Um novo trilhar escrita por Nyne


Capítulo 3
Capítulo 2 - Consulta


Notas iniciais do capítulo

Olá, aqui estou com mais um capítulo fresquinho pra vocês.
Vocês irão conhecer termos médicos aqui que provavelmente assim como eu nunca ouviram falar ou talvez nunca tenham entendido ao certo rs. Quero que saibam que pesquisei muito antes de escrever o capítulo para não escrever besteiras ou "viajar na maionese".
Espero que gostem da leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/634904/chapter/3

O relógio marcava 9hs10. A consulta estava agendada para as 9hs30. Carlos olhava tudo ao redor.
O consultório era pintado em cores neutras, com objetos de decoração colocados em locais estratégicos, o que fazia o ambiente parecer maior e aconchegante. Havia algumas fotografias representando famílias em grande parte das paredes.
Suzana folheava uma revista, mas na verdade não se atentava a nada. Estava ansiosa.
Com uma pontualidade que poderia ser comparada a dos britânicos a recepcionista que aparentava não ter mais que vinte anos informa que o casal seria atendido.
Ela levanta da sua mesa feita em mármore e guia o casal até a sala onde a consulta seria realizada.
Suzana apertava a mão de Carlos que a acariciava com o polegar. A recepcionista abre a porta e pede para entrarem. Atrás de uma mesa relativamente grande estava uma mulher que ao vê-los se levanta prontamente.
Enquanto a recepcionista fecha a porta, a mulher os cumprimenta.
– Bom dia. Luísa Gandra, muito prazer.
– Bom dia. Sou Carlos Castiel e essa é minha esposa Suzana. O doutor Antonio Motta me indicou a senhora.
– Sim, ele me disse que vocês queriam marcar uma consulta comigo. Por favor, sentem.
A mulher aparentava estar na casa dos cinquenta anos. Era de estatura mediana, com a voz grave e um semblante sério. A uma primeira impressão passava confiança.
Tornou a se sentar, ficando com os cotovelos apoiados na mesa. Carlos e Suzana estavam sentados a sua frente.
– Bem, imagino que estejam aqui porque querem aumentar a família.
– Exatamente. - diz Suzana com um sorriso de orelha a orelha.
– São casados há pouco tempo?
– Completamos quinze anos semana passada.
– Quinze anos? - diz a médica com surpresa. - Mas vocês aparentam ser tão jovens.
– Casamos cedo. Ela tinha vinte e eu vinte e quatro anos.
– Também me casei jovem, com vinte e um.
A médica puxava assunto para manter o casal relaxado. Era uma tática bastante usada no meio médico, Carlos sabia disso, mas Suzana não estava ali pra conversar coisas cotidianas. Percebendo a inquietação da mulher, a médica decidiu enfim abordar o assunto.
– Bom, vamos ao que interessa - disse em um tom descontraído. - A senhora usa ou usou algum tipo de contraceptivo?
– Usei dos vinte aos vinte cinco anos, mas parei exatamente pra ver se conseguia engravidar.
– Certo. Então há dez anos a senhora não usa pílulas, correto?
Suzana concordou com um manear de cabeça. A médica ia fazendo anotações em um papel que o casal deduziu ser um receituário.
– Atualmente suponho que não utilizem nenhum método para evitar gravidez, camisinha, DIU, nada.
O casal concordou.
As perguntas continuavam, ora diretamente para Suzana, ora especificamente para Carlos, ora para ambos. A cada resposta a médica fazia anotações e mantinha o semblante sério.
– Certo. Vou passar uma série de exames para os dois. Assim que os resultados estiverem prontos quero que voltem aqui. Com os resultados poderei ver qual o melhor tratamento para vocês.
Carlos e Suzana agradecem e saem do consultório.
Dentro do carro Suzana olhava as diversas guias.
– Nossa quanta coisa.
– Quer desistir? - pergunta Carlos com um olhar irônico.
– Claro que não.
– Como imaginei - diz rindo. - Amanhã fazemos todos esses exames aí. Até o fim da semana provavelmente estejam prontos, aí levamos pra ela dar uma olhada.
– Não vejo a hora. - diz ela com empolgação.
– Nunca vi alguém tão ansiosa pra fazer exame de sangue, fezes, urina... Você é mesmo única amor.
– Não são apenas exames pra mim amor, são uma esperança, expectativa de respostas. Tenho certeza que vai dar tudo certo, você vai ver.
Carlos se sente feliz ao ver a esposa daquela maneira. Suzana era a mulher de sua vida, nunca teve dúvidas quanto a isso. E vinte e um anos de convivência com ela só fez constatar mais uma coisa. Não poderia viver sem ela.

**************************************************************

Apenas uma coisa deixou Suzana mais ansiosa do que ter os resultados dos exames feitos por ela e Carlos nas mãos. A posição da médica quanto a eles.
Como havia sido dito na primeira visita ao consultório dela, assim que os exames estivessem prontos eles deveriam levar os resultados para que a mesma os visse.
Lá estavam eles, com todos os resultados em mão, dentro do horário marcado, mas nada da doutora Gandra os chamar.
– Porque não nos chama de uma vez?
– Ela está com paciente Suzana, temos que esperar.
– Mas chegamos no horário.
– Eu sei. Você está muito nervosa, tenta relaxar um pouco.
– Não consigo.
– Vamos esperar mais dez minutos. Se ela não atender a gente falo com a recepcionista. Pode ser assim?
Suzana concordou. Ficou mexendo no celular em uma tentativa de tentar se distrair. Inútil.
Pouco tempo após a proposta de Carlos, ela olha novamente no relógio. Antes que pudesse dizer algo mais, o telefone na mesa da recepcionista toca.
– A doutora Gandra pediu para entrarem.
O casal sorri amigavelmente para a jovem e seguem até a sala da médica. Ela fazia algumas anotações quando o casal pediu licença ao entrar.
Como da primeira vez ela os cumprimentou e pediu para que sentassem.
– Trouxeram os resultados dos exames?
– Sim senhora. - responde Suzana ao entregar diversos envelopes para a médica.
Doutora Luísa coloca os óculos de leitura e começa a analisar um por um todos os papéis.
Após algum tempo ela cruza as mãos com os cotovelos apoiados sobre a mesa, analisando o casal.
– Bem, com base nas informações que vocês me passaram na primeira vez que estiveram aqui e com os resultados dos exames já tenho uma posição quanto à situação de vocês.
Ela tinha um tom sério na voz, o que deixou Suzana um pouco tensa. Carlos parecia indiferente.
– Vocês me informaram que há cerca de dez anos não usam nenhum meio de contraceptivo, correto?
O casal concorda com um meneio de cabeça.
– Bem, quando esse é o caso, aconselhamos o casal a fazer exames como esses que pedi após um período de seis meses a um ano sem ter ocorrido uma gravidez.
– Ou seja, se dentro de um ano sem usar remédio, camisinha, o que seja a mulher não engravidar é porque realmente há algum problema com ela, é isso? - pergunta Suzana.
– Não necessariamente. Pode sim ser algo na mulher, mas também pode ser no homem ou em ambos.
– E nosso caso se encaixa em qual dessas possibilidades? - pergunta Carlos.
Ela pega as anotações que havia feito, dá uma rápida relida e então volta a encarar o casal.
– Ambos. Vou explicar exatamente o caso de vocês. No seu caso senhor Carlos, os exames apontaram que o senhor tem azoospermia, que é ausência de espermatozóides.
– E o que causa isso?
– Podem ser inúmeros fatores. Doenças que impedem a saída de espermatozóides, como fibrose cística, o que já pude ver aqui que não é seu caso ou situações que interfiram na própria produção pelo testículo.
Carlos fica em silencio por um tempo, como se buscasse algo em sua memória.
– Quando eu era criança tive caxumba. Essa pode ser a razão dessa ausência de espermatozóides?
– Provavelmente.
Suzana parecia confusa.
– Já ouvi algo do tipo, sobre a caxumba "descer" no homem, mas não consegui entender o que isso tem a ver.
– Vou explicar para a senhora. Isso acontece porque o vírus da caxumba se adéqua bem às células que vivem nos testículos. Se as células forem afetadas, o sistema imunológico do homem passa a atacar esse local para proteger o organismo da infecção. E é nessa ação de autodefesa que a fertilidade do homem pode ser prejudicada. Se a inflamação afetar só um dos testículos, as chances de infertilidade são de 30%. Se afetar os dois, o homem tem 50% de chances de ficar com problemas.
Carlos estava desnorteado.
– Me perdoa amor. Eu não sabia juro que não sabia.
– Você não tem que pedir perdão de nada. - diz Suzana com os olhos começando a marejar. - Como ia saber?
Doutora Luisa permanecia com o semblante sério. O passar dos anos naquela profissão, vendo casos parecidos com o do casal Castiel acabaram por fazer com que ela não se envolvesse sentimentalmente com os pacientes.
– Certo - disse Suzana respirando fundo e contendo as lágrimas pressionando o canto interno dos olhos com os indicadores - A senhora disse que nós dois apresentamos problemas. E o meu, qual é?
– O útero da senhora é bicorno.
Suzana a olhou como se tivesse sido xingada.
– Útero bicorno ou septado nada mais é que um útero dividido em dois. Na maioria dos casos esse útero acaba ficando com o formato parecido com o de coração, isso que dificulta ou impede a mulher de engravidar.
– E tem alguma explicação pro meu útero ter ficado assim? Quer dizer, foi o tempo que passei tomando pílula ou tem a ver com alguma doença que eu possa ter tido na infância, como o Carlos?
– Não. É uma má formação congênita, ou seja, a senhora já nasceu com ele assim.
– A senhora pode explicar um pouco mais sobre esse tipo de útero, por favor? Estamos um pouco confusos. - se pronunciou Carlos.
– Claro que posso. O útero bicorno pode ter tamanhos diferentes nos seus lados, ou seja, pode ter um lado grande e um pequeno, os dois grandes, os dois pequenos.
– A senhora disse que ele pode dificultar ou impedir a gravidez, é isso?
– Exatamente.
– E por quê?
– O útero bicorno tem uma capacidade muito limitada para esticar, e veja, se o óvulo fecundado se fixar em um lado muito pequeno do útero bicorno, a gravidez fatalmente não irá à diante. Mas se a gravidez ocorre no lado maior do útero, a gravidez vai à diante sem problemas desde que bem acompanhada por um especialista.
– Então mesmo tendo isso eu posso engravidar!? Isso tem tratamento?
– Sim, é possível fazer uma cirurgia e resolve 99% dos casos, mas os senhores precisam estar cientes que as chances de uma gravidez de risco são muito grandes, não apenas devido essa anomalia no útero, mas também devido à idade da senhora. Hoje em dia não é mais nenhum bicho de sete cabeças ter o primeiro aos trinta e cinco anos de idade, mas isso em mulheres saudáveis e sem problemas como o que a senhora apresenta.
Carlos passava as mãos pelo rosto e cabelos.
– Vou resumir o que entendi, a senhora, por favor, me corrija se eu estiver errado. Podemos ter um filho apesar das complicações que temos, porque pelo o que entendi eu produzo poucos espermatozoides, mas ainda assim, produzo, e a Suzana pode fazer uma cirurgia pra correção desse útero bicorno aí.
– Isso mesmo. No caso do senhor sua linha de raciocínio está correta, apenas para complementar, como por vias naturais a gravidez não ocorreu, o mais indicado seria uma inseminação artificial, com o esperma do senhor ou o de um doador.
– A senhora está me ofendendo. Minha mulher não vai ter um filho de outro homem.
– Como disse senhor Carlos, ou do senhor ou um doador, a escolha fica a critério do casal.
– Isso não precisa ser escolhido doutora Luísa. Meu filho, meu esperma. - disse o homem com a voz alterada, mas sem chegar a gritar.
Suzana estava com a cabeça baixa, parecia distante, pensativa, alheia a discussão da médica com o marido. Voltou a olhar para doutora.
– Só mais uma pergunta doutora. Como toda cirurgia vou precisar de um tempo de recuperação após fazer essa não é? Ou seja, o tempo vai se encurtar ainda mais pra mim, digo, a cada dia vou ficar mais velha, meus óvulos vão diminuindo com o tempo certo?!
– Sim, em termos mais simples é isso mesmo.
– Eu posso fazer a inseminação sem passar pela cirurgia?
Carlos olhou boquiaberto para ela. A médica também mostrou certo espanto com a pergunta.
– Sim, a senhora pode, mas não pode esquecer que será uma gravidez de alto risco...
– Obrigada. Era só isso o que queria saber.
Suzana levanta colocando a bolsa em seu ombro.
– Existem outras possibilidades além dessa. Eu conheço vários orfanatos, poderia indicar para vocês fazerem uma visita.
Agora era Carlos que se levantava.
– Acho que não fui claro com a senhora agora a pouco. Minha mulher e eu queremos um filho nosso. Nosso. Não de outro homem, outra mulher, outro casal, que seja. Queremos um filho nosso.
– Entendo... Os senhores estão nervosos, precisam pensar na possibilidade...
Carlos explodiu, socando a mesa a sua frente e fazendo com que a médica se afastasse abruptamente para trás.
– NÃO! Não vamos fazer inseminação com o esperma de outro homem, não vamos visitar orfanato nenhum, muito menos adotar o filho de ninguém! Ou teremos um filho nosso ou simplesmente não teremos. Ficou claro doutora Luísa?
A médica não disse nada. Carlos abraçou Suzana pelos ombros e saíram da sala sem olhar para trás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado =)
Digam o que estão achando, a opinião de vocês é muito importante pra mim.
Semana que vem posto mais um.
Beijos e até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um novo trilhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.