A conspiração escarlate escrita por Drafter


Capítulo 22
Makai




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A chuva varou noite adentro, sem um minuto de trégua.

Haviam acordado em dar prosseguimento ao plano de Koenma e seguiriam para o Makai na manhã seguinte. Se tudo desse certo, estariam de volta já no domingo, um dia após a partida.

Hiei e Kuwabara concordaram em acompanhar, o segundo apenas depois de muitas ponderações. Nunca gostara da ideia de frequentar o Mundo dos Demônios, mas detestava mais ainda não ser útil aos amigos que tanto tinha em consideração. Prometera lealdade, e isso cumpriria até o fim dos seus dias.

Hiei, pelo contrário, não escondia seu desejo, quase uma necessidade, em retornar àquela terra, voltar a pisar no chão que fora sua casa por tantos anos. Não que considerasse o Makai um lar: seu espírito cigano não fincava raízes profundas em nenhuma parte. Apenas sentia-se estranhamente mais acolhido naquelas planícies selvagens do que em qualquer outro lugar.

— No que você tanto pensa? — a voz de Kiki ressoou, fazendo Kurama despertar de suas reflexões.

Ele a olhou por um instante, andando ao seu lado debaixo da chuva que molhava seu rosto e encharcava suas roupas. Pouco haviam conversado desde que deixaram o prédio em construção, abandonando Sho à sua própria sorte.

— Kiki... — ele começou, pinçando as palavras com cuidado. Estava mais atento do que nunca em seus próprios pensamentos e na sua forma de expressa-los. O confronto daquela tarde era um sinal de que precisava se controlar. Mesmo um demônio em posição vulnerável fora suficiente para seu lado bélico se eriçar e tomar conta do seu corpo de uma maneira que o deixava em estado de alerta.

— Eu já entendi — ela respondeu, antes de dar chance a ele de proferir mais alguma coisa — Você pode ficar tranquilo. Não vou com vocês para o Makai.

Falou aquilo com naturalidade, como se a decisão fosse óbvia demais para ser contestada. Continuou andando ao seu lado sem alterar sua fisionomia ou linguagem corporal, as gotas de chuva caindo com força em seus cabelos, para então deslizarem suaves pelo corpo.

Kurama, no entanto, percebeu. Estava acostumado demais com as nuances daquela voz para saber que seu desapego em relação ao tópico não era tão autêntico quanto tentava sugerir.

— O ar do Makai é tóxico para a maioria dos humanos... — ele começou.

— Eu já falei que tudo bem! — Kiki o cortou, se poupando de continuar ouvindo aquelas justificativas.

Ela já sabia que esse era um dos motivos que vinha o perturbando por todo o trajeto. Tinha reparado nos olhares furtivos que lançava a ela enquanto o grupo fazia os planos para a jornada do dia seguinte e a maneira fria como a tinha tratado todas as vezes em que se dirigia a ele. Era como se Kurama estivesse se preparando para abordá-la a qualquer momento, sem, no entanto, nunca chegar ao ponto de fazê-lo. E isso a incomodou. Muito. Preferia que tivesse gritado com ela e deixado claro que não seria bem-vinda para acompanhar o time. Ela gritaria de volta, mandaria todos para aquele lugar e iria sozinha para casa. Em vez disso, ele optou por aquele silêncio incômodo que os perseguia como uma mosca insistente persegue a luz, deixando o trajeto mais longo do que de costume. Kiki chegou a pensar que o rapaz ao menos aproveitaria a chance de ficarem a sós para ter a decência de uma conversa franca — mas parecia ter se enganado, aumentando ainda mais o ressentimento dela.

Kurama sentiu um nó se formar na garganta. Era raro ficar sem palavras daquela maneira. Queria poder dizer que sentia muito por ela ter se envolvido naquilo tudo, que ela deveria se afastar antes que se machucasse demais, que era perigoso ficar perto dele, mas se o dissesse, corria o risco de arrumar uma briga de proporções homéricas. Ela era dona de suas ações, sabia disso desde quando a viu pela primeira vez naquele bar, brincando com a sorte no rolar dos dados. Era justamente por isso que estranhava aquela indiferença. Ela nunca evitava o conflito, muito pelo contrário: bater de frente nunca havia sido problema. Por que daquela vez estava sendo diferente? Por que ela não batia o pé, como das outras vezes?

— Ei — ela chamou, com uma voz tão morna quanto a chuva — já chegamos.

Ele parou, se dando conta de que a caminhada tinha chegado ao fim e, junto com ela, sua chance de tentar consertar aquela situação. Exceto que não havia o que consertar. Sim, ele tinha agido diferente naquela tarde, os dois sabiam disso, mas isso não significava que estava diferente. Kurama e Shuichi Minamino eram os dois lados da mesma pessoa, e ele sempre achou que mantinha os dois em um equilíbrio saudável. Eram momentos como aquele, no entanto, que o faziam crer que não importava o que fizesse, Shuichi sempre perderia a batalha para Kurama.

Kiki deu uma última olhada para ele. Chegou a pensar em falar que estava farta de ser tratada como uma criança, mas mudou de ideia e mais uma vez o silêncio falou pelos dois. Cansada, virou as costas e entrou pela porta. E da mesma forma como trazia um pouco da chuva para dentro de casa, trouxe também um pouco das incertezas de Kurama para dentro de si.

"Talvez", ele pensou, com um suspiro, "fosse melhor assim".

(...)

Era sábado de manhã, e o céu já estava limpo novamente. Os quatro se encontraram na estação de trem abandonada que, segundo Sho, abrigava um dos portais escondidos que levaria ao Mundo dos Demônios, e avistaram Botan aguardando por eles.

— Como estão as coisas lá em cima? — Yusuke perguntou ao se aproximar.

— Não muito boas... Sr. Koenma foi chamado para depor hoje cedo — ela respondeu com pesar.

— É um absurdo o que estão fazendo com o baixinho... — Kuwabara falou — Foi ele quem quis começar essa investigação para começo de conversa.

— Não é tão absurdo assim. Existem pessoas no Mundo Espiritual interessadas em abafar o caso — Kurama afirmou — Perseguir aqueles que mais se empenharam para revelar a verdade é um meio eficaz de desmoralizá-las.

Yusuke olhou para o amigo.

—Fantasma... — falou, e Kurama acenou a cabeça, em concordância.

— Obrigada mais uma vez, meninos! Não imaginam como é importante saber que ainda podemos contar com vocês numa hora dessas — disse Botan — Quer dizer, vocês nem têm mais obrigação de nos ajudar, depois que a licença do Yusuke foi cassada e tudo o mais...

O grupo sorriu em retorno. Todos, sem exceção — ainda que Hiei jamais admitisse —, sentiam que a guia espiritual merecia toda a consideração possível, tendo sido uma amiga dedicada nos momentos em que mais precisaram no passado. Sabiam que era hora de retribuir. Além disso, ajudar a por fim àquela quadrilha seguia sendo uma das principais motivações.

Trocaram mais algumas palavras de apoio e por fim se despediram, deixando o Ningenkai para trás.

A travessia foi mais suave do que esperavam e a diferença na atmosfera, muito mais densa do que na cidade onde viviam, foi a primeira coisa a ser notada. Kuwabara, o único sem descendência demoníaca, era o mais sensível do grupo, e logo sentiu o pulmão pesado e uma leve ardência nos olhos — que espantou sem muita dificuldade.

O portal os conduziu a um terreno desértico e plano, o chão formado por uma areia dura, grossa e acinzentada até onde a vista alcançava. Ossadas que pareciam pertencer a animais espalhavam-se pela paragem, e um cheiro acre lhes chegou às narinas. Olharam ao redor, tentando se orientar. Eram os únicos seres vivos dali, e nada, além do típico céu rubro do Makai, era visível ao horizonte.

— Hum, Buraco da Morte — Hiei falou, reconhecendo o lugar — ótimo começo.

Yusuke e Kuwabara imediatamente viraram o pescoço em direção ao demônio, os olhos arregalados ao ouvirem aquele nome.

— É só um apelido idiota — Kurama respondeu — e não é tão grande quanto parece. Vamos.

— Você tem certeza de que sabe por onde ir? — Yusuke perguntou, se colocando ao lado do amigo.

Kurama apenas assentiu. Suas memórias do Makai ainda eram tão vívidas quanto há 15 anos atrás.

Caminharam por cerca de uma hora antes que a paisagem árida começasse a dar lugar a uma espécie de bosque cercado de árvores com folhagens enegrecidas e um chão coberto por pequenos cascalhos. A medida que se aprofundavam na mata, os troncos cresciam cada vez mais rentes um do outro, dificultando a travessia e bloqueando quase totalmente a penetração da luz — de tal forma que precisaram aguardar alguns minutos para acostumar a vista antes de prosseguirem.

— Tomem cuidado — Kurama aconselhou — Algumas criaturas se aproveitam da escuridão para atacar os viajantes incautos.

Mal pronunciou essas palavras e sentiu o ar zunir a centímetros do rosto. Parou, atento a qualquer ruído, obrigando os amigos a fazerem o mesmo.

— Minha mochila! — Kuwabara exclamou ao perceber que a bolsa que carregava nos ombros contendo provisões para o grupo havia sido arrancada das costas.

— Quem está aí? — gritou Yusuke, sem saber exatamente para onde se dirigir — Não estamos aqui para brincar! Apareça e nos enfrente, seu maldito!

Um farfalhar de galhos atraiu a atenção do grupo, que imediatamente girou os calcanhares para perseguir o barulho.

— Ali! — Hiei foi o primeiro a avistar o ladrão. Ainda escondido nas sombras, um pequeno animal de pelagem rosada e orelhas de gato lançava-se de galho em galho, se afastando do bando e levando consigo a mochila de Kuwabara. O larápio, apesar dos braços curtos, se equilibrava com perfeição, usando a longa cauda para agarrar-se nos ramos e fugir com a bolsa presa em uma das mãos.

Na mesma hora, se puseram no encalço da criatura, guiando-se pelo som das folhas que vibravam a cada salto e esquivando-se das raízes que se erguiam proeminentes do chão. Os galhos mais baixos raspavam nos seus rostos e braços, deixando suas peles avermelhadas com pequenos arranhões e os cabelos desgrenhados.

A astúcia do animal dificultava a perseguição. Por vezes, o pequeno ser virava abruptamente para esquerda ou direita, os fazendo perder segundos preciosos da corrida, enquanto em outras ocasiões, subia para o alto da copa das árvores, abafando seu rastro.

Apesar disso, não tardou para que o alcançassem. Um impulso rápido bastou para Hiei cravar sua katana no tronco de uma árvore, arrastando consigo o corpo da criatura. Um gargarejo de sangue saiu pela boca do animal, que mantinha os olhos vidrados abertos, mas já sem vida.

O demônio de fogo resgatou a mochila, que jogou para Kuwabara, e arrancou a espada, limpando o sangue na bainha das vestes. Aquele contratempo havia os desviado bastante do caminho, mas valera a pena: previam a possibilidade de pernoitar naquelas terras, e os suprimentos de água e comida se fariam mais do que necessários.

Os quatro se preparavam para retomar a trilha quando ouviram o som dos cascalhos se agitando no chão. Se viraram, prontos para se defender. Um grupo de demônios surgiu das sombras, as armas em punho em posição de ataque.

O ambiente de repente se impregnou com um cheiro de morte, as silhuetas de cada um deixando o espaço ainda mais escuro e apertado do que já era. E tudo teria acontecido muito rápido, não fosse uma voz grave que se fez ouvir no silêncio da floresta.

— Hiei?

Todos os presentes congelaram ao ouvir aquele nome familiar.

Um dos atacantes — o maior do bando e, possivelmente, seu líder — se projetou para a frente. Mesmo a meia luz, podiam vislumbrar que seu corpo era marcado pelos músculos salientes e pelo chifre protuberante que se erguia da testa.

— Goro...! — Hiei falou, surpreso ao reconhecer o indivíduo — Não sabia que agora vivia de migalhas... quer mesmo arriscar sua vida por causa de um pouco de água e comida? — perguntou, com uma ponta de escárnio na voz.

— O que você está fazendo aqui? Ouvi dizer que estava vivendo com os humanos — disse Goro, ignorando o comentário anterior. Ele permanecia tenso, a espada longa e curva ainda em posição de ataque.

— Vejo que está bem informado... andou sentindo a minha falta?

Os demônios em volta de Goro se agitaram, inquietos. A maioria se lembrava de quando Hiei era um dos companheiros do bando, anos atrás — e o restante, havia, no mínimo, ouvido as histórias por trás daquele nome.

— Não precisamos derramar sangue, mas o faremos se for necessário — Kurama interveio — Nos deixe passar e pouparemos vocês.

— E você quem é? — o demônio perguntou, agora voltando a atenção para o jovem ruivo.

Hiei riu ao ouvir a pergunta.

— Não se deixe levar por essa aparência frágil — ele comentou — Você está diante do lendário Youko Kurama.

A tensão, que já estava alta entre os presentes, ficou ainda mais sufocante. Ninguém ousava se mexer, com medo de desencadear um final trágico para aquele encontro. Formado principalmente por ladrões, o grupo de Goro — que, anos atrás, havia acolhido Hiei ainda bebê — não costumava fugir da briga, mas ao mesmo tempo tinha discernimento o suficiente para saber quando recuar.

Goro, no entanto, não se deixou intimidar. Apertou com mais força o punho da espada e olhou com cuidado para Kurama.

— O que vocês querem?

— Temos assuntos para resolver aqui — Kurama respondeu — E eles não têm nada a ver com vocês.

O líder do bando refletiu por alguns segundos, optando por baixar a guarda.

— Não tenho interesse em lutar com vocês — ele falou — Me sigam e os levo para fora da floresta.

Ele se virou, pedindo com um gesto para que seus companheiros também baixasse as armas. Os quatro amigos, no entanto, hesitaram, desconfiados.

— Hum, dispensamos a ajuda — Hiei falou, apertando os olhos e relutando em por a katana de lado.

— Seu orgulho ainda vai matar você e seus amigos, Hiei. Vocês não vão conseguir achar o caminho de volta depois de se embrenharem perseguindo o pequeno Smigg aqui — falou, olhando o corpo sem vida da criatura aos pés de uma árvore — Fiquem ou venham conosco, a escolha é sua.

Kurama se adiantou, dando um passo a frente e seguindo o demônio que desaparecia entre as árvores. De fato tinham não apenas se atrasado, como também se distanciado demais do caminho que conhecia por aquela mata, e ou Goro realmente estaria os ajudando ou, na pior das hipóteses, aquilo se revelaria uma emboscada — e ele, dessa vez, não se importou em arriscar. Estava seguro de que, qualquer que fosse o caso, teriam um resultado favorável. Valia a pena correr o risco.

— Ele é confiável? — Yusuke perguntou em voz baixa para Hiei, em referência a Goro.

O demônio de fogo encarava com frieza o antigo companheiro que sumia mais a frente, mantendo o semblante sério. Começou a seguir lentamente os passos de Kurama, e, apesar de ter colocado a espada de lado, mantinha-se pronto para desembainha-la a qualquer momento.

— Não..

(...)

Kiki estava sentada na ponta da cadeira, o corpo relaxado e as costas inclinadas para trás, mal tocando o encosto. Um pires rachado fazia as vezes de cinzeiro, acumulando a sujeira dos dois primeiros cigarros. Ela já estava no terceiro quando o pai chegou.

Eles mal conversavam, mesmo quando ele estava sóbrio. Sabiam que na maioria das vezes as tentativas de diálogo acabavam em briga. E ainda havia o grande tabu da casa: nunca falavam sobre as surras, mesmo quando as consequências eram visíveis. Nenhum dos dois gostava de relembrar aqueles momentos, então o silêncio lhes servia perfeitamente.

Ele tinha menos de 40 anos, mas qualquer um diria que era muito mais velho. Os anos entregues à bebida deterioraram a jovialidade do promissor engenheiro no auge da carreira que ele fora uma década atrás. Agora vivia de rancor e empregos mal pagos — e do fardo que era cuidar de uma adolescente cuja moral ele ajudou a estragar. Em alguns raros momentos de lucidez, chegava a chorar ao pensar no que sua vida tinha se tornado, mas logo curava a angústia com a garrafa de alguma bebida barata qualquer e as merecidas sovas na filha, completando o ciclo sem fim que ambos já conheciam.

— Encontrei o Kido ontem — ele falou subitamente, sentando em outra cadeira da mesa da cozinha e pegando um dos cigarros do maço da filha — lembra dele?

Kiki tirou o isqueiro do bolso e o deslizou pela mesa, em direção ao pai. Soltou uma nuvem de fumaça e mexeu a cabeça, em uma resposta afirmativa.

— O filho deles nunca apareceu — ele continuou, jogando o isqueiro de volta para a filha após acender o cigarro — Qual era mesmo o nome dele?

— Marco — ela murmurou. Lembrava perfeitamente dele. Estudaram por anos na mesma sala e chegaram a fazer algumas atividades escolares juntos. Ele desapareceu no dia da apresentação de um trabalho em grupo que ela fazia parte, atraindo a ira dos colegas e resultando em uma nota baixa para o grupo. Ela não deu muita bola no dia, mas o fato de ele nunca mais ter aparecido na escola e de sua foto ter ido parar em todos os telejornais, o noticiando como desaparecido, acabou ficando na sua cabeça.

— Sempre achei aquele cara meio estranho... Na certa, matou o filho e escondeu o corpo. Eu vi isso num filme uma vez.

Ela puxou o maço de cigarros de cima da mesa, o enfiando no casaco.

— Quem que mata o próprio filho? — respondeu, sem se preocupar em esconder sua irritação. Levantou da cadeira, apagando o cigarro no pires — Que conversa idiota...

Se virou para sair da cozinha. Andou em direção ao quarto e voltou com uma mochila nas costas.

— Ei, onde você vai? — o pai gritou, elevando o tom de voz, ao ver a filha a caminho da porta de casa.

— Sair! — ela gritou em resposta, sem olhar para trás. Jogou o capuz da jaqueta para cima da cabeça e saiu de casa, batendo a porta com força.

Já na rua, olhou o relógio de pulso. O trem para Chiba sairia em 40 minutos.


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Notas finais do capítulo

Eu rodei essa internet e pesquisei em todos os cantos possíveis, mas não achei nenhuma informação sobre os youkais que acolheram Hiei quando ele era bebê (pra quem não lembra, ele foi encontrado por um bando de ladrões depois de ser jogado do alto da Ilha de Gelo). Logo, o nome de Goro foi inventado por mim xD