“Tem certeza que ela disse isso?” Sharon pergunta. Sua voz deixando clara toda a descrença diante da história que Steve acabara de contar.

“C-claro que sim!” Steve afirma, com a voz falha e fraca devido a bebida. Ele já estava na segunda garrafa e Sharon temia que ele vomitasse a qualquer momento.

“Uou!” a loira comenta, sem saber o que dizer. “Talvez você devesse ir pra casa, sabe? Esfriar um pouco a cabeça... clareá-la. Amanhã você pode conversar novamente com a Natasha e....”

“Não tem mais conversa. Acabou!” Steve enxuga o canto da boca com a mão. “Ela mentiu pra mim! Me enganou a vida toda! Não tem filho nenhum!” ele berra choroso e Sharon decide pedir a conta antes que ele desabe ali mesmo, no meio do bar.

Steve não se opõe, na verdade, ele parece não perceber o que está realmente acontecendo a sua volta, como se ele estivesse preso na própria bolha de dor e raiva. Sharon o ajuda a se levantar, e apoiado nela, ele cambaleia para fora do bar. O ar gelado da madrugada o ajuda um pouco a despertar. Ambos caminham lentamente até um taxi, mas antes mesmo de entrar no carro, Steve vomita no meio fio, para completo embaraço de Sharon e desgosto do motorista que os observa com o semblante apreensivo.

“Tem certeza que ele aguenta o percurso?” o homem de estatura baixa pergunta a Sharon, que olha para o rosto pálido e suado de Steve.

“Acho que ele já colocou tudo pra fora.” Ela responde com um sorriso, que o motorista não se importa em devolver.

Ela ajuda Steve a se acomodar no banco traseiro e senta-se a seu lado.

“Pra onde?” o motorista pergunta, enquanto liga o carro. Sharon observa mais uma vez Steve e com um suspiro diz o endereço para o motorista, que em poucos minutos ganha a cidade.

~ x ~

Os gêmeos exibiam o semblante sério. Eles não diziam nada, apenas trocavam olhares bastante significativos. Natasha sabia que um diálogo estava acontecendo ali, ela já virá aquilo acontecer várias vezes, desde que eles eram pequenos e quando foram morar com ela e Wanda impunha certa resistência. Bucky cochilava no sofá, o rosto inchado e levemente arroxeado.

“Digam alguma coisa.” Natasha pede por fim. Aquele silencio era pior que a reação de Steve. Os gêmeos trocam mais um olhar, um longo olhar, e assentem.

“Isso explica muita coisa.” Wanda fala e Pietro concorda com um meneio.  “Explica a briga com o papai e a sua ausência. O porquê dos machucados e de você parecer estar sempre escondendo alguma coisa.” completa.

“Eu sinto muito.” É tudo o que a ruiva consegue dizer.

“Não sinta.” Pietro fala. “O papai tinha os motivos dele e você os seus. Quando se tem talento é um pouco difícil virar as costas para ele.”

“Não é apenas sobre ter talentos Pietro. Eu matei pessoas e....”

“E quem somos nós para te julgar?” Wanda a interrompe. “Pessoas morrem o tempo todo. Estamos em uma guerra constante e as vezes nem sabemos quem é realmente o inimigo. Além do mais você não matava pessoas inocentes... quer dizer, você provavelmente evitou mais mortes.” Os grandes olhos verdes de Wanda pareciam ainda maiores, era como se ela estivesse dizendo aquilo para se convencer também. “Nós prometemos ficar juntos e vamos.”

Ela estende a mão para Natasha, mas a ruiva ignora e aproxima-se da irmã, a abraçando. Pietro junta-se a elas e os três ficam assim durante algum tempo. Natasha sente-se mais calma, afinal, seus irmãos estão bem e pelo essa parte da família ela ainda tem.

“Acho que vocês precisam dormir um pouco agora.” Ela avisa, afastando um pouco dos gêmeos.

“Acho que você precisa muito mais.” Wanda retruca com uma careta. As últimas horas estavam claramente pesando sobre Natasha. Olheiras começaram a forma-se e o cabelo ruivo parecia uma palha.

“Você tá um lixo.” Pietro comenta, para completo desgosto de Natasha.

“Obrigada pela sua sinceridade.” A ruiva agradece com ironia.

“Talvez devêssemos acordar o Bucky, não acho que dormir nessa posição vá fazer bem para a coluna dele.” Wanda fala, observando o moreno com preocupação. Ela aproxima-se dele e lhe faz um carinho no rosto.

“Pois eu acho que ele está ótimo ai.” Natasha corta a irmã e a puxando pela mão, a leva até as escadas, sendo seguidas por Pietro. “Durmam bem. Descansem.”

“Você também.” Os gêmeos falam em uníssono. Pietro passa por elas e dá um rápido beijo em Natasha. “Por favor, durma um pouco.” Wanda pede e novamente abraça a ruiva. “E quanto ao Steve, eu tenho certeza que as coisas vão se ajeitar.”

Natasha retorna para a sala, onde joga-se no sofá. Ela sente algo duro embaixo de si e percebe que estava deitada em cima do aparelho localizador que Tony havia dado. Ela o liga e no mesmo instante um pontinho vermelho começa a piscar na tela. Natasha olha o endereço, mas não o reconhece. Onde diabos Steve estava?