Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 24
24. Não se deixe enganar


Notas iniciais do capítulo

Olá, hunters ♥

É, eu sei que demorei, mas não tem como emparelhar a rapidez das postagens e o andamento da escola. Ultimamente estou estudando igual uma condenada, e olha que eu não sou muito fã de meter a cara nos livros (didáticos) ;-;

Espero que gostem do capítulo, trabalhei hard nessas cenas pra que ficassem bem legais pra vocês ♥ me perdoem mais uma vez pela demora, vocês sabem que eu tento :p shausj.

Anyway, boa leitura a todos! (:



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— O QUE É isso, Justin? — perguntei, sentindo que minha cabeça girava.

O ambiente parecia ter encolhido ao mesmo tempo em que o chão se tornara gelatina, os sons haviam se convertido em ecos distantes e a única coisa da qual eu tinha plena consciência naquele momento era que, a cada minuto desperdiçado, um pedaço da minha sanidade se esvaía.

— Você sabe o que é psicose, não é, Emma?

Ergui meus olhos na fútil tentativa de parecer confiante em minha postura; a notícia repentina me pegara de surpresa e Justin já notara isso, o que apenas o dava uma vantagem maior em sua persuasão.

— É um transtorno mental — respondi, lembrando-me dos diversos documentários que havia assistido com Alice e papai, um de nossos passatempos mais incomuns. Chega a ser bem interessante quando sua única rotina e caçar demônios e empalar monstros. — Confere ao portador breve surtos de realidade, nos quais seus pensamentos ficam desorganizados e ele não consegue distinguir realidade de fantasia, podendo sofrer alucinações ou... — parei, enfim notando onde ele pretendia chegar com aquilo. — Você só pode estar brincando. — Mas Justin permaneceu calado, e percebi que sua intenção era mais do que me encher de mentiras convincentes; ele estava tentando me fazer acreditar em outra vida, que eu era outra pessoa. — Eu não sou psicótica, Justin.

Mas Justin já não estava ouvindo. Balançou a cabeça, parecendo se perder em pensamentos distantes, então disse:

— Há alguns anos atrás, você e Alice colocaram na cabeça que queriam sair pra uma festa da faculdade — ele começou a explicar. — Você ainda estava no colegial, mas Alice não viu problema em te levar para conhecer um pouco da vida de universitário. Seus pais não concordaram em deixar você ir, mas é claro que isso não te impediu, nem a Alice. Vocês duas saíram escondidas, certas de que não seriam castigadas com mais que uma bronca por terem desobedecido a uma ordem.

Fechei os olhos. Eu sabia exatamente de que dia ele estava falando, mas não era essa a história, nem de longe.

— Havia acabado de chover, a pista estava molhada. Vocês passaram por uma rodovia deserta, Alice perdeu o controle e o carro capotou feio — Justin continuou, contando parte por parte. — Vocês duas ficaram inconscientes. Sua irmã acordou alguns minutos depois por causa do barulho das sirenes e dos paramédicos, alguém havia passado por ali e chamado uma ambulância para ajudar vocês. Todos estavam aliviados por vocês duas estarem vivas, até que perceberam que você, Emma, não acordava.

— Isso não é verdade — falei, mas por um segundo meus pensamentos pareceram vacilar. Como ele sabia todas aquelas coisas se não era real?

Justin não pareceu escutar, perdido em sua própria história, prosseguiu então com o falso relato:

— Você ficou em coma por seis meses, M. Seis. Meses. — Ele suspirou. — Nós ainda não namorávamos na época, mas éramos melhores amigos. Eu fiquei desesperado, com raiva de você por ter feito aquilo, por ter saído escondida. Preocupado porque temia que você não fosse mais acordar. Mas ninguém ficou tão ruim quanto Alice, ah, não. Ela se culpava, todos os dias, porque achava que se não houvesse posto a tal ideia de ir à festa na sua cabeça, nada daquilo teria acontecido. Por mais que todos negassem, ela sabia a verdade. — Ele respirou fundo, parecia tortura relembrar aquela cena, mas eu só conseguia pensar que tudo aquilo estava muito errado. — Então você acordou. Caramba, aquele dia foi surreal, nem dá pra descrever. Alice mal se continha de felicidade, seus pais estavam imensamente aliviados, e eu... nossa, eu só conseguia pensar que aquela era a melhor notícia do mundo. Até que o médico que examinou você nos deu o resultado dos seus exames. O acidente deixou uma única sequela, mas foi o suficiente.

Encarei Justin, chocada. Não, nada daquilo era real, não podia ser.

— Isso não é verdade — desmenti insistentemente, como uma criança que se negava a fazer uma simples tarefa. — Essa não é a história original.

— Eu não tenho que provar nada, as fotos e a ficha falam por si — ele deu de ombros. — O que estou querendo dizer, é que por mais doloroso que seja essa realidade criada na sua cabeça, não é real. É tudo fruto de algo que todos gostariam que não fizesse parte de você, mas faz, e tudo o que posso fazer é te ajudar a perceber quando algo é real ou não.

Balancei a cabeça. Não, ele não estava falando a verdade, aquela criatura estava tentando me confundir, me prender ali. Aquilo não era real.

— Se isso fosse mesmo verdade — engoli em seco, decidida a não me deixar vencer tão facilmente. — Então por que não me lembro de nada?

Justin me encarou.

— Já ouviu dizer que alguns acontecimentos são tão traumáticos para uns que o cérebro bloqueia aquela lembrança de suas memórias para que não seja doloroso demais? — ele não esperou por uma resposta. — A notícia foi um choque para todos, mas você foi a que mais se sentiu afetada.

Fechei os olhos, balançando a cabeça e negando aquilo tudo. Por mais que eu repetisse a mim mesma que não, nada daquilo era verdade, algo no canto de minha mente começava a ver sentido naquilo tudo. Será que era mesmo o que tinha acontecido? Então tudo o que eu imaginara — a morte de mamãe, Alice, o desaparecimento do meu pai, Dean e Sam, Cas, Bobby... era tudo uma fantasia inventada?

— Eu sei que é doloroso, M — Justin se aproximou de mim com uma expressão solidária em seu rosto. — Mas é a verdade.

Assenti, não porque acreditava nele, mas porque sim, aquilo tudo era bastante doloroso. Não só reviver o acidente de Alice uma outra vez, como ter toda uma perspectiva diferente que me fez questionar se tudo o que eu conseguia me lembrar até ali fora realmente verdade.

O que havia dito a si mesma sobre não se deixar enganar tão facilmente? Que espécie de caçadora é você, afinal? Eu quase podia ouvir a voz de Dean, me repreendendo por ser tão tola a ponto de acreditar naquelas palavras. O pensamento me fez ter vontade de rir, mas me segurei. Algo no fato curioso de ser o rosto dele a vir na minha mente naquele momento fez com que a dúvida de repente se pusesse em segundo plano. Eu sabia o que tinha que fazer, eu ainda me lembrava da missão inicial — me esquivar das mentiras e encontrar a saída desse lugar. Era o que eu faria.

Dava para ver o brilho nos olhos de Justin, solidários, mas iguais aos de um predador que enfim encurralara sua presa. Ele permanecia parado próximo a mim, examinando minha postura, como eu estava reagindo ao que dizia. Havia um ponto positivo nisso tudo — ele achava que eu já começara a acreditar, e isso contava como vantagem para mim. Eu teria que fazer com que essa vantagem se prolongasse.

— Isso... — funguei, fingindo um acesso repentino de lágrimas. — Isso é horrível — sussurrei. — C-como eu nunca s... s-soube?

Talvez porque eu já aparentava estar chocada antes da atuação, ou porque meu tom era de quem realmente estava abismada demais para ter uma fala mais complexa e menos balbuciada, mas Justin caiu como um patinho em meu breve teatro. O moreno me encarou como quem encara uma criança pequena que acaba de se machucar, seus olhos adquiriram um brilho compadecido e ele se aproximou de mim, me envolvendo em um abraço que julguei um pouco apertado demais.

— Está tudo bem, tudo bem — sussurrou, enquanto eu retribuía o abraço. — Eu estou aqui.

Seu rosto fez um movimento repentino e percebi, com leve atraso, que ele ia me beijar. Foi quase automático; afastei-me imediatamente, como se houvesse levado um choque. Justin me encarou com surpresa estampada em seu rosto. Apressei-me em disfarçar.

— Quero ficar sozinha — pedi, o que não era exatamente um pretexto. — Minha cabeça dói, e não estou com ânimo pra mais nada hoje. Vou dormir — menti.

Justin pareceu desapontado. Algo em sua expressão insinuou que ele iria argumentar, mas então mudou de ideia. Sem contradições, ele assentiu uma vez e se aproximou de mim novamente. Relutante, permaneci quieta e permiti que ele me abraçasse outra vez. O moreno depositou um beijo breve em minha testa e disse:

— Eu entendo, sinto muito que tenha te deixado assim — fiz menção de protestar, mas Justin me calou com um aceno. — Tudo bem, eu entendo, M — repetiu. — É melhor eu ir, então.

— Eu te levo até a porta — respondi automaticamente e ele concordou.

Seguimos em um silêncio determinado até a porta, descendo as escadas rapidamente e parando apenas na sala de visitas, onde fomos barrados por Alice, que segurava um enorme envelope em suas mãos e tinia de felicidade.

Algo em sua expressão me fez sentir uma repentina raiva, e tive que me controlar bastante naquele momento. Não era minha irmã ali, mas aquela coisa certamente tentava passar essa impressão e, bem, eu já havia tolerado a minha cota de humor negro diário àquela altura.

— Aí está você, estava mesmo indo te procurar — Alice sorriu radiante, mas deve ter reparado em algo, porque assim que seu olhar caiu sobre Justin, o sorriso desapareceu quase que instantaneamente. — Ahn... aconteceu alguma coisa?

Encarei Justin e o moreno retribuiu o olhar na mesma intensidade. Em um acordo silencioso, decidi que aquela não era a hora de estender os dramas daquela realidade a outras pessoas, e ele pareceu concordar, pois permaneceu calado, indicando que a resposta à pergunta de Alice caberia a mim.

— Nada — menti, sorrindo simploriamente. — Estava apenas acompanhando Jus até a porta, ele já está de saída — a morena encarou Justin, desconfiada, e ele assentiu com um sorriso discreto, porém, convincente. Alice deu de ombros, acreditando, e o brilho anterior de excitação voltou aos seus olhos. Foi então que percebi que ela provavelmente esperava que eu estivesse entusiasmada a seu respeito, e não me deixaria em paz até que eu demonstrasse minha curiosidade em palavras. Resolvi perguntar, então, o motivo de tamanha excitação. — Você, hum, parece que ganhou na loteria. O que aconteceu?

Alice sorriu enérgica e balançou o envelope de tom claro e amarelado que possuía em mãos, demonstrando a fonte de sua animação.

— Consegui! — ela exclamou enfim, sem dizer mais nada.

Parei, confusa. Alice estendeu o papel, o sorriso em seu rosto se alargando ainda mais à medida que meus dedos se moviam para agarrar o envelope. Ao meu lado, Justin permanecia quieto, observando curioso à cena que se estendia à sua frente silenciosamente.

— O que é isso? — perguntei, mas Alice apenas balançou a cabeça e insistiu para que eu abrisse o envelope de uma vez.

Fiz como pedido, rasgando o lacre cuidadosamente. Abri o envelope e tirei de lá uma carta; inicialmente fiquei parcialmente perturbada, mas logo percebi o que era — uma carta de aceitação de uma universidade no exterior, e não qualquer uma; Harvard.

Entendi imediatamente o que aquilo significava. Mais que isso; pude perceber instantaneamente a ligação que tinha com a verdadeira Alice, minha irmã, e as lembranças dela que ainda se faziam presentes em minha mente.

— Alice, isso é...

— Incrível, né? — ela estava praticamente saltando de felicidade. — Não achei que fosse possível, mesmo com você insistindo tanto no assunto. E mesmo agora tudo ainda parece um sonho!

Algo em seu entusiasmo e felicidade fez com que uma brecha dolorosa se abrisse em meu peito. Ofeguei uma vez, rapidamente disfarçando e voltando a assumir o sorriso singelo de segundos antes.

— Você... mereceu — me ouvi dizer, minha voz soou um tanto quanto robótica. — Ambas sabemos... do que... você é capaz.

Ela assentiu meio dispersa, seus olhos não paravam de se desviar para o envelope amarelo, agora em minhas mãos.

— Obrigada, Kitty! — Alice sorriu. — Não conseguiria sem você!

E então ela me abraçou, em um gesto completamente inesperado. Demorei um pouco a retribuir, talvez pelo choque do ato. Imagens passaram a ocupar minha mente, tão rápidas que mal tive tempo para absorvê-las.

Em minha visão, duas garotas conversavam, ambas de aparência jovem e rebelde. A conversa parecia descontraída, embora uma delas — sabe-se lá por que — segurasse uma arma. Nenhuma das duas aparentava ter mais de dezessete anos.

O que você gostaria de fazer se não tivéssemos essa vida? — a de cabelos castanhos mais claros, que supus ser a mais nova entre as duas, perguntou.

Não sei, nunca pensei no assunto — a outra, que possuía madeixas mais longas e escuras, respondeu. Esta parecia confortável naquele ambiente, talvez gostasse de ficar ali, era mais do que sua companheira poderia dizer. — Você já?

A mais nova, sentada sobre uma almofada de couro velha e rasgada, sorriu com a pergunta. Algo em sua expressão me era estranhamente familiar, ao mesmo tempo em que as feições da outra provocavam estranhas sensações de impulso em meu subconsciente. Eu sentia que as conhecia, mas de onde?

Já, várias vezes — respondeu a garota de cabelos claros, enquanto balançava as pernas distraidamente. — Gosto do que fazemos, mas às vezes penso que gostaria também de ter uma vida um pouco mais... sei lá, normal, eu acho.

A mais velha, que até então não desviara o olhar da porta de entrada do lugar, encarou a irmã (eu já havia deduzido o parentesco das duas nesse instante).

Bem, eu gostaria de ir para algum lugar fora daqui, acho — disse, parecendo avaliar o assunto. Seus dedos brincavam com o cano da arma de maneira hábil, como se segurar um objeto daqueles lhe fosse extremamente comum. — Talvez cursar uma universidade no exterior, Oxford, Stanford... Harvard. Acha que me aceitariam em uma dessas?

A menor abriu um sorriso convencido para a irmã, cruzando os braços e balançando a cabeça como quem sabe o que diz.

Você seria a melhor em qualquer uma dessas, Licie.

Obrigada, Kitty — a mais velha sorriu, e suas palavras me arrebataram de surpresa. Kitty? Licie? Como aquilo era possível?

De repente, um choque de realidade me atingiu ao perceber quem eram as duas irmãs. A memória começou a se dissolver em minha mente e senti vontade de gritar para que durasse mais alguns segundos, que eu continuasse a vê-la, mas minha voz parecia ter morrido em minha garganta.

Tão rápidos quanto vieram, os flashes desapareceram e a cena aos poucos foi se tornando turva e difusa, chegando ao ponto em que se tornara impossível distinguir as duas figuras que permaneciam imersas em seu diálogo. E então desapareceu por completo, libertando-me de meus devaneios e trazendo-me de volta àquela amarga e falsa realidade.

Alguém chamou meu nome ao longe; um eco contínuo que foi aumentando gradativamente à medida que minha mente retornava à realidade. Balancei a cabeça e me concentrei, fechando os olhos por alguns segundos. Quando os abri novamente, encontrei os olhos azuis de Alice me encarando com apreensão.

— Emma? — ela chamou meu nome, e percebi que o eco martelando em minha cabeça pertencia à sua voz. — Está se sentindo bem?

Assenti, me recompondo.

— Estou ótima, talvez um pouco indisposta, eu acho — respondi abrindo um sorriso tranquilo. A expressão de Alice relaxou visivelmente, embora seu sorriso tenha murchado um pouco com minhas palavras. Percebi que ela esperava que realizássemos uma comemoração por sua conquista, o que eu claramente não desejava fazer. — Você dizia...?

Alice começou a falar novamente, descrevendo mais uma vez seus planos para o que, de acordo com ela, seria uma “comemoração em família simples”, mas que ela certamente adiaria porque eu não aparentava estar muito bem. Agradeci sua compreensão de maneira sincera, porque realmente não estava disposta a engatar ainda mais no teatrinho que aquele mundo agora era para mim.

Um pigarro um tanto alto chamou minha atenção. Levei um sobressalto e olhei para o lado, alarmada, então me deparando com Justin ali, nos observando. O moreno permanecera tão quieto nos últimos minutos que eu me esquecera de sua presença completamente.

— Bom, fico feliz por você, Licie, mas preciso ir — ele sorriu melancolicamente, se dirigindo à porta um tanto quanto apressado. — Nos vemos em outra hora.

— Até mais, Jus — Alice sorriu, se despedindo. Ouvi o barulho da porta sendo fechada enquanto meus olhos permaneciam colados em minha “irmã”. Não era algo semelhante à Alice verdadeira, era sua cópia, e aquilo chegava a ser perturbador em vários modos.

A morena se virou para mim, e seu olhar se demorou um instante em meu rosto, antes de o agora habitual sorriso voltar à sua face. Balancei a cabeça, afastando os pensamentos aleatórios, e comecei a por meu “plano de fuga” em prática.

— Bom, vou subir, se precisar de mim, estou no quarto — anunciei, ao que Alice assentiu e, sem mais perguntas, saiu em direção à cozinha. Subi as escadas rapidamente, entrando em meu quarto, fechando a porta, trancando-a e me jogando na cama, exausta. Ainda havia muito no que pensar, então comecei pela base de todo o plano: como sair dessa maldita realidade?

O tempo pareceu correr lentamente, e as horas se tornaram infinitas a meu ver. Chegara um momento em que eu sequer era capaz de raciocinar coerentemente sem sentir uma imensa irritação começar a queimar minhas entranhas. Já havia pensando em inúmeras coisas, possíveis portas de saída e considerara ideias impronunciáveis, todas elas sem um sentido plausível. Foi então que só me vi com um único plano em mente: seguir o óbvio.

Uma de minhas primeiras reflexões fora, sem dúvida, ir até a loja de Sioux Falls, investigar o galpão e, com sorte, descobrir que lá se encontrava a saída. Tal ideia pareceu tão simples e fácil para mim que, à primeira vista sequer fiz menção de considera-la. Agora, porém, sendo a única alternativa que me restara, eu era forçada a reconhecer que aquele lugar, por mais óbvio que pudesse parecer, talvez fosse a única saída disponível. Bem, seria uma alternativa, o problema é que isso significaria que minha porta de saída estava a quase um dia completo de viagem.

Concluindo que não me restavam outras ideias senão essa, resolvi que valia a pena conferir. Arrumei uma mochila, composta apenas de alguns sanduíches que preparei com pressa e água potável, lanterna, pilhas e, é claro, armas — ou, pelo menos, o que equivalia a tal. Como não havia a menor chance de eu encontrar um arsenal escondido em nossa garagem, tive de me virar com parte do estoque de sal da cozinha, facas de prata (minha mãe alternativa teria uma surpresa desagradável com seus queridos talheres colecionáveis mais tarde) e uma arma, guardada na gaveta de cima de uma escrivaninha do escritório. Não era o conjunto de defesa mais apropriado, mas teria de bastar.

Horas mais tarde eu me encontrava de pé em frente à cama, examinando meus suprimentos e concluindo que aquele era, de longe, o plano mais idiota que eu já bolara em toda a minha vida. Imaginei como “meus pais” reagiriam ao chegar em casa e descobrir que a filha mais nova sumira com o próprio carro sem ao menos se incomodar em deixar um bilhete ao sair. Imaginei que eles fossem ficar mais furiosos que preocupados, e o pensamento foi, de certa forma, confortante.

Arrumei a mochila nos ombros, então arrumando o cabelo em um rabo firme no topo da cabeça e pegando um casaco. Peguei as chaves do carro — era incrível que até mesmo esse detalhe fora incluído aqui — e desci as escadas silenciosamente. As luzes já estavam todas apagadas, o que indicava que, ou Alice já estava dormindo profundamente, ou se esgueirara para a casa de algum amigo no meio da madrugada. Decidi não refletir muito sobre o assunto e me focar no plano atual.

O barulho do motor fez tremer meus ouvidos e por um segundo infinito temi que alguém fosse sair da casa, curioso em relação à origem do som, mas as luzes permaneceram apagadas e nenhum movimento se fez notável na janela do segundo andar. Suspirei de alívio, então dando partida e, enfim, saindo dali. Enquanto as casas de LA passavam como vultos pelo meu campo de visão e o céu ia se tornando mais claro à medida que eu avançava rumo ao improvável, meus pensamentos corriam insistentemente para os garotos e Bobby, e eu não podia deixar de imaginar se eles estavam ao menos preocupados com o meu sumiço.

Eu precisava voltar, concluí, com mais afinco que nunca. Aquela caçada terminaria ali de um jeito ou de outro, e eu faria questão disso.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Foi legal? Gostaram? Teorias para o próximo? Joguem tudo na mesa, vou ler com o maior carinho.

No próximo capítulo: É chegada a hora de nossa caçadora enfim conhecer quem a aprisionou. Cara a cara com a criatura, Emma se vê diante de mais dilemas, os quais deve enfrentar sem medo ou hesitação. A saída está próxima e, no entanto, não se mostra nem um pouco óbvia. Medidas drásticas serão cogitadas. Irá a garota se libertar?

Vejo vocês em breve, amores, até mais o/



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