Equinócio de Primavera escrita por VenusHalation


Capítulo 3
Fugitivos


Notas iniciais do capítulo

Tema 3: Deserto



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Os pequeninos dedos dos pés abriram e fecharam lentamente na areia, ela, de olhos fechados, sentia a textura fina e macia acariciar a pele, enquanto o vento seco e o calor acariciavam o corpo. Aquela sensação era nostálgica, gostosa e tudo o que ela tinha para lembrar do lugar que um dia ela chamara de casa.

Vênus, pouco abaixo das nuvens de ácido sulfúrico, escondia um deserto como aquele que ela encontrara no planeta Terra. Claro que um pouco diferente, afinal, em seu planeta havia muito mais vida e quando ela fechava os olhos, podia se lembrar dos dias em que sendo apenas princesa venusiana utilizara o deserto como seu quintal. Artemis sempre a levava para brincar com as outras crianças, visitar as feiras, participar de festivais e conversar com súditos, mas sua parte favorita era sentir o calor do sol na pele e brincar na areia. Tudo pareceu muito distante dela quando teve que ir embora para a lua, os dias em que era apenas Freia, princesa e futura regente de Vênus, ficaram para trás, dando espaço a Venus, guerreira lendária e líder das Sailors que protegiam a tutora do cristal de prata.

Então, ela encontrou aquele lugar no planeta azul. Por acaso, em um dia de curiosidade infantil, escapou e foi parar logo ali. Naquele monte de areia, tão mais perto que seu planeta natal, desde então, era onde ia quando precisava estar só, quando precisava esquecer ou quando a saudade de um eu que ela jamais voltaria a ser era grande.

Era como ver uma miragem, então, o jovem coçou os olhos e jogou um pouco da água do cantil no rosto, mas ela ainda estava lá. O camelo continuou a se aproximar e o garoto balançou a cabeça algumas vezes, do seu conhecimento no deserto sabia que a miragem já deveria ter sumido a aproximação, além disso algumas pessoas viam oásis e ele estava vendo uma menina e uma menina totalmente incomum. Estava parada, no meio do nada, os longos cachos loiros dançavam a vontade do vento, o vestido era muito curto e pouco tampava, deixando a pele muito exposta para qualquer viajante comum do deserto. Normalmente ele ignorava qualquer viajante que passasse, mas aquela não, impossível de ignorar, não era uma miragem, era real.

– Vai se queimar se continuar exposta assim – alertou a desconhecida.

Ela abriu os olhos assustada, encontrando apenas um olhar severo da cor de aço, emoldurado por tecidos que cobriam o rosto do garoto que devia ter, por volta, de 12 anos.

Ela tinha olhos azuis muito bonitos.

– Quem é você? – O garoto desceu do animal, ainda sim, era uma cabeça mais alto do que ela. – Não sabe falar?

– Me desculpe – deu um passo para trás, receosa.

– Eu não vou machucá-la, - puxou o pano que o cobria abaixo do nariz – vê?

Um sorriso tímido brincou nos lábios da loira "Não me machucaria nem se quisesse", pensou.

– Não sabe quem eu sou? – Achou estranho quando ela negativou com a cabeça. – Certo... Quem é você?

– Freia – não sabia bem o motivo, mas utilizou o nome de sua casa, talvez fosse o deserto.

– Freia, o que você está fazendo aqui? O sol pode queimar você, está muito exposta, tome – ele jogou a capa que estava em suas costas para ela. – Meu nome é Tariq.

Venus pegou o tecido e jogou por cima dos ombros, ainda em silêncio, ele parecia muito mais despreocupado quando ela afirmou não conhecê-lo.

– Você não fala? – Olhava para ela com expectativa. – Tudo bem não falar, você parece que está longe de casa, quer dizer, você não parece ser daqui.

A pequena Venus desviou o olhar dele, mirando o chão.

– Tudo bem, não falo mais sobre isso, afinal, também estou fugindo de casa – ele deu de ombros.

– Fugindo? – Ela pareceu muito mais interessada quando virou bruscamente e quase encostou seu nariz no dele.

– Eles querem me levar embora, sabe... Eu tenho que servir alguém.

– Você vai ter que deixar tudo para trás? – A frase mais longa dita por aquela criança foi dolorosa de ouvir.

– Acho que vou – o menino olhou para o horizonte atrás de si.

– É ruim deixar tudo para trás, mas... Não faz sentido fugir, você está abandonando tudo de qualquer jeito, não é?

– Bom... Você também está fugindo, não está?

– Mas eu sempre volto – ela sorriu – eles precisam de mim, então eu volto. Às vezes eu não quero estar lá, eu quero voltar para casa, então eu venho aqui. Mas aí eu percebo, sempre, que lá também é minha casa, então eu volto.

– Você não faz sentido.

– Você também não – ela devolveu a capa entregue minutos antes.

– Vai voltar agora?

– Vou, e você também deveria, as pessoas que o amam devem estar preocupadas com você.

– Como pode ter tanta certeza? – Ele a segurou rápido pelo pulso.

– Eles também sentem a minha falta – Venus olhou para cima. – Faça o seu dever o melhor que puder e poderá encontrar sua casa lá também.

– Você fala como se soubesse...

– Eu sei um pouco... Olha, por favor, não conte a ninguém que me viu – Venus pediu diante do olhar confuso dele.

– Eu não vou contar – concordou pensando em que tipo de castigo a garotinha teria se descobrissem que ela escapou.

– Vou confiar em você - Freia acenou – boa sorte, Tariq.

A menina desapareceu do aperto em seu pulso em um clarão dourado repentino que ascendeu aos céus. O jovem ficou alguns minutos, boquiaberto, olhando para cima, enquanto o sol se punha, procurando algum sentido em tudo que acabara de presenciar.

– Tariq! Tariq! – A voz de um homem se aproximava, fazendo o pequeno despertar do baque.

– Pai? – Virou-se bruscamente.

– Por Allah, não se afastou muito! Está tudo bem? – O homem mais velho abraça o filho com força e o beijava as bochechas sem parar. – Não precisa ir, não vamos obrigá-lo, foi um erro! Não nos dê esse susto, vamos dar um jeito, vamos transferir a pedra, procurarei o melhor do magos, prometo que você...

– Eu vou para o reino dourado, pai – interrompeu a chuva de palavras, beijos e abraços. – Serei general do príncipe, assumirei minha pedra e o posto como Kunzite.

– Filho...

– Eu estava confuso, perdido, mas acho que me encontrei.

– Achei que perderia meu único filho para o deserto hoje, mas vejo que o perderei para o rei de tudo.

– Não, pai... Eu serei o melhor de todos os generais, então, poderei vê-lo sempre – ele abraçou o mais velho.

– Isso não faz sentido.

– Se eu fugisse, também não o veria de novo de jeito nenhum.

– Talvez o deserto tenha lhe feito bem – deu alguns tapas na cabeça do filho.

– É... – Tariq olhou para cima, o céu começava a mostrar as estrelas e, em especial, a lua cheia – talvez tenha.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu tive a crise de enxaqueca mais filha da puta que um ser humano pode ter na vida. Não conseguia olhar pro PC ;3;

Mas enfim, hoje vou ter que jogar 3 fics numa tacada só pq né... Tô atrasada! ÇOCORR... Vamo lá!



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