Suor frio, coração acelerado, um puxão de ar e a elevação súbita do corpo enquanto os dedos se apegavam aos lençóis da cama com força. Foi assim que Minako acordou.

Com os olhos vidrados na parede, enquanto o compasso de respirar tornava-se normal, uma das mãos subiu até a costela, para cobrir, por cima do pijama, a cicatriz – uma fina e pequena marca que estava ali desde que ela nasceu – que latejava com força.

– Minako? – Artemis pulou no colo da parceira, tirando-a do transe – você está bem?

– Artie! – Balançou a cabeça e esfregou os olhos. – Sim, eu acho...

– Você está pálida – o gatinho esticou a pata, afastando gentilmente a franja dele para sentir a temperatura na testa.

– Eu estou bem – apertou a cicatriz ainda latejante, abraçando a própria cintura.

– Aparentemente a sua temperatura está normal e... – Prestou atenção no movimento que ela fez com o braço – Mina...

– Está tudo bem – sorriu aquele velho sorriso enganador.

– Está doendo de novo?

– Apenas latejando.

– Aquele sonho não aparecia há muito tempo, não é? – Ele esfregou a cabeça por cima da mão dela, que ainda estava por cima da cicatriz.

– Há alguns anos – Minako retirou a mão da cicatriz para coçar o amigo atrás da orelha.

– Quer falar sobre isso? – O gato já estava com a voz preguiçosa devido ao carinho e ao sono da madrugada.

– Foi só um susto, eu estou bem – se jogou de uma forma bem Minako para trás, fazendo Artemis pular para o chão e abraçou o travesseiro.

– Mina! – Ele caiu desajeitado.

– Artie, não era para você sair, volta para a cama! – A voz que ela usava era manhosa.

– Você não tem jeito, não é? – Saltou de volta, aninhando-se ao lado do travesseiro.

– Nenhum, mas hoje quero dormir na sua companhia! – Nariz e focinho se encontraram carinhosamente – boa noite, gato chato.

– Boa noite, heroína desajeitada.

Artemis caiu no sono rápido depois que a adolescente insistiu em coçar sua cabeça. Quando o respirar dele tornou-se pesado, Minako se ajeitou na cama para tentar dormir, mas não conseguia fechar os olhos ou olhar para nada além do teto fracamente iluminado pelas luzes da cidade lá fora.

A marca abaixo do peito esquerdo ainda pulsava e ardia como um arranhão recente, mas nada comparada a dor pouco acima, do mesmo lado esquerdo, no peito, na altura do coração.

As imagens do sonho eram muito nítidas, reais, como se vividas no dia anterior. Lágrimas teimosas insistiram em escorrer pelos olhos ainda vidrados no teto.

– Mina? – O gato chamou com a voz sonolenta, a ligação entre ele e Minako era forte o suficiente para que ele despertasse ao sentir algo errado – não chore... – Em um brilho prateado, ele tomou a forma humana e a aninhou em seus braços – já passou.

Minako encostou a testa no peito do amigo e começou a soluçar, sem dizer nada. Embora Artemis pensasse que eram as memórias da guerra que a faziam chorar, ele não poderia imaginar que o sonho daquela noite não envolvia qualquer marca de guerra: Na verdade, envolvia um treino de espadas, um pequeno arranhão acidental, um curativo feito às pressas e o primeiro beijo de um jovem casal que certa vez esperava a volta de seus mestres em solo terrestre.

Uma das memórias mais felizes que a deusa do amor tinha de sua vida anterior, mas a lembrança de que ela nunca mais poderia encontrar Kunzite novamente.