Annabele Vermont escrita por Annabele


Capítulo 12
Tempo de mais para não notar.




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Dormi até mais tarde no domingo e acabei almoçando um lanche feito do que tinha na geladeira. Nenhuma chamada no meu celular, fico angustiada com o acontecido na noite anterior. Durante a tarde respondo alguns e-mails e checo alguns balanços do mês da Vermont. Já está anoitecendo e meu celular toca. Não fico muito contente ao ver o nome do Quil.

–Oi.

–Oi Anna, tudo bem?

–Sim.

–Vem aqui em casa, vamos jantar todos aqui.

–EU não sei Quil...

–Vem Anna, o Jake está aqui e nós conversamos bastante durante a tarde. Ele não quis ser grosseiro com você ontem, é que ele só está com medo, porque gosta mais de você do que ele planejava, e isso assusta os homens, eu sei bem.

Fico em silencio por um tempo.

–Vem logo, só não fala pra ele que te falei isso.

Ele desliga, fico pensando no que o Quil falou por alguns minutos, muitos minutos na verdade. Decido ir, tomo um banho e coloco uma roupa quente, afinal o frio já voltou.

Dirijo um pouco nervosa até a casa do Quil. Estaciono o carro, me acalmo por um segundo, todos estão dentro da casa. Clarie logo sai na porta para me receber, respiro fundo e vou. Entramos na sala e estão todos lá, falo um “boa noite” geral, sem olhar fixamente para Jacob. Quil logo nos chama para comer na cozinha, e todos nos dirigimos para lá. Paro no batente da porta e me encosto, esperando que eles terminem de arrumar a mesa, Jacob para atrás de mim. Leva a mão aos meus cabelos nas costas. E se aproxima por trás beijando minha bochecha.

–Sinto muito por ontem. Precisamos conversar depois do jantar. – sussurra.

Um grande alívio toma meu corpo, ele passa por mim e senta-se à mesa, me sento ao seu lado. Todos comemos com o ritmo de sempre, com muitas brincadeiras e risadas.

Ao terminarmos, ainda estamos todos sentados na mesa, bebendo algumas cervejas. Meu telefone toca, era meu pai. Todos ficam em silencio, penso em me levantar da mesa, mas fico sem graça e acabo atendendo ali mesmo, torcendo para ser uma conversa normal e para que eles não escutem nada.

–Annabele.

–Oi pai.

–Preciso que você vá a Chicago amanha para dar aquele treinamento de duas semanas. Sua passagem já está comprada, você sai as 9 horas da manha. Leve roupas a mais, pois esse tempo pode se estender, caso seja necessário. Alguma pergunta?

Jacob serra os punhos imediatamente. Ele ouviu. Olho para os outro sem saber o que dizer, todos ouviram. Estão todos sérios. Minha respiração acelera, uma angustia me invade. Mas não consigo dizer nada, além disso:

–Não.

Jacob levanta da mesa na hora e sai pela porta, Quil vai atrás dele.

–Perfeito, não se atrase para pegar o avião. Até mais. – Meu pai desliga o telefone.

Engulo a seco e olho para os outros sem saber o que dizer. Pego minha bolsa e vou para fora.

Quil e Jacob estão discutindo, quando eu saio ambos se calam.

Sem muita convicção e com mais dúvida na voz do que eu gostaria, eu me aproximo e falo.

–São só duas semanas.

Jacob ri amargamente. E balança a cabeça negativamente.

–Você sabe que não Anna. – Ele me olha com tristeza.

–Será Jacob, eu vou conversar com meu pai... – tento encontrar alguma resposta mais convincente. Ele me interrompe.

–Até hoje você não teve coragem de falar pro seu pai que você não queria matar seu irmão, não vai ser por isso que você vai criar um diálogo com ele. – ele fala rispidamente. Fico sem reação, Quil não fala nada.

Não consigo mais continuar aquela conversa. Saio em direção ao meu carro.

–Anna... – Quil me chama, mas eu não olho para trás. Entro no carro e acelero o máximo possível. E não tenho vergonha de admitir, eu estava fugindo.

E foi com esse sentimento, que entrei naquele avião, às 9 horas da manha no aeroporto de Seattle, sem me despedir de ninguém, sem coragem de falar com ele, de ligar, de dizer que eu voltaria. Fugindo do olhar pesaroso dele, da sua voz rouca, fugindo de mim e do que estava sentindo, fugindo da coragem de dizer que não iria, fugindo de nós.

Cada dia era um novo martírio, Quil me ligou algumas vezes, disse que ele estava mal que eu tinha que voltar, que aquilo não era justo com ele e nem comigo, que eu tinha que me permitir amar alguém... até que a frequência das ligações diminuíram. Já estava na quarta semana quando o Quil ligou pela ultima vez. O que ele disse ecoou por vários dias na minha cabeça. “Muitas coisas mudaram por aqui Anna, eu sinto muito.” Sua vós era cheia de pena, não intendi, e ele também não quis me explicar. Várias vezes eu cheguei a pegar o telefone para ligar pra ele e dizer que eu estava morrendo de saudade e que estava louca pra voltar a vê-lo, mas não o fiz. Não achei justo fazê-lo. “Muitas coisas mudaram por aqui Anna, eu sinto muito.” Eu queria saber o que eram muitas coisas, mas não tinha mais esse direito.

Já faziam 3 meses desde o dia em que deixei La Push. Emagreci 5 quilos e estava me sentindo estranha, como se estivesse doente. Meu pai me ligou e disse para eu retornar a La Push. Meu coração se acelerou, eu quase quis dizer que não, queria fugir de novo, mas a vontade de vê-lo novamente era maior do que todas as coisas.

E então estava eu, de novo, em um avião. Com 3 meses e 4 dias de distancia do passado que mudou meu jeito de pensar, que me deixou insegura. Eu estava agora com medo. Medo das mudanças, medo de cada hora que estive longe, medo de voltar. “Muitas coisas mudaram por aqui Anna, eu sinto muito.”

E ainda tinha essa febre que eu estava sentindo há alguns dias, um mal estar constante e uma queimação no corpo todo.

Não consegui pregar os olhos a viagem toda, aliás já fazia algum tempo que eu não dormia bem. Algum tempo, tipo uns 2 meses.

Peguei minha bagagem no aeroporto, um carro alugado já me esperava na saída. Peguei a chave a entrei no carro. Com uma angustia no peito comecei a dirigir, no caminho tomei mais um remédio antitérmico que parecia não fazer mais efeito, minha pele estava queimando, eu parecia ouvir coisas, não sabia distinguir se eram reais ou se eram delírios. Parei o carro no meio do caminho. Eu precisava dizer pra alguém que estava voltando, liguei para o Quil.

–Anna, está tudo bem?- Ele atendeu surpreso. Eu conseguia ouvir perfeitamente as vozes ao fundo. Jacob esta lá.

–Quil. Eu estou a 10 km de Lá Push.

Ele ficou quieto por um tempo.

–Anna, por que você não ligou antes? Eu não sei se se vai ser bom pra você voltar pra cá, muitas coisas aconteceram... – ele fala angustiado e quase sussurrando.

Eu podia ouvir todas as vozes ao fundo, eles estavam se preparando pra sair, e tinha uma voz que eu não conhecia.

–Não se preocupa comigo, eu vou ficar bem, e não importa o que vai acontecer daqui em diante. Só queria te avisar que estou voltando. – Desliguei o celular, milhares de coisas vieram à minha cabeça, mas aquela voz feminina ao fundo que eu não conhecia, e a tentativa de proteção do Quil só me mostrava uma coisa: Jacob já não era mais meu. Saí do carro no meio da estrada, retirei o casaco, apesar da fina chuva que caia e da temperatura de 7° C. Respirei fundo, várias vezes. Uma náusea muito forte tomou meu corpo e vomitei ali mesmo. Meus olhos estavam marejados, eu não estava conseguindo me orientar. Fiquei uns 15 minutos olhando para a floresta respirando fundo.

Criei coragem e entrei no carro novamente, eu não poderia ser covarde novamente. Mas eu só queria que aquilo tudo acabasse, toda aquela angustia que eu estava sentindo, toda aquela dúvida. Queria voltar no tempo, naquela mesa no domingo anoite e dizer ao meu pai que não iria. Queria parar de sentir aquele enjoo, e aquela febre maldita. Queria desesperadamente vê-lo outra vez.

E aquele maldito calor que eu estava sentindo, não ajudava.

Decidi parar em Forks, em uma lanchonete, pedi uma água e tomei outro remédio, apesar de tudo, estava sentindo fome. Pedi uma torta, estava com medo de comer e vomitar novamente. As vozes das pessoas se embaralhavam em minha cabeça, eu consegui sentir o cheiro de tudo, mas tinha muita coisa junta, eu não conseguia distinguir. Eu podia ouvir as pessoas conversando do outro lado da rua. Tinha certeza de que estava delirando por causa da febre, eu estava vermelha e suando. A minha torta chegou e a garçonete perguntou se eu estava bem. Apenas acenei que sim.

Então eu ouvi alguns carros se aproximando, as portas batendo, algumas conversas que eu não entendia no meio de tantas outras. E então eu senti o seu cheiro.

Amadeirado como sempre, quase irresistível. Entrei em desespero. Olhei ao redor freneticamente tentando encontrar outra saída, mas não havia. Então eu vi o Quil pela porta de vidro, assim que ele a abriu seus olhos também me viram. Todos entraram em seguida.

Eu me sentia acuada, parecia que iria desmaiar a qualquer momento. Minha respiração acelerada e aquele calor infernal. Um turbilhão de barulho na minha cabeça.

Quil abriu a boca no memento em que me viu. Ou outros ficaram estáticos.

E então. Como na primeira vez, seus olhos cruzaram com os meus, e eu me perdi dentro deles, mais uma vez.


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