Exatos oito dias haviam se passado desde a morte de Jack. Pâmela, Megan, Dorothy e Brian ainda estavam na Califórnia, porém aquele era o último dia ali naquela casa, antes de retornarem para seu novo lar, o Brasil.

Megan já estava no seu quase normal. Sabia que seu grandpa não gostaria de vê-la triste pelos cantos. Embora fosse difícil voltar a ter a euforia de sempre. Ainda mais naquela casa onde havia mais da metade das lembranças que ela tinha dele.

Ela estava arrumando-se para um passeio pela cidade da qual nunca quis ter saído, embora sentisse a mesma coisa ao ter de deixar o Rio.
Seus amigos todos mandaram-lhe condolências pela sua perda. Inclusive Miley, com quem ela marcou o tal passeio.

Pegou seu gallardo azul-metálico e rumou para o local que tinha marcado com a amiga.
Assim que a viu abraçou-a apertado. Sentia falta daquela maluca.

— Sinto muito, Lily! - Miley disse -
— Eu também! - disse com um sorriso triste - But, não quero deixar esse clima estragar nosso encontro.. Como estão as coisas?
— Oh, estão absurdamente tediosas sem você aqui. - disse a outra loira com uma cara de cachorro abandonado -
— Não exagere, vejo notícias das festas de Justin toda a semana - disse Megan rindo -
— Mesmo assim, sem você fica incompleto -

As duas riram e foram fazer o tour pela cidade americana. Megan sentia-se muito bem ao lado da amiga, um das poucas amizades que era verdadeira naquela vida conturbada que ela tinha. Sempre foi ruim decidir em que acreditar, principalmente quando as pessoas se aproximam de você por puro e descarado interesse. Porém Miley era diferente de todas as outras pessoas, e foi Megan quem deu o primeiro passo para aquela linda amizade que elas tinham, tendo a certeza de que a loira de cabelo curto não era uma interesseira.
Megan e Miley já tinham virado não só São Francisco inteira de cabeça para baixo mas umas dúzias de cidades próximas.

Quando a noite estava próxima Megan despediu-se com pesar da amiga. Sabia que demoraria mais algum tempo para vê-la novamente. Porém não aguentava mais de saudade de seu nerd boring.

— Até logo Lily! - disse uma Miley chorosa - Vou sentir tanto sua falta!
— Por favor, não me faça chorar! - Megan disse inutilmente -

Elas se abraçaram forte antes de cada uma entrar no seu luxuoso automóvel e partir para qualquer que fosse seu destino.
A loira chegou em sua casa poucos minutos depois e deparou-se com um Brian pensativo no meio da sala de estar.

— Brian.. - Megan chamou vendo-o em um quase transe -
— Oh Megan.. Que bom que chegou! Sente-se aqui minha querida. - pediu o homem -
— Certo! - ela disse e fez o que ele havia pedido - Então, o que quer?
— Você está bem? - ele questionou -
— Não é como se me sentisse mal, só que sei que não estou cem por cento. - ela disse sincera encolhendo os ombros -
— Oh querida. Você está tão madura agora. - ele disse misterioso - Sua aura está azul marinho e indica que sua força está centrada em seu emocional que por sinal está muito abalado..
— Você está fazendo uma reprogramação em mim? - ela perguntou divertida porém incrédula -
— Eu estou monitorando sua força astral, apenas! - ele informou - Lembra-se que disse sobre tempos difíceis? - ele perguntou e ela assentiu - Só fique atenta, isso será muito importante. - disse e se levantou -
— Mas o que isso significa? - questionou pondo-se de pé também -
— Só faça o que eu lhe falei. - dizendo isso ele rumou para as escadas -

Megan balançou a cabeça em forma de negativa e saiu em direção aos jardins. Sempre gostava de ir lá quando queria pensar, além do que aquela época do ano já começava a trazer uma brisa mais fria por causa do outono. Deixou a cabeça se esvaziar e deitou-se na grama bem cuidada daquela Mansão. Suspirou cansada.
Horas depois ela subiu para seu quarto e começou a arrumar suas coisas. Apesar de não ter trago roupas, ela levaria algumas peças para o Brasil. Separou algumas para Luene também. Sorriu ao pensar no quanto morena foi gentil lhe dando o ombro para chorar.

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Davi encontrava-se na sua sala, estava no meio da tarde e a empresa estava mais ou menos vazia. Jonas estava em uma reunião no outro lado da cidade com Tuca e Zac.
Apenas mais uma semaninha e ele poderia passar mais tempo com sua amada que chegaria no dia seguinte. Queria poder ter ido com Megan à Califórnia mas sabia de seus compromissos, se odiava por ter aceitado aquela ordem de Jonas.

Levantou-se e andou sem pressa até o elevador mais próximo, apertou aquele botão solitário que o levava para o terraço.
A cidade era sempre linda daquela vista. Parou admirando aquela paisagem.
Respirou relaxado e se permitiu ficar ali por algum tempo.

— Está pensando em que?

Davi virou-se assustado e deu de cara com uma morena lhe sorrindo. Era Manuela.

— Estou pensando em como minha vida mudou de uns meses pra cá.. - respondeu serenamente, deixando-se divagar em acontecimentos passados -
— E gosta do que vê? - perguntou a morena que agora já estava ao seu lado. -
— Parte de mim não acredita e outra parte sabia que isso ia acontecer.. - ele disse distante - É tão confuso. - completou encolhendo os ombros -
— Acho que sei como se sente. - ela lhe acariciou o ombro - Você merece tudo o que conseguiu! - afirmou -
— E você, como está sua vida? - perguntou, queria tirar o foco daquela conversa de si -
— No profissional está bem. Sinto cada vez mais que estou perto dos meus objetivos. - ela contou-lhe - Mas a vida pessoal.. Essa está complicada como sempre. - deu de ombros -
— Problemas com seu irmão? - Davi perguntou -

O nerd conviveu tempo suficiente com Manu para que ela lhe contasse praticamente toda a sua vida e principalmente seus problemas. Então por isso ele tinha esse tipo de “liberdade” para perguntar sobre a vida familiar da pernambucana.

— Não. Ele está na dele. Meu problema mesmo é com o homem que estou apaixonada.. - disse suspirando -
— Então, você está apaixonada? - ele quis saber - Isso é fantástico!
— Não se este homem não me corresponde. - disse sem emoção - É tão frustrante!
— Como um homem pode não corresponder seu amor?! - ele disse incrédulo - Você seria uma namorada excelente..
— Parece que não para ele. - ela disse -
— Diga quem é ele que vou bater um papinho com ele.. - disse Davi zombeteiro -
— Ele é você! - ela disse e olhou para ele -

Davi mirou-a incrédulo. Os olhos arregalados. Ela não poderia estar falando sério, poderia? Sentiu o peito se acelerar, isso era muito ruim. Não só por ela ser sua “amiga” mas também por ele já ser comprometido. Sabia muito bem como era a dor de um amor não correspondido e não queria que isso se passasse com ela.

— Manu, e-eu. Nossa, nem sei o que dizer! - ele falou muito constrangido -
— Não precisa dizer nada! - ela disse antes de se jogar contra ele -

Davi nem sabia como reagir, tendo aquela mulher beijando-lhe. Os pensamentos estavam muito desconexos. Não por estar gostando, mas por não saber como agir. Manuela continuava a forçar a passagem da língua, que muito sabiamente Davi negou, poucos segundos depois empurrou-a para longe do seu corpo, enxugando a boca de forma rígida.

— Nunca. Mais. Faça. Isso! - ele rosnou pausadamente -
— VOCÊ SERIA FELIZ COMIGO, DAVI! - ela berrou - Ela não é mulher para você! - disse mais baixo -
— VOCÊ, NÃO OUSE FALAR DELA! - bradou ele -
— ELA É SÓ MAIS UMA VADIA E VOCÊ É SÓ MAIS UM MALDITO CAPRICHO! - ela disse - QUANDO ELA CANSAR DESSA BRINCADEIRA DE BANCAR A BOAZINHA, VAI TE CHUTAR PARA BEM LONGE! - continuou ela, os olhos brilhando em fúria - Vai mostrar a verdadeira face! - completou mais baixo -
— Parece que não é ela quem andava escondendo a verdadeira face! - ele disse dando as costas - Não dirija mais a palavra à mim! - e saiu deixando-a para trás -

Voltando para a sala, Davi apanhou suas coisas e saiu. Quando se viu de frente para a Murphy deu uma desculpa qualquer e seguiu sem rumo para um lugar calmo.
Viu-se de repente em uma praia que naquele horário costumava ser deserta. Suspirou profundamente antes de tirar os sapatos e enfiar os pés na areia fofinha.
Andou até mais próximo do mar, a brisa forte lhe bagunçando ainda mais os cabelos.

Ele sentia-se tão sujo. Indigno agora da mulher que tanto amava e que sentia tanta falta. Como iria conseguir encará-la sabendo que não havia sido fiel?! Mesmo que ele não tenha retribuído, ele ainda deixou que Manuela lhe beijasse por alguns segundos. “Estúpido” xingava-se.

Megan, como será que ela iria reagir quando soubesse? Será que terminaria com ele por causa disso? Fechou os olhos forte. Temia tanto isso.
“Eu vou contar!” pensou. Era a melhor saída. Se ele não fizesse Manu o faria e sabe-se lá qual versão ela iria ditar para a loira.
Ficou disperso em todos estes “serás” e “se” que perdeu a noção do tempo.

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O ritmo na Mansão do silício era intenso, Pâmela sempre ficava agitada com viagens. Ela andava de um lado para o outro gritando e levando bagagens para o carro, estariam de volta ao Brasil aquele dia.

Megan encontrava-se no seu quarto. Despedia-se do seu espaço. Depois de fechar a porta de seu quarto ela seguiu para o quarto de Jack, onde passou alguns minutos despedindo-se do cheiro do avô, olhou para aquelas paredes, para aquela cama. Ele continuava ali, em cada cantinho daquele quarto. Em seu criado-mudo havia um porta retratos com uma foto dele e de Megan ainda pequenina. Os cabelos loiros brilhando ao sol.. Pegou o porta retrato e colocou de encontro ao peito.. Decidiu levá-lo consigo para o seu novo lar.. Sentou-se na cama dele e inspirou fundo... Talvez quando voltasse, aquela casa já não tivesse mais com o cheiro do velho. Deixou uma lágrima cair, era com certeza o seu último adeus. Deixou o que rotulou como última lágrima e saiu indo em direção aos gritos histéricos de sua doce mãe.

Desceu as escadas arrastando uma mala potencialmente grande. Onde havia tudo o que ela julgava necessário. Sua mãe a olhou fuzilante.

— Finalmente Megan! - Pâm disse -
— Oh mom, sem escândalo.. - disse Megan divertida - Vamos para nossa casa. - disse e seguiu para fora da mansão -

Entrou no carro e ficou à espera dos outros, estes não demoraram muito a vir.
Acomodaram-se e seguiram para o aeroporto. O caminho agora não parecia mais sem vida, tinha sua alegria e estava mais convidativo em relação à nove dias atrás quando ela chegou para se despedir de uma das pessoas que mais amou na vida.. Talvez não tivesse o mesmo calor de antes para Megan mas ela sabia que isso não demoraria a ser como antes. Quem sabe traria Davi para passarem um tempo naquela Mansão, criando mais lembranças... Se permitiu sorrir.. Logo estaria em terras brasileiras.

***

Quando desembarcou e seguiu para o portão de desembarque a primeira pessoa que Megan anseiou ver estava bem ali. Com aquele sorriso lindo do qual ela sentiu falta durante todos aqueles dias que para ela, foram uma tortura.. Não tardou a jogar-se nos braços daquele moreno, que, ela amava tanto. Sentir o calor dele era como sua dose de vitamina, de ânimo, mesmo que todos achassem que era o contrário. Em seguida abraçou Jonas que apertou e lhe deu um beijo na testa. Como a loira gostava quando o pai demonstrava seu afeto por ela.

— Sinto muito por não ter ido com vocês, sei o quanto precisavam de força! - disse Jonas indo em direção à Pâmela -
— Se soubesse teria largado tudo e nos acompanhado! - disse a loira mais velha ainda chateada com o marido -
— Please em casa vocês brigam! - pediu Dorothy - Now vamos, estou louca para me deitar naquela cama macia que só a casa dos Marra têm!

Todos riram e seguiram para o estacionamento onde acomodaram-se nos carros especiais da Marra.

Adentraram os imensos portões da Mansão dos marra no Rio e assim que o carro parou Megan saiu e arrastou Davi.
Os dois logo subiram para o quarto da loirinha.

— Então, como foi lá? - perguntou Davi -
— Sad! - informou a loira - nunca pensei que fosse perdê-lo tão cedo. - ela disse cabisbaixa - But, sei que ele está feliz agora.. Está com Granny..
— Acredita mesmo que as pessoas reencontram seus entes depois da morte? - perguntou Davi incrédulo -
— É a ideia mais confortável que tenho da morte. - ela disse e deu de ombros -
— Você é inacreditável! - ele disse pouco antes de lhe beijar. - Eu senti sua falta bad girl! - ele completou -
— Me too! - ela disse sorrindo - Então, and you, o que aprontou na minha ausência? - ela perguntou divertida -

Porém o semblante de Davi mudara repentinamente com aquela pergunta e muito infelizmente para o programador Megan percebeu. Ele engoliu seco antes de dizer:

— Preciso te contar uma coisa! - ele disse e colocou as mãos no bolso -
— Tell me! - pediu Megan gentilmente sentado em sua cama -
— A Manu me beijou! - ele disse sem rodeios e se preocupou ao ver a expressão de Megan. - Mas não é assim como você está pensando! - ele explicou -
— Como assim não é como estou pensando? - ela rosnou -

Megan sentia a raiva crescendo como fogo em seu corpo.
Como aquela vadia teve coragem de fazer isso?
E como Davi poderia ter tamanha cara de pau de lhe dizer que não era como ela pensava? Era tudo tão confuso!
Respirou fundo e olhou para o namorado.
“Ele está me contando, talvez eu devesse deixar ele se explicar.” pensava..
Não acreditava no que estava prestes à fazer. Num passado não tão distante, ela terminaria com ele sem pudor ou chance de uma explicação “digna”. Bufou.

— Okay, Davi.. - ela respirou fundo - Me conte como isso aconteceu! - pediu/mandou com o maxilar tenso -