A FILHA DA CAÇADORA escrita por Any Marie Whitlock


Capítulo 4
Klaus




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Se você tivesse me dito há uma ou duas horas que eu terminaria minha noite no bairro mais chique de Nova York,na cobertura de Bella,a menina da turma de história americana...bem,eu teria dito que você perdeu a noção da realidade.
No entanto, é exatamente onde me encontro neste momento,seguindo os passos de Bella da portaria do prédio até o elevador. O apartamento é bem luxuoso,todo decorado aos moldes da arquitetura vitoriana,do meio do século XIX. Há livros por toda parte. Olhando em volta, eu não vejo nenhuma tela plasma ou de LCD. Nem mesmo uma televisão convencional.
—Seus pais são professores, ou algo assim? - pergunto a Bella enquanto ela coloca a besta no chão e vai para a cozinha,onde ela abre a geladeira,pega dois refrigerantes, e me oferece um.
—Quase isso. -diz Bella. Foi assim que ela se comportou durante o caminho todo até a sua casa: economizando explicações.
Não que eu faça alguma diferença,pois eu já falei para ela que só vou embora quando souber a história toda. O fato é que eu ainda não sei nem o que pensar sobre tudo isso. Quer dizer,estou feliz por saber que Edward não é quem eu achei que fosse - o ex namorado de Bella. Por outro lado...um vampiro?
—Vem aqui - diz Bella, e eu a sigo porque...bem,que outra alternativa eu tenho? Não sei o que estou fazendo aqui. Nem acredito em vampiros. Acho que Rose se envolveu foi com um daqueles caras góticos bizarros que eu vi em um programa um dia desses.
Todavia, a pergunta de Bella - "Como você explica,então,que ele tenha desaparecido do nada no meio da pista de dança?"— me intriga.Como ele fez aquilo?
Da mesma forma,existem várias outras perguntas parecidas com aquela que eu não sei responder. Como,por exemplo,esta aqui: Como eu faço para que Bella olhe para mim da mesma forma que a Rose estava olhando para o Edward?
A vida é cheia de mistérios,meu pai sempre diz. Muitos deles estão envolvidos por enigmas.
Bella me leva por um corredor escuro até uma porta parcialmente aberta,de onde vem uma luz. Ela bate na porta e pergunta:
—Pai? Podemos entrar?
Uma voz taciturna responde:
—Pois não.
Então,novamente eu sigo os passos de Bella e entro no quarto mais estranho que eu já vi. Muito estranho principalmente para uma cobertura em um bairro chique de Nova York.
É um laboratório. Vejo tubos de ensaio,provetas e frascos por toda a parte. Em pé,no meio de todos aqueles recipientes, encontra-se um homem com toda pinta de professor,grisalho,alto,vestido com um roupão de banho,examinando uma mistura verde que solta fumaça. O senhor tira o olhar concentrado do recipiente e sorri ao ver Bella entrando no quarto. Seus olhos também verdes,me observam com curiosidade.
—Olá - diz o homem -,estou vendo que trouxe um amigo para casa. Que bom.Tenho pensado ultimamente, e acho que você passa muito tempo sozinha,moça.
—Pai,esse é o Klaus - diz Bella,casualmente.-Ele senta atrás de mim na aula de história americana. Nós vamos para o meu quarto fazer dever.
—Que ótimo - diz o pai de Bella. Parece que ele não percebe que a última coisa que um cara da minha idade vai fazer no quarto de uma menina às duas da madrugada é um dever da escola.-Não fiquem estudando demais,crianças.
—Não ficaremos -diz Bella._Vamos,Klaus.
—Boa noite,senhor -digo ao pai de Bella,que olha para mim sorridente antes de se voltar para o recipiente enfumaçado.
—Está bem-digo a Bella enquanto ela me leva pelo corredor mais uma vez até o seu quarto...que é surpreendentemente utilitário demais para ser de uma garota: uma cama grande,um armário e uma mesa. Ao contrário do quarto de Rebeca,tudo aqui está guardado em seu devido lugar,exceto por um laptop e um MP3,que estão jogados na mesa.Dou uma olhada na lista de músicas enquanto ela está procurando alguma coisa no armário. A maioria é rock,tem também R&B, e um pouco de rap. Nada emo,no entanto.Graças a Deus.
—O que está acontecendo? O que o seu pai está fazendo com aquela coisa?
—Procurando uma cura- diz Bella de dentro do armário com a voz abafada.
Eu ando da mesa até a cama passando por cima do tapete persa que cruza o quarto. Tem uma foto emoldurada em cima da mesa de cabeceira.É de uma mulher bonita,franzindo os olhos contra o sol e sorrindo. É a mãe dela. Não sei como logo percebi isso. Mas simplesmente percebi.
—Uma cura para o quê?- eu pergunto,pegando a foto para olhar mais de perto.Ah,sim ali estão eles.Os lábios de Bella.Lábios que,conforme eu não pude evitar de notar,são um pouco curvados nas extremidades. Mesmo quando ela está brava.
—Vampirismo - responde Bella.Ela ressurgiu do armário segurando um vestido vermelho longo envolto em um plástico transparente de lavanderia.
—Olha - eu digo-,odeio ter que lhe dizer isso,Bella,mas vampiros não existem. Nem vampirismo. Ou,sei lá,essas outras coisas desse tipo.
—Ah,não? - os cantos da boca de Bella estão mais curvados do que nunca.
—Os vampiros foram inventados por aquele cara.-Ela começa a rir da minha cara.Eu não me importo,no entanto,poque é a Bella.É melhor ela rir de mim do que me ignorar,que é o que ela fazia antes disso tudo. - Aquele cara do Drácula,lembra?
—Bram Stoker não inventou os vampiros - diz Bella,agora sem sorrir-,nem o Drácula,que,inclusive,trata-se de um personagem histórico real,não de uma lenda.
—Tá,mais um cara que bebe sangue e se transforma em morcego? Ah,fala sério.
—Vampiros existem,Klaus.-diz Bella com calma.Eu gosto da forma como ela diz o meu nome. Gosto tanto que nem percebo que ela está prestando atenção na foto que está na minha mão. -Assim como suas vítimas também existem.
Sigo a direção do seu olhar e quase deixo a foto cair.
—Bella - eu digo.É tudo o que eu consigo pensar em dizer -É a sua...sua mãe? Ela é....ela já...
—Ela ainda está viva-diz Bella,virando-se para colocar o vestido,que ainda está dentro do plástico,em cima da cama -,se é que podemos chamar aquilo de vida-ela completa,como se estivesse somente pensando alto.
—Bella...-digo em um tom de voz diferente. Não dá para acreditar.
Mas o pior é que eu acredito.Alguma coisa no rosto dela me diz que ela não está mentindo - e me fazer vontade de abraçá-la. Rebeca diria que isso é sexismo. Tudo bem.
Então solto o lábio que eu mastigava sem parar e sem perceber.
—É por isso que o seu pai....
—Ele não foi sempre assim- diz ela sem olhar para mim. _Ele era diferente,quando mamãe estava aqui.Ele...ele acha que pode encontrar uma cura.-Ela se senta na cama ao lado do vestido._Ele não acredita que só existe uma maneira de tê-la de volta.E que é somente matando o vampiro que a transformou em um deles.
—Edward-completo,me afundando ao seu lado na cama. Agora tudo faz sentido.Eu acho.
—Não - diz Bella,mexendo a cabeça rapidamente-,o pai dele.Que a propósito,leva o nome original da família Drácula,e prefere ser chamado de Drake,por ser menos pretensioso e mais moderno.
—Então...por que você está tentando matar o filho do Drácula,se é o pai dele que....-Eu nem consigo acabar a frase.Por sorte,isso nem se faz necessário.
Os ombros de Bella estão curvados para frente.
—Se matar o seu único filho não o fizer sair do esconderijo para que eu possa matá-lo,então não sei mais o que fazer.
—Isso não é....um pouco perigoso? - pergunto. Não acredito que estou aqui falando sobre isso.E também não acredito que estou no quarto da Bella da aula de história americana._O que eu quero dizer é que o Drácula não é tipo o chefe de todo o esquema?
—É-diz Bella,olhando para a foto que eu havia colocado entre nós-,e quando ele morrer,mamãe finalmente estará livre.
"E o pai dela não precisará mais se preocupar com a cura para o vampirismo",penso,mas guardo para mim.
—Por que o Edward não,sei lá,simplesmente não transformou a Rosalie hoje a noite? - pergunto. Até porque isso está me intrigando. Isso e tantas outras coisas _Assim,por que ele não fez isso de uma vez lá na boate?
—Porque ele gosta de brincar com a comida dele- diz Bella friamente -,exatamente como o pai.
Sinto meu corpo tremer. É inevitável. Apesar de ela não ser exatamente o meu tipo ideal,não é muito agradável pensar nela como sendo o lanchinho da madrugada de um vampiro.
—Você não está preocupada -eu pergunto,tentando mudar de assunto - com a possibilidade de Rosalie impedir que Edward vá a formatura sabendo que nós estaremos lá,esperando por ele?
Eu digo nós em vez de você porque eu não vou deixar que Bella vá atrás desse cara sozinha. E sei que Renne diria que isso também é sexismo.
Só que a Renne nunca viu a Bella sorrindo.
—Você esta de brincadeira né? -pergunta Bella. Parece que o uso do nós passou despercebido._Eu estou contando com que ela fale tudo para ele. Assim ele vai aparecer com certeza.
Eu não tiro meus olhos dela.
—Por que ele faria isso?
—Porque para eles o exterminador é uma figura execrável,então matar a sua filha vai aumentar muito o crypt cred dele.
Eu pisco os olhos.
—Crypt cred?
—É como se fosse um crédito bancário -diz ela,jogando o rabo de cavalo para trás -,mas que é valido somente no mundo dos mortos-vivos.
—Ah. -Mesmo que seja estranho,isso faz sentido. Assim como tudo o mais que eu ouvi até agora._Mas...eles chamam seu pai de "exterminador"? -Eu não estou conseguindo imaginar o pai de Bella segurando uma besta,assim como eu vi sua filha fazendo há pouco.
—Não - diz ela,agora sem sorrir -,é a minha mãe. Pelo menos....é o que ela foi. E não era só com vampiros,mas entidades do mal de todos os tipos:demônios,lobisomens,espíritos possuídos,fantasmas,bruxos,gênios,semideuses,vetelas,titãs,duendes....
—Duendes?-repito,surpreso.
Bella simplesmente continua.
—Se fosse do mal,mamãe matava.Ela tinha um dom para isso...Um dom- adiciona Bella,com leveza- -que eu realmente espero ter herdado.
Eu fico parado por um minuto. Tenho que admitir que estou chocado com tudo o que se passou nas últimas duas horas. Bestas,vampiros e exterminadores? E o que são vetelas? Não tenho nem certeza se quero saber. Não.Espere.Eu não quero.Não mesmo. Tem um zumbido dentro da minha cabeça que não para.
E o mais estranho é que eu estou gostando de tudo isso.
—Então -diz Bella,levantando os olhos para me ver-,você acredita em mim agora?
—Eu acredito em você -respondo. Eu só não acredito é que eu acredito nela.
—Que bom - diz Bella._Seria melhor se você não comentasse nada com ninguém. Agora,se você não se importar,eu tenho que começar a arrumar as coisas...
—Ótimo. Diga-me o que tenho que fazer.
O rosto dela demonstra espanto.
—Klaus-diz Bella. E tem alguma coisa na maneira como os lábios dela se posicionam para pronunciar o meu nome que me deixa louco....sinto como se eu precisasse abraçá-la e correr pelo quarto ao mesmo tempo.
—Eu agradeço a sua ajuda. Muito mesmo. Mais é muito arriscado. Se eu matar o Edward....
—Quando você matar o Edward...-corrijo.
—.....o pai dele provavelmente vai aparecer -continua ela - em busca de vingança.Talvez não seja na mesma noite. Nem na seguinte. Mas em breve. E quando ele vier...não vai ser tranquilo. Vai ser bem complicado. Um pesadelo.Vai ser...
—Apocalíptico - termino a frase, sentindo um tremor correndo pela minha coluna ao pronunciar a palavra.
—Isso mesmo.Exatamente isso.
—Não se preocupe -digo,ignorando o tremor-,estou preparado para isso.
—Klaus -ela balança a cabeça_Você não entende. Eu não posso...bem,eu não posso garantir que vou conseguir proteger você. E eu não posso mesmo deixá-lo arriscar a sua vida nisso. Para mim é diferente,porque....bem,porque é a minha mãe. Mas no seu caso...
Eu a interrompi
—Só me diga quando eu devo vir buscar você.
Ela me encara.
—O que?
—Você vai me desculpar- digo -,mas não vai a formatura sozinha. E ponto final.
E enquanto eu dizia isso devo ter feito uma expressão muito assustadora. Porque,apesar de ela ter aberto a boca para retrucar,foi só olhar para mim que ela fechou a boca rapidinho e disse:
—Tudo bem.
Mesmo assim,ela ainda teve que dar a última palavra:
—É o seu funeral.
Por mim está ótimo. Ela pode ficar com a última palavra.
Porque agora sei que eu a encontrei: a minha futura parceira na inevitável luta em busca da sobrevivência em um Estados Unidos pós-apocalípticos.


          


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