A Boneca de Emily escrita por Obake Suripu, Tia Luka Kane


Capítulo 15
C.D. 1/6 - Janela Quebrada


Notas iniciais do capítulo

Olá smiles! Tudo bom com vocês? Eu estou ótima!

Bem, vou explicar aqui rapidinho...

Esse cap não é bem um cap de A Boneca de Emily, e sim um livro dentro de um livro: Os Contos Dododgianos. E a nossa amada tia Luka que escreveu pra gente :3
Na verdade, ela vai escrever todos os contos! Espero que gostem (porque eu tô amando)

Boa leitura, smiles.



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"Toda noite, com excessão das noites de lua cheia, eu escuto um choro vindo do bosque que fica atrás da minha casa. Este fato é possível pois minha janela fica virada para o bosque. Eu fico imaginando o quê poderia ser, um filhote de lobo perdido, ou de onça. Mas o choro parece sempre mais intenso, não é como se o autor estivesse perdido, mas como se não conseguisse aceitar quem era. Sempre pensando em quem poderia ser, eu adormecia.

Algumas vezes, logo depois de tomar o desjejum eu seguia para dentro do bosque e imaginava que a pessoa que chorava estaria perto só esperando a chegada do anoitecer para derramar seu pranto novamente. Tendo as árvores como testemunha, eu procurava até o findar da tarde, e logo era chamado para entrar. E assim se seguiam os meus dias.

E essa era uma noite igual as outras, eu sentado em minha cama apenas aguardando o som que me faria dormir. Eu já tinha me acostumado a ouvir o barulho do choro para dormir, então este acabou se tornando minha canção de ninar. Mas naquela noite eu só ouvia os grilos, uma noite calma e silenciosa, o que me espantava. Então rumei para a janela para ver se a lua cheia tinha invadido o céu. Para minha surpresa, ela não estava lá, nem a lua e nem as estrelas.

Assustado demais e com o coração moralmente ferido, decido colocar meu casaco e seguir para a porta dos fundos. Eu não sabia o porquê de estar indo para fora, mas meu coração me ordenava que eu seguisse em frente. E eu o fiz, segui em frente até adentrar o bosque escuro. Eu andava no breu, por entre as árvores. Cheguei em uma clareira e lá estava a lua cheia, bem alta no céu. Eu que até agora estava estático, me assusto apenas de imaginar o quão profundo havia adentrado o bosque.

Era estranho estar ali, quase como que natural. Havia uma familirialidade naquele lugar, como se em sonho eu já estivera ali. Mas eu não sonhava muito, e muito menos lembrava deles quando acontecia.

Então um barulho de risada me chamou a atenção. Mais a frente na clareira vi um garoto ajoelhado fitando um botão de rosa. Sua gargalhada era a mais divertida que já tinha ouvido. Seria ele o autor dos choros? O que estaria fazendo no bosque fitando um botão de rosa branca? De madrugada?

As perguntas me incentivaram a seguir em sua direção. Poderia ser um assasino, e eu estaria morto antes do amanhecer. Mas se fosse a origem do choro eu nunca me perdoaria se não o perguntasse "porque?".

Então eu fui em sua direção sem temer o que aconteceria. Afinal, se eu fosse morrer, este jovem estaria me fazendo um favor, já que a monotonia dos dias, a injustiça e falsidade da sociedade e a busca lasciva por status de minha família, haviam me matado há muito tempo.

– Olá... - pronuncio meio rouco.

O menino se vira assustado. E que menino eu diria. Sua pele era branca como a luz que a lua emitia; seus olhos um fundo azul escuro, como o mar a noite; seus cabelos pretos como o breu da floresta em que eu atravessei. Ele tinha um olhar assustado para mim, então tentei acalma-lo.

– ... Não se assuste. Eu apenas...

– Se afaste de mim... - disse o menino indo para trás. - Vá embora!

– Por favor me escute. Eu só quero lhe perguntar algo...

Dizendo isso, toquei em seu braço e uma eletricidade correu em meu corpo. Meu coração começou a bater descompassado, e borboletas barulhentas e destruidoras invadiram meu estomago e rasgaram minha garganta.

– Me escute, não lhe farei mal.

Ele me olhava estático, como se eu fosse invisível e ele estivesse incrédulo com algo atrás de mim. Então sacudiu seu braço para tirar minha mão de si.

– Como... Fez... Isso? - foi a única coisa que pôde balbuciar.

Então ele foi até uma árvore e a tocou. A árvore que jazia inteira há um segundo estava derretida e podre agora. Eu o olhei assustado. Como ele conseguira fazer isso? Então ele se aproximou de mim e me tocou e a eletricidade voltou, mas eu não derreti.

– Quem é você? - ele me perguntou.

Resolvi não responder e perguntar o que queria para sair logo dali:

– É você quem chora escondido no bosque?

Ele que até agora estava estático olhando para suas mãos, fechou a cara e me olhou.

– Não finja que não viu o que fiz na árvore. - diz com uma certa arrogância.

– Você chora porque tem alguns poderes? Não. Não pode ser, eu sonhei meses com seu motivo, isso é tão inútil.

Nessa altura eu já estava alterado. Era mentira, pois toda vez que ele chorava eu sentia a intensidade, eu sentia o mesmo que ele. E agora não pude evitar minhas lágrimas que teimosamente rolavam em meu rosto.

– Pare de chorar, isso não vai mudar nada. Você costuma dar palpites errados sobre assuntos pessoais? Eu não choro porque tenho "poderes", choro porque tenho um dom, na verdade uma maldição que foi lançada em mim... Eu não posso tocar nada. - disse ele desabafando e se sentando em uma pedra que ficava do lado do grande botão branco.

Assustado, parei de chorar. Era estranho vê-lo deprimido. Mesmo não o conhecendo eu tinha a impressão de já o ter conhecido. Toda vez que o olhava, sentia que meu coração disparava e ansiava algo, mesmo não o conhecendo.

– Como assim? - pergunto sentando na pedra ao lado.

– Quando eu era mais novo, comecei a descobrir coisas sobre a minha familia, e achei textos e livros me revelando a verdade sobre ela. Eu fiz a iniciação que era pedida no livro, mas como eu era o fruto da traição da minha mãe com meu pai, e era só meio sangue dela, a magia não deu certo e reagiu em um feitiço em mim. - disse suspirando. - Eu não posso tocar em nada, tudo o que eu toco eu destruo.

Então eu o abracei, as lágrimas inundavam meus olhos. Eu sofria por ele, mas chorava por mim. Como eu o havia tocado? Quem eu era afinal? E por não saber disso eu chorei. Ele então enxugou minhas lágrimas com seus dedos e aproximou nossas cabeças. O espaço era tão mínimo que eu podia sentir sua respiração. Nossos narizes se tocaram e ele os mexeu, e naquele momento eu ganhei meu primeiro beijo de esquimó.

– Mas você - disse ele no meu ouvido- é o unico que posso tocar. - sua voz rouca e pesada fez os pêlos da minha nuca se arrepiarem.

Ele então se afasta dizendo:

– Vamos, temos que esperar a rosa florescer, falta pouco. A grande rosa branca vai florescer a qualquer momento.

Dito e feito, o grande botão branco se abriu revelando uma rosa grande e bonita.

– Vejo que trouxe um amigo...

Olho estupefato para a rosa. Como assim uma rosa que falava? Mas algo dentro de mim não me deixou ficar surpreso por muito tempo, algo sabia que aquilo era mais maravilhoso do que estranho. Logo essa surpresa foi transformada em admiração.

– Ele ficará conosco, Elena. Conte-me mais...

– Sendo assim, sentem-se...

E assim o fizemos. A rosa tratou de dar pigarros para testar e aquecer a voz.

– Era um dia muito incomum, pois assim que a vi, meu coração falhou em bater, meu ar fora roubado, por uma simples dama selvagem. Seu sorriso em contraste com o sol, admirava-me e encantava-me toda vez que esta o mostrava. Com o coração batendo nas alturas, pude pressentir o que estaria por vir. Sim... A aventura, a emoção que me dominava. Cada palavra sua era cômica, cada detalhe importante e cada sonho, uma promessa. Realmente a verdadeira promessa aqui sentida: o de encontra-la novamente após um novo amanhecer... - e a rosa se calou.

Era incrivel, pois sua historia estava mexendo comigo.

– E como isso pode me ajudar? Quando encontrarei esse amor? - perguntou o menino ao meu lado para a rosa.

– Não se preocupes, ele já fizeste isso por ti. E saiba, seu amor lhe ama como ti a ele.

Porque nesse momento senti minhas bochechas arderem? E meu estômago se revirar?

– Elena... Não... - e assim a grande rosa branca se fechou em um botão e ele abaixou a cabeça.

– Ei... Está tudo bem? - pergunto o tocando no ombro e sentindo o familiar choque me percorrer o corpo.

– Está tudo bem...

Ele se virou para mim, e sem aviso prévio chocou seus lábios nos meus. Eu que até agora o olhava espantado, coloquei as mãos em seu rosto e me deixei levar pelo beijo. Os seres dançantes fizeram uma festa dentro do meu estômago e meu coração era a caixa de som. O arrepio me passou pelo corpo e então o afastei, só então percebendo que era errado o que fazíamos.

– N-não... - disse eu ofegando - É errado.

Ela então ri e diz:

– Não vejo nada demais em te amar. - e chegou mais perto - apenas se você não me amar...

– Eu amo! - exclamei revoltado e então tapei minha boca. Se eu soubesse o que estava acontecendo comigo, saberia porque falei que o amava.

Ele se apriximou de mim e tomou meus lábios em um beijo calmo e ao mesmo tempo intenso. As carícias aumentaram de intensidade e eu não sabia até que ponto eu estava entregue, então apenas fechei meus olhos e deixei que meu lado inconciente tomasse o lugar e aflorasse.

Nos amamos naquela mesma noite, com a lua iluminando a clareira e a promessa sobre ela de que o "para sempre" duraria. Mas a verdade é que alguns não duram e outros são destruídos.

E logo que o dia estava a clarear, sai com uma promessa de voltar e um beijo que roubou meu coração. Após esse dia, choveu por quase 6 dias, o que me impossibilitava de ir ver meu amado.

Na sexta noite após meu encontro com meu amor, havia parado de chover. Então fugi para o bosque, precisava vê-lo de novo. Fui até a clareira e o esperei. E ele veio, me abraçou, me beijou, e com lágrimas nos olhos disse:

– Terei que partir.

– Como assim? - perguntei incrédulo.

– Minha maldição, você a quebrou... Agora estou livre. - disse sorrindo para mim. - E eu lhe agradeço.

– Mas... Então porque terá de partir? - perguntei meio confuso.

– Porque minha alma será levada hoje, eu sinto muito. Mas afinal, valeu a pena todas essas noites chorando, agora sei o motivo verdadeiro pelo qual chorava...

– E pelo que chorava? - perguntei quase chorando.

Ele me beijou, e eu sabia que esse seria nosso último beijo. Então me abraçou e se deitou sobre a relva comigo, mas acabei adormecendo e, ao acordar, estava sozinho. Passei a noite toda procurando por ele bosque a dentro. Ao chegar na grande flor branca, encontrei sua jaqueta e um bilhete:

"Meu amor,

Por tempos vivi chorando para saber quem sou, vivi com a maldição de ser eu. Mas no fim vi que você me amou como eu era. Foi um sentimento rápido, mas entendi porque foi assim. Antes de nós, nossas almas já se amavam. Eu também tinha uma mania como você: toda noite eu ia para um pedaço do bosque, e de lá tinha a vista de uma janela. Eu sempre via um menino escorado nela a ouvir meu choro, e toda noite ele estava lá, ouvia como se fosse a mais linda melodia. Esse menino veio até meu encontro e me amou como sou. Sei que partir vai doer para você, mas... Se acalme e entenda, iremos nos encontrar novamente. Agora apenas espero que fique bem e que nunca se esqueça que você foi a excessão do menino que não podia tocar em nada. Eu te amo

Para todo sempre seu."

E então meus olhos se encheram de lágrimas e eu chorei, chorei tanto que adormeci. Quando acordei estava em minha cama e não me lembrei se vim sozinho ou alguém havia me colocado ali.

O dia passou correndo e eu apenas ansiava a hora de ir para o bosque. Naquela noite eu fui, e ao entrar lá chorei. E eu soube o porquê meu amado chorava: ele queria ter algo que não podia. E eu também.

Assim os dias se passaram e todas as noites se excessão eu ia até o bosque e chorava. Mas hoje é uma noite de lua cheia e aqui estou eu em frente a grande rosa branca a esperando desabrochar, para me contar suas historias."

– ... E assim, caras amiguinhas, acabou a história da janela quebrada. - disse o Dodô rindo.

– Não entendi o titulo. - exclamou Tertia.

– Explique-nos, sr. Dodô. - disse Secunda

– Claro. Assim como seu amor, tudo começou com a janela. O menino chorava e via seu amor na janela e o outro ouvia o menino chorar da janela... - disse Dodô com um ar sério ao tentar explicar às três irmãs os designos do conto.

– E quebrado pois o amor deles quebraram a maldição, não é? - se interpôs Prima.

– Sim e não - disse o Dodô - O amor deles quebrou as maldições.

– Como assim? - perguntou Secunda.

– Viver a mercê da curiosidade sem liberdade para usa-la é uma maldição, então seu amor quebrastes todas as maldições.

– Mas se no caso, assim for, não seria a curiosidade a autora das façanhas do garoto? - perguntou Prima

– De fato. - concorda o Dodô - mas ter curiosidade sem liberdade de nada adianta. O amor que sua alma nutria o libertou.

– E isso é pecado? - perguntou Tertia.

– Não acho pecado amar alguém, não importa quem seja, mas as pessoas não veem assim. A dor de amar não se sobrepoem a dor de perder seu amor.

– Já amastes, sr. Dodô? - pergunta Prima.

– Não, minha cara... - respondeu o Dodô, alheio em lembranças - Nunca se para de amar.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?

Comentem pra tia saber!

Beijos na bunda e até a próxima, amores.



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