Hell on us escrita por Sami


Capítulo 24
Quatro paredes e um teto


Notas iniciais do capítulo

Olha quem está madrugando só para postar capítulo novo!
Acho que vocês perceberam que pelo nome do capítulo é quase uma adaptação do terceiro episódio da quinta temporada e é claro, teremos morte.



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POV Ayla

[...]

 

Aquela noite estava silenciosa, diferentes de tantas outras noites que eu já tive, essa em questão estava assustadoramente silenciosa e por mais que isso parecesse algo bom era muito estranho também. Não se ouvia nenhum som de grunhidos do lado de fora, na verdade, não se ouvia nada além das folhagens das árvores sendo sacudidas por causa do vento que soprava ali fora.

Era estranho ouvir aquele silêncio, dormir com o som chato e incômodo dos grunhidos dos mortos que vagavam sobre a terra era o tipo de som do qual você conseguia se acostumar depois de um tempo.

Eu já estava acostumada com aquilo, sempre acordando quando se ouvia algum ruído estranho ou qualquer tipo de barulho que parecesse suspeito havia se tornado um tipo de rotina. Mas graças a Eugene e seu cérebro logo não iríamos mais ter nada disso sobre a terra e teríamos nossas vidas de volta.

Tudo iria voltar a ser como sempre deveria ser.

Depois do banquete simbólico que tivemos, todos pareciam finalmente começar a se arrumar para dormir e começar logo o outro dia o mais cedo possível, eu estava deitada sobre um banco próximo a uma das poucas vidraças que havia na igreja e mesmo que já fosse noite e que houvesse poucas velas ali dentro que conseguiam iluminar boa parte do lugar, os vidros coloridos da vidraça ainda ganhavam um pouco de destaque ali; mesmo que fosse bem pouco.

O desenho que os vidros faziam era quase parecido com um anjo — bom, eu pelo menos pensava que era um —, olhar para aquele desenho me fazia lembrar quando minha mãe ainda era viva e quando esse mundo não havia virado uma total loucura.

Ela sempre me contava histórias sobre anjos e até mesmo havia conseguido me convencer a ler livros que contavam esse tipo de história. Livros... Já havia muito tempo que eu não pegava um livro para ler, havia me esquecido como era essa sensação.

Depois que o mundo virou esse inferno, era realmente difícil encontrar tempo para ler ou para fazer qualquer outra coisa que não fosse sobrevier, o apocalipse sempre estava nos mantendo ocupados; ou tínhamos que correr para qualquer lugar que fosse seguro e anti-errantes ou estávamos matando os mortos para conseguir correr e encontrar algum abrigo.

Como eu encontraria tempo para ler num mundo como aquele?

Fechei meus olhos relaxando meu corpo, mesmo que eu estivesse deitada em um banco super duro eu havia conseguido relaxar e consegui encontrar uma posição boa para dormir; seria melhor do que dormir sentada com as pernas e mãos amarradas.

O rangido da porta da igreja se abrindo, me fez levantar na mesma hora, pousei minha mão sobre a arma presa no meu cinto e olhei para trás, assim que vi que se tratava de Rick, Sasha e Tyreese entrando logo tratei de tirar minha mão de lá.

Vi Sasha caminhar até o Padre e parar ficando numa distância de exatamente um braço dele, ele se virou parecendo um pouco surpreso com aquilo e então sua expressão facial mudou; ele parecia estar com medo dela.

— O que está fazendo? — O tom de Sasha parecia quase nervoso e deconstrolado. — Está tudo conectado, você apareceu, estamos sendo vigiados e agora três dos nossos sumiram!

Vigiados? Na mesma hora que ouvi Sasha dizer aquilo, senti todos os músculos do meu corpo se tencionar e meu coração pareceu começar a bater mais rápido.

Eu e Carl estávamos certos, realmente havia gente nos vigiando quando ainda estávamos lá fora e agora a situação parecia ter ficado mais critica já que haviam três pessoas do nosso grupo sumidas.

Olhei em volta conseguindo enxergar quase todo o grupo ali dentro, parei assim que vi o projeto de xerife me olhar quase com a mesma expressão de surpresa que eu estava.

— Eu... — O Padre olhou para os lados como se estivesse perdido ou buscando por alguma ajuda. — Eu não tenho nada a ver com isso!

Padre Gabriel parecia nervoso naquela situação, seu olhar alternava entre Sasha e todo o restante do grupo como se estivesse pedindo ajuda aos outros membros.

Ele recuou assim que a viu tirar uma faca de seu cinto, mais algumas pessoas foram para frente tentando segurá-la; até mesmo Rosita fez isso, mas foi impedida por Abraham que a segurou antes mesmo que ela pudesse fazer qualquer movimento.

Me levantei na mesma hora, porém, não sai do meu lugar, recebi o olhar pesado de Michonne sobre mim como se ela estivesse me dizendo para permanecer ali e foi isso o que eu fiz.

— Cadê a nossa gente? — Perguntou com sua voz um pouco mais alterada que antes. — Onde está o nosso pessoal!

Gritou dando mais um passo para frente fazendo Padre Gabriel recuar mais dois, Sasha fez menção de fazer outro movimento e antes que o fizesse Rick já estava ao lado dela com sua mão sobre seu ombro e logo a fez recuar.

O pai de Carl deu uns três ou quatro passos até ficar cara a cara com o Padre — que continuava com a mesma expressão de medo —.

— Por que você nos traria aqui? — Perguntou o pai de Carl. —Trabalha com alguém?

— Eu sempre estivesse sozinho... — Respondeu o padre com a voz já trêmula. — Eu n-não sei do que vocês estão falando!

— Você queimará por isso! — Quando Rick disse isso foi minha vez de lançar um olhar surpreso para Carl e como se já soubesse que eu iria fazer isso, ele não demorou a me olhar de volta.

Arqueei minhas sobrancelhas acenando com a cabeça para onde seu pai estava e tudo o que Carl fez foi fazer um movimento de sim com a sua cabeça como se ele tivesse conseguido entender o que eu quis dizer com aquilo.

Estava na cara que ele iria contar para Rick o que encontramos naquele quarto, eu que fui burra em achar que ele não o faria.

— Pelo quê queimará Gabriel? — Rick foi um pouco mais raivoso do que Sasha e antes mesmo que o padre pudesse ter tempo para conseguir responder a pergunta, Rick já estava o segurando pelo colarinho e logo o empurrou até uma pequena mesa que estava atrás dele. — O que você fez?!

Gritou logo o soltando.

Padre Gabriel nos olhos parecendo ter ficado um pouco mais aflito que antes, ele respirou fundo como se procurasse as palavras certas para usar naquele momento e então pareceu se recompor.

— Eu tranco as portas. –Respondeu com a voz baixa. — Todas as noites eu tranco as portas. — Ele pareceu que iria começar a chorar, mas pareceu conseguir se controlar. — Atlanta foi bombardeada e eles começaram a vir, toda a minha congregação... Estavam assustados e só queriam um lugar seguro, mas eu não as abri; estava com tanto medo!

Engoli seco.

— Eles gritavam por mim e mesmo assim eu não as abri, os mortos vieram atrás deles. — Ele fez uma breve pausa. — Mulheres e crianças... Todas gritando por misericórdia e mesmo assim eu não as abri. Eu as deixei morrer ali fora!

O Padre então começou a chorar, levou suas duas mãos para seu rosto o escondendo por poucos segundos até as tirou de lá e as levou até o topo de sua cabeça.

— O Senhor os mandou aqui para finalmente me punir! — Ele escorregou para baixo sentando no chão e logo se encolheu chorando ainda mais. — Eu estou condenado!

Sem acreditar em tudo aquilo que ele havia nos dito, tudo o que eu consegui fazer foi sentar novamente no banco sem saber o que dizer e até mesmo o que pensar depois de ouvir aquilo. Aquilo era inesperado, um padre fazer isso com os membros da sua igreja, deixá-los serem mortos pelos errantes e só porque estava com medo de tudo isso? Aquilo era cruel.

— Tem alguém deitado na grama ali fora! — Glenn quase gritou cortando todo o silêncio que havia se formado ali dentro depois do padre ter se confessado.

Uma movimentação começou ali dentro, Sasha havia saído seguida por Rick e mais alguns membros do grupo e então logo trouxeram Bob para dentro. Ele parecia estar desmaiado ou alguma coisa do tipo, mas assim que o vi se mover e resmungar alguma coisa da qual eu não consegui compreender percebi que ele estava acordado e que estava faltando metade da sua perna esquerda?

Olhei assustada para aquilo e tornei a me levantar me aproximando do grupo que o carregada, sua perna esquerda — ou a metade do que havia sobrado dela — estava enfaixada e sua roupa parecia estar suja e um pouco rasgada.

O que diabos havia acontecido com ele? Pensei nervosa não sabendo ao certo como reagir diante de tudo aquilo.

— Eu estava no cemitério e alguém me bateu. Então acordei em outro lugar. — Explicou fazendo força para conseguir se colocar sentado no chão. — Parecia ser uma escola. — Fez força novamente. — Foi aquele cara, Gareth!

— Ele e mais uns cinco estavam comendo a minha perna na minha frente como se não fosse nada! — Respirou fundo.

Comendo? Olhei assustada para a perna de Bob novamente e então aquilo pareceu fazer um pouco de sentindo, sua perna pela metade como se tivesse sido amputada e enfaixada realmente não pareciam ser obra dos mortos. Aquilo havia sido feito por pessoas vivas.

Mas o fato daquela crueldade com Bob ter sido feito por pessoas, o pior mesmo era saber o que eles haviam feito com a parte que eles haviam cortado; eles a comeram. Eles eram canibais.

— Eles estavam com Daryl e Carol? — Rick perguntou um pouco tenso, por um tempo havia me esquecido que os dois haviam sumido também.

— Não. — Negou com a cabeça. — Gareth disse que partiram, mas que não sabem para onde eles foram.

Nessa hora todos se olharam assustados.

Bob tentou se levantar mais uma vez e Sasha logo o impediu que fizesse isso, ela parecia muito preocupada com ele e ao mesmo tempo mostrava certo desespero por não saber ao certo o que deveria fazer.

— Ele está com dor. — Falou tensa. — Temos alguma coisa?

— Acho que ainda temos alguns remédios, podemos usar nele. — Rosita a olhou.

Sasha abriu a boca para agradecer, mas logo foi interrompida por Bob que pediu que nós não desperdiçássemos os remédios com ele, ela o olhou sem entender o porquê daquilo e então ele puxou um pouco a sua jaqueta deixando seu ombro exposto e mostrando uma mordida ali. Naquele momento foi como se tudo começasse a desabar, a noite estava boa e agora havia sido estragada por uma desgraça dessas. Mas que porra meu Deus!

 

...

 

Eu, Carl e Eugene estávamos dentro do quarto onde mais cedo havíamos encontrado aquele caderno e bíblias, Bob estava deitado na cama e parecia estar dormindo. Pelo menos ele conseguia fazer isso num momento como aquele.

Michonne pediu para que nós cuidássemos dele enquanto ela e o restante do grupo pensariam no que iria fazer, afundei o pano velho que Padre Gabriel havia nos dado dentro da vasilha com água, o torci e comecei a passá-lo sobre a testa de Bob; que estava ardendo em febre — um dos sintomas da transformação —.  

Eu ainda não conseguia acreditar que aquilo estivesse mesmo acontecendo, Bob além de ter sido maltradado daquele jeito pelo tal grupo do Gareth havia também sido mordido, não deixando chance alguma de sobrevivência a ale. Que vida de merda essa.

Vê-lo naquela situação fez meus olhos se encherem de lágrimas, eu não tinha tanta afinidade assim com ele, mas Bob era uma boa pessoa e não merecia aquele final. Ele merecia muito mais do que um mundo de merda daquele, aquilo era muito injusto com ele.

— Hey. –Ouvi Carl me chamar. — Você está bem?

Virei meu rosto para olhá-lo e logo voltei a olhar para Bob, tornei a molhar o pano na vasilha com água e dessa vez o passei pelo rosto machucado dele tomando cuidado para não fazê-lo sentir dor.

— Não. Eu não estou bem e provavelmente não vou ficar! — Respondi sentindo minha voz sair dura, não queria que saísse daquele jeito, mas foi um pouco inevitável. — Isso o que aconteceu com ele... Pessoas não fazem isso com as outras, Carl. Monstros fazem!

— São o mesmo grupo que nos prenderam quando chegamos no Terminus. — Falou. — Quando eles começaram a atirar em nós, passamos por vários lugares até chegar em uma parte onde tinha ossos ou sei lá o que era aquilo. Eu acho que sabemos o que aquele grupo é.

Virei meu rosto lentamente para o lado olhando novamente para Carl, Martin também fazia parte desse grupo e era bem provável que ele também fosse um canibal também. 

— Eles estão vindo atrás de nós não é? — Perguntei mesmo já sabendo qual era a resposta para aquela pergunta.

— Estão. — Carl respondeu com a voz baixa. — E é por isso que eles estão lá fora conversando, estão bolando um plano para conseguirmos sair dessa vivos.

Respirei fundo ainda me sentindo tensa por estar numa situação como aquela, já havia lidado com diversos grupos ruins antes, mas nunca havia encontrado um grupo em que seus membros fossem canibais. Aquilo me assustava e pensar no tipo de coisa que poderia acontecer com a gente estando sem nenhum tipo de proteção ali dentro daquela igreja só fazia as coisas piorar.

— Bob não merecia isso. — Falei ainda olhando para Carl. — Ninguém merece esse tipo de coisa, nem mesmo o mais filho da puta deles!

Suspirei. Aquela seria uma noite boa...Seria.

— Carl, Ayla! — Rick abriu a porta do quarto entrado com rapidez, olhou para Bob e depois voltou a nos olhar. — Estão com suas armas com vocês?

— Estamos. — Carl respondeu me olhando com o canto do olho. — O que foi?

Prestei um pouco mais de atenção em Rick e notei que ele tinha uma calibre e uma espingarda, ele nos entregou as duas deixando Carl com a calibre e eu com a outra arma.

Respirei fundo sabendo o provavelmente motivo pelo qual ele havia nos dado aquelas armas e senti uma leve tremedeira nas minhas pernas quando segurei aquela arma.

— Vocês dois vão ajudar Rosita, irão proteger o restante do grupo! — O pai de Carl parecia tenso, também não era pra menos; estávamos lidando com pessoas canibais ali e ficar tenso fazia parte disso. — Estejam preparados para qualquer coisa!

Eu ouvi Carl dizer um breve sim e tudo o que eu consegui fazer naquele momento foi balançar minha cabeça apenas concordando, aquele momento me lembrou muito quando estávamos na prisão; toda aquela tensão no ar por estarmos prestes a ser atacados e agora estávamos numa situação quase parecida.

Minhas pernas ainda pareciam tremer e minhas mãos logo começaram a suar, é eu também estava tensa.

Com a porta ainda aberta, Tyreese foi o primeiro a entrar segurando Judith no colo e logo em seguida o Padre Gabriel e Rosita entraram também.

Não tive muito tempo para ver o que estava acontecendo do lado de fora daquele quarto, mas vi que as velas que antes estavam acesas haviam sido apagadas e Ty logo fez o mesmo com as que havia ali dentro nos deixando no completo escuro.

Rosita fechou a porta e logo a trancou, explicou com rapidez o que deveríamos fazer e logo nos colocamos em posição deixando nossas armas destravadas e apontadas para a porta.

Senti novamente minhas pernas tremerem e insisti mentalmente comigo mesma para que eu permanecesse firme em um momento como aquele. Segurei a arma com mais firmeza nas mãos e fixei meu olhar sobre a porta na minha frente.

O Padre começou a sussurrar uma reza e torci mentalmente para que ela fizesse efeito e saíssemos dali com vida, caso contrário seria um belo banho de sangue.

Longos minutos se passaram e tudo foi tomado por um silêncio realmente assustador, acho que o único som que se conseguia ouvir ali dentro era das nossas respirações pesadas e completamente tensas e é claro, a reza do padre que continuava no sussurro.

Assim que ouvimos o rangido alto da porta se abrindo e cortando todo aquele silêncio, como se fosse algo automático firmei meus pés no chão erguendo a espingarda um pouco mais para o alto deixando-a quase na mesma altura que meu rosto.

Eu me surpreendi comigo mesma e prendi a respiração durante alguns segundos afastando qualquer pensamento que pudesse me distrair naquele momento, me foquei apenas no que realmente importava ali.

— Acho que sabem que estamos aqui! — Uma voz masculina tornou a cortar o silêncio do lugar, provavelmente se tratava do tal Gareth ou de outra pessoa do grupo de canibais. — E sabemos que estão aqui!

Meu Deus! Minhas mãos voltaram a suar. Senti uma forte tensão dominar meu corpo naquele momento, apesar de não estar vendo o que acontecia do lado de fora, conseguia sentir medo pelo tipo de coisa que iria acontecer ali conosco.

— E estamos armados! —Continuou a dizer. — Não precisam mais se esconder!

Conforme seja lá quem estava dizendo aquilo, ouvíamos passos indicando que eles estavam se aproximando cada vez mais de nós. Estava se tornando mais complicado manter a calma naquele momento.

Silêncio novamente.

— Temos observado todos vocês. — Seu tom agora começou a me assustar. — E sabemos exatamente quem está aqui. — Ele fez uma pausa. — Tem o Bob, o Eugene.

Ouvi um rangido baixo ali dentro do quarto vindo de onde Eugene e o Padre estavam, pensei em olhar para trás e desisti da ideia quando ouvi os passos daquele grupo ficarem um pouco mais altos.

— Rosita, os amiguinhos do Martin, Tyreese e Ayla. — Outra breve pausa ao falar nossos nomes. — Carl e a Judith!

Não escondi minha surpresa quando ele começou a dizer nossos nomes, o que mais me surpreendeu foi o fato dele saber sobre mim e Tyreese e sobre o que houve com Martin. Eles eram loucos, essa era provavelmente a única explicação para eles serem desse jeito. Ou eram loucos ou aquele mundo os deixou assim.

— Rick e os outros saíram, eles levaram muitas armas deixando vocês com muito pouco. — A voz grave dele tornou a preencher o lugar me deixando mais assustada, pareciam estar mais próximos da porta. — Não sabemos onde estão escondidos, mas aqui não é um lugar grande então vamos acabar logo com isso antes que tudo piore!

Ainda olhando para a porta, vi quando a maçaneta começou a se mover e quando o outro grupo tentou entrar, não reparei muito mas, Rosita já estava de pé ao meu lado quando eles tentaram forçar para conseguir abri-la.

— Vocês estão atrás de uma das portas e podemos muito bem derrubá-las a qualquer momento. Acho que não é isso que querem! — Dessa vez ele gritou, deixando mais claro o tom ameaçador de sua voz.

Houve mais um momento de silêncio até tudo finamente piorou, Judith começou a chorar — provavelmente se assustou com alguma coisa ali — e Carl correu para acalmá-la. Enquanto o projeto de xerife tentava calar a irmã, eu e Rosita caminhamos até ficar uma de cada lado da porta nos preparando para atirar se fosse necessário.

O outro grupo fez outra proposta para que saíssemos logo dali de dentro, agora eles sabiam onde estavam e não hesitariam em nos atacar já que, era isso mesmo o que eles queriam fazer. Fechei meus olhos devagar respirando fundo várias vezes para manter a calma, o mesmo silêncio sombrio e assustador de antes voltou a preencher a igreja por um longo tempo até que ouvimos gritos.

Não consegui identificar de quem aqueles gritos pertenciam, mas de uma coisa eu tinha certeza: ouvi-los foi algo realmente assustador e preocupante. Meu coração disparou na mesma hora e aos poucos fui abaixando minha arma até que não ouvi mais nenhum som, tudo havia voltado a ser silencioso como antes.

 

...

 

Depois da terrível noite que tivermos, foi realmente difícil conseguir dormir sem pensar naqueles gritos que havia escutado. Passei quase o restante daquela noite em claro e se dormi por uma hora foi muito.

Bob não havia aguentado, da última vez que havia o visto ele ainda estava um pouco inconsciente e estava se despedindo do grupo, foi um dos piores momentos que já passei na minha vida e confesso que não estava preparada para vê-lo ser enterrado.

O grupo estava menor, desde que haviam só saído da prisão não tive notícias de Beth e agora havíamos perdido Bob. Realmente o mundo é uma grande e fodida bosta.

Aquele dia já havia começado ruim e ficaria ainda pior, Glenn, Maggie e Tara iriam com o grupo de Abraham para Washington enquanto os que ficariam esperariam pela volta de Daryl e Carol; que já estavam sumidos um dia inteiro. O grupo estava novamente se dividindo e aquilo poderia ficar ainda pior. Se é que isso poderia ser possível.

Ao entrar de volta para a igreja, reparei que o chão e alguns bancos estavam manchados de sangue, não havia corpos ali mas não era preciso ser um gênio para saber o que havia acontecido ali dentro.

E eu não precisei que ninguém me contasse que aqueles gritos que havia escutado na noite passada na verdade pertenciam ao grupo de canibais que fizeram aquela crueldade com Bob.

Eu não me senti desconfortável por olhar toda aquela quantidade de sangue pelo chão e bancos, o que realmente me incomodou foi saber que aquele grupo era o mesmo que estava chamando pessoas para fazer parte da comunidade que eles tinham.

Não era um santuário para todos e nem mesmo uma comunidade para todos. Terminus era uma perfeita enganação da qual Carl e os outros conseguiram escapar.

Sentei em um dos bancos que estavam limpos e olhei para a igreja, poderíamos viver ali dentro por um tempo, precisaríamos apenas arrumar algumas coisas como espaço e então teríamos um lugar seguro novamente.

Estaríamos livres dos mortos por um tempo e não iríamos precisar nos preocupar com abrigo por um bom tempo.

Mas assim como todos os outros lugares pelo qual eu já passei aquele também não iria durar, em um mundo como aquele de agora não existe mais lugar seguro.

Por mais que a gente tente, sempre aparecerá alguém ou alguma coisa que irá nos tirar isso; naquele mundo segurança parecia ser uma palavra que deixaria de existir logo logo.

Não estávamos mais seguros, se é que um dia já estivemos.


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