A garota de pele bem branca e cabelos loiros que iam até a fina cintura abriu os olhos lentamente naquela manhã, ainda tentando se acostumar com a claridade que dominava aquele luxuoso ambiente, ela piscou algumas vezes..
Sentiu a cabeça girar um pouco quando tentou inutilmente levantar-se, além de sentir um peso sobre si.
Virou o rosto se deparando com o moreno de olhos puxadinhos que lhe segurava firmemente pela cintura. Era seu namorado. O homem que amava.
Forçando a memória para saber o porquê de seu stupid boy estar ali e pela impressão de buraco dentro de si. Ela lembrou-se. Borrões de uma festa na piscina, uma tarde animada e uma notícia triste surgiram em sua cabeça.

Sem conseguir segurar deixou que as lágrimas rolassem novamente por seu olhos, fazendo caminho por todo seu rosto bonito. O choro de hoje era diferente.. Silencioso, apenas para lembrar-lhe quão intensa era sua dor. Enterrando o rosto vermelho e molhado no travesseiro ela continuava à chorar.. A dor em si somente crescendo. Aquela sentença era tão dura.

Os soluços que vieram foram inevitáveis, apesar de sua tentativa falha de abafá-los. Ela não queria que seu namorado a visse daquela forma tão.. Deplorável.

— Megan.. - ele murmurou beijando-lhe ombro - Estou aqui com você.
— Desculpe. - ela disse tentando em vão cessar as lágrimas ainda sem virar o rosto para ele - Não quis te acordar.
— Não precisa se desculpar.. - limitou-se à dizer enquanto puxava-a mais para perto do seu corpo -

Megan sabia que podia contar com Davi, que com ele ela podia chorar, sorrir. Ele estaria ali com ela e para ela.

— Thanks Davi. - disse virando e dando um meio sorriso - Sorry por ter de me ver assim.. Devo estar like horrível.
— Não sei de onde você tirou isso. - disse Davi ajeitando uma mecha do cabelo loiro bagunçado - Você é a pessoa mais bonita que já vi quando acorda. Até mesmo com esses olhinhos inchados.

Ela sorriu. O primeiro sorriso verdadeiro que surgiu desde aquela notícia. Então, ela aproximou-se dos lábios dele e deu-lhe um beijo casto. Ela amava tanto aquele homem.

— Hey.. - ela protestou após uns poucos minutos - Então quer dizer que já viu muitas girls acordando?! - disse espreitando ainda mais os olhos -
— Que ciumenta. - disse o nerd fazendo um pequeno bico -

Ela riu novamente e se permitiu deixar aquela tristeza sair de si por alguns minutos. Rapidamente jogou-se por cima de Davi, montando sobre ele. Começou a beijar-lhe vorazmente. Havia tempo que não faziam amor pois ele estava muito ocupado na Marra. Não tardou a sentir sua ereção, e mordeu o lábio inferior do namorado enquanto rebolava insinuante sobre seu membro.

— Você me deixa louco.. - disse ele com a voz rouca de prazer e vontade -

Infelizmente a transa mais que esperada do casal foi interrompida por uma batida tímida na porta. Megan revirou os olhos saindo de cima de um Davi frustrado.
Levantou-se da cama andando sem emoção até a porta abrindo-a sem perguntar quem era.

— Bom dia Meguinha. - desejou uma Luene sem graça - Vim ver como está..

Foi como se novamente aquele vazio tornasse a fazer-se presente. Tão rapidamente seu semblante mudara. Luene puxou-a para um abraço que ela logo correspondeu e murmurou um “sinto muito”.

— Vou deixar você se arrumar.. Seus pais me chamaram para o café.. - deu de ombros -

E então a morena saiu após um aceno de cabeça para o moreno deitado na cama. Megan fechou a porta e sentou-se na poltrona em silêncio. A dureza daquela notícia voltando com força total. E parou pela primeira vez para pensar em como estaria sua mãe.
Davi levantou-se e se agachou perto dela, tocando a coxa de forma tranquilizadora.

— Eu também sinto muito meu amor. - disse cheio de tristeza -
— Know.. Eu nunca entendi porque as pessoas dizem que “sentem muito” - disse ela parecendo distante - Faz parecer que estão se desculpando.. Como se fosse sua culpa..
— Dizemos porque nos compadecemos da dor das pessoas que amamos.. Que de ficamos triste pela sua perda. - disse Davi para ela - Vem, vamos tomar banho..

Dizendo isso tirou-a da poltrona e encaminhou-se com ela para o banheiro do quarto.

***

Megan e Davi desceram as escadas devagar. A loira ainda tinha aquele olhar vazio, e a sensação de que tudo era um pesadelo.
Chegando na sala de jantar Megan viu sua mãe. Pâmela estava irreconhecível. Os olhos estavam inchados e vermelhos, e a expressão de que estivesse com uma faca atravessada no peito. Megan correu ao seu encontro.

— Mom! - disse e lançou-se sobre a mãe -
— Sweetie.. - disse Pâmela num sussurro -

As duas começaram a chorar, abraçadas. Compartilhando aquela dor tão sombria. Mãe e filha, cúmplices de tudo, tinham agora uma tristeza em comum..
A cena vista por outros era melancólica, digna até de uma indicação ao óscar. Quanta ironia!

— Mom não entendo.. Grandpa estava tão bem.. - disse Megan saindo alguns minutos depois dos braços de Pâm -
— Não estava não Peanuts! - intrometeu-se Jonas - Faz umas três semanas que ele foi internado.. - contou-lhe -

Foi como se um balde de gelo tivesse sido jogado na bad girl. Seu avô já estava mal e ela não sabia? Sentiu a tristeza ser misturada com a raiva.

— E porque eu não sabia disso? - rosnou Megan em seguida -
— Não queríamos preocupar você Dear.. - disse Dorothy e só foi aí que a loira mais nova a percebeu - Pensávamos que ele sairia logo.
— Pensaram? - gritou - Deveriam ter me contato!
— Megan - Davi chamou sua atenção - Não acho que seja a hora para brigas. - disse o nerd e a loira lhe lançou um olhar de censura -
— Davi tem razão Megan. Precisamos estar unidos nessa hora tão difícil.. - disse Brian com uma voz neutra -

A garota suspirou, tentando manter a calma. Claro que não era hora de brigas, mas ela odiava quando seus pais à tratavam como uma criança que não pode entender as coisas. Sentou-se à mesa em silêncio, e apenas serviu-se de uma xícara de chá. Não conseguia comer nada além daquilo.
Comeram em silêncio.

— Precisamos arrumar as malas. - informou Pâmela -
— Porque? - questionou Jonas -
— Dad vai ser enterrado ao lado de Mom na Califórnia! - informou Pâm -
— Pâm não posso largar a Marra e ir para a Califórnia.. - disse Jonas exasperado - Traga o corpo dele para cá..

Megan sentiu o coração saltitar à menção da palavra “corpo”. Era isso que seu avô era agora. Apenas um corpo, sem alma, sem vida, sem nada. Um corpo. Morto.
A discussão demorou alguns minutos até decidir que realmente teriam de ir para a Califórnia. Megan suspirou quando voltou ao quarto e pôs-se a arrumar uma pequena bolsa. Não precisava levar roupas, estava indo para sua casa.

Davi nunca a deixava sozinha, e ela agradecia por isso. Por ter uma pessoa com quem contar de verdade. Seu nerd boring.

— Eu não vou poder ir com vocês. - disse ele com um tom de voz triste - Eu não tenho passaporte! - completou envergonhado -
— Alright Davi! - ela respondeu sincera - I love you! - disse lhe dando um beijo -

Megan sabia que não era somente por isso que ele não ia para São Francisco. Davi tinha obrigações em solo brasileiro, obrigações de sua família. Jonas também ficaria, mas ao contrário de Megan, Pâmela estava muito chateada. Terminou de arrumar tudo e saiu do quarto acompanhada de Davi.
As outras duas mulheres da casa já esperavam-na junto com Brian.
Os quatro rumaram para fora da mansão e de lá para o aeroporto internacional daquela cidade.

***

Por meses Megan anseiou voltar para aquela casa, ficar onde era seu home. Estar com seus amigos, em festas. Badalar pelos shoppings, ser a bad girl.. Tudo era tão estranho agora. Da última vez que esteve naquela luxuosa mansão no vale do silício foi quando seu pai mandou-a contra sua vontade para afastá-la de Davi. Naquela época seu granpa ainda estava vivo.
Sentiu o vazio ser aprofundado quando a aeronave aterrissou em terras Americanas, estavam enfim em São Francisco.

O caminho conhecido para a mansão havia se tornado triste. Sabendo o que já encontraria por lá..
As ruas da Califórnia pareciam tão sem vida agora.. Assim como o velho Jack Parker.
O automóvel atravessou os portões daquela mansão e Megan viu como todos estavam sentindo a dor daquela perda. Quando o carro parou ela desceu sem emoção e abriu a porta da casa sem vontade. Olhou para o sofá e pôde jurar que havia visto ele lhe acenando e sorrindo. Se arrepiou inteira.

As lágrimas lhe escaparam dos olhos e ela não às impediu, subiu para seu quarto e trancou-se no mesmo. Escorregando pela parede até sentir as nádegas em contato com o piso frio. Chorou.

Uma batida na porta a acordou algumas horas depois. Ela havia dormido no chão.

— Miss Megan? - era a voz de Suzie -
— Wait! - ela disse se levantando e abrindo a porta..
— Sua mãe mandou dizer que tem uma hora para se organizar para o velório..

Megan assentiu e a mulher saiu. A loira respirou fundo passando as mãos pelos olhos. Seguiu para o banheiro, precisava tirar todo aquele peso de si.
Encheu a banheira e enfiou-se lá. Queria poder ficar por mais tempo.
Depois de sair relutante daquela banheira ela dirigiu-se ao closet.
Olhou ironicamente para todas aquelas peças. Sempre gostou de preto. Era sua cor favorita. Amava o contraste dela com sua pele alva. Bufou.

Escolheu um vestido negro, perto dos joelhos. Seu avô merecia respeito. Não quis usar meias, mas optou por luvas e um enorme óculos escuro. Pronta, ela desceu.

Pâmela estava sentada. A cabeça baixa e Megan suspeitava que chorava. Sentou ao lado da mãe.

***
Algumas horas haviam se passado. Megan estava no velório do avô. Não saía de perto do caixão por nada. Sabia que tinha que aproveitar cada segundo que tinha com ele. Tocava a pele fria do homem, lembrando o calor que costumava se fazer presente ali. A sala onde o corpo estava sendo velado estava lotada. Amigos, família, conhecidos, imprensa.. Tantas pessoas. Mas nada fazia com que aquela sensação de estar sozinha saísse de dentro da bad girl. A morte é tão triste.

— Está na hora! - alguém informou -

Megan não viu quem era. Também não importava.
O caixão foi levado para o jardim vasto e bem cuidado daquele cemitério, tendo várias pessoas seguindo-o.

Pararam em frente à uma luxuosa lápide onde se lia “Emma Christine MacNair Parker, esposa e mãe. Eternas saudades”
Era sua avó. Megan infelizmente não chegou a conhecê-la mas sempre a visitou com seu avô. Um sentimento rápido e e inesperado lhe surgiu. Ele estaria com ela agora. Sorriu com melancolia.

— Hoje é um dia triste para todos nós. E só nos mostra o quanto somos frágeis nesse mundo. A vida é um ciclo com início, meio e fim. Que para alguns termina cedo, para outros vai além do que imaginavam. Jack foi um homem maravilhoso, que tinha a amor da família, a admiração dos amigos e funcionários. Um homem que inspirava a determinação por onde passava. Construiu um império e mais valioso ainda, construiu uma família. Infelizmente o ciclo dele terminou hoje. Jack vai deixar saudades, mas acredito que vai deixar ensinamentos..

Enquanto o homem falava passava um filme na cabeça de Megan.
As primeiras lembranças que tinha do avô iam sendo projetadas em sua cabeça.. Correndo no jardim da mansão do silício, andando de bicicleta, sendo consolada por ele quando o garoto que gostava não lhe correspondia. Jack era seu melhor amigo. Aquele que ela contava tudo. Assim como sua mãe. E doía saber que não ia mais poder olhar para o avô e dar aquele sorrisinho cínico que só ele entendia, ou ficar naquele colo que somente ele sabia dar.

Foi quando uma brisa leve lhe tocou a face e um arrepio varreu-lhe o corpo. Ela não sabia de onde tirou essa ideia mas tinha certeza de que Jack estava ali, dizendo que ia ficar tudo bem.

Quando o homem terminou de falar e caixão foi sendo baixado Megan deixou escapar um soluço e um lágrima dolorosa. Quando a lápide foi selada ela só tinha uma certeza; Nunca mais veria seu avô novamente.

As pessoas aos poucos foram deixando aquele local. E Megan ainda estava parada analisando a foto do rosto do avô. Decorando cada detalhe, cada feição.

— Sweetie - Pâmela cunhou antes de chamar a filha - Vamos..
— Pode ir mom. Quero ficar mais um pouco com ele. - respondeu Megan e sua mãe assentiu -

Ela ficou sozinha enfim.. E assim que isso aconteceu jogou-se sobre a lápide e desatou a chorar.

— Grandpa, eu sei que foi sua hora.. E sei também que você está feliz agora porque está junto com Granny.. But, não pensei que fosse ir assim. Eu não estava preparada. Eu não me despedi! - fungou - Eu vou sentir muito a sua falta. Sei que é muito tarde para dizer isso but.. Eu amo você, Grandpa. Espero que descanse em paz!

E aquela brisa desconhecida voltou para tocar-lhe a face e ela entendeu aquilo como um “sim”. Enxugou as lágrimas e voltou para casa. Seu avô estava num lugar melhor agora.