Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 26
26. Em transe


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas, tudo bem?

Eu sei que nem tenho como me desculpar. Afundei a fanfic num hiatus quase que infinito, por motivos de: Bloqueio criativo. Ensino médio. Sem mais pronunciamentos sobre esse assunto traumático :-:

No mais, espero poder me redimir minimamente com este capítulo. Pra quem não se lembra, anteriormente nossa protagonista terminou o capítulo escapando da prisão do Djinn de um jeito um tanto radical, o que acabou por resultar nos acontecimentos que vocês estão prestes a presenciar.

É um capítulo longo e espero de verdade que gostem, tem bastante emoção dessa vez XD

Boa leitura, meus doces!



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QUANDO MEUS SENTIDOS voltaram parcialmente ao normal, eu só conseguia pensar "Caramba, Grace, que bela ideia foi essa de atirar na própria cabeça, hein?". Genial, eu sei.

Levei as mãos à nuca, buscando tocar o lugar onde a bala supostamente teria transpassado, e foi a segunda pior ideia que eu tive naquele dia. Senti uma dor insuportável se alastrar por todo o meu corpo partindo exatamente daquele ponto; a sensação era a de que havia fogo sendo injetado em minhas veias, no sentido literal. Meus joelhos cederam ao chão frio e me vi incapaz de fazer algo que não fosse ofegar doentiamente sobre o mármore gelado que se estendia sob meu corpo.

Respire. Inspire. Fique calma. Eu repetia os comandos em minha mente, buscando me concentrar, mas a dor e a tontura não pareciam dispostas a colaborar.

Gritos distantes. Alguém chamava meu nome, mas eu não conseguia distinguir a voz. Ergui a cabeça, sentindo cada extremidade facial exclamar de dor e torcendo para desmaiar ou receber uma dose cavalar de anestesia, nem que fosse por alguns segundos. Ergui os olhos e minha visão turva e desfocada deu lugar a cabelos claros acastanhados e uma expressão firme e preocupada. Mãos grossas tocaram meu rosto, examinando-o nem tão delicadamente assim, e o gesto me provocou uma pontada de dor incrivelmente forte, o que me gerou protestos involuntários de agonia e um palavrão.

— Ah, droga, foi mal. — Ouvi alguém se desculpar. Reconheci a voz de Dean. Graças a Deus. — Como se sente?

— Como se um bando de cães do inferno estivessem pisoteando minha cabeça repetidamente — engrolei, tendo como resposta uma risada. — Não consigo ver nada claramente, essa merda tá toda embaçada pra mim.

Dean murmurou alguma que não consegui entender muito bem e tocou minha testa. Outra pontada.

— Ai, mas que droga!

— Calma, tô vendo se você está inteira — ele retrucou, mal-humorado. — As pontadas e a tontura são comuns. Você vai ficar meio grogue, mas deve passar em alguns segundos... Consegue se levantar?

Incapaz de falar com a dor que latejava em meus ossos, principalmente na cabeça, apenas acenei que sim enquanto firmava os joelhos e tentava me por de pé. As pontadas na cabeça não paravam nem ferrando, mas felizmente iam se tornando menos dolorosas.

Olhei ao redor, notando que faltava alguém ali.

— Cadê o Sam? — perguntei, porque até aquele momento eu ainda não notara a presença do Winchester mais novo nas proximidades.

Foi então que outro pensamento me ocorreu, a lembrança de dois rostos pouco conhecidos e o estado deprimente em que se encontravam até que libertei um deles, apenas para momentos depois levar o mesmo destino.

— Os garotos! — exclamei, Dean pareceu surpreso com meu ato repentino. — Onde...?

— Ei, ei, calma. Adam e West, certo? Eles acordaram mais rápido que você, Sam os levou lá pra cima — ele respondeu, tranquilizando-me. — Vai leva-los pra casa em segurança, não se preocupe. Vamos focar em você primeiro. Já está melhor?

Acenei que sim, notando que as dores haviam diminuído quase que completamente. Graças. Dean me encarou, parecendo avaliar se minha resposta era convincente, por fim decidiu que era e suspirou.

— Você devia ir com o Sammy também, Emma, Bobby está preocupado...

Ele mal terminara a frase e eu já havia negado. Nem ferrando que eu ia deixar Dean sozinho ali contra aquela coisa. Ainda havia trabalho a ser feito.

O Winchester suspirou, derrotado.

— Imaginei que não fosse topar... — resmungou. — Suas condições não são das melhores, mesmo assim deve conseguir lutar, eu acho, mas...

— Mas? — ele me encarou como quem não está muito certo do que diz.

— Mas não sei como vai ser quando toparmos com o Djinn — respondeu. — Ele vai brincar com você, dizer coisas. Não imagino pelo que você passou quando esteve lá — ele fez uma pausa —, mas saiba que essas coisas são boas na lábia, e ele vai usar tudo o que tiver para te desmoronar ainda mais.

Encarei Dean, surpresa. Como ele sabia tanto sobre aquilo? E do que ele chamara o monstro... Djinn? O nome me era vagamente familiar, mas eu não conseguia associar a nenhuma das criaturas que já enfrentara ao longo dos meus anos como caçadora. E acredite quando eu digo que se eu já tivesse topado com um grandalhão azul de olhos cintilantes e coberto de tatuagens, eu teria me lembrado.

— Eu não sabia, não sabia o que era — expliquei, me sentindo um tanto tola por dizer aquilo. — Nunca havia visto nada parecido. Achei que fosse um vampiro passivo, como Sam dissera, mas...

— Tudo bem, eu entendo — Dean me cortou, e seu tom era de quem estava sendo sincero. — Um Djinn é uma espécie de gênio do mal. Ele prende as pessoas em sonhos de uma vida perfeita enquanto, no mundo real, drena seus corpos para se alimentar — fiz uma careta. — Eu sei, eu sei. É bizarro. Se eu e Sam não tivéssemos vindo, você estaria morta em algumas horas.

Um longo momento se passou enquanto nos encarávamos. Me lembrei de como eu assimilara aquela realidade a uma vida quase perfeita, e de como quase me submetera aos encantos daquele "mundo". Dean me observava de um modo estranho, parecia estar imerso em lembranças também. Será que já havia sido atacado por aquela coisa antes?

— Entendi. — Balancei a cabeça para afastar todos aqueles pensamentos, anuviando as distrações. — A questão é: como matamos?

Dean sorriu, como se esperasse por aquela pergunta há tempos.

— Vamos mandar o desgraçado direto pro Purgatório com isso — e então ele ergueu a mão direita, onde eu até então não havia reparado, estava apoiada uma estaca de madeira, a ponta manchada com algo que se assemelhava a sangue seco.

Ergui as sobrancelhas, curiosa.

— Estaca? Então ele é uma espécie de vampiro?

Dean riu.

— Até que faria sentido, mas não — respondeu. — E aí, Grace, pronta pra acabar com mais uma aberração?

Abri um sorriso.

— Eu nasci pronta, Winchester.

— Ok, certo. Então temos que pega-lo desprevenido. Esses filhos da mãe tem uma força enorme, não vai querer tentar corpo a corpo com um deles — explicou. — Ele não está aqui agora, mas definitivamente vai voltar pelo que ele acredita ser o menu do dia, então vamos surpreendê-lo e enfiar essa estaca onde o sol não bate.

Revirei os olhos, concordando com um aceno, enquanto o loiro sinalizava para que subíssemos as escadas.

— É melhor nos escondermos lá em cima — Dean começou a explicar. — Seria melhor, porque...

Bam. Ele foi interrompido por um banque surdo que certamente viera do andar de cima. Congelamos, ambos atentos ao menor ruído.

Outro banque, parecia o som de algo pesado se chocando a outra coisa. Encarei Dean, ele retribuiu meu olhar com igual intensidade, provavelmente pensando o mesmo que eu: a coisa, o Djinn, estava ali. Acabara de chegar, e topara exatamente com Sam e os garotos. Meu lábio tremeu ao lembrar de Adam e West, ambos sem fazer a mínima ideia do que estava acontecendo ali e o que estavam enfrentando.

— Temos que subir agora — meus pensamentos foram interrompidos por Dean, que naquele momento já se afastava em direção à escada que dava acesso ao andar de cima. — Talvez ele pense que não tem mais ninguém aqui além de Sam, os garotos e você. É a nossa chance, vamos.

Ele se moveu rapidamente, contudo, seus passos foram interrompidos e, sem que eu me desse conta da rapidez de meu ato, meus dedos já se envolviam seu pulso em um aperto firme que o impedia de continuar.

Dean se virou e ergueu uma sobrancelha para mim, senti meu rosto enrubescer ligeiramente. O que eu estava fazendo?

— O que foi? — o Winchester sussurrou com urgência.

Suspirei, soltando-o.

— Esse Djinn do qual você falou, essa... coisa, foi horrível o que ele fez comigo, falando sério — sussurrei de volta, lembrando-me das palavras da Alice/Criatura enquanto eu estava presa naquele lugar e sentindo a necessidade de explicação. — Vai fazer o mesmo com você, se subir essas escadas. Com a gente.

Dean pareceu surpreso por alguns segundos, mas se recuperou rápido.

— Nada vai me acontecer, sou bom demais pra ser morto por uma dessas coisas — ele disse usando o familiar tom sarcástico e libertando-se delicadamente do meu aperto. Abriu um sorriso torto e completou: — Além disso, não vou deixar que ele se aproxime de você — acrescentou em voz baixa, o que me fez encara-lo por um momento. — Tem a minha palavra.

Algo em suas palavras o fez soar tão sincero quanto pretendia. Sorri em resposta, concordando, ao que Dean fez novamente menção de subir as escadas. Porém, o som de pés o fez recuar. Nós nos encaramos outra vez — alguém estava descendo ao porão, e não podia ser boa companhia.

Dean fechou os punhos ao redor da estaca que segurava e suas mãos se moveram para a arma que ele escondia na barra de trás da calça, sob o casaco. Como eu não havia encontrado minhas armas nas proximidades, peguei o único instrumento de defesa que sabia que ainda estaria comigo — a adaga que sempre trazia escondida na bota. Apertei o cabo com força, esperando pelo nosso convidado. Aquilo talvez não o matasse, mas certamente ia fazer um belo estrago naquele rostinho tatuado.

No entanto, o que primeiramente vimos descer a escada não era um Djinn e por um segundo meus lábios se abriram em um sorriso enorme ao ver a silhueta de Sam surgir nos degraus, mas a sensação de felicidade sumiu quase que instantaneamente. O moreno não estava sozinho.

Mãos grossas e tatuadas pressionavam o pescoço de Sam, à medida que o mesmo sufocava lentamente. Seus olhos estavam arregalados e ligeiramente avermelhados, enquanto este lutava pelo ar que lhe era negado.

— Sammy? — Dean hesitou. — Mas que merd...?

Uma voz grave ecoou por trás de Sam, interrompendo Dean à medida que um par de olhos azuis cintilantes espiava por cima do ombro do moreno.

— Larguem as armas, caçadores — meu olhar vacilou ao encarar Dean de esguelha. — Ou mando o garotão aqui direto pra Terra dos Sonhos.

Senti meu corpo hesitar ao focar minha visão no Djinn, enquanto fragmentos de lembranças surgiam em meu campo de visão tão rápido que eu não podia evita-los.

Te dar a vida perfeita sempre esteve nos meus planos, Emma, sempre foi a primeira opção. Mas você não aceitou isso, não quis essa utopia.

Pisquei algumas vezes, buscando afastar aqueles pensamentos, mas parecia inútil.

Diga-me, Grace, por que relutar tanto em ter seus maiores sonhos na ponta dos dedos?

Dean encarou o tal Djinn, furioso, um brilho perspicaz transpassou seu rosto apenas por um momento, antes que esse falasse, em alto e bom tom:

— Eu sugiro que você solte o meu irmão — alertou o loiro. — Não é a primeira vez que um da sua espécie cruza o meu caminho, e posso dizer que os encontros anteriores não terminaram nada bem para os seus parentes tatuados.

O Djinn semicerrou os olhos, sua boca crispou-se em um fino sorriso, frieza emanava dele em uma áurea nada agradável.

— Os que você encontrou não eram como eu, caçador — afirmou imperativamente. — Sei quem você é, Dean Winchester, assim como sei quem é a garota Grace que você acompanha e o que ambos procuram — ele me lançou um olhar marcante e tentei me manter impassível, mas os filetes de memória ainda me atormentavam. — Estou familiarizado com seus feitos e a fama que lhes precede, embora nada disso me importe muito — ele tornou a sorrir. — Diga-me, caçador, o que seu complexo de herói lhe diz para fazer agora?

Os dedos da criatura se apertaram ao redor do cabo da adaga que esta pressionava contra o pescoço de Sam. O Winchester caçula engoliu em seco.

— Solta ele, desgraçado! — Dean avançou em direção ao Djinn, mas este apenas sorriu e pressionou ligeiramente a adaga. Um filete de sangue escorreu pela camisa de Sam.

Aquilo foi o suficiente para que eu me libertasse do estado de transe.

— Não! — exclamei, arregalando os olhos de pavor. — Dean, pare!

Dean paralisou onde estava. Seus olhos percorreram o pescoço do irmão, onde uma fina linha de sangue se estendia, o loiro cerrou os punhos.

— Larguem. As. Armas. — Repetiu o Djinn, e em seu tom havia uma clara nota de ameaça. — Agora. Não me façam implorar, crianças.

— D-dean... — Sam tentou falar alguma coisa, mas a criatura aumentou o aperto em sua garganta, fazendo com que o Winchester engasgasse com as próprias palavras.

Estávamos numa situação compicada ali. Se abríssemos mão das armas, ficaríamos parcialmente indefesos diante do Djinn — por outro lado, se não fizessemos o que ele estava pedindo, a vida de Sam estaria em sério perigo.

Uma vez que todos nós tínhamos experiência em combates corporais e poderíamos levar vantagem numa luta três contra um, achei melhor não contradizer o sujeito azul, poderíamos nos virar depois que Sam estivesse fora da mira daquela faca. Lentamente, abaixei a adaga que segurava (era a única arma que eu possuía naquele momento, já que o Djinn fizera questão de confiscar as outras que eu trouxera da casa de Bobby) até o chão e chutei-a na direção da criatura. Seus olhos se semicerraram na direção de Dean e ele sibilou:

— Sua vez, Winchester.

Fúria emanava de Dean perigosamente. Ele parecia estar se contendo ao máximo naquele instante, e por um segundo temi que fosse se descontrolar e estragar tudo, mas por fim o loiro baixou a estaca que segurava e a pôs no chão, logo em seguida chutando-a na direção do Djinn. O cara pareceu enojado só pela proximidade com o objeto; seus olhos faiscaram na direção de Dean outra vez.

— Eu quis dizer todas as armas — sua voz parecia uma navalha pré-afiada. — Ou você espera que eu acredite que só trouxe um pedaço de madeira como defesa pra cá?

Olhei para Dean, em um pedido silencioso para que ele entregasse logo as armas que tinha antes que a situação fugisse do controle. Esperava que ele entendesse o recado. Felizmente, o Winchester enfiou a mão por baixo da camisa e de lá retirou uma adaga de ponta aparentemente afiada, a qual jogou para o Djinn, depois repetiu o gesto e retirou do cós da calça uma Beretta 92 de 9mm, a qual rodou na mão algumas vezes enquanto parecia refletir se devia ou não entrega-la. Comecei a suar frio.

— Dean, dean... — o Djinn cantarolou seu nome com deboche. — Não brinque comigo, estou avisando.

Dean o encarou por alguns segundos, os olhos mantendo um brilho frio e calculista. Ele se abaixou e colocou a pistola no chão, sem, no entanto, solta-la. Pelo canto do olho, vi quando ele sorriu.

— Eu não pretendia, camarada.

O movimento rápido foi como uma espécie de déja vù; Dean ergueu novamente a arma com uma velocidade inacreditável, e o som do disparo ecoou pelo cômodo. Ouvi alguém exclamar — se de dor ou surpresa, eu não saberia dizer — e o barulho de algo pesado batendo contra a parede, antes de Dean gritar alguma coisa que não fui capaz de entender.

Eu estava novamente em transe.

Mas e você, aguentaria o peso de assassinar sua própria irmã?

As imagens eram rápidas e ininterruptas. O rosto de Alice flutuava diante de mim.

Não!, sua voz ecoou em meus ouvidos. Lembrei-me do momento em que eu virara a arma contra mim e da expressão de fúria que surgira em seu rosto diante da percepção do que eu faria em seguida.

— Eu sinto muito, mas você não era real — sussurrei, fechando os olhos com força e buscando me livrar daquelas imagens. — Não era real...

Gritei, sentindo-me completamente frustrada. Mãos agarraram meus braços e alguém chamou meu nome histericamente.

— Emma?! Mas que droga! — Era Dean. Abri os olhos subitamente, respirando fundo.

— Eu... não sei o que aconteceu, Dean — gaguejei, confusa. — Ela estava aqui, de novo...

De algum modo, ele pareceu entender do que eu falava.

— Não era real — respondeu de volta, firme. — O que quer que fosse, não era real. Eu sou real, e preciso da sua ajuda agora, M.

Suas palavras foram o choque de realidade que eu precisava. Acenei positivamente e me virei para encarar quem havia sido baleado. Outro suspiro de alívio — Sam parecia ileso, apenas um pouco ofegante no lado oposto do cômodo. Enquanto isso, o Djinn se reerguia com dificuldades, a mão pressionada na altura do ombro e um líquido azulado escorria de seus dedos.

— Eu juro que não sei como você acertou esse tiro — comentei, surpresa.

Dean não desviou a atenção da criatura, os punhos cerrados e os lábios crispados.

— É, eu imagino — replicou indiferente. — Sobre a estaca, Grace — ele se virou para mim, os olhos passavam uma mensagem clara: é o seu trabalho agora. — Mire na altura do coração. Seja rápida.

Acenei que sim, entendo o recado. No segundo seguinte o Winchester já havia partido para cima da criatura; o Djinn aparou seu movimento um segundo antes em uma velocidade surpreendente, agarrando Dean pela camisa e literalmente arremessando-o na parede. O loiro soltou uma exclamação de dor e tentou se erguer outra vez, mas o monstro caminhou até ele e chutou suas costelas, fazendo Dean desabar novamente no chão.

Relutante, desviei os olhos da luta e encarei ao meu redor. Avistei a estaca há poucos de mim e corri para pega-la o mais rápido que pude. Infelizmente, os instintos protetores do nosso nem tão querido assim Djinn estavam em alerta, e ele pressentiu o que eu faria no momento exato.

Meus dedos agarraram a estaca com firmeza, mas eu senti o impacto quando o corpo do monstro se chocou contra o meu, derrubando a nós dois no chão. O Djinn subiu em cima de mim e agarrou meus pulsos, apertando-os com força. Ouvi um crac típico e um grito de dor, percebendo então que ambos os sons vieram de mim. A estaca escapara de minha mão e rolara para fora do meu alcance. Eu estava ferrada.

Pelo canto do olho, vi Dean encolhido no chão, tentando se levantar. O Winchester tossiu uma vez, e uma torrente de sangue escapou de sua boca, ele não estava muito bem.

— Que frustante deve ser pra você, Emma, saber que chegou tão perto e ainda assim vai ser morta e levar seus amigos consigo — o Djinn sibilou, triunfante.

— Vai pro inferno! — gritei, me contorcendo e tentando me livrar de seu aperto. Uma dor aguda se extendeu de pulso esquerdo, e eu tive certeza de que ele estava quebrado.

— Um dia, quem sabe — ele sorriu. — Mas por hora irei me contentar e mandar vocês três no meu lugar. Últimas palavras?

— Sim... — alguém engrolou, mas não era eu. — Au revoir, imbecil.

O olhar do Djinn petrificou no mesmo instante. Senti seu corpo amoceler sobre mim enquanto a ponta de uma estaca se projetava na frente de seu peito. Meus olhos se arregalaram de surpresa, sentimento este que a criatura parecia partilhar comigo.

A percepção da morte ficou clara em seu rosto. Seu semblante adquiriu uma expressão de fúria, e pude ouvir suas últimas palavras claramente:

— Você... nunca vai... encontra-lo.

Então seu corpo estremeceu e ele desabou sobre mim, morto.

Empurrei a criatura para longe com certo desespero, me arrastando até a parede e ficando ali por alguns segundos, ofegando enquanto observava seu corpo no chão e o sangue que aos poucos encharcava o assoalho de madeira.

Sam caminhou até mim e se abaixou na minha frente.

— Você está bem? — ele perguntou.

Aqueles olhos verdes me encararam profundamente, e me senti na obrigação de retribuir.

— Não — respondi.

Ele suspirou.

— É — disse. — Nem eu.

***

As sirenes da polícia estavam mais altas que de costume naquela noite.

— Acho que assim está bom — Dean disse enquanto ajeitava a bandagem em minha mão. — Dói?

Flexionei os dedos, sentindo uma ligeira pontada ao realizar o movimento. Eu conversara com o médico do batalhão e ele havia dito que meu pulso havia apenas torcido, e que se eu usasse bandagens ele estaria novo em folha dentro de alguns dias. Mas essas merdas incomodavam pra caramba e, em resumo, minha mão esquerda estava parcialmente inútil em caçadas por um tempo. Supimpa.

— Um pouco — respondi. — Nada de mais.

Ele assentiu, recolhendo a maleta de primeiros socorros e indo na direção da ambulância que estava estacionada em frente à loja.

Os policiais haviam chegado pouco depois de Sam ligar para Jody, informando que havíamos pego a criatura e explicado sua origem. A xerife nos ajudou a remontar a história, afirmando que o tal Djinn seria apenas um maluco qualquer obssecado por mitologia que tentara dar uma de serial killer épico. Expliquei aos policiais que me interrogaram que eu era uma agente disfarçada, junto de Dean e Sam, e que estávamos ali em uma emboscada que dera certo, porém, fora fatal para o nosso assassino. Eles anotaram algumas coisas e me deram as costas, possivelmente indo pegar o depoimento dos garotos.

Jody surgiu em meio a alguns policiais que estavam amontoados em frente a entrada da loja. Em seu rosto havia um sorriso de alívio. A detetive caminhou até mim quando me viu, fazendo uma careta ao ver meu pulso enfaixado.

— Não se preocupe, não é tão ruim quanto parece — abri um sorriso para tranquiliza-la. — Vai ficar bom dentro de alguns dias. E esta nem é a mão que eu uso para atirar.

Ela assentiu, rindo.

— Isso é bom — sorriu. Então seus olhos adquiriram um tom mais sério. — Dean me disse que aquela coisa pegou você... está tudo bem?

Senti meu sorriso murchar involuntariamente.

— Faz parte do trabalho entrar em algumas enrascadas às vezes — falei, dando de ombros. — Eu consegui me livrar do problema, é isso o que importa. Agora só quero ir pra casa e dormir uns três dias seguidos.

A xerife assentiu.

— Bom, eu preciso ir cuidar de alguns detalhes a respeito dos pais dos garotos agora — ela disse. — Os irmãos Stuart querem falar com você, a propósito. O mais novo, Adam, parece meio desconcertado.

— Imagino que sim — assenti. — Até mais, Jody.

— Até — ela me abraçou. — Foi bom trabalhar com você, Emma Grace. Boa sorte em sua procura, tenho certeza de que vai dar tudo certo.

Então a mulher sorriu e se afastou, voltando a se enfiar na multidão de policiais.

Olhei ao redor, procurando sinais dos irmãos Stuart, então avistei Adam sentado em uma das ambulâncias, ao lado do irmão, West. Tinha um cobertor ao redor dos ombros e um curativo grande no pescoço, além de parecer bastante abatido, mas mesmo assim sorriu quando viu que eu me aproximava.

— E aí — cumprimentei, sem saber exatamente o que dizer.

— E aí — ele respondeu, a voz rouca.

Me sentei ao seu lado, observando o céu. Era uma noite clara, sem nuvens e infestada de estrelas. Um pouco afastado de nós dois estava West, encostado na ambulância, parecendo perdido em pensamentos.

— Ele ainda está um pouco perturbado — Adam me explicou. — Acho que todos podemos concordar que o que aconteceu foi bem louco.

Assenti.

— Escute, Adam, falando nisso... eu gostaria de pedir uma coisa a você — comecei. — Sobre o que aconteceu lá dentro, eu...

— Eu não disse a ninguém — o loiro me interrompeu. — Não que eles fossem acreditar, é claro, mas imaginei que não devesse dizer. Já expliquei isso ao West, também, ele entendeu que devemos manter a boca fechada.

Suspirei, aliviada. O garoto me encarou.

— Você não é uma agente como eles dizem, é? — perguntou. — Não parece.

Abri um sorriso.

— Não, não sou. O meu trabalho é um pouco mais complexo. Eu caço coisas como aquela que pegou vocês. Caço e cuido para que não façam o mesmo com outras pessoas.

— Você é como uma espécie de Vigilante então — ele riu. — Como naqueles seriados da CW.

Fiz uma careta.

— É, apenas digamos que eu não sou muito fã de máscaras e nem tenha um superpoder.

Adam assentiu. Ficamos em silêncio pelos minutos seguintes, apenas observando o caos ao redor. Ali, sentada ao lado de um adolescente de dezesseis anos e refletindo o impacto que uma simples caçada poderia causar em sua vida, eu me sentia nostálgica.

— Obrigada... Emma — Adam sussurrou em um certo momento, me pegando de surpresa. — Você se arriscou por nós ali naquele porão, não é o que muitas pessoas fariam. Pode não ser uma Vigilante mascarada e nem clamar a liberdade das nações todos os dias, mas hoje você foi uma heroína pra mim.

Arquejei, surpresa com suas palavras. Ninguém jamais havia dito coisa assim para mim, e era algo bom de se ouvir depois de tudo o que acontecera. Olhei em direção ao Impala, encontrando Dean e Sam absortos em uma conversa. Em um certo momento o Winchester mais velho se virou na minha direção e nossos olhares se encontraram, me lembrei do que ele dissera lá no porão, antes de enfrentarmos o Djinn.

Além disso, não vou deixar que ele se aproxime de você. Tem a minha palavra.

Abri um sorriso torto, encarando seus olhos verdes e imaginando pelo que estes já haviam passado. Dean acenou para que fôssemos embora, gesticulando um relógio com os braços. Revirei os olhos e me despedi de Adam, me levantando e caminhando na direção do Impala.

— Bobby está morrendo de preocupações — Sam contou quando me aproximei.

— Aparentemente, Emma Grace é a nova queridinha do Singer — Dean debochou. — Podemos ir?

Assenti, rindo e entrando no carro. Encarei os irmãos no banco da frente, discutindo sobre a música que ouviríamos na volta. Imaginei o que enfretariamos em seguida e me senti cansada só de pensar.

Sem dúvidas, amanhã seria um longo dia.


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Notas finais do capítulo

Sentiram falta? XD Espero que sim.

O capítulo foi meio grande, e eu até pensei dividir, mas estava louca para acabar com essa saga Djinn logo de uma vez e não via como estender a ladainha por mais capítulos. Anyway, espero que tenham gostado ♥

Fiquem no aguarde, prometo trazer bombas no próximo capítulo (que vai sair rápido dessa vez, prometo, já está pronto) :v

Até mais, amores!



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