A Boneca de Emily escrita por Obake Suripu, Tia Luka Kane


Capítulo 9
Correntes


Notas iniciais do capítulo

Olá smiles do meu kokoro! ♡
Tudo bem com vocês? Eu tô ótima ^-^

Obrigada a Cruella Deville por favoritar a história *-*

Boa leitura ^-^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/630661/chapter/9

Havia semanas não via Dolleye nem a boneca em lugar nenhum. Ela não dava sinal de vida, e mamãe jurava não ter visto ela também. Procurei em todo canto, e nada da bendita boneca.

Em compensação, Mia me dava a maior força, alegrando-me quando eu estava pra baixo e me dizendo palavras de consolo. Certo dia, ela fez questão de vir em casa me ajudar a procurar. Mas nem com sua ajuda Dolleye apareceu.

A casa era grande, então eu tinha um trabalho danado em olhar em cada canto, certificando-me de que a boneca não estaria ali. Mamãe fazia pouco caso.

— É só uma boneca, Emily. Logo você a esquece — ela dizia.

Certa vez até mesmo discuti com ela. Afinal, não era só uma boneca. Era a minha boneca. A boneca parecida com Dolleye. E se Dolleye não estava, a boneca aliviava sua ausência.

Mas agora não tinha Dolleye nem a boneca, o que era desesperador. Desde que Dolleye sumira eu começara a ter sonhos estranhos. Ás vezes com ela, ás vezes não. Mas eram sonhos estranhos e intrigantes.

Certo dia lembrei-me do único lugar que não procurara Dolleye: o sótão. Parecia-me improvável ela estar lá, mas já procurara em tantos lugares, que não custava tentar.

Subi correndo no grande sótão empoeirado e dei uma boa olhada. Olhei em caixas, prateleiras, armários, em montanhas de objetos agora inúteis, e nada da boneca ou de Dolleye. Já estava quase desistindo quando abri a última caixa, contendo nada mais, nada menos do que uma boneca de um olho só e vestido rosa.

Agarro a boneca em alívio, abraçando-a apertado. Deito-me no chão de madeira, ainda agarrada a boneca, murmurando algo como:

— Nunca mais... Por favor, não suma... Senti tanto sua falta! — as lágrimas já caíam em um choro de alívio e preocupação.

Fico ali alguns minutos, deitada com a boneca e chorando baixinho. Já estava quase adormecendo quando percebi que a boneca estava muito maior e mais macia que de costume.

Só então solto a boneca para olha-la. Dolleye sorria para mim, com lágrimas nos olhos também.

— Tens que libertar-me Chessie. — diz Dolleye amargurada — Ele vai me matar...

— Não me chamo Chessie. Sou eu, Emily! Quem vai te matar?

— És mais Chessie do que Emily — ela diz — Agora tenho plena certeza. Jamais me enganaria quanto a ti.

— Do que está falando?

Dolleye começa a chorar mais compulsivamente.

— Estás vindo — ela diz entre soluços — Vai marcar-me com a dor e arrancar-me o que não tenho mais.

— Quem? O que não tem mais? Quem vai te marcar, Dolleye?

— Tens que achar-me, Emily! — agora ela sorri amavelmente — Preciso ir, mas sei que poderá achar-me. Por favor, Chessie... — as lágrimas rolam rapidamente — Seja rápida ou não aguentarei mais.

Ela se solta de mim e se levanta.

— Não! Não vá! Por favor, fique!

Tento me mexer para levantar-me e agarra-la, mas é inútil. É como se o tempo tivesse diminuído sua velocidade e eu estivesse presa num vídeo em câmera lenta. Meus músculos pareciam mais pesados e, por mais que eu tentasse, não conseguia me mexer mais rapidamente.

— Nos veremos em breve — ela sorri em meio às lágrimas — Sei que conseguirá.

Acordo debatendo-me no chão do sótão, assustada. No fim fora apenas um sonho. Suspiro e olho para o lado. A boneca sumira e eu não a encontro em lugar nenhum. Procuro nas caixas novamente, e nada. Teria sido tudo apenas um sonho?

Acabo me deparando novamente com o livro “Contos Dododgianos”, e acabo por pegar para ler.

~~*~~

— Que cara é essa, filha? — pergunta mamãe.

Mexo desanimada no meu prato ainda cheio, intocado. Não estou com fome alguma depois daquele sonho louco.

— É por causa da boneca novamente?

— Ah, mãe, eu quero muito acha-la. E depois do que houve no sótão... — solto sem querer antes de pensar no que estou falando.

— O que houve no sótão?

— Ah... Eu adormeci e sonhei que achei a boneca em uma caixa. Depois a boneca se transformou em Dolleye e disse umas coisas estranhas... Mas parecera tão real. Mas no fim eu acordei e não tinha nem boneca, nem Dolleye.

— Deve ser porque você está preocupada com as duas, filha. Você vai conseguir se acertar com a Dolleye, você vai ver.

— Pode ser... Mas e a boneca?

— Bom, aí eu já não sei né Emily. Você procurou na caixa do seu sonho?

— Procurei, mas não achei.

— Bom então você a perdeu mesmo.

— Mãe!

— Filha, você está grandinha demais para brincar de bonecas!

— Mas é a boneca que se parece com a Dolleye! A boneca da bisavó Margareth!

— É só uma boneca! E uma boneca que tá fazendo sua cabeça só porque se parece com uma amiga.

Levanto da mesa abruptamente.

— Você é impossível!

E saio batendo os pés. Vou em direção ao jardim, batendo a porta ao sair. Quem sabe não a encontro lá, não? Ando em meio às flores, perguntando-me se valeria a pena perguntar a uma delas. Depois do ocorrido com o cravo, era difícil decidir.

Avisto uma linda e delicada rosa branca, então decido que era minha melhor opção. Aproximo-me dela e me agacho.

— Olá, dona rosa — sussurro.

Ela abre seus lindos olhinhos azuis e me olha.

— Olá... Hã... Que tipo de flor você é mesmo? — ela me olha confusa.

— Não sou uma flor, sou uma garota.

— Nunca ouvi falar neste tipo de planta.

Reviro os olhos. E lá vamos nós.

— Bem, eu estou procurando uma garota, Dolleye.

— Dolleye? Nunca vi outra planta do seu tipo, ainda mais chamada Dolleye.

— O cravo diz que ela é A Boneca do Olho de Cristal. Talvez isso ajude...

— Ah, claro! A Boneca! Porque não disse antes?

— Porque ela não é boneca, é gente.

— Não sei o que é gente. Mas sei o que é boneca.

— Mas enfim, você a viu?

— Ora, ela não pode sair.

— Sair? Como assim não pode sair? — pergunto já sem paciência.

— Quando se está preso não se sai. Você não sabia disso?

— É claro que eu sabia. Mas como assim ela está presa?

— Não acredito que não sabia.

— Ninguém me contou.

— Talvez ninguém goste de se aproximar de plantas desconhecidas. Vai que é venenosa. — ela me olha com certo nojo.

— Não sou planta, sou gente! — falo um tanto alto demais.

Várias plantas dão uma risadinha. Olho em volta irritada, mas me arrependo. Na janela de casa, vejo mamãe me olhando preocupada. Finjo que nada vi e me viro para a rosa, me arrependendo novamente. Atrás da rosa, no bosque, vejo um brilho azul. Curiosa como sou, esqueço imediatamente de mamãe e corro para o bosque. Algo me diz que preciso perseguir aquele pequeno brilho.

Corro desembestada por entre as árvores, levando galhadas no rosto e tropeçando em raízes. O minúsculo brilho azul vai se intensificando, e eu o sigo desesperada.

Eu tinha um plano
Um simples plano
Conquistar um amor
Inalcançável

Uma melodia quase que familiar atingia meus ouvidos em cheio, e eu não sabia de onde a conhecia. A voz que cantava eu conhecia muito bem. Era Dolleye e sua doce voz, emocionando-me e me enchendo de saudades. Continuo correndo, mas algo dentro de mim parecia se contorcer, como se quisesse se libertar.

Eu iria tentar
Eu iria alcançar
Mas surpreendida com uma falha
Fui presa para sempre em correntes

Um flash de imagens cruza minha mente. Dolleye, iluminada apenas pela luz de uma fogueira, sorrindo amavelmente. Eu vestida com um vestido vermelho e um avental cheio de sangue, sentada num tronco com uma espada ensanguentada no colo. O interior do que parecia um castelo em ruínas, com paredes brancas amareladas pelo tempo.

A deixei esperando
Esperando por mim
Desculpe-me, mas o tempo não espera
Desculpe-me, mas eu tive pressa

Quando percebo, estou chorando, as lágrimas caindo descontroladamente. Estou cega pelas lágrimas, mas continuo sendo guiada pelo brilho azul, que se destaca em meio às árvores desfocadas pelas lágrimas.

Eu queria fugir
Para um lugar ir
Eu precisava
Estar aqui!

Finalmente, o brilho atinge o tamanho de uma bolinha de gude e eu acho sua fonte. Acorrentada em uma árvore está minha boneca, toda surrada e maltratada. O tronco dessa árvore em específico está cheio de arranhões assustadores e manchas de sangue.

A boneca, que eu jurava ter uma expressão de dor nos olhos, embora fosse apenas uma boneca. Sim, olhos, pois não lhe faltava um. Onde deveria faltar um olho, havia um brilhante olho azul-cristal, que brilhava timidamente.

Com certa dificuldade, consigo soltar a boneca e abraça-la forte. Talvez a pequena rosa tenha confundido a boneca com Dolleye. O que importa é que eu a salvei. Agora aliviada e agarrada a boneca como se não houvesse amanhã, caminho de volta para casa, enquanto começa a cair uma garoa fraquinha.

Assim que entro pela porta, mamãe me olha severa.

— Amanhã você vai faltar à aula — ela diz — Vamos ao psicólogo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Comentem pra tia saber!

A música cantada pela boneca foi escrita pela minha diva Luka-sama ♡

Até a próxima o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Boneca de Emily" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.