Equinócio de Primavera escrita por VenusHalation


Capítulo 7
Aliança


Notas iniciais do capítulo

Tema 7: Segredo



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– Pronto, pode abrir os olhos – Venus deixou um beijo na ponta do nariz do general.

As paredes do local onde estavam haviam sido douradas e, se não fossem tão judiadas pelo tempo, ele concluiu que não teriam aquela cor fosca. Os vidros das janelas estavam sujos, encobertos por uma espessa camada de poeira amarela – a qual Kunzite nunca havia visto na vida – o corredor, iluminado apenas pelas pequenas frestas entre a poeira – era extenso e, em suas paredes, algo que ele supôs ser molduras, estavam cobertas por panos velhos e desgastados.

– Onde estamos? – Concluiu que não estavam em um lugar conhecido na terra.

– Bom, essa é minha casa – deu de ombros. – Quer dizer, costumava ser antes, sabe? Enfim, esse é o castelo de Magellan.

– Estamos em Vênus? – Os olhos quase saltaram das órbitas.

– Não exatamente, estamos só em órbita, – ela caminhou até a janela mais próxima e a abriu com dificuldade, deixando a luz do sol entrar – Vênus está logo ali.

Kunzite se aproximou receoso, tudo que ele podia ver, pouco a frente, era o pedaço de uma elipse encoberta por uma confusão de nuvens amareladas em espirais e grandes clarões amarelos no meio delas. Era bonito ver a cor viva no meio daquilo que era, com certeza, um deserto mortal no meio do universo.

– Aqui já um planeta muito diferente – ela escorou no parapeito, ao lado dele. – Vênus era quase como a sua terra: um planeta cheio de vida, grandes mares, florestas e pessoas – o toque na voz dela era triste.

– Como...?

– Meus pais me contaram que foi na era dos meus avós, quando o grande mal veio e começou, silenciosamente, a tomar conta do sistema solar – Venus ergueu o corpo e caminhou até uma moldura, puxando o pano velho.

A imagem escondida atrás do pano era uma pintura. Esta estava com algumas partes levemente rasgadas, mas os majestosos traços, altamente realísticos, ainda traziam o mesmo brilho a família retratada ali: uma bela mulher - de cabelos loiros presos a uma trança extensa, e a barriga grande, provavelmente grávida – estava com o braço entrelaçado ao de um homem, – este de olhar severo e barba cheia, também do mesmo tom amarelo que o cabelo dela - ambos tinham coroas na cabeça e, pouco abaixo deles, duas crianças olhavam para frente. As crianças eram um menino, por volta de seus 12 anos, e uma menina de bochechas cheias e rosadas, por volta de 8 anos. Os irmãos – ou assim Kunzite supôs – tinham os mesmos cabelos loiros dos pais e o mesmo ar nobre, o que mais chamava a atenção, no entanto, eram os olhos dos quatro membros retratados ali: eram muito vivos, de um amarelo ofuscante e ele poderia jurar que estava sendo observado.

– Esses eram meus avós e esse garoto aqui – ela apontou para o menino no quadro – era meu pai.

– Seu pai, mesmo jovem, inspirava muito respeito – analisou, ainda receoso pelo olhar vivo.

– Ele era assustador, às vezes – sorriu. – Esse quadro foi pintado pouco antes da minha família ter que se mudar para cá.

– O quê, exatamente, aconteceu?

– Quando os primeiros rastros de escuridão foram descobertos, foi um pouco tarde – suspirou profundamente. – Mercúrio foi o primeiro a cair, por sorte, a tecnologia deles era tão avançada que eles já tinham muito mais além da sua atmosfera e Vênus... Bem... O núcleo do meu planeta já estava completamente tomado e tudo o que as pessoas conheciam como casa foi destruído aos poucos. Tudo se transformou, aos poucos, em um grande deserto. Meu avô procurou a ajuda em Mercúrio e encontrou.

A venusiana andou alguns passos e puxou outro pano de outra moldura. O quadro era muito semelhante ao anterior: uma família. Dessa vez, o retrato era de um homem de cabelos e olhos dourados, mais jovem que o da foto anterior, carregava uma menina nos braços, também de cabelos loiros e, com a diferença do quadro anterior, olhos azuis muito vivos, - Kunzite reconheceu aquela pequena figura como a sua Venus - ao lado de pai e filha, também havia uma mulher, diferente do padrão venusiano mostrado no quadro anterior, ela não tinha olhos dourados, nem mesmo o cabelo: era tudo azul como o céu terrestre. Seu olhar não era intenso, mas calmo e profundo como as águas de um rio corrente.

– A aliança de prata começou aí – Venus acariciou os pés das pessoas retratadas. – Sabe, as pessoas aqui tinham os poderes provenientes do metal: Forte, duro e, quando exposto a grande temperatura, incandescente e maleável. Meu pai dizia que o coração dele, duro como uma espada, fora completamente exposto a forja quando conheceu a minha mãe. Eu gostava de ouvir essa história infinitas vezes: Ela era a segunda princesa na linha de sucessão de Mercúrio e ele o futuro rei de Vênus. Se conheceram em uma das conferências entre os planetas para tornar viável a subida de Magellan a órbita e, desde aquele dia, meu pai sabia que era ela.

– Como ele podia ter tanta certeza?

– Venusianos também têm conhecimento sobre um dos sentimentos mais bonitos: o amor – trocou um olhar sincero com o general shitennou. – Por algum motivo, nós somos capazes de sentir a mais profunda das conexões entre pessoas e entre nós mesmos – notou uma reação nada confortável vinda do General. - Claro que não é algo exato como "Eu vou me envolver com alguém porque sinto", é apenas uma conexão muito forte, como a que sinto em relação a princesa, as minhas companheiras de batalha, a rainha Serenity...

– A mim...? – De repente, o chão pareceu muito interessante de se olhar.

– Talvez... – O tom de voz foi altamente brincalhão antes da princesa venusiana jogar os braços nos ombros dele. – Meu pai ia a Mercúrio visitá-la várias e várias vezes sob pretexto de acompanhar o meu avô e tornar-se um rei melhor para seu povo. Minha mãe dizia que chegava a ser irritante a insistência dele, afinal, eles eram de planetas diferentes.

– Sabemos de quem você puxou sua teimosia – Kunzite levantou uma das sobrancelhas, em total sinal de deboche. – Pelo menos, me alivia saber que existiram outros casais de planetas diferentes por aí.

– Ei! Foram necessários muitos anos para que ele, finalmente, conseguisse que ela correspondesse. Mercurians são muito racionais e, com minha mãe, não era muito diferente – brincava com os cabelos da nuca dele, distraída.

– Sinto uma leve semelhança...

– Com quem será? – Revirou os olhos em sarcasmos puro. – Minha mãe pensava que ele só queria uma aliança sólida, um casamento entre os dois reinos seria de interesse político muito grande, ainda mais como início de um casamento "interestelar". Graças aos Deuses, meu pai deu muitos motivos para ela acreditar no coração dele, então, eles se casaram assim que meu pai tinha idade suficiente para assumir o trono. A parceria entre Vênus e Mercúrio foi formada e, pouco depois, Magellan já estava em órbita. E, antes de eu nascer, a vida dentro da atmosfera de Vênus estava extinta.

– Não duvido que a união dos seus pais tenha acelerado o processo.

– Nem eu, – deu de ombros – interesses políticos são prioridade em qualquer parte do universo.

– Quando você se tornou parte disso? – Notou uma nota triste na fala da loira.

– Marte também foi tomado em silêncio, – se afastou e olhou pela janela, mais uma vez – logo depois Júpiter. A lua conseguiu manter a si e a Terra em proteção graças ao poder do Cristal de Prata e a luz pura que ele emite, mas a Rainha Serenity percebeu logo que não aguentaria tudo sozinha, foi aí que nasceu a verdadeira Aliança de Prata. Inicialmente formada pelos planetas do sistema que chamamos de inner: Lua, Mercúrio, Vênus, Marte e Júpiter.

– Espere, - interrompeu – inicialmente? Quer dizer, existem outras além de vocês?

– Existem, eu acho, mas eu nunca as vi. As outers, são guerreiras lendárias que cuidam da proteção da princesa da lua de longe, mas ninguém nunca nos contou nada sobre elas, não sei nem se, de fato, elas existem.

– É uma aliança esquisita quando não se conhece seus aliados. – Kunzite cruzou os braços.

– Há mais além do universo do que eu, sozinha, possa saber – mordeu o lábio inferior, algo triste estava em seus olhos e ele pode captar.

– Venus... – Um estalo veio à mente do general - onde eles estão?

– Eu fui mandada para a lua com, como vocês gostam de dizer, 10 anos terrestres. No começo eu senti medo e vi todos os meus sonhos caírem por terra. Tudo o que eu conhecia como meu lar foi deixado para trás, mas eu senti a conexão que meu pai tanto dizia sobre nosso povo que eu pude seguir em frente. Pouco depois a vida em Magellan também ficou inviável. Apesar da atmosfera artificial ser boa, ainda não era o suficiente para que venusianos conseguissem prosperar aqui dentro. Era muita vida para pouco espaço e nossa pequena proteção já não estava aguentando tanta pressão.

– Eles... – engoliu seco.

– Não! – Venus interrompeu e balançou a cabeça negativamente várias vezes – meus pais estão vivos. Com a aliança, nosso povo pôde buscar refúgio em outros lugares, e eles, atualmente, eles vivem em mercúrio, onde os sábios de lá controlam não apenas uma, mas várias atmosferas flutuantes com tecnologia superior e monitoramento constante. Lá, com certeza, tudo é controlado bem melhor e, obviamente, com tecnologia renovável e de ponta.

– Então, por qual motivo você me parece tão triste?

– Eu queria poder trazê-los de volta – suspirou – aqui era a nossa casa, era onde nosso povo prosperava. De alguma forma, eu sei que eles esperam que eu seja capaz de fazer isso quando finalmente enfrentarmos o grande mal. Sabe, trazê-los para casa.

– Imagino o quão grande deve ser essa responsabilidade, sinto muito – chegou perto e envolveu a cintura da amante em seus braços.

– Tudo bem, não é como se eu não estivesse acostumada a pressão – devolveu o abraço.

– Algo me deixou curioso sobre tudo isso: Por quê me trouxe aqui?

– Porque Magellan é selado.

– O quê?

– Pouco antes dos venusianos saírem daqui o castelo foi selado. Eu encontrei uma falha no selo e consegui entrar aqui.

– Está me dizendo que estamos dentro de um castelo abandonado, em uma órbita hostil com falha na segurança? Kunzite fingiu estar indignado.

– Exato.

– Completamente sozinhos?

– Sim, - mordeu o lábio inferior, provocando – e agora que você sabe um pouco da história da minha família, creio que posso apresentá-lo ao meu antigo quarto.

– Parece tentador – os dedos tornaram-se mais rígidos na cintura da venusiana.

– General, – chamou já em tom de aviso – prometa que não vai contar a ninguém sobre esse lugar.

– Foi por isso que me trouxe de olhos fechados? Para eu não saber o caminho?

– Prometa... - ao mesmo tempo que parecia um pedido infantil, era mais como um aviso.

– É claro que eu prometo, - se aproximou o bastante para tocar os narizes – será nosso segredo.

– Obrigada - um sorriso genuíno brotou dos lábios da ex-princesa.

– Quero saber tudo sobre você, sua história, seus sentimentos e dividir quantos mais segredos eu puder ser capaz de guardar.

– Agora me sinto triste por não saber nenhum segredo altamente comprometedor seu – fez beicinho.

– Se o convite para conhecer seu quarto ainda valer, há alguns segredos que eu posso te mostrar agora – aquela fala tinha um ar nada puritano.

– Acho que será um prazer apresentar-lhe meu quarto – Venus gargalhou deliciosamente antes de roubar um beijo do shitennou.


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Notas finais do capítulo

sse foi um dos meus plots favoritos. Sempre imaginei Magellan como um castelo abandonado e jogado as traças onde a V ia sozinha ocm o Kun-kun pra... ter privacidade.

Enfim, de ontem pra hoje muita coisa mudou na história, inclusive, o lance da mãe da V. Quando comecei a escrever, eu pensei em fazer a mamãe dela venusiana, família tradicional e tudo mais, daí né... Veio a ideia brilhante "De onde vem os olhos azuis?". Daí troquei tudo e me pareceu mais interessante assim. É, tecnicamente, nesse plot, V-chan e Mercury são primas hahahaha... Why not? :D



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