Um novo trilhar escrita por Nyne


Capítulo 4
Capítulo 3 - A escolha


Notas iniciais do capítulo

Dedico esse capítulo as leitoras queridas Samyni, Carolaine, Heleninha18 e Cris.
Obrigada por estarem acompanhando.
Ótima leitura.



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O caminho para casa foi silencioso. Não trocaram uma palavra sequer até mesmo depois que chegaram. Suzana tinha o olhar perdido.
– Preciso ir pro escritório. Você vai ficar bem?
Ela apenas concorda com a cabeça. Carlos lhe dá um beijo na testa e sai.
Carlos trabalhava em uma das principais avenidas da cidade, em um dos muitos prédios espalhados por lá. Seu escritório ficava no 14°andar de um edifício azul espelhado, onde além de seu escritório de advocacia havia também corretoras de seguros, empresas de contabilidade, uma agência de modelos e uma imobiliária.
Ao chegar passou por sua recepcionista, mas mal falou com ela. Entrou em sua sala e fechou a porta. Jogou sua pasta em um pequeno sofá que havia próximo de sua mesa. O telefone tocou.
– Alô. - disse em uma voz seca.
– Doutor Carlos, o senhor está bem?
Era Lia, a recepcionista.
Passou a mão pelo rosto se dando conta que sequer havia falado com a jovem.
– Bom dia Lia. Pode me fazer um favor?
– Claro.
– Veja na agenda se tenho alguma reunião pra hoje. Se tiver remarque para outro dia, o que você achar melhor.
– Semana que vem está bom pro senhor?
– Pode ser. Ah, não me passe nenhuma ligação hoje também. Mesmo que seja o Papa.
– Sem exceções?
Ele pensou um pouco.
– Só me passe a Suzana, mais ninguém além dela.

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Lia não precisou abrir a exceção que o chefe havia lhe autorizado. Suzana não ligou.
Durante todo o dia ficou trancada em seu ateliê. Ela era formada em artes plásticas, chegou até a fazer exposições de seus trabalhos. Apesar de conseguir um bom dinheiro com eles Suzana nunca visou o retorno financeiro, fazia porque amava a arte.
Gostava de pintar quando algum sentimento bom ou ruim se destacava dentro dela. Ela sentia um sentimento crescer dentro de si desde a hora que voltou da consulta com doutora Luísa. Desespero.
Traçava e pintava figuras abstratas, um misto de cores frias e escuras aos poucos preenchia cada espaço na tela. A cada traço riscado, a cada pincelada de tinta podia sentir seu rosto ficando cada vez mais molhado.
Enfim havia ficado pronto. O quadro chegara ao fim. Suas lágrimas não.

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Carlos chegou pouco antes de Suzana colocar a mesa para o jantar. Já não chorava mais, mas ele a conhecia bem o suficiente para saber que provavelmente havia feito isso durante toda à tarde. Carlos tomou um banho e voltou para jantar.
Conversaram normalmente, assuntos rotineiros. Suzana até riu algumas vezes.
– Carlos?
– Diga.
– Sei que não é a hora pra isso, mas... Quero conversar sobre hoje de manhã.
– Sobre que parte especificamente?
– A inseminação. Eu... Eu quero tentar.
– E a cirurgia? Pensou sobre ela?
– Sim. Não vou fazer.
– Mas porque Suzana? Você ouviu o que a doutora Luísa disse 99% dos casos se resolvem com ela.
– Mas não tenho mais tempo Carlos. Não posso mais esperar.
– Meu amor, pelo amor de Deus, não seja teimosa.
– Não é teimosia, é correr contra o tempo, só isso.
Carlos soltou os talheres e levou as mãos ao rosto, o esfregando com força.
– Vai ser uma gravidez de risco Suzana. Alto risco.
– Eu sei, mas mesmo assim quero tentar.
– Você não entende não é? Se coloque no meu lugar. Se acontecer alguma coisa com você, eu morro!
– Não diga uma coisa dessas nunca mais entendeu? Nunca mais!
– Mas é a verdade. Sem você a minha vida não vai ter mais sentido algum.
– Vai sim, até porque se tiver que acontecer alguma coisa comigo, você vai ter que cuidar no nosso filho. Ele passará a dar um sentido pra sua vida no meu lugar.
Carlos a olha confuso.
– Do que raios você está falando Suzana? Porque está dizendo essas coisas pra mim?
Ela se levanta. Segue em direção a pia onde coloca seu prato e começa a lavá-lo.
– Eu fiquei um tempo no ateliê hoje, pintando e pensando bastante. Quando terminei resolvi pesquisar mais sobre gestações de risco na internet. Na grande maioria dos casos não é possível salvar a mãe e o bebê. Para que os dois não morram o médico pede para que algum responsável decida quem deve ser salvo. No meu caso esse responsável seria você.
Carlos sentiu um nó no estomago. Sabia onde ela queria chegar.
– Suzana, você não...
Ela coloca o prato no escorredor de louças e seca as mãos, indo na direção do marido que permanecia sentado a mesa.
– Quando questionarem você Carlos, quero que você escolha o neném. Quero que você salve a vida dele no meu lugar.
– Você teve um dia cheio, não sabe o que está falando.
– Sei sim, sei muito bem.
– Pelo amor de Deus Suzana, você está se ouvindo? Você quer que eu deixe você morrer!
– Não é me deixar morrer, essa é a minha escolha. Ou eu ou meu filho. Escolho meu filho.
Carlos abre a boca por várias vezes, mas não consegue emitir som algum. Suzana coloca uma mão em seu ombro e com a outra levanta seu rosto fazendo com que ele a olhasse. Não conseguem dizer mais nada. Ele abraça a cintura da mulher e ambos choram como crianças.
– Você tem noção do que está me pedindo Suzana? Tem noção do que está fazendo comigo?
Ela não diz nada, apenas fecha os olhos e continua a chorar.
– Isso não vai acontecer. Não vou ter que fazer isso.
– Caso aconteça...
– Não vai, Você está nervosa, teve um dia cheio e ficou pensando bobagens. Repito, não vai acontecer.
Ele levanta e abraça a mulher ainda com mais força.
– Já disse Suzana, se você morrer eu morro com você. Não vou querer viver mais em um mundo onde você não vai existir.
– Carlos...
– Chega Suzana, por favor. Você quer fazer a inseminação, ok, faremos, mas nunca mais toque nesse assunto de novo. É a única coisa que te peço. Nunca mais fale sobre esse absurdo outra vez.


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews, a opinião de vocês é muito valiosa pra mim, sabem disso.
Semana que vem posto novamente.
Espero por vocês.
Beijos e obrigada por estarem acompanhando.



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