Meu Psicopata de Estimação escrita por Felipe Araújo


Capítulo 9
O julgamento


Notas iniciais do capítulo

TÁ NÃO CONSEGUI CUMPRIR O COMBINADO POR CAUSA DO FERIADO, MAS AQUI VAI O PRÓXIMO! Espero que gostem, e esperem que a sanguinolência vai começar...



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O veículo Hyundai hb20 vermelho é estacionado em frente da grande casa de esquina. Lucas desce do carro e aguarda ansioso por Ester. O rapaz arruma os últimos detalhes de sua roupa de pirata. Camisa de seda branca com babados cor beje, sobretudo azul-escuro em veludo, botas de cano alto, calça larga na cor marrom, muitos detalhes sobre a camisa, e claro, um chapéu grande e chamativo. Em seu rosto barba falsa preta junto com seu tapa-olho. Tudo em devida ordem, menos Ester. Quase dez minutos atrasada.

— Será que desistiu? — Ele fala para si mesmo em tom alto sem perceber que o portão da casa abre.

— Não, estava terminando de me arrumar. — Ester aparece.

Lucas quase cai para trás quando a vê em sua frente. A menina está divina, com sua fantasia de camponesa. Um vestido longo com cores apagadas dando sensação de velho, em seu colarinho detalhes verdes que chegam a brilhar. Sobre os ombros uma manta com cores escuras que misturam com seu cabelo longo jogado para frente. Mas o que chama atenção de Lucas é o olhar mesclado na coroa de cores na cabeça da garota. Ambos não escondem um singelo sorriso.

— Você está linda! — Ele exclama.

— Obrigada. — Lucas apressa-se em abrir a porta do carro para sua parceira de festa. Ester cora de vergonha e entra dentro do veículo. Se ajeita no banco, enquanto espera o rapaz entrar para saírem.

**

Na floresta de pinheiros da cidade de Santa Monica, onde por mais de cinquenta anos funcionou uma grande fábrica de papel. Agora serve de salão para grandes festas. Isso apenas é possível, pois a fábrica é herança de George e Érica. Que transformou anos de suor em anos de diversão, são considerados os heróis de uma cidade morta para esse tipo de coisa.

A fábrica é grande, já foi cercada por muros. Hoje apenas os pinheiros altos tampam a visão da estrutura de quase quinze metros de altura. Grandes chaminés decoram o salão principal. As máquinas dos trabalhadores foram retiradas, deixando um grande espaço para os convidados dançarem, enquanto o escritório do andar de cima foi quebrado e transformado em estúdio de “djs”. Para chegar no local da festa existe uma trilha estreita de terra que só passa um carro. O único caminho para se chegar na mata fechada. Pouco acesso, e um lugar escuro que se ilumina com as luzes elaboradas que já começam a se destacar entre o breu. Palco perfeito para o que Samantha tem em mente, enquanto segura o “rabo de gato” que sai de sua fantasia.

Sam veste uma fantasia sensual, meias-calças transparentes e brilhantes vão até um maiô preto de couro, unhas decoradas e orelhas em um arquinho sobre sua cabeça. Érica é uma bruxa, mas totalmente diferente do conceito certo: um vestido roxo curtíssimo até suas coxas, luvas transparentes da cor preta, unhas da mesma cor, cabelos armados e em cima dos cachos um chapeuzinho pontudo. Sorri para a amiga, arrastando um saco de tomates. Vitor é um guerreiro com armadura, sem muitos detalhes o que fez George gargalhar.

— Não tinha algo melhor para vestir?

— E você seu idiota? — George por incrível que pareça está vestido de super-herói, não dá para distinguir qual. Roupa verde com uma capa azul contrastada em sua pele escura e seu sorriso vibrante,

— Sou uma mistura de Superman e Lanterna Verde. Ah, não sei, apenas vesti a primeira coisa que achei.

— Parem de conversar, venham puxar os sacos de tomate para frente do palco e ajude a Érica cobrir com os panos, para tirarmos no momento. — Sam ordena, e os amigos ajustam tudo antes dos convidados começarem a chegar. Anne observa tudo aflita sem mover um músculo.

O teatro quase pronto, o ar de entusiamo que paira é grande. Um palco cinza enorme esconde um palanque de madeira que será erguido com a ajuda de cordas. O julgamento vai começar.

**

O relógio marca quase oito horas da noite, carros e mais carros são vistos ao redor da fábrica que exala música eletrônica e luzes coloridas pelas janelas enormes. Lucas e Ester chegam, entretanto antes de estacionar a garota com os olhos fundos e preocupados tenta dizer algo, mas sua voz não sai. Lucas entende que ela está assustada, segura em sua mão.

— Vamos, vai ser legal, eu prometo. — Ela morde o lábio, e diz

— Você faz promessas de mais senhor Lucas, será que consegue cumprir todas? - E antes de ela tentar dizer mais alguma coisa, ele beija os lábios vermelhos da garota que estremece. Ester está gostando muito de Lucas, e a cada segundo se sente mais segura ao lado do rapaz que acabara de conhecer — amor — talvez. Nada poderá distinguir o que se passa no coração da menina que se trancou para o mundo durante tanto tempo.

Gentilmente o pirata destemido abre a porta do carro para a camponesa assustada, que pisa pela primeira vez na vida em terras desconhecidas, um “reino” distante da sua zona de conforto. Ester deslumbra-se com a decoração das árvores ao redor do local da festa. Panos de todas as cores sobre as folhas, estacas de fogo queimam e formam o caminho que eles seguem de mãos dadas. Os olhos claros dela deslizam por todos os lados e um sorriso bobo cerca suas bochechas rosadas, seus passos lentos sobre as folhas secas criam marcas em suas sapatilhas brancas, são essas marcas que a garota ansiava desde pequena, sentir as pessoas ao seu redor. Sentir o calor humano, de outra pessoa sem ser a de Edgar. Lucas entrelaça seus dedos finos entre os dela, erguendo o vestido para não sujar Ester chega até a porta de entrada. E o encanto apenas começa.

A música estrondosa entra nos sentidos de todos fazendo o corpo das pessoas mexerem por vontade própria. Aquela música é totalmente diferente das melodias que Ester escuta em sua casa, mas ela sabe o que significa. Animada ergue os braços enquanto Lucas observa pasmo. Se mexe no ritmo da música, ele acompanha. Ao som de “Redfoo – Juicy Wiggle” dançam como se Ester fizesse parte do lugar para a surpresa do pirata.

— Vamos entrar, aqui na entrada fica ruim de dançarmos. — Grita Ester, e Lucas vocifera.

— Ester você é maluca mesmo. — Ela morde o lábio, seduzindo o rapaz.

Se espremem entre os corpos soados, de múmias, bruxas, demônios, fantasmas, gatinhas, coelhas, zumbis e todo tipo de fantasia existe para Halloween. Todos dançam descontroladamente, bebidas são jogadas para cima, copos e taças com whisky e energético, vodca, cerveja. O cheiro de maconha exala. Sobre a pista de dança mesas e jovens usando até mesmo cocaína. O puro prazer jovem sem limites essa é a grandiosa festa que o aguarda.

Ester pendura-se sobre Lucas dança suavemente e o beija. O rapaz pasmo não pensa nem mesmo em procurar Anne e os outros amigos, só quer curtir o momento de animação de Ester – não sabe quando voltará, então aproveita. Mas ele não precisa procurar pelos amigos, de longe uma bruxinha os avista.

— Sam, chegaram! — Ela grava um áudio em seu celular e envia para Sam, que no mesmo instante recebe.

— Comece o plano. — Érica revira os olhos alegre.

Lucas traz uma bebida para Ester, mas a garota rejeita. Ele não, toma alguns goles de Vodca quando é tocado no ombro. George, Vitor e Érica chegam até o casal no meio da pista de dança.

— Então chegaram! — Ester disfarça, Érica nada discreta abraça a menina em sua frente e conclui ao olhá-la dos pés a cabeça.

— Você está magnífica Ester, aliás, lembra de mim?

— Sim, Érica não é?

— Claro, estudamos juntas. Ah, Lucas tudo bem? — Ela cumprimenta Lucas que indaga para os três.

— Tudo ótimo, onde está Anne? — Ester lança um olhar trêmulo para o rapaz, que não entende, George conta onde a Anne se encontra, e Érica puxa o braço de Ester.

— Não sei, mas acho que vamos nos dar superbem. — A camponesa não diz nada, apenas morde o lábio. — Vamos, vou te apresentar para Samantha, ela vai te adorar.

— Não, vou ficar com o Lucas.

— Que isso Ester, vá conhecer a galera, agora faz parte da turma. — Vitor ironiza, enquanto Lucas balança a cabeça positivamente para ela, que sorri e acaba sedendo, seguindo Érica.

Antes de sumir no meio das pessoas fantasiadas e dançantes, Ester olha para trás e lança um olhar de desespero e alegria para o pirata confuso. George e Vitor pegam no ombro de Lucas e guiam o rapaz para uma posição oposta. Sem ele saber que foi dada a largada para o morticínio.

**

Anne anda de um lado para outro, sem fantasia. Vestindo uma calça jeans e camisa de manga cumprida lisa. Seu cabelo preso em um rabo de cavalo, fazendo sua expressão de preocupação exalar. Arrependida procura desesperadamente por Lucas e Ester no meio da festa, teme que algo ruim possa acontecer. Mas o que acha é apenas drogas, bebidas, pessoas loucas e descontroladas. Decide ir direto na boca do inferno, atrás do palco e sabe o que vai encontrar. Samantha está aos beijos com outra garota, sensualizando e dançando sem preocupação alguma. Anne vocifera antes mesmo de chegar até as duas.

— Sam, vamos parar com isso! — Sam vira a cabeça largando os lábios da loira.

— Largar a Cris? Mas acabamos de começar.

— Não se faça de idiota, Cris... — A garota entende e sai, antes se despede de Sam com um beijo molhado.

— Você é uma boba, Ester já está vindo para a armadilha.

— Não gosto dela, mas agora olhando tudo isso.

— Não se faça de santa!

— Não sou santa, olha o tanto de gente que tem hoje na fábrica. — Sam contesta

— Era o que queríamos, que a cidade inteira vesse Ester Castrinni cair, derrubaremos o narizinho empinado dela.

— Não vou participar disso. — Anne da de ombros, mas Samantha segura firme no braço da amiga e ameaça.

— Se não cooperar, pelo menos com essa boca fechada, vou dar um jeito de acabar com você. —Anne não diz nada, entretanto puxa o braço para se soltar com violência, respondendo sem ao menos falar.

**

Vitor e George levam Lucas para um lado afastado da pista de dança, do lado de fora da fábrica em uma espécie de casa de ferragens. Lá a música e gritos são abafados, cenário perfeito para que o vizinho e apaixonado de Ester não atrapalhasse no jogo de humilhação. A noite é fria e uma garoa fina cai sobre os três, Lucas não entende o motivo de estarem ali, mas quer saber se

— O que estamos fazendo aqui? Tem certeza que Anne tá lá dentro?

— Mano, ela não quis falar com nós, tá chorando que nem uma doida faz um tempo. — George diz, quase rindo, mas Vitor soca o amigo para ele disfarçar e fala em seguida.

— Acho que ela tem ciúmes de você com a Ester, entra lá e fala com ela! — Lucas suspira e sem pensar entra no barraco.

O que encontra é um lugar escuro com muitas coisas velhas espalhadas por todos os lados: caixotes de madeira, ferramentas, baldes com tranqueiras, aranhas, insetos... Lucas encontra de tudo, menos Anne. Ele da de ombros para o opaco lugar e comenta para os dois que o aguardam na porta.

— Anne não está aqui! — Os dois riem como se fosse uma piada. Mas sem dizerem nada fecham a porta de ferro e enroscam uma corrente e tranca com cadeados.

— Desculpe, mas vai ter que esperar tudo acabar ai dentro.

— O que? Me soltem, agora! — A gargalhada dos dois vão sumindo, e Lucas percebe que está sozinho no escuro e sem entender o que vai acontecer.

**

— Então Samantha essa é a Ester. — Érica apresenta a menina fantasiada de camponesa, sem jeito e desordenada Ester dá a mão para um cumprimento, mas a ousada de cabelos negros se joga nos braços da mesma, dando-lhe um abraço carismático.

— Prazer, sempre te vi pela cidade, na biblioteca trabalhando mas nunca nos falamos não é?

— Sim, não sou muito de falar. —Neste momento George e Vitor voltam, segurando uma corda e um saco de batatas branco. — Érica gargalha e Sam ergue uma das sobrancelhas.

— Então Ester, quer conhecer toda a nossa cidade? — A menina fica sem jeito e dá um passo para trás.

— Não! Vou procurar o Lucas, com licença. — Vitor entra em sua frente, ela tenta desviar, George grita.

— Calma garotinha assustada, tudo vai acabar bem! — Vitor rapidamente segura os braços de Ester que pula e não consegue se soltar, ela grita desesperadamente, entretanto ninguém ouve. Estão atrás do palco e o som alto.

— Grite sua vaca, grite ninguém vai te ajudar, nem mesmo o Lucas. — Ester arregala os olhos e assim que ouve o nome do seu vizinho chora. Porém, seu olhar muda e uma expressão demoníaca invade sua face, que é tampada quando George coloca o saco de batatas na cabeça dela.

— Agora vamos levá-la para o palco e vamos amarrar o corpo dela no pedaço de tronco.

Ester se rebate, seu corpo tenta se soltar e sua alma clama por ajuda. A menina sufocada com o pano em sua cabeça e amarrada começa a lembrar de tudo que Edgar falara para ela. Que o mundo é traiçoeiro, perverso... Que todos os outros ao redor dela só querem te magoar e te ferir. Ela lembra dos pais, dos parentes e de todos que teve que se afastar para se sentir segura. Tudo isso fora apagado quando Lucas surgiu, ela tinha sentido algo diferente vindo do seu novo vizinho, algo bom e ao mesmo tempo magnífico. Talvez foi curiosidade, entretanto neste momento sentindo as mãos fortes de Vitor carregá-la para o incerto, o seu sentimento pelo mundo volta para aquele sentimento, o de desprezo.

Ester é solta no chão e amarrada em um tronco. Ela se incomoda com tudo e seus braços começam a doer, Ester chora. Vitor e George puxam uma corda amarrada no tronco e o mesmo é erguido e centralizado no palco central da festa. Sam pede para Érica parar o som, e em seguida pega o microfone. As luzes são acesas e por um momento vaias são ouvidas vinda do povo que curtia a música, porém todos se calam, quando avistam uma garota amarrada, com um saco na cabeça e chorando no palco. Samantha fala e sua voz sai alta no microfone.

— Desculpe interromper a diversão de vocês, mas estão vendo essa menina no palco, podem adivinhar quem é? — Ester grita desesperadamente, — não?

— Me tire daqui!

— Então povo, querem que eu revele? - Um coro de vozes dizem “sim”, e no mesmo instante Samantha retira o saco da cabeça, mostrando para todos o cabelo cor de fogo de Ester. Vozes soam sussurradas, e comentários tenebrosos pairam. Ester não consegue nem mesmo acreditar que está diante de toda a cidade, suas pernas tremem, seu coração acelera... — Edgar — ela implora!

— Não, quero sair! — Ela implora, mas Sam gargalha.

— Sabem quem é ela não é? Ester Castrinni, a garota mais estranha de Santa Monica, a morta da rua Tulipa, a bruxa... Vamos fazer um jogo. — Sam aponta para baixo do palco e Vitor retira o lençol que tapava os sacos de tomate. — Vou perguntar alguma coisa para vocês, e quem responder corretamente joga um tomate na vadia. — Sem nem mesmo dizer nada, vários dos jovens saltam como animais sobre os tomates e agarram vários deles.

— Vamos lá! Vou perguntar para aquela fadinha, que está mais para uma mariposa, — ela aponta para uma menina na pista de dança e pergunta — que ano do ensino médio Ester deixou o colégio e foi viver no mundo dos mortos?

— Ah... 2012? - Ester retorce o lábio e tenta se soltar. Sam grita erguendo os braços.

— Correto, vamos lá ela é toda sua! — A menina mira e joga o tomate com força acertando o rosto de Ester, sujando toda sua roupa, a mesma que ficou horas escolhendo. Ela não chora, mas seus olhos explodem de raiva.

— Olha é melhor irmos rápido com isso Sam, Lucas pode se soltar. — George berra, e Érica sorri.

— Vamos logo com isso, não quero que nada de errado. — Ela retruca e Érica vocifera para a galera.

— Agora, todos julguem a maldita...

Samantha e Érica pulam do palco, tomates voam contra a menina amarrada que recebe um banho de suco da fruta podre. Ela engole o choro e sorri, parece desnorteada com o que acontece com ela. Escuta risos e gargalhadas, vozes gritando seu nome – vadia, monstra, você merece – seus olhos viram, seu subconsciente berra e por um instante Ester para de se bater.

Depois de alguns minutos sua roupa está coberta de tomates, suja, despenteada, com o corpo dolorido. Sam sobe no palco e ironiza gritando no microfone.

— E então, tem alguma coisa para dizer? — Ester levanta o rosto e sorri.

—Vocês estão todos mortos e não sabem.


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Notas finais do capítulo

Agora bora pros reviews ,quero saber o que estão achando!