My Old Man escrita por WeekendWarrior


Capítulo 16
Not Sweet as Soft Ice Cream


Notas iniciais do capítulo

O começo das tretas tretudas! ♥



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— Pra você – Jim me estendeu um urso felpudo marrom de tamanho mediano. Ele havia ganho na barraca de tiros ao alvo, o qual acertou todos.

— Uau! Obrigada! – sorri em agrado.

Jim me deu um beijo rápido e continuamos a andar.

Estávamos no Orange Street Pier*, onde no momento se encontravam centenas de barracas variadas, havia uma grande locomoção de pessoas no local.

— Jim, e sua mãe? Ela vai ficar sozinha em casa? – perguntei.

— Não, falei pra um camarada meu ficar fazendo guarda enquanto saíamos – respondeu calmamente.

— Isso é estranho, bom, já faz quase uma semana que não temos notícias do Sid e... Vai que ele desistiu de tudo isso – acho que disse isso mais para confortar a mim mesma.

— Milagres não acontecem, Lana – me encarou – Ele está tramando algo, sei que está – Jim foi convicto.

— Humm... Pode ser – encarei meus pés enquanto caminhávamos.

Não sei como Jim consegue ter controle de tudo, até mesmo de seus medos, se é que ele tem medo disso. No momento tudo que precisamos é um pouco de paz enquanto estamos aqui. Será que podemos apenas deixar ser?

Jim enlaçou seu braço em meus ombros e beijou o topo da minha cabeça.

— Não se preocupe, estou no comando – ele sorriu, como se a situação em que estávamos fosse divertida.

Bom, continuamos andando e observando o movimento das pessoas no piêr. Jim, muito mais do que eu, ele não saía da minha cola, não podia sair sem ele pra lugar algum, até nos cômodos da casa ele queria estar junto. Tudo o que queria é me sentir bem e em paz, com Jim.

Bastou esses poucos dias pra que me sentisse sufocada com a situação e começar a inventar ideias mirabolantes, do tipo: “Talvez Sid possa ter desistido de tudo ou morrido”. Mas Deus não seria tão bom assim conosco. Não mesmo.

Andamos mais alguns metros em silêncio, abraçados. Por final, acabei dando o urso que ganhei de Jim para uma garotinha que o encarava com interesse. Como é bom ser criança, feliz e despreocupada. Sabe, eu nunca havia pensado em filhos com Jim. Era estranho e... bom pensar nisso.

O olhei de soslaio por um segundo, sua feição era leve e descontraída. Como ele conseguia cuidar de mim e de todos ao seu redor? Espero que ele saiba que todos que vivem ao seu redor o amam. Principalmente eu, mais que todos.

De repente sua feição muda para intrigada, sigo o seu olhar. Ele franze o cenho ao encarar um rapaz ruivo de corpo franzino, alto, de aparência anêmica, suas roupas parecem larguíssimas em seu corpo magro. Segura um cigarro na mão esquerda e o suga freneticamente. O ruivo magrelo está ao lado de uma barraca de Jogos De Azar, parece despreocupado até avistar-nos. O rapaz olha para os lados, como se procurasse escape, mas Jim é mais rápido. Me puxa pela mão e chega perto do ruivo magrelo em um piscar de olhos.

— Aonde você pensa que vai, Krule? – diz Jim firme, segurando o braço do ruivo tão forte que achei que pudesse quebrá-lo. O garoto parece ainda mais frágil de perto.

O rapaz, agora qual o nome sei, Krule, encara Jim e logo após a mim. Parece preocupado. Eu pareço uma idiota aqui, não entendendo nada.

— J-Jim... – Krule gagueja – Você por aqui – tenta forçar um sorriso amarelo, o qual falha miseravelmente.

— Você é cego ou o quê? – esbraveja Jim e Krule se assusta – Por que está assim? Está devendo algo?

— O quê? Eu? – Krule olha pros lados, o cigarro já não está mais em sua mão, está se apagando no chão – Eu não. Só estou dando uma volta. Eu nem sabia... Nem sabia que você e...

— Onde ele está? Falou com você? – Interrompeu Jim. Agora eu quem encarava Jim sem entender nada.

— Quem? Eu não sei de nada – ele passava a mão nos fios alaranjados aparados em um corte ralo.

Jim bufou sem paciência.

— Você sabe muito bem de quem estou falando, Krule. Sid! Aposto que ele foi atrás de você.

Pensei que os olhos de Krule saltariam das órbitas ou possivelmente ele teria um enfarto.

— Eu não sei de nada, Jim. Eu juro! Não o vejo desde que foi preso.

— Por que eu não acredito em você, seu magrelo?

— Jim... – sussurrei – Eu acho que ele realmente não sabe de Sid.

— Não se engane por essa carinha inocente – disse Jim para mim, com Krule ainda a nossa frente – Olha Krule, se eu souber que você está acobertando Sid... – Jim não terminou a frase e nem precisou.

Assim, Jim deixou Krule ir. O ruivo sumiu mais rápido entre a multidão do que um carro de corrida. Entre seus passos desengonçados e falhos desapareceu de nossa visão. Porém Jim ainda encarava a direção que Krule tinha tomado, pensando em ir atrás dele, talvez?

Merda! Eu odeio isso. Odeio quando Jim faz essas coisas, do tipo, me esconder coisas!

Cruzei meus braços e levantei minhas sobrancelhas o encarando, esperando uma resposta. Ele me olhou zombeteiro.

— O quê? – me perguntou cínico.

— Posso saber quando você ia me contar da existência desse rapaz? Quem é ele? E o quê ele tem a ver com Sid?

 

**

— Filho! – gritou Clara da cozinha.

Eu e Jim levantamos rapidamente do sofá, mas ela logo apareceu na sala. Com o telefone branco na mão esquerda enquanto sua mão direita se encontrava em seu peito. Ela mantinha uma expressão preocupada em sua face.

— O quê foi, mãe? – perguntou Jim preocupado se aproximando dela. Eu ainda continuava parada ao lado do sofá.

— Lembra do Tony? Seu amigo de infância? – ela deu uma pausa, como se procurando as palavras certas – Ele estava trabalhando naquele posto de gasolina, perto da entrada de Orange Beach, não?

— Sim, mãe. Nós passamos por lá. Falamos com ele – Jim segurava o ombro de sua mãe.

— O pai dele me ligou agora... O Sr.Hopkins... Tony foi encontrado morto a facadas.

Eu e Jim nos encaramos instantaneamente. Engoli em seco. Minhas mãos suaram, minhas pernas ficaram bambas. Senti uma pontada no peito. Ele está aqui. Ele está perto. Por que sinto que Sid está atrás de mim e não de Jim?

— Sid... Sid foi captado pelas câmeras – continuava Clara – Foi ele. Talvez ele tenha perguntado sobre você e...

Minhas pernas falharam, sentei-me no sofá. Meus olhos arderam... Seriam lágrimas? Sim. As senti escorrerem por meu rosto, nem ao menos sabia pelo que chorava. Sim, claro, pela morte do amigo de Jim, mas... Havia algo mais... Um sentimento embutido. Será que o medo havia se infiltrado de vez em mim?

Não queria conviver com medo a cada instante. Pensar que Sid poderia estar a espreita a todo momento. Eu nem ao menos sei realmente o que quero ou sinto. E se eu nunca tivesse conhecido Jim? Nunca tivesse provado do amor dele... Não! Preferiria mil vezes passar por todos os riscos possíveis, estando ao seu lado, tendo seu amor como meu guia.

**

— Jim? – o chamei do topo da escada – Jim? Onde você está? – perguntei já descendo as escadas.

Silêncio... Nenhuma resposta.

Todas as luzes da casa estavam apagadas. Somente a claridade que vinha da luz do luar iluminava o ambiente com pequenos feixes de luz pálidos.

Estava ficando preocupada, ele não estava em lugar algum. Já era tarde, a madrugada se estendia. Eu não conseguia dormir se ele não estivesse ao meu lado. Dependo totalmente de Jim, eu o respiro.

Vou até a janela da sala e observo a luz pálida da lua, no momento em que ainda fito o luar escuto um movimento atrás de mim, com certeza é Jim, me viro para perguntar por onde ele esteve. Mas para meu total desespero não é ele.

— Olá – diz Sid. Ele segurava uma arma na mão direita, pude ver isso mesmo com a pouca luz do local – Assustada, garotinha? – perguntou-me sinicamente. Eu estava com muito, mas muito medo dele. Porém só queria saber onde Jim estava.

— Cadê o Jim? O quê você fez com ele? – tentei não tremer a voz ao falar.

Ele se aproxima ainda mais de mim, eu me escoro ainda mais na parede. Minhas mãos estão suando e meu coração palpitando.

— Ah, desencana dele! Será que você ainda não percebeu que é somente o cachorrinho de estimação dele?

— Onde está ele, Sid? – perguntei com a voz abalada pelo choro preso na garganta.

— Vem, quero te mostrar algo – diz calmamente me estendendo a mão.

Não dou minha mão a ele, não consigo fazer um movimento sequer.

— Me dá a sua mão! – diz rudemente, me fazendo tremer.

Estendo minha mão vacilante até a sua e ele me guia até o quintal dos fundos. Forço para que minhas pernas se mexam, meu coração está batendo tão forte que posso senti-lo.

Ao chegar ao quintal dos fundos meus olhos não acreditam no que vêem. Meu coração falha uma batida e sinto um pedaço da minha alma sair do meu corpo. Involuntariamente meus olhos se enchem de lágrimas e não dando a mínima para Sid ao meu lado, corro até Jim estirado no chão.

Me debruço sobre seu corpo sem vida...

Seu peito sangra, sua camiseta azul escura com faixas brancas, a qual tanto gostava, agora toda manchada de sangue e perfurada. Seu sangue está em mim, em minha roupa e em minhas mãos. Eu queria estar morta.

Meus soluços não param, acho que seria capaz de chorar para sempre.

Não acredito que Deus me fez encontrar alguém tão perfeito pra mim, mas não podemos ficar juntos. Por que tirá-lo de mim? Não há remédios para a memória. Eu quero morrer, morrer com Jim.

— Jim, eu não quero dizer adeus... – sussurrei tão dificilmente.

Não tinha o que dizer ou ser feito. Nada poderia trazê-lo de novo, de volta pra mim.

Sid até o momento não esboçou nenhum movimento. Estava em silêncio no canto vendo-me morrer.

— Lana... – diz Sid – Olhe pra mim.

Não consigo me mover, não há o porquê de se mover. Não quero soltar Jim. Nunca!

— Olhe pra mim – ele se agacha ao meu lado e puxa meu rosto e quando olho para seu rosto, oh, meu Deus. Ele está chorando.

— Você e Nancy se dariam muito bem, sabe, eu não queria que fosse assim. Eu a amava e Jim a tirou de mim – eu somente o escutava inerte, eu via as lágrimas escorrerem de seus olhos – E eu o tirei de você, era pra ser ao contrário, mas... Eu sei como é viver sem a pessoa que você ama, e acho que seria injusto com você, pois eu sei o que você quer nesse momento – ele tomou uma longa respiração – Morrer.

— Sid... – murmuro.

— Sssh, depois eu vou junto. Ver Nancy. Não posso viver sem ela, mas primeiro eu preciso fazer isso. Tudo bem?

Assenti com minha cabeça e ele se levantou, arfei meu peito ao respirar forte, esperando pela morte.

Lá estava eu de joelhos, ao lado do meu homem morto, esperando a morte.

O disparo foi feito.

Dei um pulo na cama. Suguei todo o ar que era possível de um ser humano se inspirar. Olhei Jim dormindo tranquilamente ao meu lado na cama. Lágrimas vieram aos meus olhos. Eu não aguentaria um dia de vida sem ele.

Foi impossível dormir após esse sonho, quero dizer, pesadelo. O pior dos pesadelos que eu já tive.

Me levantei sorrateiramente e fui para o banheiro, percebendo que o sol ainda nem havia raiado.

Tive uma crise de choro em frente ao espelho, sentia meu coração em mil pedaços somente pelo pesadelo que tive, eu não aguentaria se fosse realidade. Eu cometeria alguma loucura. Eu nunca amei tanto desse jeito. Sinto medo do meu próprio sentimento.

Ao sair do banheiro coloquei um vestido e desci as escadas. Olhei para o relógio. Quase seis da manhã. Daqui a pouco o sol apareceria e o dia começaria mais uma vez. Fazia muito tempo que eu não via o amanhecer na praia.

Eu preciso sair, sair sozinha. Pensar sobre algo que me aflige, pensar muito. Não seria uma má ideia eu ir à praia agora, a esse horário, não? É tão pertinho, Jim nem perceberia, chegaria antes dele acordar. Mas se descobrisse minha atitude me agarraria pelos cabelos, ri disso.

Ultimamente, Jim tem estado 24 horas por dia comigo, literalmente, então... Eu preciso disso.

Cheguei à praia em menos de cinco minutos e o céu já mudava de tonalidade, para um alaranjado esplêndido.

A sensação da areia em meus pés, deliciosa. Há quanto tempo eu não vinha a praia?

Me percebi sozinha no local, nenhuma alma viva. Hoje o sol iria nascer só pra mim.

Sentei-me e esperei o show começar.

Mas do nada sinto alguém me agarrar por trás e colocar um pano em minha narina. Tentei, em vão, me debater, pelo menos ver quem era. Mas não haviam duvidas de quem poderia ser. Meu pesadelo havia sido um tipo de alerta, só que os papéis seriam invertidos. O cheiro era muito forte, porém eu precisava respirar.

Senti uma tontura causada pelo conteúdo tóxico, minha vista ficou escura, meus membros amoleceram e apaguei...

 


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Notas finais do capítulo



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