Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 21
21. Surpresas desagradáveis


Notas iniciais do capítulo

Olá queridassssssss! ♥

Não existe caracteres suficientes para descrever o quão culpada e angustiada eu estive me sentindo e ainda me sinto por ter demorado tanto pra atualizar. Eu fiquei um mês inteirinho sem atualizações e ainda quebrei minha promessa de publicar este capítulo no início desse mês. Espero que vocês possam me perdoar por isto algum dia :'(

Pretendo postar outro capítulo ainda neste mês, que já está pronto, como um simples pedido de desculpas. Não é muito, mas é o melhor que posso fazer por vocês no momento, então fiquem tranquilos.

Dedico este capítulo a todos vocês, leitores fiéis que aguardam lealmente minhas atualizações demoradas, ahsuhsj. Amo muito vocês gente ♥

Sem mais enrolação, boa leitura, e preparem os coraçõezinhos ♥



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NO DIA SEGUINTE fiz questão de acordar mais cedo. Arrumei-me e fui para a cozinha, onde encontrei Bobby mais uma vez preparando o café da manhã. Dava para ver que aquilo não era muito do costume dele, então me ofereci para ajudar. Cerca de uma hora mais tarde, Sam e Dean desceram as escadas e foram em direção à sala — Sam já com seu laptop e caderno de anotações em mãos e Dean indo em direção à estante de livros e pegando alguns exemplares, logo colocando todos sobre o sofá e começando a folheá-los (ele obviamente não apreciava muito a leitura, mas como era relativamente péssimo com computadores, preferiu deixar que o irmão cuidasse da parte tecnológica).

Depois que todos tomaram café, iniciamos nossa pesquisa, atribuindo a ela todas as informações que Jody havia nos dado. Como ela tinha turno na delegacia, não pôde estar conosco, mas Bobby julgou que nosso pequeno “time” já era o suficiente. Peguei um mapa da cidade que havia achado dentro do armário do caçador, além de cópias dos relatórios dos legistas sobre o estado dos corpos encontrados. Eram seis no total; dois para cada local, quatro garotos e duas garotas, todos na faixa dos vinte e poucos anos.

— Linda Morgan, Travis Backsail, Louis Cooper, Lexa Partsoul, Peter McLand e Victor Jackson — citei em voz alta o nome das vítimas, examinando suas fotos. — Todos exerciam profissões diferentes, nasceram em estados diferentes e não frequentavam lugares parecidos, a única conexão entre essas pessoas é o ar que respiram — fiz uma pausa, logo me corrigindo: — bem, respiravam.

— Então acho que isso faz de todos nós vítimas à mercê de um Serial Killer sobrenatural — Dean comentou com sarcasmo e um sorriso amargo. — Cara, esse trabalho só fica mais difícil com o passar dos anos — ironizou.

Não estávamos nos saindo muito bem — tínhamos apenas resultados parciais, o que dificultava o resto da busca e só nos desgastava ainda mais. Qualquer coisa que descobríssemos levava apenas à metade da resposta, o que era bem irritante, para falar a verdade.

Em certo ponto, Sam se levantou e começou a listar as informações que cabiam a nós, então anotando todas em seu caderno em uma espécie de diagrama que deveria nos ajudar. Dean também fazia o que podia, procurando no diário do pai alguma pista que nos levasse ao ponto X da questão — parando para pensar, ele sempre procurava algo naquele diário, mesmo quando não havia nada para caçar, eu imaginava e conseguia compreender perfeitamente o motivo que o levava a fazer aquilo, então não julgava (não que fosse da minha conta, de qualquer jeito). Com um pigarrear discreto, o Winchester caçula chamou a atenção de todos enquanto colocava seu caderno de anotações sobre o braço de apoio do sofá e pegava alguns papéis escondidos sob as almofadas.

— Bom, sabemos até agora que os corpos das vítimas foram encontrados aqui — ele estendeu o mapa da cidade que eu havia pegado sobre a mesa de descanso da sala, então apontando em um local fixo para que todos vissem —, aqui — moveu o indicador para um ponto mais acima no mapa, não muito distante — e aqui — seu dedo enfim deslizou em diagonal até o último local, que coincidia ironicamente com um estabelecimento ao lado da delegacia, onde os últimos dois corpos haviam sido encontrados.

O moreno nos encarou por um momento, então voltando a falar:

— Sabemos também que todas as vítimas foram encontradas com marcas de perfuração nos pulsos e pescoço, sem nem uma gota de sangue em seus corpos — Sam sinalizou para as fotos que havia imprimido no dia anterior, quando Jody lhe mostrara as cópias dos boletins de ocorrência que haviam sido entregues na delegacia. — Acho que todos já temos alguns palpites sobre o que essa criatura monstruosa pode ser, né?

Bobby acenou afirmativamente, compreendendo. Os dois irmãos se entreolharam e então me encararam, revirei os olhos e assenti, sentindo uma sensação horrível de déjà vu.

— Vampiros? — perguntei, mas meu tom saiu tão sem ânimo que soou mais como uma afirmação entediada do que uma indagação.

Existiam tantos monstros por aí, por que tínhamos que topar sempre com os mais repugnantes? Eu já havia atingido minha cota de vampiros assassinos por semana até ali, não tinha vontade nenhuma de ir atrás de mais.

Dean balançou a cabeça.

— Mas as marcas nas vítimas não são de mordidas vampirescas — observou.

— É, são de um objeto pontudo, provavelmente uma agulha ou algo do tipo — acrescentou Sam. — Mas isso não descarta a hipótese de um vampiro passivo.

Cobri a boca para abafar uma risada de escárnio, mas notei que o Winchester mais novo me encarava com as sobrancelhas erguidas.

— Ah, espera, você está falando sério? — quase ri novamente, mas não o fiz, era bizarro demais para achar graça. — Droga, eu me esqueci que você não faz piadas. É algo contra o Regulamento Padrão dos Nerds ou algo assim?

 Sam revirou os olhos, ignorando meu comentário, Dean e Bobby sorriram.

— Garoto, odeio ter que admitir, mas acho que você está certo — o homem comentou enquanto ajeitava seu boné.

Então foi a minha vez de revirar os olhos.

— Isso é sério? Temos tantas outras opções de monstros que adoram se alimentar do sangue humano e vocês dois apostam na droga de um vampiro passivo?

Dean, que permanecera esse tempo todo sentado e meio concentrado no diário do pai, se levantou do sofá e disse:

— Não quero tomar lados aqui, mas, primeiro: — ele olhou para mim — foi você mesma quem citou um vampiro como primeira alternativa para o nosso monstro, e não nego que as pistas realmente apontam para um vampiro passivo como opção, então, acho que você deve considerar todas as opções, baby. — O loiro então se virou para Sam e Bobby: — segundo, acho que ela está certa, existem outros tipos de monstros sanguessugas nessa droga de mundo — não que eu aprecie isso, mas é a porcaria da verdade — e o fato de vocês dois estarem ignorando esse lado da história só nos dá uma chance a menos de por um fim nesse filho da mãe assassino.

Levei um tempo para absorver as palavras de Dean, em parte porque aquele lado moralista dele era um choque para mim e em parte porque ele estava certo — o que também era uma novidade considerável.

— Tudo bem então, Sir Sensatez, o que você sugere que a gente faça? — resolvi perguntar.

O Winchester sorriu, como se já esperasse pela pergunta.

— O óbvio, é claro: examinar. Vamos tentar achar o ninho de seja lá o que esse monstro for e levar as armas básicas contra criaturas sobrenaturais. Uma vez que soubermos o que é, voltamos, pegamos as armas específicas e chutamos a bunda do desgraçado de volta para onde quer que ele tenha vindo de vez.

— Isso é ridículo — discordei, mais por força de hábito do que por opinião. Na realidade eu achava o plano bem plausível, o que só me assustava ainda mais.

— Tá legal, quem é você e o que fez com o meu irmão? — Sam arregalou os olhos para Dean.

Em resposta, o loiro apenas revirou os olhos.

— Eu gosto da nova versão, é menos estúpida — comentei. — Obrigada, ETs.

— Nisso eu tenho que concordar — Bobby sorriu.

— Será que podemos voltar ao foco aqui? — pediu Dean, fazendo com o restante de nós risse.

Voltei a estender o mapa da cidade sobre a mesinha de descanso, observando os locais marcados por Jody onde os corpos foram encontrados, então me lembrando de um pequeno — embora importante — detalhe:

— É, tá, temos um plano. Mas onde vamos achar o nosso... OK, eu vou chamar de CM, porque é uma sigla bem legal pra Criatura Misteriosa e é fácil de gravar e... enfim, onde vamos achar o CM?

Sam passou a mão pelo queixo, pensando. Demorou alguns minutos até que um de nós pensasse em uma resposta e enfim chegasse a uma conclusão aceitável para a minha pergunta.

— Vamos supor que essa criat... que o CM — ele riu — goste de lugares abandonados, que é onde a maioria dos monstros vive.

Dean suspirou.

— Cara, aqui é Sioux Falls, uma cidade grande e com alta ausência de lugares abandonados. Alguma outra brilhante ideia, Sammy?

— Só porque lugares assim são escassos por aqui, não quer dizer que eles não existem — o moreno revirou os olhos. — Só precisamos saber por onde começar.

Como eu já disse antes: resultados parciais. Agora que tínhamos um plano base para seguir, não fazíamos ideia de por onde inicia-lo, grande coisa.

Analisei bem o mapa, observando cuidadosamente os pontos marcados que indicavam onde os corpos haviam sido encontrados. Não estavam a mais que quatro quarteirões de distância um do outro, todos depositados em becos desertos ou pouco movimentados. Qual seria a ligação entre eles?

Raciocine, Emma, pensei comigo mesma. Está bem na sua frente, basta ver do jeito certo.

Jeito certo...

Se não existia uma ligação entre os corpos, então talvez houvesse uma entre os locais, certo?

— Espera... — murmurei, passando os dedos sobre as marcações, então pegando um lápis e começando a riscar — olhem os locais onde os corpos foram encontrados, são esses.

Comecei a traçar um risco a lápis entre os lugares, interligando todos os três e então mostrando aos garotos e a Bobby. Nenhum deles pareceu entender a princípio.

— O que tem de mais nisso, M? — Dean franziu a testa e Sam fez o mesmo, ambos igualmente confusos. Bobby observava o mapa com precisão, parecia estar compreendendo meu ponto de vista.

Peguei o laptop de Sam emprestado e rapidamente abri a guia de pesquisas, indo direto a uma série de mapas online, então acessando o de Sioux Falls. Depois abri uma segunda aba, em seguida listando todos os estabelecimentos abandonados ou em reforma por toda a cidade, em um raio de doze quilômetros.

— Observem a área — falei aos garotos, calmamente. — O que ela forma?

— Um triângulo — Sam respondeu prontamente, analisando o risco que marquei com o lápis entre os locais em que os corpos foram encontrados. — Todos os locais juntos formam um triângulo. Mas o que isso tem... — o Winchester franziu o cenho, então erguendo as sobrancelhas em surpresa quando seu olhar se ligou à tela do laptop, finalmente entendendo. — Caramba!

Dean assobiou baixinho, seguindo o raciocínio do irmão ao observar o local marcado e os lugares indicados na aba de busca do notebook.

— Você é uma gênia, Grace — elogiou com um sorriso. — E não vai me ouvir dizendo isso de novo tão cedo, acredite.

Revirei os olhos e virei a tela do laptop para Bobby, então mostrando a ele o resultado da minha rápida busca online: dentro daquela mesma área triangular que os locais onde os corpos foram encontrados formava, apenas três estabelecimentos perfeitos para o nosso caso; um galpão abandonado, uma microempresa denominada Forbes Technologies — que se encontrava sem funcionamento há anos — e uma loja fechada para reformas, posteriormente abandonada.

— Acho que já sabemos qual o próximo passo a ser dado — Bobby sorriu enquanto ajeitava o boné surrado sobre a cabeça.

Dean, Sam e eu assentimos. Estava na hora de resolver esse mistério.

***

Era tarde, por volta das seis horas, o movimento ao redor da loja ainda era consideravelmente grande, mas se as pesquisas de Bobby estivessem certas — e de acordo com os meninos, elas sempre estavam —, então haveria uma entrada deserta nos fundos, pela qual eu passaria.

Como havia só três lugares, é óbvio que eu, Sam e Dean nos dividimos para examinar um local cada um — eu fiquei com a loja, Sam com o galpão e Dean com a microempresa. O combinado era que caso topássemos com a coisa — ou CM, como preferir —, devíamos avisar aos outros dois do trio e voltar para a casa de Bobby. Resumindo, o plano consistia em três etapas simples: examinar, não ser notado e, principalmente, não ser morto. Eu estava levando bem a sério essa última parte.

Vesti meu casaco, uma vez que o ar frio das tardes de SF já dava seus primeiros sinais. Andei calmamente até dar a volta no perímetro e me encontrar de frente para a porta dos fundos da loja. Retirei do bolso um clipe de papel e fiz meu trabalho, arrombando a fechadura e entrando rapidamente. Uma olhada breve ao redor me informou que o estabelecimento estava mesmo vazio e, ao que tudo aparentava, aquele lugar estivera assim por um bom tempo.

A loja em si não era muito grande e não levei muito mais que quinze minutos para examina-la. Resultado: estava tudo limpo. Não seria daquela vez que eu teria achado o “tesouro” da nossa caçada, felizmente, eu acho.

Pelo menos era o que eu pensava.

Senti meu telefone vibrar no bolso da calça, rapidamente o peguei e olhei o indicador de chamadas; era Sam, atendi.

— Já sentiu saudades, Winchester? Essa foi rápida.

O moreno riu.

— Eu não encontrei nada aqui, o lugar foi um verdadeiro tiro no pé — ele disse. — Os únicos monstros por aqui são algumas ratazanas, que alcançam o tamanho de um chihuahua, sem brincadeira.

Precisei rir depois dessa.

— Tudo bem, Sam, não foi dessa vez — falei enquanto checava um quartinho perto dos fundos da loja; nada. — De qualquer modo, eu não estou me saindo muito melhor.

— Não conseguiu encontrar nada também?

Suspirei.

— Quem dera, aqui não tem nada, o lugar está morto.

Houve uma pausa rápida, na qual eu pensei bem na ironia das minhas palavras. Sam riu.

— Tudo bem — disse por fim. — Isso significa que Dean está com problemas, é melhor irmos ajuda-lo.

Assenti, mesmo que ele não pudesse ver. Alguma coisa naquele lugar não me cheirava bem, e eu tinha certeza de que não era por causa dos toaletes precários que ali havia.

Meus olhos captaram o canto esquerdo extremo da loja, onde uma ponta marrom se sobressaia quase que imperceptivelmente por trás de uma prateleira, parecendo uma... porta!

— Ahn, Sam? — chamei. — Eu ainda vou examinar aqui um pouco, encontro vocês depois, OK?

— Você achou algo?

— É o que vou descobrir. Falo com você depois, está bem?

— Certo — ele respondeu. — Até mais. Emma?

— O que foi?

— Tome cuidado.

A chamada encerrou e guardei meu celular de volta no bolso, tratando de me aproximar da prateleira. Estava carregada de livretos, todos empoeirados e velhos, a maioria biografias de artistas perdidos no tempo, mas que um dia tiveram seu momento de fama. Empurrei o móvel, o que me custou considerável força, mas por fim consegui movê-lo. Para a minha gloriosa confirmação, havia uma porta ali, quase totalmente oculta pela poeira e decadência. O objeto era quase da mesma cor que a parede, o que explica o fato de eu não tê-lo notado antes.

Forcei a porta algumas vezes antes de ela enfim ceder, ruindo alto em protesto. Sutil, Grace, sutil. Em seguida havia uma escada, descendo para algum lugar que eu obviamente não conhecia. Ainda. Uma luz fraca bruxuleava vinda lá de baixo e me perguntei o que aquilo poderia ser.

Acho que alguém encontrou a galinha dos ovos de ouro, afinal, pensei. Só que dessa vez não tem ovos de ouro, mas sim um assassino sobrenatural e perigoso.

Peguei minha arma que estava apoiada na cintura, com balas de ferro misturadas a sal grosso e liguei a lanterna do celular outra vez, iluminando a pequena escadaria. Desci devagar, embora a madeira velha rangesse em protesto sob meus pés. Alcancei o fim da escada e esperei alguns segundos de guarda antes de entrar de súbito, pronta para atirar. Mas não havia ninguém ali.

Bom, pelo menos ninguém que conseguisse me causar dano.

Com as mãos amarradas ao teto e tubos em seu pescoço que se ligavam a pequenas bolsas de sangue, estavam dois garotos, aparentemente desacordados. Ou mortos, meu subconsciente alertou, mas ignorei-o.

Franzi o cenho. Que bizarro, pensei. Sim, às vezes certas criaturas adotavam modos estranhos de viver, como por exemplo, utilizar humanos indefesos como bolsas de sangue portátil ou, em alguns casos, utilizar esses mesmos humanos para preencherem suas bolsas de sangue portátil. Sim, isso costumava acontecer, mas não quer dizer que saber do fato ajuda a encara-lo de outra forma. Aquilo era medonho. Era essa a definição no meu mundo — o mundo dos caçadores e coisas infinitamente bizarras — para um vampiro passivo, uma criatura que não se alimenta de humanos em si, mas que não vê problema em sugar seu sangue para fora do corpo em bolsas que mais tarde serão consumidas com calma e tranquilidade. Esses vampiros geralmente eram os mais perigosos, porque conseguiam exercer controle sobre sua sede de sangue e, sendo assim, não ficavam descontrolados — e vulneráveis — quando, por exemplo, o caçador cortava o braço em uma tentativa de desorienta-los com o próprio sangue.

No fim das contas, Sam e Bobby estavam certos sobre o nosso nem tão querido assim CM.

Aproximei-me dos dois corpos, imaginando a idade que tinham. Um deles, o mais novo, possuía cabelos loiros cacheados e traços suaves, eu chutava que tivesse dezesseis, no máximo dezessete anos. O outro, obviamente mais velho, também possuía madeixas loiras, mas estas eram lisas e desleixadas, assim como os traços de seu rosto eram mais fortes, dando-lhe um ar de... vinte anos, talvez?

Toquei a têmpora do garoto de cachos, notando uma reação fraca sob meu dedo, ele estava vivo!

Comecei a tirar as amarras que envolviam seus pulsos, logo depois de retirar a agulha de seu pescoço. O corpo caiu mole e fraco sobre mim, mas consegui segura-lo. Deitei sua cabeça em meu colo, dando leves tapas em seu rosto, em uma tentativa de acorda-lo.

Lentamente o garoto abriu os olhos, piscando-os varias vezes antes de me focar em seu campo de visão.

— Ei — sussurrei, tentando não assusta-lo. — Eu vou te tirar daqui antes que eles voltem, tudo bem? Mas precisamos ser rápidos, OK?

O garoto estremeceu, seus olhos se arregalaram.

— E-ele... — engasgou-se ao dizer, parecia realmente apavorado — p-por favor, não quero voltar pra lá, é tortura...

Franzi o cenho, confusa. O que ele queria dizer com aquilo? E o “ele” que havia mencionado, seria o tal vampiro? Um único vampiro estava por trás de tudo aquilo? Bom, isso era interessante.

A informação só tornava tudo ainda mais medonho, na verdade.

Balancei a cabeça, expulsando os devaneios. Eu precisava salvar aquele jovem antes de liquidar o maldito sanguessuga.

— Qual é o seu nome? — perguntei.

O garoto fechou os olhos com força, parecendo se esforçar para lembrar-se de como me responder. Por fim, sua voz saiu, trêmula e fraca:

— A-adam... — ele respirou fundo, tentando controlar o próprio tom. — Meu nome é Adam, Adam Stuart — emendou.

Senti um aperto no coração, o peso da ironia me atingindo. Abri um sorriso triste e ajudei o loiro a se levantar.

— Bem, Adam, eu sou Emma e vou te ajudar a fugir desse lugar. Nós precisamos sair daqui, antes que o que te capturou volte — falei.

Adam assentiu veementemente.

— Eu e meu irmão, nós só queríamos gravar um vídeo pro blog idiota dele, se eu soubesse que... ah, droga! Cadê o West?

Adam se levantou de súbito, seus olhos se arregalando ao verem o outro garoto amarrado, que eu supus ser o tal West.

— Vamos tirar ele daqui também — prometi. — Mas temos que ser rápidos.

O loiro assentiu, rapidamente trabalhando nas amarras do irmão na tentativa de solta-las. Os nós estavam mais firmes do que estavam na corda de Adam, o que dificultou meu trabalho. Pelo menos West está vivo, pensei. Se Adam encontrasse o irmão morto, as coisas provavelmente ficariam bem piores.

Eu estava prestes a libertar West quando os olhos do mais novo se arregalaram outra vez. Ele apontou para mim, gritando:

— Cuidado!

Virei-me bem a tempo de ver mãos rápidas em direção ao meu rosto. Abaixei-me, desviando e soquei o rosto da criatura, mas não pareceu surtir efeito — bom, teve um efeito, de fato, mas foi no meu punho e não no rosto dele, como o esperado. Um lampejo azul invadiu meu campo de visão e senti meu corpo ser arremessado, batendo contra uma parede e caindo como uma pedra, me tirando todo o ar. Ouvi o grito engasgado de Adam e o som de seu corpo atingindo o chão com um banque.

Ergui o olhar, vendo uma criatura que definitivamente não era um vampiro caminhando em passos rápidos até mim. Seu corpo era volumoso, coberto por tatuagens e... azul?!

Mas que diabos estão acontecendo por aqui?

Levantei-me, cambaleante, e tentei me afastar da criatura misteriosa, mas ela foi mais rápida. Agarrou-me pela blusa e segurou meu pescoço, aproximando sua mão do meu rosto. Tentei segurar seu pulso e impedir que me tocasse, mas ele — ou seja lá o que aquilo fosse — era forte demais.

Seus olhos brilharam em um azul esbranquiçado e intenso, antes de seus dedos pousarem em minha testa e uma sensação estranha me atingir em cheio. Senti meu corpo ficar leve, muito leve. Minha visão escureceu e tive a impressão de que de repente começava a girar.

Então morrer é assim?, pensei curiosamente. Não me parece tão mau.

Mas então a escuridão de repente cedeu lugar a borrões difusos e uma sensação de vertigem me dominou. A próxima coisa da qual me lembro é de abrir os olhos e dar de cara com um gramado aparado e o céu azul e limpo, sem muitas nuvens.

O que está acontecendo?

Eu não estava mais na loja, obviamente. Ficava me perguntando que lugar era aquele e, principalmente, como eu havia ido parar lá. Não havia morrido — isso estava óbvio —, mas por quê? E o que era aquela coisa?

Levantei-me do banco de pedra no qual estava sentada e espanei a poeira da calça jeans. Peguei meu celular; a data era a mesma, exceto que o horário era um pouco mais cedo, apenas algumas horas após o horário de almoço. Como isso era possível?

Dei alguns passos na direção de uma senhora que passava, com o objetivo de pergunta-la onde estávamos. Foi quando uma voz familiar invadiu meus ouvidos, imediatamente me paralisando ali mesmo onde estava.

— Finalmente te achei! Por onde andou, maninha?


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Notas finais do capítulo

Não sou capaz de opinar :v

E então, gostaram? Teorias para o que poderá acontecer no próximo? Contem tudo, não me escondam nada!

No próximo capítulo: Emma se vê presa a uma realidade desconhecida e perigosa, que ameaça cada vez mais engoli-la por completo, a menos que se ache uma escapatória, o que não será fácil. O passado da nossa caçadora é mais uma vez abordado, embora de uma maneira um pouco diferente, e a saída para tudo isso poderá ser um sacrifício caro demais a ser cobrado, estará Emma disposta a pagar o preço?

Vejo vocês em breve, queridos :3 bye!



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