A Boneca de Emily escrita por Obake Suripu, Tia Luka Kane


Capítulo 14
Um Beijo


Notas iniciais do capítulo

Olá amores! ♡

Voltei com esse cap kawaii desu *-*

Boa leitura, smiles.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/630661/chapter/14

Ando sozinha sem rumo por um tempo no intervalo, tentando decidir se valia a pena comer "A Comida Indecifrável e Incomível" apenas para ter algo que fazer, ou se continuar andando sem rumo seria melhor. Eu não queria admitir, mas Mia me fazia falta. Muita falta. Ela era minha companhia no meio daquele inferno que eu tinha de frequentar, e agora acabei de estragar tudo. De novo.

Já tinha experiências bem ruins com amizades, e mais uma vez não foi diferente. Será que algum dia eu estragaria tudo com Dolleye também? Ou será que ela mesma daria um jeito de me deixar? E se eu estivesse errada em achar que Dolleye sendo algo da minha cabeça não seja algo relevante? E se um dia ela desaparecesse e eu não a visse mais?

As perguntas eram tantas que me deixavam atordoada. Antes que eu pudesse decidir se iria comer ou andar sem rumo, Annelise Ledford aparece para dar o ar da graça. Não tinha nada contra Annelise, mas ela parecia uma garota perturbada e estranha, do tipo que ninguém gosta de se aproximar. Na maioria das vezes eu não ligo pra essas coisas, mas minha vida já estava estranha e perturbada demais sem Annelise por perto.

– Emily Jones - ela diz no seu tom frio.

– Oi, Annelise.

– Eu sabia que era quem eu procurava! - diz ela subtamente animada - E você dizendo que não sabia - solta uma risadinha.

– Do que está falando?

– Ora, todos na escola andam dizendo sobre a história da sua família. Parece que a história de sua bisavó é bem interessante - diz ela gentil - Bem, meus pêsames.

– Obrigada - digo, ainda confusa - Mas o que isso tem a ver com você me procurar?

– Ora, tudo! - diz ela soltando risadinhas - Embora sejamos inimigas naturais, não é? - diz agora com um ar sombrio. Eu sinceramente não entendia sua mudança de humor.

– Inimigas naturais?

– Não me diga que não sabe, menina burra! - diz ela irritada. - Eu sei tudo sobre os Jones, naturalmente. Sempre soube que seria eu a seguir os passos da Rainha de Paus. - diz orgulhosa - Afinal, somos da mesma geração.

– Olhe, Annelise, eu relmente...

– Oh! - exclama ela de repente - Sinto muito, tenho que ir. O dever me espera - diz de nariz em pé - Sabe como é, a coroação é em breve.

E sai saltitando, me deixando mais confusa que nunca.

– Ela é um doce, não? - diz uma voz atrás de mim.

Me viro e encontro o professor de filosofia, dessa vez sem seu chapéu engraçado.

– Annelise? - pergunto.

– Sim, claro. Quem mais poderia ser? - ele ri.

– Claro, claro. Adorável. - digo irônica.

Subtamente ele fica sério.

– Deve tomar cuidado, gatinha. O jogo está se repetindo, e você em breve terá o mesmo destino de Chessie - ele tenta segurar o riso - Não que eu me importe com ela.

Lembro do nome que Dolleye me chamou naquele sonho. Chessie. Mas como...?

– Chessie? O que sabe sobre ela?

– Oh, achei que era mais esperta que isso e já tinha percebido quem eu sou.

– Do que está falando?

– Naturalmente, da profecia. Não quer acabar com o Tempo? Será divertido me livrar disso - ele aponta para a xícara que segurava - Mas é claro que não se importa, não é? - diz irônico.

– Vocês estão...

O sinal toca, soando alto nos alto-falantes.

– Escute, Emily - ele se abaixa e começa a sussurrar: - Dolleye está mais metida nisso que todos nós. Ela tem respostas que nós não temos, pois era prisioneira dele. Deve interroga-la o quanto antes.

Ele se indireita e sorri.

– Até breve, gatinha.

– Espere! Como sabe da Dolleye? Conhece ela? O que sabe sobre ela?

Ele se vira com uma expressão confusa no rosto.

– Naturalmente, de Intraterra. De onde mais seria? - e sai rindo, me deixando mais confusa do que nunca.

~~*~~

Chego em casa exausta, tanto física como psicológicamente, ainda tentando entender como meu professor de filosofia sabia sobre Dolleye. Sinto o cheiro característico de comida e me encaminho pra cozinha, encontrando mamãe pousando panelas e travessas na mesa.

– Boa tarde mamãe - digo a beijando no rosto.

– Boa tatde filha. Como foi a escola? Você parece cansada - diz ela preocupada.

– Foi bem. A aula de Educação Física foi puxada - digo me sentando e me servindo.

O que não era uma mentira, já que a última aula fora Educação Física. Mas isso não era bem um problema relevante, contando com a conversa estranha com Annelise e o professor de Filosofia - o qual eu ainda não havia descoberto o nome.

Comemos em silêncio, eu com certa pressa pois queria muito falar com Dolleye o quanto antes. Quando estou quase acabando, mamãe corta o silêncio como uma faca, proferindo as palavras frias que me aterrorizam:

– Já marquei seu psiquiatra. Nesse final de semana iremos, está bem?

Assinto lentamente, tentando não entrar em pânico. Termino de comer e subo as escadas com pressa, agradecendo brevemente mamãe pela comida.

Chego no meu quarto, mas Dolleye não está lá. Vou ao sótão, aos outros quartos, nada. Finalmente vou ao antigo quarto de meus tataravós, e a encontro sentada ao pé do relógio, cantarolando uma cantiga desconhecida para mim.

– Dolleye? - pergunto timidamente, entrando no quarto.

Ela levanta a cabeça e seu rosto de ilumina ao me ver.

– Emily! - ela se levanta - Estavas mesmo a te esperar!

– Sério? - por algum motivo, este comentário me deixa feliz.

Sento-me ao seu lado, e Dolleye apoia sua cabeça em meu ombro como no primeiro dia em que fui ao jardim.

– Quero falar com você... - começo.

Dolleye se levanta rapidamente, me olhando sorridente.

– Porque não vamos a passear no jardim? - pergunta gentil - E aí me falas o que queres.

Aceito seu convite e nos encaminhamos ao jardim. Ele parecia diferente a cada vez que eu o visitava, como se estivesse murchando. Ainda era possível maravilhar-se com as lindas flores, mas pareciam mais quietas e um pouco sem vida. Parecia até um jardim normal agora.

– Então - começa Dolleye - O que querias dizer-me?

Sentamos em um banco perto da fonte dos desejos, lado a lado.

– Então... - eu começo - Pra começar, eu gostaria de saber como conhece meu professor de Filosofia. E não adianta dizer que é de Intraterra.

Dolleye me encara incrédula.

– Como sabes de Intraterra?

– Meu professor disse... É um maluco bêbado de chá. Eu jamais teria acreditado se ele não tivesse dito seu nome.

– Maluco...? Charles! - ela diz surpresa - Não acredito que ele viestes para cá! Deves estar de olho nos Ledford, em interesse...

– Ledford? - a interrompo - Você conhece a família da Annelise?

– Conheces Annelise Ledford?

– Sim, uma esquisita que fica falando sobre se tornar a Rainha de Paus...

– Estás muito encrencada com essa gente. Não aproximes mais deles!

– Mas o maluco... Digo, Charles... Ele é meu professor...

– Compreendo. Mas não dê ouvidos a ele. És um ingrato...

– Mas o que isso tudo tem a ver comigo? O que é Intraterra? E Rainha de Paus? Porque devo ser inimiga de Annelise?

– Calma, descobrirás em breve...

– Não, Dolleye! Você nunca me diz...

– Emily - ela diz, muito séria, e eu paro meu discurso - Deves primeiro cumprir um trato para depois arranjar outro.

– Do que você...? Ah, o trato. Sinto muito. O que você vai querer?

Ela levanta o indicador em riste e depois diz as palavras que ecoam em minha mente, deixando-me atordoada:

– Um beijo.

Fico confusa. Agora toda amiga que eu arrumar vou ter que beijar apenas porque elas resolvem que querem? E eu fico como nessa história? Mas porque, meu deus, porque isso parece me constranger tanto? Porque borboletas de gelo sobrevoam meu estômago deixando minha barriga leve e com um friozinho gostoso? Porque sinto minha bochecha queimar? E porque eu não acho tão ruim a ideia, como achei com Mia?

– Eu...

– É claro que não és obrigada - diz ela sorrindo de lado, como se estivesse se divertindo com a minha situação - Mas se prometes, cumpra. Se não quiseres me dar o beijo, quero que devolvas minhas Frouley, uma por uma. Então, o aue queres?

– O beijo - sinto as palavras saírem antes de analisar a situação. Porque meu coração tá fazendo tanto barulho?

– Não preocupes, não mordo. - ela diz gentil, passando a mão em meu rosto - A não ser que peças.

Ela se aproxima lentamente de mim, deixando nossas respirações se misturarem, e fecho os olhos com a sensação. Sinto um impulso quase incontrolável em dizer que eu queria que ela mordesse sim. Mas não tenho chance, pois seu hálito quente com cheirinho de morangos me invade, me deixando inebriada.

Me aproximo devagar, pousando levemente minhas mãos em sua cintura delicada. Ela primeiro me dá um selinho demorado, e sua boca macia permanece na minha, fazendo minhas borboletas de gelo voarem mais rápido e meu coração fazer ainda mais barulho.

Ela abre a boca lentamente, pedindo espaço com a língua, e eu deixo. Abro minha boca também, recebendo a sensação gostosa que é ter sua língua na minha. Ela acaricia meu rosto quando iniciamos um beijo demorado e lento, devagar, me deixando acostumar com sua boca macia e seu gosto delicioso.

A sensação era bem diferente do que com Mia. Dolleye beijava melhor, e não me assustava sendo desesperada ou vulgar. Ela me deixava levar em meu próprio ritmo, me deixando levar aquela situação adiante como quisesse. Seu toque em meu rosto era leve e gentil, acariciando como se eu fosse sua jóia preciosa.

A sensação de que algo estava errado me deixou quase por completo. Embora eu soubesse que Dolleye era uma menina ou, pior ainda, não existisse, esses pensamentos estavam bem longe da minha mente naquele momento, me deixando apreciar o momento sem qualquer interferência emocional. A não ser que fosse as borboletas e meu coração barulhento, claro.

Dolleye me solta, e eu já sinto falta da sua boca macia, da sua língua na minha e seu toque gentil em meu rosto. Ela me olha gentil, mas tem outro sentimento também: culpa.

– Não precisas dizer nada - ela diz encarando o horizonte - Acabei sendo como sua amiguinha. Acabei agindo por egoísmo. Não te culpareis se não me quiseres mais como amiga.

– Não, tudo bem. Você me deu uma escolha, Mia não. Eu podia ter negado.

Ela me olha e sorri, embora um sorriso preocupado, mas quase totalmente livre da culpa. Quase. Fecho os olhos por um breve segundo, abrindo logo em seguida.

De repente o mundo parecia mais brilhante. As flores, mais bonitas. Agora eu podia até ouvi-las cantar. O cheiro de morango me invadia mais que o cheiro das flores, e eu não reclamava, pois era o melhor cheiro que já sentira. Pois era o cheiro de Dolleye.

Olho para baixo, e não visto mais meus costumeiros jeans escuros e camiseta preta. Estou com um familiar vestido azul, parecido com o de Dolleye, mas muito menos cheio. A alegria me invade, e quase rio com a ironia. Estou conversando com flores e vendo o que ninguém vê. Falo sobre uma terra encantada onde ninguém jamais disse ter ido. Visto um vestidinho azul rodado e de repente sinto um frio na barriga como se caísse. O que Alice do País das Maravilhas diria sobre isso?

Rio vagamente, e quando olho para o lado, Dolleye me olha sorrindo aquele sorriso encantador, seus olhos brilhavam, e ela diz, totalmente sincera:

– Eu lhe amo.

As borboletas voltam, o coração faz mais barulho, e uma voz que não é minha, mas é muito conhecida diz "eu também". Fico confusa, e como se eu não comandasse mais meus próprios movimentos, eu me levanto e pego Dolleye no colo - o que é estranho, pois não sei se eu aguentaria pega-la nos braços dessa forma e não sentir peso algum.

Olho-a nos olhos, e ela sorri para mim. Aproximamos nossos rostos novamente, chegando muito perto...

Acordo assustada, deitada no banco do jardim, sozinha. As flores estão quietas e com o mesmo aspecto tristonho, e estou sozinha. Ainda visto meus jeans e minha preciosa camiseta do Guns. Dolleye não está em parte alguma, e o sol já começa a se pôr.

~~*~~

Já era noite, eu estava deitada em minha cama e não estava sendo fácil pegar no sono. As dúvidas me atormentavam de todos os lados. Meus sentimentos por Dolleye, o que ela realmente era, o que eu tinha naquela hostória doida da tal da Intraterra, etc. As coisas estavam de mau a pior e minha cabeça já doía.

Foi então que me lembrei do livro que peguei no sótão, "Contos Dododgianos", e resolvi abri-lo pela primeira vez, talvez ajudasse a distrair. Na primeira folha, uma dedicatória: "Para Prima, Secunda e Tertia. Meus eternos anjos". Abro o primeiro capítulo, e ele dizia exatamente assim...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Comentem pra tia saber!

Até a próxima, smiles! o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Boneca de Emily" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.