Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 25
25. Falsas esperanças


Notas iniciais do capítulo

Ei gatinhos!

Espero que tenham sentido falta... porque eu senti, muita.

E mesmo dentre tantos contratempos, cá estou eu novamente, insistindo nessa história que eu tanto amo, assim como aos leitores que a acompanham, rs. Eu sei que nem todos ficaram, por conta da demora, mas a você que ficou, muito obrigada, de coração ♥

E boa leitura :D



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LOS ANGELES CONSEGUE ser estonteando ao nascer do sol. Sério.

Mesmo ciente de que distrações eram as últimas coisas das quais eu precisava no momento, me permiti admirar as belas construções da cidade e a forma delicada com a qual o sol as tocava, contrastando com as sombras dos prédios mais altos e causando um efeito apaixonante ao público.

A Califórnia é simplesmente magnífica.

Passei a noite toda dirigindo. Isso dá no mínimo umas seis horas desde que deixei o centro de LA. Não me lembro da última vez que tive uma boa hora de sono nesse lugar, mas isso não faz diferença; nunca me senti tão desperta.

Ainda era cedo demais para supor que alguém estivesse sentindo a minha falta. Alice possivelmente se encontrava em um estágio profundo de sono, e "meus pais" provavelmente só dariam por minha falta no café da manhã, quando eu não aparecesse. Talvez eles notasserm que o carro de sua filha mais nova não se encontrava mais na garagem, e então começassem a achar que algo estava errado. Talvez eles me procurassem. Como minha caixa de mensagens do celular permanecia inalterada até então, deduzi que nenhuma das hipóteses ocorrera. Ainda.

A viagem foi tranquila; nenhum obstáculo aparente à vista. Fiz algumas paradas para lanche e abastecimento durante o dia, lembrando-me sempre de usar apenas dinheiro vivo para cobrir meus gastos.

Duas horas antes da última parada, comecei a ter um péssimo pressentimento; a sensação nada agradável de estar sendo seguida. Tratei de ser mais cuidadosa ao parar em uma das avenidas nortes de Sioux Falls, buscando indícios do meu possível stalker, mas não percebi nada de anormal. Ainda assim, o sentimento não desapareceu; eu ainda sentia que estava sendo vigiada.

Já havia anoitecido quando passei pela placa onde se lia "Bem-vindo a Sioux Falls". Um calafrio correu por minha espinha, eu não me sentia bem-vinda naquele lugar.

Alguns minutos mais tarde o ronco dos motores do meu Jetta diminuía e eu me via saindo do carro em direção aos fundos da loja onde, eu esperava, houvesse minha porta de saída para fora dessa realidade-prisão-alternativa ou o que quer que fosse.

Olhei mais uma vez para a tela apagada do meu celular. Estranho, eu não recebera sequer um telefonema o dia inteiro, nem uma única mensagem de texto; e já passava das dez da noite. De todas as reações à minha "fuga" que eu estava esperando, sutileza nem era uma das opções.

Isso só provava o quanto algo estava errado.

Senti o toque gelado da lâmina da faca que trazia escondida sob a bota de cano baixo. Somada à .38 em minha mão esquerda e à lanterna na direita, parecia um arsenal um tanto quanto inútil, mas apenas para quem fosse estúpido o bastante para subestimar a caçadora que o empunhava.

A tal sensação de estar sendo seguida desaparecera no momento em que eu adentrara a cidade. Seja lá o que for que estivesse me vigiando na estrada, já desistira de seu posto. E eu tinha o forte pressentimento de que meu novo amigo estava me aguardando em algum lugar daquela loja. Olhei para a maçaneta enferrujada, sabendo que enfim alcançara meu último obstáculo, e que ele também estava ciente da minha presença ali.

Dane-se a sutileza, pensei. Em seguida, Ergui a perna e apliquei o máximo de força que pude na porta à minha frente.

O barulho que ecoou pela noite silenciosa de Foux foi ensurdecedor, acompanhado de um pequeno alvoroço provocado por gatos nos arredores da loja. Eu certamente não possuía mais o elemento surpresa — que se dane, eu não pretendia usa-lo, de qualquer modo.

Entrei na loja com a arma já apontada, mirando em todas as direções. Nada aqui em cima; eu já esperava por isso, mas precaução nunca é demais. Usei a lanterna para me orientar e achar a porta que dava para os fundos da loja, o tempo todo atenta ao mínino barulho presente no cômodo. Assim que encontrei meu objetivo, caminhei direto até ela, empurrando a pesada estante de CDs para o lado e tossindo um pouco com a poeira expelida pela abertura da porta velha.

Desci as escadas cautelosamente, pronta para qualquer ataque surpresa que pudesse estar à espreita. Pulei o último degrau, entrando no cômodo de uma vez e com a arma já apontada para um possível inimigo. Mas não havia nenhum.

A única coisa que encontrei foi uma espécie de déjà vu ao ver os corpos de Adam e seu irmão, West, amarrados por cordas ao teto do porão, com sangue seco impregnado em suas faces.

— Mas o que...? — senti meu coração acelerar instantaneamente, ao que todos os meus instintos se acionaram.

Caminhei até os corpos dos garotos, observando atentamente seus rostos pálidos e inconscientes. Eu poderia dizer que ambos estavam apenas dormindo, se não estivessem pendurados feito animais e sangrando. Me virei em direção à parede esquerda do cômodo, onde eu lembrava de ter sido arremessada pela misteriosa criatura azul, logo depois de ter libertado Adam.

Sim, eu lembrava. Não era apenas uma sensação, ou visões, ou pressentimentos; eram memórias — lembranças vívidas da noite em que tudo começara. Das pesquisas e de como encontrei a criatura na loja abandonada. E agora, esse enredo maluco havia chegado ao fim, e eu só precisava da chave de saída, e então encontraria Dean e Sam, e eles saberiam um jeito de acabar com o Avatar assassino.

Mas algo havia dado terrivelmente errado. Inicialmente, eu esperava encontrar ao menos algo quer me ligasse ao mundo real, para que eu pudesse descobrir como sair desse lugar. Entretanto, as únicas possíveis ligações entre mim e a saída, eram os corpos dos garotos, e eu não fazia ideia de como usa-los a meu favor naquele momento.

Afinal, você realmente esperava encontrar a si mesma aqui?, a voz irritante de meu subconsciente sussurrou. Talvez toda essa ilusão de realidade alternativa seja apenas isso, Grace, um simples delírio.

Não, é claro que não. Balancei a cabeça, buscando afastar aqueles pensamentos idiotas. Eu não tinha dirigido por vinte horas seguidas apenas para descobrir que essa merda toda era real. Não podia ser real. Eu sabia disso agora.

— Qual é seu objetivo nisso tudo, afinal, seu monstro estúpido? — resmunguei.

Não é como se eu esperasse uma resposta à minha pergunta claramente retórica, por isso não me admira que meu coração quase tenha saltado pela boca quando uma voz inconfundivelmente familiar me deu a honra de sua companhia.

— O meu objetivo? — seu tom era quase um sussurro, eu podia sentir o sarcasmo que rodeava suas palavras e o sorriso malicioso que decorava seus lábios. — Te dar a vida perfeita sempre esteve nos meus planos, Emma, sempre foi a primeira opção. Mas você não aceitou isso, não quis essa utopia — me virei para encarar seu rosto, a raiva começando a se formar em meu peito ao lembrar das mentiras que havia ouvido mais cedo. — Diga-me, Grace, por que relutar tanto em ter seus maiores sonhos na ponta dos dedos?

Em um segundo eu já havia sacado a arma e engatilhado sem sequer repensar. O som do disparo ecoou pelo porão como o eco de um sino, machucando meus ouvidos. O tiro pegou na parede em um ponto exato ao lado de seu rosto. Minha companhia sequer hesitou.

— Aposto que não esperava me ver aqui — sua expressão era impassível, mas eu conseguia ver o sorriso tranquilo que se formava sob sua máscara. O predador acreditava ter, enfim, encurralado sua presa.

Mantive a arma apontada, totalmente concentrada em seus movimentos. Algo em minha mente gritava para que eu parasse, que abaixasse a arma e endireitasse o corpo. Você está ameaçando atirar na sua irmã, sua idiota!, meu subconsciente gritava, mas aquilo não era minha irmã, eu tinha certeza disso agora — Alice estava morta, e nem ferrando que eu ia abaixar a guarda para a cópia perfeitinha dela.

— Quem. É. Você? — perguntei pausadamente, a garota sequer se mexeu. A indiferença em sua expressão era tamanha que chegava a ser assustadoramente fria.

— Sou sua irmã — ela disse devagar, como se explicasse algo a uma criança teimosa. — Sou Alice, ou pelo menos poderia ser. Por que vocês Grace tem sempre de ser tão teimosos?

A arma continuava apontada, meu dedo pousado sobre o gatilho. "Alice" permanecia como estava, apenas alguns metros à minha frente, extremamente calma considerando que eu estava prestes a atirar em sua cabeça.

— Por que você me trouxe pra cá? — gritei. — Por que me fazer passar por tudo isso e não só me matar de uma vez?

Alice balançou a cabeça, parecendo decepcionada com minha reação.

— Porque, cara irmã — ela sorriu serenamente, a cena me provocou ânsia — esse é o meu trabalho. É o que eu faço, dou às pessoas o melhor fim que elas podem esperar em suas vidas miseráveis. Mas você não poderia aceitar isso, não é? Vocês, malditos caçadores, não são capazes de cair sem lutar.

Dei uma risada amarga, sem desviar o olhar de seu rosto.

— Bom, esse é o meu trabalho, afinal.

Sua expressão se fechou de repente, o rosto assumindo uma raiva súbita.

— Com luta ou sem luta, Emma, não tem outro fim — ela disse, se aproximando de mim. — Você vai cair, e não há nada que possa fazer contra isso.

— Para trás! — alertei, engatilhando a arma, Alice não pareceu se abalar.

— Isso não vai me afetar, não mesmo — ela suspirou, como se tudo aquilo não a agradasse. — Mas e você, aguentaria o peso de assassinar sua própria irmã?

Suas palavras me atingiram com força total. Mecanicamente, meus pensamentos se dirigiram para a noite em que tudo acontecera. Pude ouvir o grito de Alice pelo telefone, o barulho estridente dos pneus raspando no asfalto e o grito que se prendera na minha garganta no momento em que percebi que não estava mais no controle da direção. Os dias seguintes ao acidente foram marcados por culpa própria e a sensação de que nada teria acontecido se eu simplesmente tivesse ficado em casa, ao invés de seguir minha irmã naquela maldita noite.

— Deveria ter sido eu — sussurrei involuntariamente. — Naquela noite, ela não merecia. Devia ter sido eu. Eu preferia que fosse assim.

Algo passou pelos olhos de Alice — uma expressão de medo, talvez, ou algo parecido —, foi tão rápido que eu poderia jurar ter sido apenas impressão. Poderia.

— Não, não deveria, Emma. — Ela disse séria. — Alice teve o destino que procurou, enquanto você se sente culpada por não ter podido impedir — ela balançou a cabeça. — Mas não precisa se sentir culpada agora, eu estou aqui, com você. Não há porquê se culpar por algo que nunca aconteceu.

Alice sorriu, seus olhos adquiriram um brilho sereno e ela se aproximou, colocando as mãos em meus ombros. Não fui capaz de afasta-la.

— O que vai acontecer comigo lá? — perguntei, e ela franziu o rosto, como se estivesse confusa com minha pergunta. Mas é claro que não estava. — Você sabe do que estou falando. Nada disso é real, então, o que vai acontecer com a verdadeira eu?

Alice suspirou.

— Ela está aqui, agora, comigo — respondeu. — Vai viver uma vida maravilhosa ao lado das pessoas que ama, e o que quer que esteja para acontecer vai chegar no tempo de uma vida — ela sorriu. — Você nem vai notar, irmã, eu prometo. Será tudo como sempre quis; a família perfeita, o namorado perfeito, uma vida perfeita. Só precisamos ir pra casa, e pela manhã você já vai ter se esquecido disso, será como um sonho ruim do qual nunca iremos nos lembrar.

Suas mãos escorregaram de meus ombros em direção a arma que eu segurava, fazendo com que eu abaixasse as mãos e desengatilhasse. Alice deu alguns passos para trás.

— Vamos pra casa, Emma, por favor — ela pediu, a voz doce. — Nossos pais estão esperando.

Ela se virou, indo em direção às escadas. Dei alguns passos involuntários atrás dela, até perceber o que estava fazendo.

Eu não poderia ficar aqui, nesse lugar. Não era a vida perfeita, nunca seria. Eu gostava de caçar, gostava da adrenalina, do sentimento de poder que acabar com os caras maus me dava. Viver uma vida monótona e falsa nesse mundo alternativo não me traria nada além de falsas esperanças e um fim patético nas mãos de algo que eu vivia para combater. Eu compreendia isso mais do que nunca agora.

Isso significava que eu teria de recorrer à ultima opção. A última chave restante.

Alice parou ao ver que eu não a seguia, virando-se silenciosamente e cruzando os braços em um gesto discreto de espera. Seus olhos se fixaram em mim, como que me analisando.

— Você tem razão — comentei, sem olhar em seus olhos. — Eu não aguentaria o peso que assassinar Alice traria em meus ombros — meus dedos tornaram a engatilhar a arma que eu segurava, senti o cano frio se pressionar contra meu punho. — Mas a verdade é que eu não preciso, não é mesmo? Sei o que fazer pra sair daqui, o que você vem evitando desde o início e que realmente é a porta de saída, irmãzinha.

Alice ergueu uma sobrancelha, como se curiosa para saber qual fora a minha conclusão e ao mesmo tempo me desafiasse a testa-la. Eu não tinha certeza, era um tiro no escuro e, se eu estivesse errada, estaria mais do que ferrada desta vez, mas não via outra alternativa.

Movi a arma rapidamente, mas a cena toda pareceu se desenrolar em câmera lenta. Um movimento de mãos; foi o que bastou para que Alice percebesse o que eu estava prestes a fazer um segundo antes que eu realmente executasse meu plano. Seus olhos se arregalaram e ela ergueu os braços em minha direção em uma tentativa frustrada de me impedir.

— Não! — gritou, enfurecida, mas já era tarde demais.

O som do disparo ecoou dolorosamente pelo ambiente. Senti uma pontada forte na cabeça, como se a tivesse batido fortemente.

Em seguida, tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: Emma reencontra Dean e Sam e enfim descobre a identidade da criatura que a aprisionara, mas algo dá errado e a vida de Sam entra em jogo, fazendo com que Dean tenha que se controlar acima de tudo para não estragar as coisas. Nossos caçadores precisarão mais uma vez de garra para sair desse problema e salvar os irmãos Adam e West, que permanecem contidos nas garras da criatura.

O próximo capítulo sai mês que vem. Fiquem no aguarde fofuras e... obrigada de novo, até a próxima! ♥



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