The Kiss Of Midnight escrita por Nárriman


Capítulo 50
Capítulo 50


Notas iniciais do capítulo

Já vou avisando daqui que quero muitos comentários nesse capitulo.Quero terminar a fic com mais de 300 comentários e falta apenas mais uns dois caps além desse e comentar nem que seja apenas um "continua" n vai fzr o dedo de ninguém cair.Amo vcs e boa leirura.



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Pov’s Ally
Eu conseguia ouvir bem baixinho o som de uma máquina apitando de segundo em segundo. Mas quando tentei abrir meus olhos não obtive resposta. Eles pareciam estar colados.
Parei depois de um minuto e só então pude prestar atenção e senti o ardor que tomava conta de todo o meu corpo da cabeça aos pés. Era como se tivessem me jogado dentro de um forno de padaria e que apenas um dia depois me tirassem de lá.
A sensação era agonizante e se eu estivesse com os olhos abertos tenho certeza de que já estariam cheios de lágrimas. Tentei mexer meu dedo indicador e parecia que algo estava me impedindo de realizar o movimento. Com a perna a mesma coisa e a minha cabeça parecia estar colada ao que quer que esteja embaixo de mim. Sinto minha boca ressecada como se eu tivesse passado dias sem água no deserto. Passo minha língua pelos meus lábios e percebo que eles estão cortados. Tento falar algo e a única coisa que sai é um grunhido baixo.
Ouço o som de um alarme e depois de alguns segundos que pareciam horas posso ouvir passos abafados. Algo ou alguém toca em meu pescoço e sinto uma picada no local. Se eu conseguisse ao menos mexer minhas mãos já teria dado um soco no que quer que seja.
Aos poucos sinto meus olhos lacrimejarem e nem ao menos estou chorando. Com cuidado consigo abri-los aos poucos e no inicio tudo não passa de um grande borrão. Pisco os olhos lentamente para afastar as lágrimas e um branco ofuscante me atinge em cheio. Fecho os olhos novamente e quando me acostume com a cor vibrante logo consigo passar os olhos por todo o lugar. É um quarto branco cheio de bisturis, soros, seringas e comprimidos. Mesmo sem mexer a cabeça posso saber que estou em uma cama e que por não sentir o sol posso contar que esta de noite. Estou em um hospital.
Viro o rosto lentamente, sentindo o meu pescoço doer mais que o esperado e encontro Agnes com os pés em cima de uma cadeira chupando um pirulito. Nem parece estar ligando para a minha presença ali. Por um momento sinto meu coração se apertar ao saber que ela ainda esta viva, mas por outro se realmente quisesse já teria me matado desde que cheguei aqui.
—Você. -É a única coisa que sai da minha boca. Engulo em seco e minha garganta dói mais uma vez.
—Até que enfim bela adormecida. –Disse me lançando um sorriso falso. Ela se levantou e veio em minha direção.
Aproximou seu rosto bem próximo do meu e analisou os meus olhos por longos segundos. Por fim sorriu e se afastou.
—Você deve estar com sede. –A morena foi até um criado mudo perto da minha cama e pegou um copo d’água.
Apertou algum botão que me fez sentar na cama e mais uma vez o ardor invadiu a minha mente. Ainda não tive coragem de encarar o meu corpo.
—Beba. -Colocou o copo na minha boca e com um cuidado incomum conseguiu fazer com que eu bebesse toda a água.
—Por quanto tempo eu fiquei desacordada?-Perguntei ainda com a garganta doendo.
—Três dias.
Arregalei os olhos. Parece que se passaram apenas minutos desde que apaguei.
—Bom acho que tem muita gente aqui querendo te ver então vou tentar me divertir um pouco com os internados que estão em coma.-Um sorriso brotou em seus lábios e ela girou a maçaneta.
—Obrigada. -Falei. Na verdade nem sei por que falei isso, mas não consegui não dizer. Foi quase que como automático.
Ela não disse nada, apenas fechou a porta atrás de si.
Mal tive tempo de fechar os olhos por um momento, pois logo a porta estava aberta de novo. Minha mãe e minha filha estavam ali.
Foi inevitável o sorriso em meus lábios e quando dei por mim lágrimas já escorriam por todo o meu rosto. Tentei mexer meu braço e uma dor aguda o invadiu. Olhei para ele que estava com uma gaze. Do ombro até as pontas dos meus dedos. O mesmo com o outro braço e minhas duas pernas também estavam cobertas. Nem pude me questionar sobre o porquê de tudo aquilo quando Audrey pulou na minha cama e veio na minha direção.
—Ai. -Reclamei quando a senti me abraçar.
—Desculpa. -Disse se afastando assustada. Seus olhos estavam vermelhos e lágrimas os preenchiam.
—Tudo bem, só não encoste qualquer parte do meu corpo. Por favor. -Ri admirando seu rosto.
Ela estava mais pálida que o normal e com os cabelos loiros bagunçados.
Minha filha então deu um beijo em minha bochecha e mais lágrimas vieram à tona, agora por não poder tocá-la.
—Há quanto tempo esta aqui meu amor?-Perguntei fungando.
—Desde que você chegou. Tentei levá-la para minha casa, mas nada a convencia. Precisei deixar Alex tomando contando dela durante a segunda noite e Cassidy na terceira. -Minha mãe disse afagando meus cabelos.
Permiti-me olhar para ele pela primeira vez desde que acordei. Ele esta um pouco mais curto e com pontas desidratadas e cortes estranhos. Meu cabelo deve ter queimado um pouco na explosão.
—Aliás, tem uma pessoa que há muito tempo não te vê e que esta ai na porta. -Minha mãe diz ajeitando o meu travesseiro.
—Quem é?-Pergunto com ninguém em mente. Não irei conseguir pensar muito agora. Minha cabeça lateja muito.
Ela apenas me da um sorriso carinhoso e grita para quem quer que esteja do outro lado.
—Pode entrar.
A porta volta a abrir mais uma vez e a figura do meu pai faz meu queixo cair.
—Pai. -Digo quase em um sussurro.
—Ally. -Ele vem correndo em minha direção e se senta na beirada da cama ainda um pouco hesitante.
Seus dedos se entrelaçam em meus cabeços e fecho os olhos para aproveitar o momento.
—Me perdoa por não ter voltado a manter contanto assim que descobri que você ainda estava viva Ally. E Sarah havia hipnotizado a mim e aos pais do Austin para que não fossemos ao banco. Estávamos presos e. -Diz enxugando as minhas lágrimas.
—Pai cala a boca e apenas me abraça. Por favor. -Digo ainda fungando um pouco.
Ele me olha surpreso e com cuidado me abraça de lado permitindo assim que eu chore em seu peito. Vejo pelo canto do olho minha mãe enxugar uma lágrima e minha filha mexendo em tudo do quarto.
—Onde Cassidy esta?-Pergunto depois de alguns minutos apenas sentindo os carinhos do meu pai.
—Em casa. Achamos melhor ela descansar um pouco depois de tudo isso. Prometemos que ligaríamos assim que você acordasse então acho que é melhor eu me adiantar. -Minha mãe apontou para o celular em sua mão e saiu do meu quarto.
—Queria muito poder ficar, mas ainda preciso avisar aos médicos como você esta. Ficarão muito surpresos por saberem que finalmente acordou. Quase ninguém imaginava que isso seria possível, mas mais uma vez você provou o contrário filha. -Deu um beijo em minha testa, bagunçou ainda mais os cabelos de Audrey e saiu do quarto.
A loira estava entretida brincando com os bisturis quando me peguei sorrindo enquanto a olhava.
—Você esta bem meu amor?-Pergunto ajeitando um pouco meu corpo na cama o que é um pouco difícil nas condições em que me encontro.
—Eu te ajudo. -Em um segundo ela já esta segurando a minha cintura para que eu conseguisse me ajeitar melhor na cama.
—Não foi à melhor experiência da minha vida, mas me ajudou a ver meus avós então acho que valeu a pena. -Ela sobe em minha cama e se aninha ao meu lado.
—Fico feliz que pense assim. -Não quero que ela fique traumatizada com tudo o que viu. Eu teria que apagar da memória dela e não quero mais mentiras entre nós duas.
—E os seus avós paternos?Já os conheceu?-Indago virando meu pescoço com cuidado.
—Os vi ontem. Estavam aqui e até me levaram pra tomar sorvete. –Deu um sorriso de orelha a orelha para mim.
—O que eles estavam fazendo aqui?Vieram me ver?-Franzo a testa ainda me divertindo com o fato dela estar bem. Isso é a melhor coisa que podia acontecer entre as circunstâncias em que me encontro.
Ouvi o som da porta batendo e levantei os olhos para ver quem era. Meu sorriso desapareceu num piscar de olhos enquanto lágrimas tomavam conta de mim.
Ele estava ali. Austin estava vivo.
O loiro estava em uma muleta, mas quem liga pra isso?Ele esta vivo.
—Desculpa a demora, mas é que foi difícil fazer a enfermeira sair do meu pé. -Disse vindo em nossa direção.
Seu sorriso estava radiante.
—E ela saiu?-Audrey perguntou normalmente.
Virei meu pescoço tão rápido que a dor voltou em dobro para a minha nuca.
Eu passei três dias desacordada ou um ano?
—Acho que saiu do de todo mundo. -O vi limpar discretamente o canto da boca. Tinha uma gota de sangue ali.
Se eu não estivesse tonta demais, confusa demais e doente demais talvez brigasse com ele por isso.
—Você a matou?-Os olhos de Audrey estavam brilhando.
Eu devia repreender ela, mas não podia negar o orgulho surgindo dentro de mim.
—Nem me olhe assim mocinha. Você já me deu muito trabalho ontem com todas aquelas bolsas de sangue. -Ele se sentou na cama próximo a gente.
Meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não conseguia contê-las e muito menos queria contê-las.
—Pelo visto eu perdi muita coisa. -Digo ainda emocionada com a cena que eu estava presenciando.
—Perdeu. Ontem eu consegui convencer as enfermeiras que estavam cuidando de mim a deixarem Audrey dormir no meu quarto. Lá tinha dez bolsas de sangue fresco e ela bebeu todos. -Ele disse boquiaberto.
—Eu posso experimentar o sangue dos doentes do hospital?A tia Agnes me disse que é o melhor. -Ela perguntou já se levantando da cama.
A olhei assustada e não sabia o que dizer. Realmente eu não conseguia pensar em nenhuma resposta.
—Apenas daqueles que estão prestes a morrer. -Ele a advertiu.
Minha boca ainda estava aberta quando ela acenou com a mão e se levantou da cama.
Assim que meus olhos se desviaram dos da loirinha eu estava perdida. Não queria encarar Austin e o que me restou foi olhar para o meu corpo ou as gazes que existe nele. Por baixo de toda essa proteção devo estar um lixo.
—Temos muito que conversar. -O ouço dizer e sinto um aperto no coração.
Continuei com a cabeça baixa esperando que continuasse.
—Eu.. .Err... Não sei por onde começar. -Disse um pouco mais baixo.
—Que tal da parte onde você renasce no nada?-Levantei os olhos para encará-lo.
Ele estava tão inseguro quanto eu. Eu podia ver isso em seus olhos.
—Você falando desse jeito parece até que foi algo tão ruim. -Tentou fazer graça.
—Austin olhe o meu estado. Não consigo mexer nada do meu corpo além da cabeça, todos parecem esconder o que esta acontecendo com o meu quadro e tenho uma máquina infernal apitando a cada batida do meu coração. Eu mereço respostas e irei recebê-las. -Cuspi as palavras nele.
—Eu não me suicidei junto com você. -Disse com a cabeça baixa.
Fechei os olhos. Então eu estava sendo enganada desde muito antes. Ótimo saber.
—Pedi para que você fosse primeiro por que assim eu teria como sair no meio do seu sonho e Alex poderia entrar no meu lugar quando você acordasse. -Sua voz estava baixa, como se temesse a minha reação a qualquer momento.
Lembrei dos momentos antes de pular na janela quando pensei que Austin, ou no caso, Alex iria me beijar. Eu deveria ter desconfiado de algo. Ou quando Agnes ajoelhou Alex, eu devia saber que tinha algo de errado.
Continuei de olhos fechados. Eu não iria conseguir ouvir tudo o que ele tinha pra falar encarando seus olhos. Seria demais para mim.
—Ele fingiu ser eu por eu estar em fase de transição devido aquele liquido que ingerimos. Se você atirasse em Alex ele iria apenas desmaiar, mas se fosse eu ali, mesmo não sendo um humano ainda assim morreria por conta do efeito das bruxas.
Assenti devagar. Eu estava me sentindo enjoada. Parecia que a qualquer momento eu fosse vomitar.
—Tive problemas quando tentei sair do primeiro andar. Tudo estava pegando fogo e a única saída que tive foi descer pelas escadas do fundo.
Lembro quando subi aquelas mesmas escadas. Eu ouvi alguém correndo e depois cheguei à conclusão de que era Dallas, mas não. Era Austin.
—Você sabia de Cassidy?-Indaguei sabendo que minha voz estava tremula.
—Que ela não estava escondendo Audrey? Sim e sobre o Dallas também. Ele estava sendo o ouvido de Sarah há mais de um mês. -Austin prendeu os olhos na janela próxima a gente. Ele não iria chorar pela morte do amigo ou ex amigo. Austin não chora por bobagens.
—Foi por isso que não me deixou ir atrás dela. -Falei com mais flashes invadindo minha mente.
—Cassidy não sabia sobre Dallas e por isso os dois estavam no carro com Audrey quando o banco começou a pegar fogo. Se você fosse teria matado a pessoa errada e morreria logo em seguida pela certa.
—Quem além de você e do Alex sabia sobre tudo isso?
—Apenas Agnes.
Ri nervosa.
—E não podiam confiar em mim?Bom saber. -Falei magoada.
—Se você soubesse teria feito escolhas imprudentes Ally. -Me repreendeu com o olhar.
—Escolhas imprudentes?Eu quase fui queimada viva se você tivesse demorado mais meio segundo. -Gritei com os olhos cheios de lágrimas.
—Tudo o que eu queria era salvar você. -Jogou as muletas no chão com tanta força que o som fez meus ouvidos chiarem.
—E pra isso precisou mentir pra mim. É isso que eu não suporto. Todas essas mentiras. Tudo o que já aconteceu entre a gente foi uma mentira incluindo as mortes Austin. Eu precisei forjar uma morte e passar anos fora por medo da sua reação e você fez o mesmo comigo. Que tipo de pessoa arranca lágrimas de quem ama?
—Eu não vou discutir com você Ally. -Ele disse segurando o colchão embaixo da gente com uma força brutal que a qualquer momento poderia furá-lo.
—Não você não vai porque já é demais eu ter que estar em uma cama quase paralitica para você jogar ainda mais verdades porque tem pena de mim. -As lágrimas escorriam quentes e rápidas. Parecia não ter fim.
—Você não esta paralitica. -Seu olhar mais uma vez se voltou para a parede.
—E o que eu tenho?Nem ao menos é homem o suficiente para dizer tudo de uma vez. -Falei com nojo dele.
—O seu estado é terminal, esta contente agora?-Gritou comigo.
Minha voz falhou no mesmo instante. Meus lábios começaram a tremer e quando dei por mim já estava soluçando.
Ele se aproximou de mim e encostou sua testa na minha. Se eu ao menos conseguisse mexer meu braço o afastaria na hora, mas a única coisa que me restou foi chorar com ele.
—Me diz que você apenas falou isso porque estava com raiva de mim, por favor. -Supliquei molhando sua camisa com minhas lágrimas.
—Queria muito que fosse. -Ele beijou minha cabeça e percebi que sua voz estava embargada.
—Você inalou muita fumaça Ally. Os médicos disseram que você esta com pneumonia química. Por isso a sua falta de ar, enjôos, vontade de vomitar e tontura. Também esta com queimaduras internas o que foi a parte fatal para eles. As partículas veiculadas pela fumaça podem ficar depositadas na árvore respiratória, obstruindo-a ou causando bronco espasmos. -Acariciou os meus cabelos e fechei os olhos ainda tremendo meus lábios.
—Não tem cura. -Sussurrei voltando a chorar.
—Eles tentaram todos os diagnósticos Ally. -Me envolveu em seus braços ainda um pouco receoso.
—Então eu quero ver o meu corpo. -Funguei levantando meus olhos.
—O que?-Ele engoliu em seco.
—Não tenho muito tempo Austin. Eu preciso ao menos saber o quão grave foram os ferimentos.
O olhar do loiro sobre mim não era mais de pena e sim de preocupação. Deve achar que não sou forte o bastante para ver o estrago em que me encontro.
—Não acho que seja uma boa idéia. -Seu tom de voz era o mesmo com o qual advertiu Audrey há minutos atrás. Esta me tratando com se eu fosse uma criança.
—Depois de todos esses anos vivendo em um inferno constante acha mesmo que queimaduras irão me derrotar?-Arqueei a sobrancelha. —Se não quiser ajudar saia do quarto, mas vou logo avisando. Irei ver o resultado do meu corpo com você aqui ou não. -Falei aproximando meu rosto do seu.
Seu maxilar estava rígido e parecia prestes a quebrar. Sinto seus olhos me queimarem por inteira.
Olhou para a porta atrás de nós e logo começou a desatar a gaze do meu braço direito. A alça da minha camisola de hospital estava atrapalhando o processo o que o fez suspirar alto.
—Tire a minha camisola primeiro. -Revirei os olhos.
—Não é apenas os seus braços e pernas que estão machucados Ally, sua coluna e...
—Não me lembro de ter mencionado ‘’Por favor, tire a minha camisola’’. Isso é uma ordem. -Respirei fundo.
Teria sido menos desgastante se eu mesma tirasse os curativos. Austin me fuzilou com o olhar. Por um momento não duvido que cubra meu rosto com o travesseiro e me mate asfixiada, porém ele logo volta ao trabalho.
Com cuidado seus dedos trabalhavam em deslizar as alças da camisola por meus ombros até se desprenderem do meu corpo. Ele espalma sua mão em minha coluna e me forçar a arquear. Sinto o desamarrar o laço na parte de trás do pano barato de hospital. Com um puxão tão leve quanto o de uma folha caindo de uma árvore ele puxa a camisola do meu corpo e fecho os olhos rapidamente. Não quero ver como estou até estar sem as gazes.
Austin volta a desenfaixar o meu braço e repete o mesmo processo com o braço esquerdo e com minhas pernas. A sensação de minhas queimaduras estarem expostas e do ar frio do ar condicionado batendo de leve contra elas me trás certo conforto.
O sinto segurar com cuidado minha cintura e gemo quando uma costela minha estala.
—Tudo bem, você se mexeu rápido demais. -Ele diz em voz baixa enquanto o sinto deslizar o meu corpo até a beirada da cama.
—Não apóie suas mãos na cama ou mexa a coluna. Apenas fique ereta que voltou em um minuto, ok?-Senti o calor do seu corpo se esvair aos poucos e o barulho da porta responde a minha pergunta em relação a ele ainda estar no quarto.
Respiro fundo apenas ouvindo o barulho do meu coração e da noite que invade meus ouvidos pela janela. As ruas parecem estar muito movimentadas hoje e não consigo não sentir invejas das pessoas que tem a chance de estar nelas. Algumas bêbadas, outras discutindo suas relações em carros no meio do transito, festas de universitários e cemitérios com dezenas de jovens fãs do crepúsculo.
Cada uma delas com certeza possuem sua própria cruz pra carregar e mesmo assim eu ainda faria tudo para ter a vida de qualquer um deles. A ressaca ao amanhecer irá sumir as brigas uma hora terão que acabar, festas tem seus limites e cemitérios não são interessantes a luz do dia. Tudo para eles de alguma forma tem uma solução sendo agradáveis ou não, e eu os invejo por não ter essa oportunidade. Por não ter como solucionar a morte.
Ouço passos novamente e o som de algo sendo arrastado. Mãos seguram as laterais do meu quadril e me ajudam a levantar. Sinto meus pés encostarem-se a algo gelado e grito.
—Shh. O gelo é para você conseguir se mantiver em pé. Esta na carne viva, você não irá conseguir se apoiar neles. -Austin diz em meu ouvido.
Suspiro profundamente e deixo que meus pés toquem no gelo.
—Consegue se manter em pé sozinha?-Pergunta tirando as suas mãos de mim.
Antes que eu possa responder me desequilibro e sinto suas mãos voltarem ao meu quadril.
—Tudo bem. Vamos tentar de novo, agora com mais calma. Sem pressão Ally. -Ele acaricia o mesmo lugar onde provavelmente minha costela esta quebrada e mordo os lábios para abafar um gemido.
Aos poucos suas mãos se afastam de mim até eu estar em pé completamente sozinha. Inspiro todo o ar que consigo e o expiro ao mesmo tempo em que abro meus olhos.
A primeira coisa que penso em fazer é gritar, a segunda provavelmente seria chorar, mas termino optando pela terceira opção: o choque.
Minhas pernas estão na carne viva assim como os meus braços. Um vermelho escuro toma conta de quase todo o meu corpo. Em minha barriga tem uma cicatriz média e roxo é a cor definida em todo o meu estomago. A facada foi mais forte do que eu imaginava. Olho para a mão que coloquei no fogo e não consigo enxergar minhas unhas em meio a pedaços mortos de pele. Talvez se eu ainda tivesse alguma chance de sobreviver eles a amputassem.
Em meu pescoço marcas roxas e arranhões o decoram. Subo meus olhos um pouco mais e encontro um band aid em meu queixo.Minhas bochechas estão mais brancas do que a tinta das paredes e um dos meus olhos esta em uma mistura de verde musgo e lilás.Por fim vejo meu cabelo pouco mais abaixo que o ombro.Suas pontas estão queimadas e mais ressecadas que o normal.
—Uau. -É tudo o que sai da minha boca.
—Se eu não fosse mais um vampiro provavelmente estaria do mesmo jeito que você. -Diz se colocando atrás de mim.
Nossos olhos se encontram por um instante no reflexo do espelho, antes dele começar a analisar todo o meu corpo. Ele esta inexpressivo.
—Isso é para eu me sentir melhor?-Pergunto voltando a encarar a minha mão.
—Não. É para que saiba que não esta sozinha, mesmo que fisicamente pareça estar.
Fecho os olhos mais uma vez. Não posso chorar agora.
—Quanto tempo ainda tenho?-Pergunto mesmo sem querer saber a resposta.
—Os médicos nem tinham esperanças de que você acordasse de fato Ally. Agora que acordou dizem que você não irá passar dessa noite. -Austin desvia os olhos do meu corpo e vai até a janela.
A lua cheia parece já estar ali a um bom tempo.
Ele se senta no parapeito de costas para o quarto.
—E que horas são agora?-Sinto meu coração doer ao questionar isso.
—Faltam exatamente cinco minutos para meia noite. -Percebo sua voz um pouco tremula ao dizer isso e sorrio.
—Então ainda tenho cinco minutos para tentar corrigir todos os erros da minha vida.
Com cuidado vou até a janela. Sinto meus pés pegarem fogo com isso, mas não me importo. Com muito esforço consigo sentar no parapeito e tenho quase certeza de que a minha cicatriz arrebentou.
—Eu poderia simplesmente me jogar daqui agora mesmo e simplificar tudo. -Observo a altura do andar em que estamos. Provavelmente no vigésimo.
—Mas não vai. É corajosa o bastante para esperar a morte vir até você e não ir até ela.-Pelo canto do olho noto uma lágrima escorrer por sua bochecha.
—Acho que Alex te contou alguma coisa que de inicio deveria ter sido dita a você, não é mesmo?-Deixo o vento refrescar meu corpo em meio à dor iminente.
—Sim. -Ele diz relaxando os ombros.
—Não falei aquilo por medo de você morrer sem ouvir aquelas palavras, mas sim por medo de eu morrer sem dizer aquelas palavras. -Com dificuldade coloco a minha mão inútil em meu colo.
—Missão cumprida. -O loiro disse com ironia.
—Poderia, por favor, parar com as piadinhas e o sarcasmo ao menos em meus últimos minutos de vida?Não quero terminar do jeito que começamos Austin. -Engoli em seco.
—E eu preferia a época em que não nos amávamos e conseguíamos viver da forma que bem entendíamos. -Ele encara meus olhos. Sei que ele consegue ver o próprio desespero pelo reflexo dos meus olhos.
—Éramos apenas mais dois irresponsáveis no mundo Austin. Uma hora aquela fase iria acabar de um jeito ou de outro. -Com cuidado encosto minha cabeça em sue ombro.
—Talvez a gente se esbarre e se conheça de novo com o olhar mais maduro e o coração mais decidido. -Ele diz com o nariz em meu cabelo.
Queria ter uma resposta pra isso, mas simplesmente nada vem a minha cabeça.
—Eu só queria poder segurar a sua mão pela ultima vez. -Fala depois de muitos segundos silenciosos entre nós.
—E eu só queria poder tocar em seu rosto pela ultima vez. -Encosto nossas testas.
Sinto como se a qualquer momento eu fosse partir ao meu. Todos os meus músculos, artérias e veias parecem estar trabalhando mais rápido do que o normal agora que finalmente consigo conversar normalmente com Austin.
—Você fez do meu coração um lugar melhor Ally e não importa onde você esteja, quero que sempre se lembre disso.
Austin aproxima seus lábios dos meus aos poucos e depois de segundos que pareciam horas finalmente nos beijamos. Era como uma urgência que nós dois estávamos necessitando há muito tempo e que talvez nunca mais pudéssemos repetir.
—Eu te amo e sempre te amarei, não importa o que aconteça. -Diz segurando meu rosto entre suas mãos.
Ele esta chorando e sei que não estou muito diferente disso.
—Eu também te amo Austin. Pra sempre. -Sorrio e volto a beijá-lo.
—Bom ainda temos mais dois minutos. Tem mais alguma coisa que precisa ser esclarecida?-Ele ri enquanto confere o relógio.
Não importa todos os defeitos do Austin, todos os erros que já cometeu e que ainda irá cometer. Tenho orgulho de ser amada por ele em meio a tudo o que passamos.
—Tenho uma pergunta. - Falo séria.
Ele assente com a cabeça e espera que eu continue.
—Tem certeza de que não a nada que os médicos possam fazer para o meu caso melhorar?Cirurgias, terapias, remédios?Nada?-Pergunto franzindo a testa.
—Você inalou muita fumaça Ally. Se o problema fosse apenas as queimaduras externas você conseguiria sobreviver, mas com todo aquele incêndio você terminou adquirindo queimaduras internas morena. -Ele coloca uma mecha atrás do meu cabelo e da um sorriso triste quase que não querendo acreditar no que acabou de dizer.
—Então acho que teremos que dar nosso próprio jeito. -Sinto um frio na barriga por baixo da cicatriz agora aberta e sangrando.
Ele arqueia as sobrancelhas e me encara inexpressivo novamente.
—Do que esta falando?-Pergunta cauteloso.
—Quando se quer estar com uma pessoa para sempre precisa viver para sempre. -Sinto um sorriso brotar em meus lábios.
Ele sorri de volta para mim. E ficamos assim. Sorrindo um para o outro como dois psicopatas até seu sorriso se desmanchar aos poucos. Ele me olha assustado e se afasta um pouco. Parecia em fim ter se dado conta.
—Você quer que eu te transforme em vampira?-Pergunta com a voz tremula.
Apenas assinto ainda sorrindo.
—Não posso fazer isso. -Ele se afasta um pouco de mim.
—Não posso ser egoísta ao ponto de te transformar em vampira apenas para satisfazer os meus caprichos. -Fala nervoso.
Suas pernas então começam a balançar no ritmo do vento e sinto que ele esta prestes a cair a qualquer momento.
—E eu não posso ser idiota o bastante para deixar a minha única chance de sobreviver escapar das minhas mãos. –Digo achando graça da situação
—Eu não quero você assim. Você mesma disse que nunca gostou de ser vampira, não gostava das coisas que fazíamos e... -Revirei os olhos e o calei com um beijo.
Isso não é uma forma de eu tentar suborná-lo, na verdade apenas quero que ele pare de falar.
—Você já transformou milhares de pessoas Austin. -Tentei acalmá-lo.
—Não é qualquer pessoa, é você. -Ele me olha apavorado.
—Não tenho muito tempo Austin. -O olho séria.
—Eu prefiro te ver morta a infeliz pelo resto da eternidade. -Segura meu rosto em suas mãos.
—Você não pode decidir por mim. -Sorrio.
—Ally. -Vejo lágrimas se acumularem em seus olhos.
—Austin. –Sussurro ainda sorrindo.
—Quero estar com você independente de tudo. Não ligo se você for uma humana que precisa tomar medicamentos até o fim dos seus dias ou uma vampira que esta disposta a correr qualquer risco comigo, eu apenas quero que você seja feliz. -Diz beijando a minha testa.
—Se fizer o que estou pedindo serei a mulher mais feliz de todo o mundo. -Gaguejo um pouco já preocupada com a hora.Não tenho muito tempo.
Ele analisa os traços do meu rosto por algum tempo. Parece estar procurando sinais de que eu estou mentindo, mas sei que não vai encontrar nada disso.
Austin nega com a cabeça e sai da janela.
Paro por um momento, perplexa. É o fim. Ele vai me deixar morrer por quer acredita que é o melhor para mim.
Não tenho coragem de olhar para trás e apenas o sinto me ajudar a sair da janela. Depois de já estar em pé, tento voltar para a cama sozinha. Não quero morrer no chão frio de um hospital. Dou um passo e sua voz faz meu coração bater ainda mais rápido.
—Isso vai doer. -Não tenho tempo nem de cogitar a frase em minha cabeça quando sinto suas presas cravarem em meu pescoço.
Começo a me debater com o susto até sentir minhas pernas fraquejarem e meus olhos pesarem.


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Notas finais do capítulo

Já avisei lá em cima que quero muitos comentários.A fic ja esta acabando e quero terminar ela com 300 comentários amores.



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