Espelhos escrita por AriDamascena


Capítulo 5
Quarta Camada


Notas iniciais do capítulo

Não sei se vocês procuram as músicas que eu coloco no começo dos capítulos, massss eu amo muito esse cover da Yuna. Sinceramente, acho a letra dessa música TÃO dramione! E a música ficou um arraso na voz dela, portanto aconselho a vocês pesquisarem qualquer dia desses AHAHA

Obrigada a todos que comentaram e deram fav



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"Venha como você é, como você era, como eu quero que você seja; como um amigo, como um velho inimigo. Tome seu tempo, se apresse. A escolha é sua, não se atrase. Faça uma pausa, como como um amigo, como uma memória velha – a memória da memória."YUNA - Come as you are (cover)

* * *

Desde a semana passada, eu e Malfoy havíamos iniciado uma pequena brincadeira entre nós. Um jogo, digamos. Todos os dias, pouco antes do jantar, nos encontrávamos no mesmo corredor em que começando nossa esquisita e peculiar amizade. Havia apenas quatro regras simples:

Primeiro de tudo, apenas uma pergunta era permitida por dia.

Segundo, essas perguntas deveriam ser pessoais, mas sem tornarem-se íntimas demais; eram coisas simples e bobas, como qual sua comida preferida e data do seu aniversário, etc.

Terceiro, nós dois tínhamos que responder a pergunta com total sinceridade.

Quarto, para encerrar, quem fazia as perguntas alternava, ou seja, um dia era eu e outro era Malfoy, assim por diante, dia após dia.

Hoje era quarta-feira, estava na minha vez de perguntar” E esse foi o primeiro pensamento que tive ao despertar. A terrível verdade, que eu negaria a qualquer um que me perguntasse, era que essa minha aproximação de Draco, estava se tornando extremamente interessante. Todos os dias, me sentia excitada com a ideia de que no fim do dia nós nos reuniríamos em nosso corredor habitual e trocaríamos algumas poucas frases. Tinham dias que eu desejava que pudéssemos fazer mais de uma pergunta. Gostaria de ficar conversando com ele até me faltasse palavras na boca, porém sabia que isso não poderia acontecer.

Malfoy, apesar de não ter insultado e zombado de mim e meus amigos desde o começo do ano, ainda não gostava de mostrar qualquer simpatia por mim em público. Era sempre a terrível e irritante indiferença de sempre. Um sentimento de aborrecimento crescia em mim com o pensamento de que ele pudesse ter vergonha de ser visto comigo, alguém de ‘sangue inferior’, como ele sempre fez questão de ressaltar no passado, no entanto eu ignorava a tristeza e seguia em frente. Fazia pouco tempo que estávamos conversando, com certeza ao longo do ano Malfoy superaria esses preconceitos passados. Como podia ter tanta certeza? Bem, a cada dia que nossa amizade se fortalecia, eu conseguia retirar uma nova camada dele.

Harry, para quem eu contara sobre meus primeiros encontros com o sonserino, parecia cético sobre sua transformação ainda, apesar de sempre me responder que estava “contente com a mudança do bastardo”. Não contei a ele sobre o jogo, nem que continuava a ver Draco todos os dias antes do jantar. Mesmo que fosse um sentimento bobo e egoísta, gostaria de manter essa pequena felicidade apenas para mim. Era algo íntimo, somente Malfoy e eu tinha o direito de saber das perguntas, respostas e risadas. Era nosso segredo.

Quando chegava atrasada no Grande Salão, Harry somente olhava para mim com a pergunta muda “Ok?” e então eu dava um aceno rápido com a cabeça, confirmando que Malfoy ainda era bom para mim. Ron não parecia perceber nada do que estava acontecendo, para ele já era bom o suficiente que havíamos voltado a conversar – inclusive estávamos passando um bom tempo durante as rondas, era mais agradável lidar com ele agora que meus sentimentos não eram tão fortes.

Segui normalmente com a rotina. Fiz minha higiene matinal, tomei café da manhã com meus amigos, prestei atenção durante as aulas e passei algum tempo conversando com Ginny no Salão Comunal da Grifinória sobre seu novo namorado. Ela parecia tão animada enquanto me contava sobre seu primeiro encontro, que era impossível não ficar contente pela ruiva. Sabia que minha amiga no passado havia tido uma paixonite por Harry (na verdade, para sua infelicidade, todos em Hogwarts sabiam disso) e era bom saber que ela superara isso. Estava me espelhando em sua atitude positiva para superar seu irmão, e tinha surtido algum efeito. A dor de minha primeira desilusão amorosa estava se curando lentamente, e em breve sabia que superaria completamente.

Além da ajuda de Gina, devo dar crédito a determinado loiro sobre isso. Sem ele para preencher meus dias monótonos e tristonhos, passaria todo o resto de meu tempo em Hogwarts segurando as lágrimas toda vez que constatasse o fato de que para Ron, eu seria sempre apenas a ‘melhor amiga’. Draco me distraia, estávamos nos divertindo e descobrindo que tínhamos muito mais em comum do que qualquer um poderia pensar. Ainda estava em êxtase ao descobrir que seu livro favorito era Hogwarts, uma história. Quer dizer, eu venerava esse livro! Havia lido tantas vezes que até perdi a conta.

— Hermione, você está tão aérea hoje!

Fui tirada de meu transe pela voz gentil de Ginny. Seu rosto bonito me encarava com preocupação. Eu provavelmente tinha me desligado quando ela começou a conversar sobre feitiços de beleza. Não havia feito por falta de interesse, estava apenas pensando sobre qual pergunta poderia fazer a Malfoy. Passara o dia todo pensando sobre isso, em meia hora iríamos nos encontrar, mas eu não conseguira pensar em nenhuma pergunta interessante para fazer a ele.

— Desculpe. – pedi com sinceridade a ruiva. Joguei-me de costas em sua cama – Passei o dia todo pensando em algo, mas ainda não cheguei a nenhuma conclusão.

— Pensando no que? Talvez eu possa te ajudar. – ofereceu amigavelmente.

— Quando você vai a um encontro, que tipo de perguntas você faz?

— Você vai a um encontro, Mi? – perguntou Gina cheia de animação, pulando em sua cama e fazendo meu corpo ser jogado para cima no processo.

— Não. – respondi, aliás, eu não considerava conversar por dez minutos com Malfoy como um “Encontro”.

— Então por que quer saber? – toda a animação de sua voz foi substituída por curiosidade.

— Eu e outra pessoa estamos em um jogo, – contei – onde fazemos perguntas um ao outro. Hoje é minha vez de fazer a pergunta. Tentei pensar em algo interessante para perguntar, porém não cheguei a lugar algum. – meu tom era cheio desanimo e fracasso. Eu era a bruxa com as melhores notas de Hogwarts, no entanto não conseguia pensar em uma pergunta interessante para fazer a Malfoy! Me sentia uma fracassada.

— E sobre o que você e essa pessoa já perguntaram?

Ignorei a insinuação em sua voz, respondendo um breve resumo sobre o tipo de perguntas que fazíamos um ao outro.

— Então, – começou a ruiva – vocês praticamente sabem todas as coisas preferidas um do outro. – assenti com a cabeça, conferindo o horário em meu relógio de pulso – Por que você não pede uma história a ele?

— História? – me sentei na cama ao seu lado – Tipo...?

— Tipo, quando foi a primeira vez que ele perdeu um dente. Ou se já quebrou o braço. – a ruiva riu, dando de ombros – Coisas do tipo, Mione.

O sorriso que dei iluminou todo meu rosto.

— Você é uma gênia, Ginevra Weasley! – exclamei animada, dando um abraço rápido nela e pulando da cama em seguida. Apesar de careta que ela fez por eu ter usando seu nome completo, Ginny somente rolou os olhos e sorriu para mim – Obrigada! Vejo você mais tarde no Grande Salão.

— Vai ao seu encontro? – as sobrancelhas ruivas de Gina ergueram-se numa expressão cheia de malicia.

— Não, estou indo a biblioteca terminar um ensaio. – menti. Não me dando ao trabalho de corrigi-la por ter usando a palavra “encontro”, somente despedi-me brevemente antes de sair em passos apressados para encontrar Draco.

Eu estava cerca de dez ou quinze minutos adiantada quando cheguei a nosso corredor, portanto decidi sentar no chão e terminar meu ensaio de Transfiguração enquanto esperava por Draco.

A animação fora diminuindo à medida que o tempo se estendia sem nem ao menos sinal da cabeleira loira. Havia terminado de escrever no ensaio e guardando minha pena e pergaminho na bolsa, minhas pernas estavam começando a ficarem desconfortáveis naquela posição e o chão era frio e duro. Me levantei, verificando mais uma vez as horas. Draco deveria ter chegado vinte minutos atrás. Sabia que poderia perder o jantar se continuasse esperando por ele, mas ignorei a fome e continuei ali, de baixo da luz precária do corredor abandonado, onde tudo o que se ouvia era o som de meu pé batendo no chão e vez ou outra o som desagradável de meu estômago roncando.

Haviam se passado quarenta e dois minutos de espera, quando avistei o sonserino vindo em minha direção. Ele parecia muito mais sério do que de costume, competindo com a cara zangada que eu estava fazendo. Esperava que Malfoy tivesse um excelente desculpa por me fazer espera-lo por quase uma hora.

— Onde você estava?! Faz quarente minutos que estou te esperando! – resmunguei irritada.

— Estava jantando.

Sua voz era grossa e fria, mas o que realmente me irritou não foi a maneira como ele disse, e sim o que ele disse.

— Jantando? Oh! Que maravilha! Você estava jantando, enquanto eu deixava de jantar para ficar esperando você!

— Bem, ninguém pediu para você ficar me esperando, não é mesmo Granger? – respondeu com ironia – Não me lembro de ter confirmado nenhum compromisso com você.

Dei um passo para trás, conhecendo muito bem que tipo de camada era aquela.

Era a camada dos anos passados. A camada desagradável.

— Achei que já havíamos superado essa fase, Malfoy. – fingi que não estava ficando afetada com sua mudança de comportamento.

— Não entendo porque está reclamando tanto. Uma sangue-ruim como você deveria estar contente, somente por estarmos juntos num mesmo corredor.

Ouch.

Infelizmente, também conhecia essa camada... Era a camada preconceituosa.

Draco havia me chamado de ‘sangue-ruim’ muitas vezes, e após o segundo ano eu aprendera a lidar com o insulto muito bem. Não ligava mais, algumas vezes até achei engraçado sua falta de criatividade.

Obviamente, essa não foi uma dessas vezes. Não... Dessa vez doeu como se fosse a primeira vez. Foi como se eu houvesse levado um tapa. Fez as lágrimas picarem meus olhos e minha respiração ficar presa na garganta, meu coração tinha caído no meu estômago. Tudo o que sentia era decepção.

Virei o rosto, esfregando a mão com força onde uma lágrima acabara de deslizar. Quando voltei a olhar para o rosto de Malfoy, ele estava vestindo todas suas armaduras. Era como se eu não houvesse retirado nenhuma camada ali, pois bem a minha frente, tudo o que via era o velho e desagradável Draco Malfoy de sempre.

— Por que você simplesmente não pode ser você mesmo?! – gritei irritada, empurrando com força meu dedo em seu peito – Estávamos muito bem, então você tem que ir lá e... E foder com tudo! Estávamos fazendo progresso, Malfoy! Que inferno! – esbravejei, ainda empurrando-o, até que ele já estivesse encostado na parede e tudo o que meu dedo podia fazer era perfurar ainda mais fundo em seu peito – Você não acredita nessa merda de supremacia de sangue, sei disso! Por Merlin, me explique por que você está agindo como o idiota arrogante e ignorante de antes!

Uma parte de sua fachada havia caído, sabia disso pela forma como sua testa estava franzida em incômodo e seu rosto estava virado em outra direção para que ele não pudesse olhar para mim.

— Droga! Só me diga: Do que você tem tanto medo?!

Lentamente o rosto de Malfoy se virou para encarar-me. Sua testa era lisa agora, o rosto estava em branco, mas seus olhos diziam tudo. Ou melhor, seus olhos confundiam tudo. Aquele seu olhar de tempestade só servia para bagunçar minha mente, nunca trazendo respostas concretas.

A mão pálida dele fechou ao redor de meus pulsos, afastando-os de si. Seus dedos estavam frios, assim como os meus. Draco ainda estava cara a cara comigo, seus olhos firmes sob os meus. O único ruído ouvido era o som de meu coração batendo em meus ouvidos.

Quando a voz escapou de seus lábios finos, era tão baixa que eu quase não consegui ouvir, apesar do silêncio do corredor. Ele parecia quebrado, machucado.

— Isso vai muito além de mim, Granger.

Draco desapareceu pelo corredor em seguida, sem me dar tempo de fazer qualquer pergunta a ele. Parte de mim queria chorar por nossa briga recém-terminada e parte de mim queria correr atrás dele e acertar um soco em sua cara. Como ele ousava me xingar, encher minha mente de curiosidade e ir embora sem me dar nenhuma resposta de que porcaria havia acontecido ali?!

Foi impossível dormir. Tudo o que eu pensava era sobre nosso conflito. O que estava acontecendo com ele? E será que eu me importava o suficiente para continuar investigando?

Somente consegui pegar no sono após fazer uma lista de prós e contras. Tinha muito mais contras do que prós, por isso decidi que seria melhor deixar Malfoy com seus próprios problemas. Desde o começo do ano, tentei descobrir e começar uma amizade com ele, e após esse noite estava mais do que claro que ele não queria minha amizade. Eu tinha problemas suficientes para me preocupar, no fim das contas.

O dia seguinte foi deprimente. Eu não tinha fome ou ânimo. Tentei seguir como de costume, porém era difícil sobreviver um dia inteiro sem aquela excitação e felicidade dos dias anteriores. A vida parecia mais vazia agora.

Quando entrei na biblioteca, reconheci logo o cabelo loiro platino de Malfoy. Resisti a vontade de dar meia volta e me enfiei entre as prateleiras para pegar um livro de Poções para o ensaio que Snape havia ordenado entregar amanhã.

Ao agarrei o livro da prateleira, vi um pedaço de pergaminho escorregar para o chão. Abaixei-me para pega-lo e no momento em que meus dedos tocaram o papel amarelado, um texto apareceu no mesmo.

Estava escrito “Sinto muito” em uma caligrafia cursiva muito elegante. Olhei ao redor e meus olhos se arregalaram, vendo o sonserino loiro parado a alguns pés de distância.

Sua tristeza era tão aparente quanto a minha. Os ombros caídos, aparência cansada. Apostaria um galeão que Malfoy havia encontrado o mesmo problema que eu para pegar no sono.

Corredor de sempre. – murmurei ao passar por ele.

Amassei o pergaminho, enfiando-o no bolso.

Foi quase impossível conseguir terminar meu ensaio de Poções, quando tudo o que passava na minha mente era: Outra camada havia sido retirada.


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Notas finais do capítulo

O capítulo não saiu como estava na minha cabeça, porém espero que vocês gostem.

Se estiverem acompanhando, me deixem saber. Opiniões e críticas construtivas são sempre bem-vindas!



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