O Máscara escrita por MileFer


Capítulo 15
Corda Bamba


Notas iniciais do capítulo

Olá amorecos ♥

Antes de tudo, mil desculpas pela demora. Eu sei, está ficando chato todo esse tempo de espera. Mas lembrem-se que a paciência é uma virtude rsrsrs

Espero que gostem deste capítulo, e não esqueçam de dar uma olhadinha lá no Tumblr da fic (milefer-r.tumblr.com) e/ou no Twitter (@mileferr).

Enfim, boa leitura e até (brevemente) o próximo!

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Rafael não esperava que seu pai fosse visitá-lo tão cedo, como de costume. Da última vez que ele aparecera sem avisar, havia trazido uma notícia particularmente atordoante para Rafael. Daquela vez, no entanto, Adam não trazia nada consigo exceto um copo de tamanho médio com um líquido alaranjado dentro, trincando com os cubos de gelo.

Fordy os observava de perto. Também não esperava ver Adam, mas tampouco estava impressionado com sua presença.

—Estou decepcionado - disse cruzando as pernas, sentado na poltrona. - Dois encontros e você já arruinou tudo, hein? Muito esperto.

Rafael estava de costas para ele, observando a paisagem além da janela. Estava exausto demais para discutir.

—Não culpo a garota. - Ele continuou, bebericando sua bebida alcoólica. - Se estivesse na mesma situação que ela…

—O que você quer, afinal? - Rafael o interrompeu, calmamente. Estava louco para ficar sozinho e pensar no que acontecera.

Adam lhe lançou um olhar fulminante, mas respirou fundo e terminou sua bebida. Estava particularmente bem-humorado, e certamente não seria Rafael que estragaria seu dia.

—Vim apenas me certificar de que a garota ainda está viva.

Rafael fechou os olhos com força quando uma pontada em seu peito fez seu coração doer. Parecia-lhe desumano o fato de seu pai tratar aquele assunto como se fosse uma piada.

—Ela está bem - respondeu duramente, disfarçando a mágoa em sua voz.

—Ótimo - Adam respondeu, bem-humorado. - Eu quero vê-la.

Lentamente, Rafael virou-se para encará-lo. Se ele estava falando sério, então aquilo significava que Rafael tinha com o que se preocupar. Ou não? Adam nunca fora muito bom em falar bem de Rafael – e aquilo já era motivo suficiente para deixá-lo embaraçado. Se ele queria conversar com Adélia sobre ele... Se Rafael se importasse, estaria arruinado.


—Fordy - Adam o chamou secamente. Quando o velho se aproximou, ele completou: - Avise-a que tem uma visita esperando por ela no salão. Não se preocupe com detalhes.

E continuou a dar instruções ao velho, que tentava assimilar tudo com a mesma rapidez a qual seu pai falava. Algo naquela situação o deixava incomodado, mais do que deveria. Mal conseguia imaginar sobre o que conversariam ou o por quê seu pai estava tão aparentemente bem-humorado. Queria participar daquela conversa; queria participar avidamente do que quer que seu pai estivesse planejando para ela. Mas sabia que, se fosse convidado, não saberia o que fazer.

Adam lançou um olhar curioso a Rafael, que estava aparentemente perturbado. Seus olhos estavam fixos em algo além da janela, e sua mandíbula movimentava-se ruidosamente. Adam tentou imaginar o que se passava na cabeça dele, se ele estava pensando no que Adam estava prestes a fazer.                                  

Não havia um motivo pelo qual queria falar com Adélia; não suportava a garota para querer ser amigo dela. Precisava apenas lhe dar algumas ordens em relação a sua missão, coisa que nem mesmo Fordy poderia fazer. Por outro lado, estava orgulhoso da própria escolha. Adam estava particularmente intrigado. Queria estar profundamente ligado ao que acontecia, mais do que se importaria de costume.  

Adam ergueu-se de onde estava e caminhou lentamente até a garrafa de whisky para repor o copo, outrora cheio. Não conseguia desvencilhar o olhar de Rafael, que de vez em quando lhe retribuía com olhadelas rápidas, hesitantes e significativas.

—Não é da sua conta, se é o que está pensando – Adam rebateu, mesmo sem o garoto manifestar qualquer palavra. O homem sabia que ele estava se perguntando, por isso tratou logo de quebrar suas expectativas. – O que significa também que não é convidado a se juntar a nós.

Rafael não se manifestou, mas ficou particularmente magoado. Ainda estava tentando se recuperar emocionalmente da noite passada. Mas, como que para dificultar tudo, Adam estava ali, encarando-o com sua forma costumeira e cheia de repulsa e sendo rude. Ele afastou-se da janela e, ignorando completamente o pai, caminhou até o próprio banheiro. Lá, ele parou em frente a pia e molhou o rosto, encarando a parede vazia à sua frente. Por causa do que lhe acontecera nos últimos anos, ele pedira que Fordy eliminasse todos os espelhos que tivesse acesso, tamanha era a vergonha que tinha de si mesmo. Havia muito tempo que não encarava o próprio reflexo nitidamente. Sabia que estaria horrível para sempre, não importava se seu cabelo estava mais curto ou não. Se estava bem vestido ou não.

Rafael já sentia seu peito se apertar com a expectativa. Seu encontro com Adélia havia sido arrasador, para ambos. Ele fechara-se para ela tal como um baú há muito tempo trancado. Não havia conseguido nem lhe desejar uma boa-noite, quando a deixou  parada na porta do quarto.

Havia uma parcela muito grande de culpa fazendo seu peito oco ressoar. E se Adélia contasse a seu pai? Ou pior, e se ela perguntasse a seu pai sobre o passado de Rafael e Adam lhe confessasse tudo?

Ele não entendia muito bem, mas tinha medo de que Adélia descobrisse qualquer coisa sobre seu passado - até mesmo as coisas que não sabia. Há muito tempo Rafael não sentia aquele tipo de medo, e agora a coisa havia sido somada com outros sentimentos que não estava habituado. Como por exemplo, o fato de ver beleza em alguma coisa. Estava tão acostumado as coisas feias que construíra para si que mal sabia diferenciar o que fazia parte dele e o resto. Agora, até começara a reparar nas flores que Fordy deixara em sua cabeceira, ou nas próprias formas de escrever.

Como poderia tanta coisa mudar em tão pouco tempo?

Rafael não gostava daquilo; detestava com todas as suas forças. Não gostava de ter Adélia ali, presa e sozinha, com medo dele. Se havia uma forma pior de se sentir mais demonizado, era aquela. Não gostava de seu pai de bom humor com toda aquela situação. Não gostava de Fordy dizendo-o como agradá-la, o que fazer quando estivessem juntos e muito menos de suas ideias.

Por isso, naquele momento, Rafael planejava como iria contar a seu pai que Adélia deveria partir. Estava juntando argumentos para convencê-lo quando saiu do quarto e não o encontrou. Estava sozinho, e nem mesmo Fordy estava ali para consolá-lo.

Adélia não sabia muito bem o que pensar a respeito do que o velho em sua porta falava com Jeniffer. Parecia que falava sobre um chá, formalmente. Jeniffer assentia enquanto o ouvia, com as mãos atrás do corpo e a cabeça levemente cabisbaixa, recebendo as ordens.

Adélia deixou seu livro de lado e caminhou discretamente até a porta, onde eles estavam. Queria ouvir a conversa, mas ao mesmo tempo tinha receio de parecer enxerida. Ela parou no meio do quarto e os ficou observando, até que seus olhos encontraram com os do velho que, se bem recordava, chamava-se Fordy. Ele a observou por um tempo, com uma expressão estranhamente triste. As rugas ao redor dos olhos pareciam sucumbir ainda mais pesadas para baixo, e sua testa estava mais enrugada do que Adélia se lembrava. Porém, ainda assim tinha uma postura firme e de aspecto “mandona”, o queixo levemente erguido e as costas rigidamente eretas.

Algo dentro de Adélia lhe dizia que havia acontecido alguma coisa. Ela pensou em seus pais, se estavam bem e o que estariam fazendo agora. Será que havia acontecido alguma coisa ruim? Adélia sentiu seus olhos arderem e sua garganta fechar de preocupação, quando sua mente se tornou um turbilhão de pensamentos ruins.

Jeniffer, porém, virou-se para ela com um sorriso discreto no rosto, depois de despedir-se e fechar a porta. Ela se aproximou de Adélia e, antes mesmo que a garota se manifestasse, informou-lhe o acontecido.

—Você tem um compromisso importante hoje - disse, como se aquilo fosse algo natural na vida de Adélia e fosse de suma importância. - E acho melhor se arrumar logo.

—Outro compromisso? - Resmungou, fechando a cara. Estava feliz, por um lado, pelo fato de que a notícia não era tão ruim quanto ela imaginou.  - Não quero falar com ele agora.

Jeniffer assentiu, compreensiva. Na noite anterior, após voltar de seu encontro até aquele momento, a garota não havia falado praticamente nada. Jeniffer até se surpreendera quando a viu comendo ferozmente - coisa que não costumava fazer quando estava triste (pelo menos desde que a conhecera). A mulher até que estava tentando, mas ainda não conseguia entender a resistência de Adélia. Não estava ali há mais tempo que ela; mas já havia se adaptado bem. E a Rafael… Ela já o conhecia a mais tempo, claro. Apesar de que, naquela situação, não sabia como lidar com ele.

—Escute - Jeniffer começou; - sei que as coisas são difíceis por aqui, minha querida…

—Jeniffer - Adélia a interrompeu, calmamente. - Eu não vou.

—Mas eu preciso que vá - a mulher disse, tão feroz que Adélia assustou-se. - Isso é importante, Adélia. Para todos nós

Adélia franziu a testa. Havia uma urgência surpreendente na voz outrora calma e paciente da mulher.

—Como assim importante para nós?

Jeniffer piscou os olhos com força, impaciente. Adélia a encarava com curiosidade e confusão expressa em seu olhar. Se não estivesse tão desesperada teria se calado. Mas aquela situação implicava uma discussão e algumas verdades.

—Diga-me, o que achou de Rafael? - A mulher perguntou, agarrando as mãos de Adélia e puxando-a para sentar-se na cama ao seu lado. - Ele é um garoto especial, não é Adélia?

Adélia franziu a testa e semicerrou os olhos, um tanto deslocada.

—O que você está tentando fazer?

Jeniffer suspirou, desviando o olhar de Adélia.

—Adélia - ela começou, com um suspiro. - Sei que tudo isso é novo para você. É confuso, estranho, assustador… Mas não o culpe por isso. Acreditaria se eu dissesse que ele é o contrário do que você imagina?

Adélia abriu a boca para responder, mas nada saiu. Ela até soltou um riso, mas foi de puro constrangimento.

—Por que está me dizendo essas coisas? - Quis saber, levantando-se e afastando-se de Jeniffer, que a encarava com expectativa. - Por que o está… Defendendo?

Jeniffer engoliu em seco. Se Adélia soubesse… Será que seria melhor para ela? Contar que Rafael era seu filho talvez a fizesse compreender melhor as coisas. Mas Jeniffer não sabia como aquilo poderia ajudá-la – estava desesperada por causa de seu encontro com Adam.Talvez até agindo imprudentemente. Adélia poderia receber bem a notícia e quem sabe se compadecer com a pobre mulher, já que tinha tanto apreço por tal. Mas e se Adélia contasse para ele? Jeniffer estaria perdida…

—Adélia, preciso que me prometa algo… - Sua voz saiu como um fiapo. Não era muito de confiar nas pessoas, e Adélia não era tão segura quanto Jeniffer precisava… Mas era perfeita para entendê-la. - É um segredo que guardo há muito, muito tempo.

—Você quer que eu o guarde? - Adélia não sabia o que esperar daquela situação. Estava mais confusa do que antes. Para ela, desde o início, Jeniffer não a via como uma amiga. Sempre a tratou muitíssimo bem, e cuidou dela. Mas algo na mulher indicava que Adélia não passava de um emprego para ela, ou que jamais lhe revelaria nada sobre si mesma ou muito menos um segredo.

Ela conteve sua curiosidade o máximo possível para não perguntar o que era. Adélia estava sentindo o nervosismo de Jeniffer em si mesma, como um bolo preso em sua garganta.

—Há vinte anos… - Antes mesmo que Jeniffer completasse a frase, três batidas na porta a fizera saltar. Alguns segundos mais tarde, mais três insistiram, e assim sucessivamente.

O coração de Jeniffer havia ido parar em sua boca. Era ele. Uma sensação estranhamente fria percorreu sua nuca, e seu rosto ficou rubro.

—Adélia - ela falou, tão apressadamente que deixou a garota apreensiva. - Rafael não é como você pensa.

Com isso, Jeniffer se calou e caminhou até a porta, abrindo-a. Adélia estava com o olhar fixo na mulher cabisbaixa escondendo-se quando fora distraída por Adam, parado de um jeito arrogante em sua porta. Seu queixo estava erguido e seus braços dobrados sobre o peito. Sua expressão indicava tédio.

Um sentimento arrebatador fez o coração de Adélia doer, e suas entranhas gelarem.  Estava tão atordoada que mal notara quando ele se aproximou dela, enquanto Jeniffer saía discretamente do seu quarto, tão silenciosa que nem mesmo Adam prestou atenção nela.

Ele tinha o olhar fixo em Adélia, que começara a ficar vermelha. Ela procurou pelos cantos do quarto por Jeniffer, mas a mulher tinha realmente desaparecido, deixando-a completamente sozinha com ele.

A primeira coisa que Adélia fez foi respirar fundo, mantendo-se serena. Não queria deixar transparecer o quanto Adam a intimidava - embora fosse tão intensamente que ela mal conseguia controlar a tremedeira.

O que ele queria ali, afinal?

—É um prazer revê-la - ele começou, como se estivesse falando com alguém querido. - Como está se sentindo?

—O que você quer? - Adélia vociferou, cruzando os braços sobre o peito arfante.

—Ora, - ele riu - eu vim lhe ver. E na melhor das intenções.

Ela negou com a cabeça, discordando. O cinismo dele só fazia com que Adélia ficasse mais irritada.

—Mentiroso - acusou-o, olhando em seus olhos.

Adam semicerrou os olhos, assumindo uma expressão ameaçadoramente neutra.

—Sou mesmo - rebateu, encarando-a também. - E você também. Todos nós somos mentirosos, Adélia. É o que nos faz carregar uma parcela de culpa em nossas costas.

—Não minto igual a você - sua voz saiu um fiapo, graças ao bolo que se formava em sua garganta. - Suas mentiras destroem vidas.

Ele riu, aproximando-se dela. Adélia congelou em seu lugar e, antes mesmo de conseguir se afastar, ele agarrou-lhe o braço.

—Minhas mentiras transformam vidas - ele sussurrou em seu ouvido, fazendo a pele dela se arrepiar. Ele puxou-a pelo braço até a porta de seu quarto, obrigando-a. - Agora vamos tomar um chá.


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Notas finais do capítulo

Amo vocês e agradeço de coração por serem pacientes e por continuarem lendo.



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