— Hey, já sabem com quem vão para a GE? — perguntei para Silena e Rachel me referindo à festa que teria no colégio no outro sábado: Garotas Escolhem. Uma festa organizada todo ano pelo colégio no início da primavera onde quem escolhiam os pares eram, como o nome bem sugestivo já indica, as meninas.

— Acho que vou com o Connor — Rachel respondeu enquanto caminhávamos para o refeitório.

— Ainda não sei. E você? — Silena disse.

— Também sem ideias. Será que Chris já tem par?

— Não sei. Fala com ele no almoço — a morena me respondeu e eu assenti.

Assim que chegamos no refeitório vi que a fila da comida estava enorme. Falei para as meninas irem pegar logo uma mesa pra nossos amigos e fiquei na fila, esperando minha vez. Assim que peguei um prato de macarronada com torradas e uma garrafa de chá gelado, caminhei até o lado de fora, onde o pessoal se encontrava numa mesinha de piquenique.

— Hey, gente! — disse colocando minha bandeja na mesa. Chris e Katie disseram olá pra mim, dizendo que os gêmeos e Rachel haviam saído pra pegar comida.

— Hum, Chris? — o chamei enquanto mordia um pedaço da minha torrada — Já tem um par pra GE?

— Anh... Sinto muito, Annie — ele começou a dizer com um sorriso tímido — Mas já.

— Tudo bem — assenti — Com quem vai?

— Com a Sil — ele respondeu a indicando.

— Sua traidora! — joguei um pedaço de pão nela — Como você faz isso comigo? Com quem eu vou agora?! Esse é o lado ruim de andar com um grupo ímpar de pessoas, um sempre fica sobrando.

— Desculpa, mas eu não queria ficar sozinha — Silena fez sua defesa — Mas relaxa, ainda tem dez dias pra achar alguém.

— Traidora — eu repeti a encarando e Chris e Katie soltaram uma risada.

Ficamos conversando por um bom tempo, e assim que o intervalo do almoço acabou fiz meu caminho até a sala de história junto com Travis. Ele sentou-se numa das últimas cadeiras da sala e ficou conversando com alguns garotos, enquanto eu sentei numa cadeira ao lado da janela, onde Thalia estava conversando com uma menina.

— E aí, loirinha — ela me cumprimentou quando eu coloquei minhas coisas na mesa e depois me apresentou a menina que estava com ela — Essa é Clarice, minha colega de quarto. Clarice, essa é a Annabeth.

— Ah, sim, acho que temos algumas aulas juntas — eu disse tentando me recordar.

— Sim. Você é a nova nerd do grupinho deles né? — Clarice disse. E, por incrível que pareça, isso soou mais sarcástico e engraçado do que rude.

— Aparentemente, sim — respondi rindo.

A conhecia de vista. Clarice la Rue, uma garota alta, forte, o típico estilo esportista. Até onde eu sei, Clarice sabia jogar muito bem qualquer esporte que terminasse com –bol – softbol, futebol, voleibol, basquetebol, handebol, e por aí vai. Pelo que pude perceber pela nossa pequena conversa antes da aula começar, ela tinha um humor bem ácido, mas era bem engraçada. O tipo de garota que te faz rir, mas que você definitivamente não vai querer irritar, ou então terá assinado seu atestado de morte. Eu imagino como ficaria o quarto dela e de Thalia se ambas tivessem TPM no mesmo período, e provavelmente seria algo como uma zona de guerra.

Quando a aula acabou, caminhei com Thalia pelo campus, aproveitando que tínhamos horário livre – ou pelo menos eu tinha, ela estava gazeando a aula de física. Estávamos sentadas na área aberta do refeitório junto a outros alunos quando uma menina segurando um cartaz passou pela gente.

— Estúpida festa — Thalia resmungou virando os olhos e eu percebi que ela falava do cartaz da GE que a menina tinha nas mãos.

— Você acha? Eu acho legal, sabe, as meninas poderem escolher seus pares. E não terem que ficar esperando por um convite.

— Ah, sim, isso pode até ser legal. Mas o resto? Só dura até meia-noite, e nem podemos levar bebidas. Qual é o ponto de uma festa adolescente sem bebidas? É tipo tentar adaptar uma receita gostosa pra algo “saudável”: você sabe que poderia ficar muito melhor e gostoso, mas só tem a versão natureba do sabor.

Eu dei uma risada com sua comparação.

— Então você ainda não tem nenhum par, eu suponho — disse.

— Não — ela inclinou-se para trás, apoiando os braços na mesa atrás dela — E você?

— Também não. Achei que você fosse chamar um dos meninos.

— E eu ia. Quer dizer, vou. É que, Luke e Nico, eles ficam meio que nessa competição... — ela disse e fez uma pausa para explicar — Há um tempo atrás, a gente brincou que se eu não arranjasse ninguém pra me casar, ia acabar casando com um deles. Então, eles ficaram brincando pra ver quem seria meu futuro marido. Eu achei que fosse só uma brincadeira da época, mas até hoje eles ainda têm isso às vezes, sabe? É até engraçado, pois acho que no fundo eles não têm nenhum sentimento, só diversão. Mas, é uma merda quando tem situações como essa, onde tenho que escolher um. Você sabe, não dá pra jogar na moeda.

— Eu acho que não — respondi.

— Mas, de qualquer jeito, se você tiver mesmo sem opções, chama o Percy. Acho que ele ainda não tá com ninguém. Ou então, eu posso te ceder um dos meus garotos, quando eu fizer minha escolha.

— Você devia levar os dois — eu disse rindo — Assim não magoa ninguém.

— Oh, você é uma gênia, loirinha — ela falou sarcasticamente com um sorriso.

Não muito tempo depois disso, vejo três figuras se aproximando de nós duas.

— Justamente a dupla que estávamos procurando — Luke disse se aproximando da gente.

— O que fazem aqui? — Nico perguntou ao seu lado.

— Planejando dominar o mundo — Thalia respondeu — Posso saber por que nos procuram?

— Precisamos de uma reunião — Percy avisou — Agora.

— O que foi, algum problema? — perguntei quando entramos no quarto dos meninos.

— Sim, e não — Nico respondeu caminhando até O quadro.

— Mais especifico, por favor.

— Então, Annie... — Luke começou — Se lembra quando eu disse que as coisas podiam ficar mais sombrias? Digamos que agora é o momento.

— Devo ficar com medo? — perguntei receosa.

— Sim, e não — di Angelo repetiu e quando eu o encarei ele deu uma risada — Não precisa ter medo.

— O que aconteceu, afinal? — Thalia perguntou.

Todos nós nos sentamos, divididos entre as camas e cadeiras, e Percy começou a falar, apontando um papelzinho n’O Quadro.

— Então, acho que todos sabemos que sexta-feira vai acontecer o simulado, certo? — ele deu uma pausa e todos assentimos. Percy falava sobre uma prova que ia ter sexta, que continha questões de várias matérias e nos preparava para O Grande Teste do final do ano letivo.

— Certo... Prossiga — pedi.

— Ok. Como todos os alunos do último ano do ensino médio fazem essa prova no mesmo dia, eles dividem a gente em várias salas. O fato é que, para uma prova desse tamanho, com 60 questões, e para o esquema que queremos fazer, é necessário que a gente esteja na mesma sala. O problema é que Nico descobriu que nós não estamos na mesma sala.

— Oh — foi o único som que Thalia fez, a boca aberta em um círculo.

— Oh — repeti — Espera, como o Nico descobriu isso?

— Eu tinha ido na sala dos professores para tirar uma dúvida com Sr. Turner sobre um trabalho, e a diretora Lawrence estava mexendo em alguma coisa no computador. Quando ela saiu, minutos depois o Sr. Turner foi no banheiro e me deixou sozinho na sala — ele fez uma pausa e acrescentou — Ele não devia ter feito isso. Consegui ver que o que a diretora estava fazendo era editando as listas com as salas dos alunos, e tive tempo para ver que não estávamos juntos.

— E por que não mudou logo? — Thalia questionou.

— Quando eu ia mudar, ouvi passos e tive que sair do computador.

— E agora, o que a gente faz? — perguntei pros quatro.

— Então, a gente estava bolando um plano — Luke começou a dizer, curvando-se para frente e apoiando os ombros sobre os cotovelos.

— Eles imprimem e colam as listas na noite antes da prova, após o toque de recolher, assim os alunos só podem ver na manhã seguinte — Percy começou a explicar — Nossa ideia é, de algum jeito, conseguir editar as listas e reimprimi-las antes do amanhecer.

— E como a gente faz isso? — perguntei.

— A gente tem que dar um jeito de entrar na sala dos professores na madrugada da quinta-feira. As salas sempre ficam trancadas, então precisaremos de um plano para conseguir as chaves. E também precisamos entrar na biblioteca, para imprimir as coisas. Lá tem a única impressora que não é ligada com a direção — Nico respondeu.

— Eu posso tentar conseguir a chave da sala dos professores — Thalia se ofereceu.

— Eu te ajudo — Luke disse — Enquanto um disfarça um professor, o outro pega uma cópia da chave.

— Eu... Eu tenho um jeito de conseguir a chave da biblioteca pra gente — eu disse.

— Tem? — Percy perguntou e eu assenti — Perfeito.

— Então, temos um plano? — di Angelo disse — Thalia e Luke se encarregam da chave da sala dos professores, Annie da biblioteca. Como faremos no dia?

— A gente podia se encontrar aqui e esperar os monitores colarem as folhas, e então a gente faz o serviço — Thalia sugeriu — Fica mais fácil do que eu ou Annie sairmos do dormitório depois do toque de recolher.

— Sim, pode ser — eu disse — Quem vai na sala dos professores mudar a nota?

— Eu vou — Nico disse — Sei como achar o arquivo mais rápido.

— Vou com você — a Grace ofereceu ajuda.

— Então eu, Percy e a loirinha ficamos esperando vocês na biblioteca.

— Certo, tudo ótimo.

— Mas como vamos saber a hora que os monitores vão colar as folhas no mural? — perguntei.

— Eu tenho um jeito de descobrir isso — Percy disse.

— Bom, então temos um plano — Thalia disse caminhando até o frigobar e pegando uma garrafa de suco.

— E as coisas vão ficar mais sombrias — eu sussurrei.