princesas seriam tão... tão... assim.

Deixei de prestar atenção nelas para experimentar o buffet na minha frente, tinham tantas tortas e tantos tipos de pães que até ficava perdido. Alguns pães eram tão macios que se desfaziam na boca, enquanto as tortas derretiam e me levavam para o paraíso. Sem falar que o suco de frutas tinha um sabor exótico, natural.

— Vejo que estão aproveitando a comida... Pergunto-me como tais jovens conseguem estes corpos se comem como buracos negros.

— Sinto inveja, porque eu amaria fazer o mesmo.

Hipátia e Adarie, caçulas da família real, tinham os mesmos olhos do rei, um castanho azulado raro e cílios loiros longos, que se destacavam com o cabelo volumoso e loiro, alguns tons mais escuros que o de minha prima. Apenas o tom oliva da pele delas era uma clara herança da rainha.

— Por que não poderiam?

— Não se fazem vestidos do dia para a noite. — deu de ombros.

Percebi um mordomo se aproximando do o príncipe e pegando um pedaço de papel. Será que os encontros já começariam hoje? Ou será que era apenas uma ordem escrita? Maldita curiosidade...

— Nós devíamos ir para o ateliê depois, terminar as nossas telas. — essa frase chamou minha atenção, sorri.

— São jovens artistas, altezas? — questionei, apoiando paralelamente os talheres na horizontal do prato.

— Gostamos de várias artes, música, pintura... Qual lhe agrada?

— Sou um pintor.

— Não parece... — Darie arrumou alguns fios que escapavam do penteado elaborado. — Diria que é um... Idealista, mas não consigo associar uma profissão a sua imagem.

Antes de cortarem o meu cabelo alguns mal me olhavam já falavam que eu deveria ser o pintor maluco que fica no meio das árvores falando com animais. Agora eu sou um idealista sem profissão definida, maravilha. Estou ansioso para conseguir meu cabelo de volta. Nunca pensei que um rabo de cavalo fosse fazer tanta falta.

— Então, princesas, acho que com a transformação ocorrida ontem a minha profissão foi levada pelas águas. — minha frase fez Adarie revirar os olhos e Hipátia rir.

— Que encontre uma nova então. Nos deem licença, mas temos assuntos de importância para resolver. — elas se levantaram e saíram do salão.

Passei os olhos pela mesa e reconheci o menino de vi Alexie conversando com o selecionado de Lakedon; Zeno estava conversando com Cherlles, ou tentando.

— Hudson veio com você, certo? — Henrique perguntou cruzando os braços.

— Zeno? Sim.

— Percebeu que ele é o mais novo de todo o grupo? Não duvido que ele seja o mais novo que se inscreveu.

Antes que pudesse formular um comentário sobre o assunto o príncipe se levantou, assim como seus pais.

— Aproveitem bem seu dia, porque vocês terão apenas hoje para descansar. A rotina começará amanhã, sugiro que escrevam uma carta para a família de vocês contando sobre a viagem. Entendo como mãe podem se preocupar se não receberem notícias de seus filhos.

Depois que eles saíram foi uma questão de segundos para que todos se dispersassem.

Ir para o quarto com certeza seria a melhor opção, poderia conversar com meus ajudantes e começar a criar novas obras. Muitas ideias surgiram na minha mente durante estas poucas horas, e se eu não fizesse um esboço elas desapareceriam e essa é uma dor que nenhum criador deveria sentir.

— Bom dia, pessoas incríveis! Não fui expulso como podem ver! — dei um giro entrando no quarto, Olivia bateu palmas pulando, ela parecia realmente animada.

— Agora é só começar a se comportar de acordo. Um exemplo para este bando que o rodeia. — Jean se aproximou e tirou o blazer das minhas mãos. — E carregar o casaco dessa maneira é uma tentativa vã de imitar um garçom. Tenha decência, um pretendente ao futuro rei não deve portar-se dessa maneira.

Percebi Ginevra fitar o chão e balançar a cabeça em negação, com as bochechas adquirindo cor.

— Desculpa, mestre. Deseja me dar uma aula de etiqueta?

Olivia arregalou os olhos, Jean sorriu maleficamente.

— Fechem as portas, meu senhor, não sabe o quão honrado eu fico com esse pedido.

Uma atmosfera de compaixão e deprimente cercou as minhas criadas. E o desespero tomou conta da minha mente.

Eu estava ferrado.

Quando bateram na minha porta — dessa vez forte o suficiente para quase derrubá-la — pedi para entrarem. Alex me viu atravessado na cama, com as costas e cabeça caindo para perto da janela e deve ter imaginado que eu estava doente para estar daquela maneira.

— O que aconteceu? — o som da língua alemã nunca tinha sido tão prazeroso e calmante. — Você não apareceu para o almoço.

— Eu falei a coisa errada e meus criados me fizeram de boneca. Eu estou com os ouvidos apitando de tantas palavras e broncas que levei nessa tarde. Sem falar que estou morto.

Na verdade, Jean me deu alguns minutos para descansar enquanto pegava o meu almoço, mas eu preferi desenhar todos os esboços para continuar amanhã. Esse deve ter sido o maior inconveniente, eu não deixei a minha mente descansar.

Então vieram as regras, as broncas, a aula de postura, como falar em público, como fazer todos os nós de gravatas existentes na face da Terra, etc. Foi um intensivo tão cansativo que eu tenho certeza que não quero fazê-lo de novo.

— Você vai querer jantar pelo menos?

— Depois do jantar nós podemos dormir, certo?

— Sim.

— Comida e cama... Isso é tentador, eu aceito a proposta. Pode me ajudar a levantar?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!

O que acharam? Algum personagem que chamou a atenção de vocês?
Qual sua parte favorita do capítulo?

O próximo capítulo vai sair na sexta, se tudo der certo.
Vejo vocês logo!



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