A Proposta escrita por Larissa Carvalho


Capítulo 7
Bad Girl


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Vamos dar inicio à ação na vida de Rose e Dimitri.
Boa leitura!

Bad Girl – MIA



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Eu e Dimitri não encontramos meus pais quando chegamos à casa dele. Eu deixei Vikka me emprestar um dos vestidos dela e tomei um banho lento e quente. Demoraria muito até eu conseguir engolir esse papo de Dimitri, mas algo em mim o deixaria tentar.

Eu comi com Olena, enquanto Vikka e Dimitri falavam à respeito de alguma coisa no escritório. O silencio com ela, era parecido com o silencio de Dimitri. Não era incomodo. Era reconfortante. Por algum momento eu me senti culpada por fazer tudo àquilo com ela. Olena era uma pessoa boa e estava acreditando mesmo que eu era sua nora querida e que amava seu filho tanto quanto ela. Talvez fosse verdade. – pensei.

Depois que comemos eu não dei espaço para uma conversa com Olena, eu subi as escadas e fui para o enorme quarto de hóspedes. Tranquei a porta e me joguei na cama. A casa de Olena era ampla e clara, o quarto de hospedes me fazia parecer estar no céu. Então eu deixei o sono me levar e fechei meus olhos.

No dia seguinte, eu fiz a minha higiene pessoal e tentei domar o meu cabelo, mas sem sucesso. Fiz apenas um rabo de cavalo. Eu desci as escadas e fui direto para o jardim. Ainda me lembro de que Olena só toma seus cafés da manha lá.

Observei Dimitri, com os cabelos molhados e uma roupa mais confortável, o que me fez lembrar o vestido rosa que Vikka me emprestara na noite anterior. Eu detestava isso. Mais aceitei de bom grado.

Eu me sentei à cadeira e peguei um pedaço de pão. Olena tinha seus cabelos presos em um coque e sua maquiagem leve. Olhei para Dimitri, que me observava.

– Bom dia. – murmurou. Eu fingi um sorriso.

– Bom dia. – falei. E depois olhei para Olena que sorriu para mim.

– Querida, fique a vontade para comer o que quiser. – falou. Eu sorri de verdade. – Vamos tê-la no almoço? – perguntou. Eu balancei a cabeça para os lados.

– Não, Sra. Belikova. – respondi passando a manteiga no pão. – Eu vou para casa.

– Claro. – disse Olena. – Ficarei feliz em levar você. Tenho alguns assuntos a tratar com Abe. – eu assenti.

– Acho que eu gostaria de levar a Rose, mãe. – Dimitri finalmente disse. Sua voz rouca me envolveu. Assim como seu cheiro de pós-barba.

– Tudo bem, querido. – disse Olena com um tom animado. – Sei que gostam de ficar sozinhos. E como exemplo, uso-lhes a floresta. – eu engasguei com meu pão. Ela sorriu.

– Rose, você está bem? – perguntou Dimitri, pulando para a cadeira ao meu lado. Eu assenti voltando ao meu folego.

– Estou. – falei depois de um gole de suco. Eu não tinha entendido exatamente o que ela queria dizer, mas alguma coisa me intuiu a pensar na noite anterior a do acidente. No ano passado. Quando eu me entreguei a Dimitri.

Eu estava pronta para dizer alguma coisa e me safar de qualquer pensamento na consciência de Olena, mas uma das empregadas dela chegou perto de nós e olhou diretamente para mim. Eu sorri para a própria.

– Tem telefone para senhorita. – ela fez um gesto para que eu a acompanhasse. Eu me levantei, livrando-me das mãos de Dimitri no meu braço.

– Com licença. – falei enquanto me afastava. Agradeci por quem quer que fosse por me tirar de lá.

Eu fui até a sala clara pela luz do dia e me dirigi até o centro, pegando o telefone ao lado do sofá cor de gelo. Recostei-me ao próprio e levei o telefone ao ouvido.

– Alô?

Rose? Ah, meu Deus! Nem acredito que consegui ouvir sua voz. – eu estaquei. Eu conhecia aquela voz. Eu não à ouvia à uns cinco meses. Desde que descobri sobre a gravidez da minha mãe.

– Sonya? – perguntei. – Sonya Karp?

Sim, Rose. – respondeu. Poderia imaginar seu sorriso. – Você sumiu. Não te vejo tem alguns meses.

– Eu sei, desculpe. – eu me senti envergonhada por ter abandonando-a. – O que deseja? Eu posso ir até vocês.

A ideia de voltar ao acampamento me entusiasmou. Eu me senti viva só de lembrar a ultima vez que estive lá. Ela suspirou. E foi aí que eu percebi. Tinha algo de estranho na Karp.

– O que houve? – perguntei. Eu não podia esconder minha clara preocupação.

Eu descobri algumas coisas e preciso que você me encontre. – eu engoli a seco.

– Que coisas? – ela demorou a responder.

Coisas que podem me colocar em risco. Preciso te avisar e te manter segura. Não é só sobre você, Rose. Tem a Vasilisa também.

Eu respirei fundo.

– Aonde posso te encontrar? – perguntei por fim.

– Preciso que seja em um lugar público. Somos primas, não vai ser suspeito.

– Você não tem ideia do quanto está me assustando. – falei. Ela sorriu do outro lado da linha.

Eu estou guardando o melhor para o final, Rose.

– Eu vou agora mesmo. – falei. – Me diga o lugar.

– Me espera na cantina do hospital que você e Vasilisa vieram depois do acidente.

– SANT’ANA? – perguntei.

Sim.

– Eu chego em meia hora.

Tudo bem, Rose. Até. – falou.

– Até, Sonya. – e então ela desligou.

Levantei do sofá em um pulo e ia correr para fora dali se não percebesse Dimitri me encarando com uma expressão vazia. Desde quando ele estava ali? Será que tinha escutado alguma coisa? Tanto faz.

Precisava de todos os aliados possíveis e Lissa não podia saber de nada sobre seu possível irmão ou irmã. Então caminhei até Dimitri.

– O que aconteceu? – perguntou. Agora seus olhos estavam nos meus.

– Parece que a minha prima descobriu coisas que podem ser úteis para nós. Sonya é influente, consegue o que quiser das pessoas. – ele assentiu.

– Sonya Karp? – eu assenti.

– Ela precisa me mostrar algumas coisas e preciso que me leve ao SANT’ANA agora.

– Claro. – ele se ajeitou e pegou as chaves no bolso. – Eu entro com você se quiser. – eu neguei.

– Não. – falei. – Sonya não é uma pessoa fácil, por mais que seja minha prima, eu quero que ela me de as informações que preciso e que ela confie em mim o suficiente para achar que vou fazer o certo com elas.

Dimitri me encarou por alguns segundos e depois soltou um longo suspiro.

– Vamos logo.

Eu e ele não nos despedimos de Olena. Corremos para o carro. Não tinha que falar com a Vikka já que a própria estava na escola. Eu iria a qualquer lugar, portanto que não tivesse que encarar minha mãe.

Dimitri pegou o caminho mais rápido para o hospital. Ele ficou em silencio, mas eu podia desvendar que ele estava com medo do que eu descobrisse. Eu tentei me manter calma. Eu precisava de todas as provas possíveis para Tatiana e eu morreria para manter todos da minha família seguros. Até mesmo Dimitri.

Sonya era a medica do hospital à muito tempo e conhecia cada pedaço daquele lugar. Cada pessoa. Cada registro. E era isso que eu precisava. Eu queria um lugar para começar. E Sonya era a chave.

Por alguns segundos senti meu peito apertar por ter largado o acampamento. As pessoas me deixavam ser eu mesma e eu gostava disso. Eu dançava e me sentia livre. Mas depois que descobri a gravidez da minha mãe eu abandonei tudo. Eu me sentia culpada pela morte dos pais de Lissa e não podia me divertir sabendo que ela estava machucada. Eu tinha que protegê-la. Eu devia isso à ela.

Dimitri parou o carro na entrada do hospital e só então eu percebi a gravidade do tom da voz da Sonya. Podia ser algo muito grave. E eu tremi. Senti a mão de Dimitri no meu braço e voltei-me para encará-lo.

– Não faça nada estúpido. – ele tinha um tom sério. Eu lhe dei o meu melhor sorriso.

– Qual é a graça de ser Rose Hathaway sem fazer nada estúpido? – debochei. Ele rolou os olhos.

– Te busco as sete. – falou. Eu levantei meu cenho. Ele percebeu minha confusão e sorriu. – Bar do Mikhail.

Entendimento passou por mim e eu sorri. Abri a porta do carro e saltei do próprio. Depois que fechei a porta, eu me abaixei na janela para olhá-lo.

– Não se atrase. – depois disso eu não esperei uma resposta.

Eu corri para a verdade que só a Sonya poderia me dar.

Quando entrei no hospital, eu corri para a cantina. Já tinha decorado o caminho de cada corredor daqui. Eu andava por esse hospital ao lado de Lissa para recuperar a minha sanidade depois de dois meses em coma e acabei fazendo amizade com todos.

Cheguei à cantina depois de algum tempo andando e olhei para Sonya em uma mesa lá no fundo, me aproximei dela e seus olhos azuis me encararam. Ela me abraçou por um longo tempo e eu me deixei ser abraçada. Eu nunca tinha parado para analisar o quanto eu sentia falta de Sonya. Nós sorrimos e sentamos. Ela tinha pedido um suco de laranja para ela e um refrigerante para mim.

Apesar de Sonya ser prima da minha mãe e elas não se darem muito bem, eu fazia o papel de anfitriã da casa sempre. Eu e Sonya nunca brigamos e sempre fugíamos no meio da noite. Depois de Lissa, eu confiava cegamente nela. Não pude deixar de notar seu jaleco e seus cabelos presos em um rabo de cavalo. Ela estava responsável agora.

– O que aconteceu? – perguntei. Não era uma pessoa de rodeio e Sonya sabia disso.

– Não vou te dizer. – falou. Ela me entregou uma pasta rosa e sorriu. – Vou te mostrar.

Eu abri a pasta e me deparei com vários papéis. Tinha o símbolo do hospital e a data do ano passado. Peguei as fotos e constatei ser do acidente. Nosso carro capotado.

Flashes vieram a minha mente.

Eu ainda estava consciente quando o carro parou de cabeça para baixo. Lembro-me da dor pelos cortes no meu braço e de ver Lissa jogada na estrada. Eu não conseguia me mexer, mas eu sentia um cheiro estranho e pude ver quando Lissa se arrastava até nós. Ela tinha sido arremessada e não estava no carro quando ele capotou. Eu mordi os lábios por lembrar-me de tudo aquilo.

Olhei para Sonya e seus olhos azuis estavam fixos em mim, esperando qualquer tipo de reação. Ela sabia o quanto eu odiava lembrar-me do acidente e que minhas memórias demoraram umas semanas para voltar depois que eu finalmente acordei.

– Por que está me mostrando isso? – perguntei.

– Porque esse acidente não foi uma fatalidade. – ela disse a ultima palavras aos sussurros. Então ela se apoiou, com a ajuda dos cotovelos, na mesa redonda e olhou no fundo dos meus olhos. – Eu nunca acreditei no fato, de um motorista bêbado ter batido no carro de vocês com aquela violência e estar vivo para contar história. – eu larguei os papeis na mesa e deixei minhas costas baterem com força contra a cadeira.

– E o que isso tem haver, Sonya? – perguntei. – Estamos mexendo em uma coisa óbvia. – retruquei. Ela sorriu negando com a cabeça.

– Rose, eu peguei os dados do motorista. – ela sorriu ainda mais. – Ele não estava bêbado. – falou. Eu voltei a minha posição inicial e me aproximei dela quase colocando todo o meu corpo na mesa.

– Como assim? – perguntei.

– É simples, Rose. – falou. Eu a encarei ainda apertando os papéis na minha mão. – O acidente foi planejado.

– Não, Sonya. Você só pode estar louca.

– Rose olhe para os fatos. – ela apontou para algumas coisas escritas com uma caligrafia ruim. Eu observei enquanto ela apontava. – Esse cara não estava bêbado. Ele ainda tinha os sentidos. Ainda podia ter desviado ou continuado em linha reta.

Eu encarei os papeis com um pouco de surpresa. Ela tinha razão. O caso tinha sido encerrado, mas na ficha não constava que ele estava completamente bêbado, mas ele fugiu e nem a policia o encontrou.

– Então... – eu me interrompi. Ela assentiu.

– O acidente foi todo planejado. – ela puxou as fotos do acidente e apontou o carro. – Está vendo isso? – perguntou me mostrando a posição que ele parou depois de capotar. – Era impossível você sair daquele carro. A Vasilisa estava em uma posição favorável e era a única a sobreviver.

– Não teriam como prever aonde íamos sentar, Sonya. – falei. Ela negou com a cabeça.

– Você e Vasilisa sempre sentavam naquela posição. A Lissa nunca deixou ninguém sentar na janela direita do carro e André sempre se contentou com a outra. Você sempre sentava o lado de Lissa, independente de estarem brigadas ou não, o que te coloca ao meio.

– Foi de ultima hora Sonya. Eles não sabiam que os pais de Lissa iam voltar. Eu e ela bebemos e mudamos os planos deles. – Sonya sorriu e olhou nos meus olhos. Eu tremi.

– É claro que não sabiam que era você naquele carro. – falou enquanto sorria. – Aquele acidente não era para você, Rose.

– Então para quem era? – perguntei gaguejando.

– Era para o Dimitri. Ele dá duas de vocês e ia sentar ao lado de André. Foi o mais lógico. Era para o Dimitri morrer junto ao André. E você foi no lugar dele.

– Ah meu Deus! – exclamei. Ela gargalhou.

– Virou religiosa, Rose? – perguntou irônica. Eu rolei os olhos.

– Sonya, isso é muito sério. Se isso é verdade, estão querendo machucar a Lissa também. – sussurrei. Ela negou novamente.

– Vasilisa sempre deixou claro seu desgosto por assumir a empresa, por isso André ia assumi-la. Ele era o alvo. E foi eliminado. – falou.

Eu engoli a seco.

– Isso parece um jogo. – murmurei.

– É um jogo, Rose. Um jogo pela qual você entrou pelo acaso e agora virou a caça.

– Como assim?

– Você é o novo alvo. – falou. – Quando você aceitou se casar com Dimitri e assumir tudo, você formou uma aliança forte. Matar Dimitri não tem mais vantagem.

– Por quê? – perguntei atônita. – Ele também é o herdeiro.

– Mas ele não tem o poder dos Dragomir. – sussurrou para que só eu pudesse escutar. – Lissa passou as empresas e propriedades para o seu pai e quando você assumir o negócio, tudo vai para você. – eu arregalei os olhos.

Não poderia acreditar em tudo aquilo. Eu estava tentando proteger a Lissa e a minha família quando na verdade, eu deveria me proteger. Eu deveria fugir. Aquela decisão do casamento traria consequências. E no meio de tantos devaneios, eu me lembrei da possível chance de Lissa ter um irmão ou irmã. Meu coração se apertou.

– Sonya, não sou só eu em risco. – falei. – Tem mais um Dragomir. – foi a vez dela de arregalar os olhos.

– Como você tem tanta certeza? – perguntou.

– Dimitri achou algumas coisas que nos levam a crer que Erick Dragomir pode ter tido uma filha ou filho fora do casamento com Rhea.

– Se encontrarmos essa criança você não precisa casar com Belikov e não precisa desistir dos seus sonhos. – eu a olhei com um sorriso. Eu assenti.

– Como você sabe que... – eu hesitei. – Que eu não quero me casar? – ela sorriu.

– Vocês se odeiam. – falou. – No momento que sua mãe me ligou eu soube que tinha algo de errado e aí eu peguei essas cópias do acidente.

Eu olhei novamente para os papéis na minha frente e ainda atordoada por todas aquelas informações eu coloquei um a um na pasta rosa e a fechei, devolvendo-a para Sonya. Ela pegou e sorriu.

– Você sabe identificar um possível filho de Erick? – perguntei. Cruzei meus braços na frente do meu peito e a encarei. Ela sorriu.

– Se você me acompanhar, Rose. Eu te dou nomes. – eu sorri.

Em poucos minutos eu estava atrás de Sonya em uma ala proibida do hospital. Ela ia tranquilamente a minha frente, enquanto eu checava se tinham olhares de pessoas estranhas ou seguranças atrás de mim.

Sonya sempre foi boa com as pessoas, como Lissa. Elas conseguiam algo só com o olhar de cachorrinho pidão. Menos comigo. Eu já conhecia seus métodos. Lissa pedia com sorrisos, Sonya pedia com sedução e elas conseguiam no final.

Apesar de ser alguns anos mais velha do que eu. Sempre me dei bem melhor com ela, do que com a minha mãe. Ela me entendia e me mostrava o melhor da minha vida. Ao contrario da minha mãe que rejeitava o fato de eu não querer ser como o meu pai.

Sonya abriu uma porta no final de um corredor silencioso e entramos em uma saleta com gavetas de ferro velhas. Ela observou-as por um tempo e foi em uma específica. Tinha uma pequena letra E. Entendimento passou por mim. Ela estava procurando a ficha de Erick.

– O que você está fazendo? – perguntei. Eu me sentia uma intrusa, mas ela parecia natural e nada nervosa. Eu olhava pelo lugar procurando por alguma câmera, mas só consegui um gargalhar de Sonya. – O que é engraçado?

– Você sendo medrosa. – cantarolou.

– Não sou medrosa. – rebati irritada. – É que você me assusta às vezes. – murmurei. Ela sorriu ainda concentrada em sua procura.

– Você já fez muitas coisas imprudentes, Rose. – falou. – Ficar responsável é bom, mas quando se está sendo caçada, não vale a pena.

– Vou lembrar disso. –murmurei ainda com a mão na maçaneta. Eu estava pronta para correr dali.

– Achei. – disse depois de alguns segundos. Ela puxou uma pasta e a abriu. Eu larguei a maçaneta e fui até ela.

Tinha uma foto de Erick e o símbolo do hospital. Dizia algumas coisas sobre ele e seu antigo endereço, seu conjugue, causa da morte e... O tipo sanguíneo.

Eu olhei para Sonya que sorria vitoriosa. Conseguimos o tipo sanguíneo do Erick, agora tínhamos que checar no mundo alguém, provavelmente, nascido em 2001 com o mesmo tipo sanguíneo. Eu entortei a boca.

– O que fazemos agora? – perguntei. Sonya sorriu e largou os papéis em cima da pequena mesa de ferro, indo em direção ao pequeno computador no fundo.

– Se ele tem um filho, e pelo o que eu me lembro, ele amava Montana e nunca se ausentou da própria, essa criança nasceu aqui. E SANT’ANA é o único hospital com estrutura para um parto, essa criança esta nos registros. – ela clicou em mais alguma coisa e voltou para mim. – Me de um ano. – pediu.

– 2001. – falei. Ela continuou clicando e uma contagem rápida foi feita pelo computador. Eu deixei um suspiro sair pela minha boca.

– Droga. – xinguei enquanto olhava para a tela. – 229 crianças. – constatei. Sonya sorriu ao meu lado.

– Rose, nem todas tem o mesmo tipo sanguíneo. – constatou. Eu rolei os olhos. – Eu participei do caso do acidente de vocês. Eu cuidei de você pessoalmente. Eu sei como fazer para descobrir os possíveis filhos dele, mas você tem que me prometer que vai cuidar e vai fazer o certo com essa informação. – eu pensei por alguns instantes e depois assenti. Ela sorriu. – Vamos lá então.

Sonya voltou concentrada para o computador. Ela clicou nas fichas uma por uma e eu me acomodei à parede húmida tentando não dormir com a demora. Eu estava quase fechando os olhos e dormindo em pé, quando Sonya me chamou. Eu me coloquei em alerta e fui para o seu lado. O computador tinha identificado cinco crianças com o mesmo tipo sanguíneo do Erick. Eu pensei rapidamente na possibilidade dele ter tido o caso com uma coelha, mas esta se foi quando só sobrou um nome no registro. Jillian Mastrano. Eu sorri instantaneamente.

– Achamos. – sussurrei. – Achamos. – falei. Dessa vez, mais alto. Eu finalmente tinha encontrado minha voz.

– Não. – cortou-me Sonya ainda encarando o computador. – Tem outro. – ela apontou para outro nome. – Christopher Lazar.

– Tem como você comprovar qual deles é o filho do Erick? – perguntei esperançosa. Ela negou.

– As amostras foram apagadas do sistema. Tudo foi apagado. Endereço, telefone para contato, até mesmo a data do nascimento. – ele continuou lutando contra o computador. – Não tem nada além do ano de nascimento e do nome.

Eu suspirei cansada.

– Talvez se fizermos um exame de DNA com a Lissa e essas duas crianças do registro, consigamos algo.

– É o mais lógico, mas não temos endereço e não sabemos se esses sobrenomes são falsos. – ela deixou que seus olhos azuis pousassem em mim. – Não temos nada, Rose.

Eu engoli a seco.

– Tem que ter alguma coisa. – murmurei comigo mesma.

– Talvez um buscador resolva. – falou. Eu fitei-a.

– Um o que? – perguntei. Ela sorriu.

– Buscadores. – repetiu. – São pessoas que encontram outras. Eu sou madrinha de uma. Ela mora no acampamento com o pai. Se não me engano, ela estava saindo com o Adrian.

Eu travei.

É claro! A loura da noite passada. Eu não sabia o nome dela e não sabia o que ela estava fazendo ali, mas lembro-me de ter ficado feliz em ver Adrian sorrir. Pela primeira vez não tinha sentido o cheiro de cravo da índia nele.

– Eu já tinha visto ela, mas não sei o nome. – comentei. Sonya assentiu.

– Sydney Sage. – falou. – Você tem que procurar por ela, Rose. Ela é a sua chave agora. – eu assenti.

Depois que Sonya fez a copia do disco rígido e fotografou toda a documentação de Erick com as informações dele, saímos dali. Ela tinha uma operação em meia hora e ainda estava animada com a possibilidade de ter um mistério em mãos. Enquanto eu estava mentalmente cansada de tudo aquilo.

Quando eu sentei no taxi, quase apaguei. Se não fosse por toda a conversa com Sonya repassando na minha mente, eu tinha dormido todo o caminho. Deixei para um dos seguranças pagarem o taxi e corri para casa.

Eu precisava tirar aquele vestido e tomar um banho quente. Depois eu pensei em comer. Era a única coisa que me animaria. Subi as escadas em apenas segundos e quando dei por mim já tinha aberto a porta do meu quarto e me jogado na cama.

Eu tinha que tomar um banho, então com meu corpo todo relutando, eu o fiz. Deixei a agua cair pelo meu corpo e me livrar de qualquer mal. Depois eu troquei minha roupa para um pijama de flanela e me joguei na cama. Mas não era suficiente para que me deixassem dormir.

Assim que fechei os olhos, me assustei com o barulho que minha mãe fez ao abrir a própria. Eu a fuzilei enquanto sentava na minha cama e tentava decifrar o significado de tanta violência com a minha porta.

– Boa tarde, Rosemarie. – falou. Eu sorri.

– Boa tarde, mamãe. – respondi. Ela rolou os olhos. Foi devagar até a minha cama e se sentou devagar, ainda avaliando a minha situação. Até seus olhos chegarem à minha mão e ao meu anel.

Eu nem o tinha percebido ali e não tinha visto o quanto era bonito.

– Posso dormir? – perguntei sonolenta. Ela levantou a sobrancelha.

– Por quê? – perguntou. – Não dormiu na noite passada? – Opa! Era para levar na maldade?

Eu sorri de modo sedutor.

– A culpa é toda de Dimitri. Ele não deu sossego para as minhas costas. Nem para outras coisas. – falei. Ela arregalou os olhos e eu gargalhei.

– Rose! – gritou. Ela estava visivelmente estressada com o meu deboche.

– Mãe, eu dormi no quarto de hóspedes. – ela deixou sua expressão suavizar um pouco. – Relaxa.

– Então... – ela hesitou, somente para olhar nos meus olhos. – Você nunca fez nada? – perguntou. Eu estaquei. Não podia mentir para ela. Não era como se nós estivéssemos na época que eu fugia de casa para beber, não conseguia parar em pé e falava que só tinha bebido água.

– Mãe, eu dormi no quarto de hóspedes. – repeti. – É o que importa. – ela assentiu devagar ainda digerindo a resposta.

– Você está bem? – perguntou por fim. Eu assenti.

– A Lissa está no quarto? – perguntei. Sua expressão agora se tornou preocupada.

– A Lissa não dormiu em casa. – eu me assustei. A Lissa era bem mais responsável. – Chegou agora pouco.

– Eu vou falar com ela. – disse. Tirei a coberta de cima de mim e me pôs de pé. Ela me encarou.

– Você me conta depois se ela passou a noite bem? – eu sorri. Minha mãe estava preocupada sem gritar com ninguém.

– Claro. – falei. Ela se levantou com um pouco de esforço por causa da barriga e me acompanhou até a entrada do quarto de Lissa. Eu a olhei novamente antes de bater na porta. Ela se afastava até seu quarto.

– Amanha quero comprar algumas coisas para o bebê. Vem comigo? – perguntou.

– Sempre. – respondi. Ela sorriu e eu me voltei para a porta do quarto de Lissa.

Bati três vezes, mas não esperei ela responder. Quando eu abri a porta do quarto de Lissa, ela estava jogada na cama, em meio aos seus lenções e com a roupa de ontem. Eu a encarei. Ela levantou a cabeça para me olhar e eu voltei a trancar a porta.

Aproximei-me dela e me joguei na cama ao seu lado. Ela sorriu quando eu me acomodei ao seu travesseiro ainda com meu pijama de flanelas.

– Há quanto tempo não fazemos uma festa do pijama? – perguntou acomodando-se ao meu lado no mesmo travesseiro.

– Há muito tempo. – sussurrei, em seguida sorrindo.

– Como foi sua noite? – perguntou. Eu voltei a minha expressão séria. Ainda encarando o teto.

– Boa. – respondi. – E a sua? Você não dormiu aqui, então... – eu parei e olhei para seus olhos verdes. Ela sorriu.

– Eu estava com o Cristian. – confessou. Eu sentei, encarando-a melhor. – Eu e ele... – ela se interrompeu e deixou que eu deduzisse.

– Vasilisa Dragomir, você fez o que eu estou pensando? – gritei. Ela ficou vermelha e eu gargalhei com isso.

– Lissa você usou camisinha? – perguntei. Ela assentiu.

– Claro, Rose. – eu me senti idiota pela pergunta. Eu a encarei.

– Você gostou? – perguntei com um sorriso. Ela sorriu sem graça.

– Muito. – nós rimos juntas.

– Viu. – falei. – Não tinha porque ter medo. Não é ruim. – ela sorriu, sentando-se, mas logo depois ela me encarou.

Eu me senti estranha com seu olhar duvidoso. Ela tinha uma expressão diferente da anterior. O brilho dos seus olhos tinha saído e agora tinha entendimento.

– O que foi? – perguntei.

– Você já fez sexo. – afirmou. Eu estaquei.

Será que todo mundo tinha que me perguntar isso?

– O que? Por-por-que-que? Ahn? – gaguejei. Eu não tinha resposta para ela. Eu não podia mentir para a minha melhor amiga, mas também não podia e não queria lembrar-me daquela noite.

– Fala a verdade, Rose. Você não sabe mentir.

– Tá Vasilisa. – gritei. – Eu não sou mais virgem! – essa parte eu falei aos sussurros.

– Ah Meu Deus! – gritou. – Rosemarie Hathaway Mazur, por que não me contou?

Droga! Eu estou bem encrencada.

– Porque eu não tive tempo. – resmunguei. Seus olhos ainda me estudavam. – Foi um dia antes do acidente. – murmurei.

Seus olhos ficaram tristes. Eu me senti culpada por contar para a Lissa sobre a minha primeira vez, justamente quando ela estava mais triste possível por perder todos de sua família.

Pensando por esse lado, a vontade de trazer um possível irmão para a Lissa, tomou conta de mim. Ela precisava disso.

– Eu sinto muito, Rose. – falou. Eu balancei a cabeça para os lados.

– Tudo bem, Lissa.

Ela me encarou novamente e sorriu.

– Foi com quem? – perguntou. – Eu não me lembro de você bêbada se agarrando com alguém no bar do Mikhail.

Eu engoli a seco.

– Eu disse um dia antes. – ela pensou por algum tempo e depois voltou-se à mim novamente.

– Como? – sua expressão era somente dúvida. – Você passou o dia todo em casa e depois quando foi resgatar o Oscar você passou a noite com... – ela se interrompeu. Ela me olhou com sua expressão mais aflita e depois eu mordi a boca para não emitir nenhum som que pudesse me denunciar.

– Eu sabia! – gritou. – Você não teria aceitado a proposta se não gostasse dele. – ela se interrompeu e sorriu. – Gostasse não. Amasse. – corrigiu-se.

Eu levantei da cama em um pulo.

– Amasse? – perguntei. – Nunca. Eu nunca amaria alguém como ele. Aquela. Noite. Só. Aconteceu. – falei cada palavra pausadamente. Ela me olhou com seu sorriso mais sarcástico. Eu a ignorei e fui até a porta.

– Você vai dormir? – perguntou ainda sorrindo. – Sonhe com o Belikov.

– Cala a boca. – falei, enquanto abria a porta.

– Hey... – chamou-me. Eu a encarei. – Acho que nem precisamos planejar a lua de mel. – eu a encarei. – Já teve. Foi na cabana.

Eu revirei os olhos e batia a porta escutando suas gargalhadas. Voltei para o meu quarto e me joguei na cama. Dessa vez, me entregando ao sono.

Mais tarde eu e Lissa estávamos devidamente prontas. Minha mãe queria ir conosco, mas meu pai não deixou. Ele disse que era a noite perfeita para um bom filme. Eca! Foi assim que me fizeram.

Ajeitei meu casaco preto e puxei meus cabelos do coque que eu tinha feito para me arrumar com mais facilidade. Lissa tinha insistido para que eu colocasse um vestido, mas eu teimei pelos meus jeans, minha blusa preta de alça e meu casaco. Minha maquiagem estava simples, o que fez Lissa bufar. Ela e seu vestido branco rodado, na altura do joelho me fizeram pensar.

Que tipo de pessoa se veste assim para ir a um bar?

Lissa é esse tipo de pessoa.

Nós resolvemos esperar os meninos do lado de fora, ainda dentro do portão e cercada por seguranças. Dimitri e Cristian chegaram em carros separados. Lissa foi primeiro, me deixando sozinha por um tempo.

Entrei no carro de Dimitri e ele me olhou curioso. Eu o encarei. O cheiro de pós-barba inundava o carro me deixando doida para agarrá-lo. Mas ainda não estava pronta para isso. Eu deveria ser má com ele.

– Devo me preocupar com alguma estupidez, Rose? – perguntou divertido.

– Não. – respondi. Depois de alguns segundos ainda me encarando com as sobrancelhas levantadas eu sorri maliciosamente. – Ainda não. – ele gargalhou dando partida no carro.

Não demorou para que chegássemos ao bar do Mikhail. O silencio se fez presente em todo o caminho. Eu tentei me manter distante dele, mas isso nunca funcionaria. Tinha algo em Dimitri que me atraia. Acho que era tudo. O jeito que ele sorria ou que me olhava. Ou que me tocava. Era uma série de coisas que me fazia querer me jogar contra ele o tempo todo.

Saímos do carro em silencio e ele pegou a minha mão antes de empurrarmos a porta e deixar que o som do ambiente me deixasse surda. Avistamos Lissa, Cristian, Mason e Eddie na mesa do fundo, devidamente arrumados. Eles sorriram para nós e eu larguei a mão de Dimitri. Não queria mais piadinhas de Lissa. Ele pareceu desconfortável quando eu parei no meio do caminho esbarrando nas pessoas.

– Eu preciso falar com Mikhail. Já encontro vocês. – gritei por causa do som. Ele assentiu e continuou andando.

Eu mal tinha percebido o quão bonito ele estava, com seus jeans e seu casado de couro. Eu engoli a seco. Porque ele tinha que ser tão bonito?

Me bati mentalmente por pensar nele desse jeito e me dirigi ao bar, batendo nas pessoas à minha frente. Me acomodei na banqueta e me debrucei para que Mikhail me olhasse. Ele estava distribuindo algumas cervejas para um cara bem alto e forte, mas logo me viu de longe e veio até mim. Eu sorri involuntariamente.

Mikhail tinha sido noivo de Sonya por três anos e eles são perfeitos um para o outro até hoje. Mas ai ele descobriu que, assim como minha mãe, ela era cigana. O acampamento foi aonde minha mãe nasceu. Ela nunca gostou das origens, mas eu sempre amei ir com a Sonya para lá.

Mikhail sorriu quando se aproximou de mim do outro lado do bar.

– O que vai querer hoje, Rose? – perguntou brincalhão. – Você não vem aqui desde a noite que ficou chapada. – eu gargalhei apesar de saber de qual noite estava falando.

– Muito obrigada por me lembrar. – retruquei. Ele sorriu.

– Tem visto a Sonya? – perguntou. Seu sorriso agora estava triste.

– Na verdade, eu a vi hoje. – falei. Seus olhos brilharam. – Ela está a cada dia mais bonita. – provoquei. Ele sorriu esperançoso.

– Eu sei. – falou. – Ela sempre foi tão linda. – eu sorri.

– Bom, se você não fosse tão babaca e não a tivesse deixado por ser uma cigana, vocês estariam casados e não estaria dependendo da garota chapada aqui, para saber sobre ela.

– É por isso que eu gosto de você. – falou. – Você é sutil como um tanque de guerra.

– Faz parte. – murmurei. – Whisky, por favor.

– Você está acompanhada? – perguntou limpando a mão no pano no seu avental.

– Sim. – apontei para a mesa onde todos estavam e ele sorriu ao ver Lissa. Eu percebi os olhos de Dimitri em mim, sem prestar nenhuma atenção às coisas que Mason lhe dizia. Eu voltei-me para Mikhail. – Vou mandar uma rodada por conta da casa para eles.

– E é por isso que eu gosto de você. – falei. Ele sorriu virando-se de costas para mim.

Ele demorou um pouco, mas logo virou com o meu pedido. Eu virei em um gole só.

– Vai com calma, Hathaway. – falou. Eu sorri.

– Eu aceito a cerveja do ano passado que você ficou me devendo.

Ele sorriu.

– Você estava bêbada, Rose. – disse. – Mas uma cerveja e você entraria em coma alcoólico.

– É. – falei. – Acho que os médicos ficaram na dúvida de qual era o motivo do coma que eu estava. – ele gargalhou. Eu lhe dei um pequeno sorriso.

– Vou pegar. – ele voltou para longe de mim.

Um cara parou ao meu lado. O cheiro de cravo da índia invadiu aquele pequeno espaço entre tantas pessoas e eu olhei mais a fundo para aqueles olhos brilhando ao olhar para a garrafa de vodka do outro lado do balcão. Eu sorri.

– Eu tenho uma namorada. – murmurou. Eu levantei o cenho.

– Eu tenho um noivo. – rebati. Ele voltou-se para mim ainda sorrindo.

– Eu espero que ele esteja aqui, Hathaway. – falou. – Ou você vai ficar encrencada.

Eu sorri, apontando para a mesa no fundo do bar.

– Seu noivo ta gostoso hoje. – brincou. Eu revirei os olhos.

– Cala boca, Ivashkov. – ele soriu.

– O que está fazendo aqui? Era para estar com eles.

– Eu estou falando com Mikhail. Vou pegar uma cerveja e volto para eles. – Adrian assentiu.

– Então, eu vou até lá, distrai-los com meu charme natural e aceito que peça uma vodka para mim e água com gás para a minha namorada santinha.

– Adrian, a Sydney está aqui? – perguntei. Meu coração disparou.

– Sim. – falou. – Por que esse interesse na minha namorada? Seu noivo está do outro lado. – ele apontou para Dimitri. – Bem ali.

– É bom ter mais uma mulher, no meio de tanto homem. – menti. Ele assentiu.

– Tudo bem. – disse. – Peça tudo e chame a Syd.

– Claro. – falei. Ele se afastou de mim e quando Mikhail voltou com o meu pedido eu tratei de fazer os outros. Pedi para que o garçom entregasse a vodka de Adrian e segui com a garrafa de água para uma mesa perto da porta.

Parece que ela não gosta de bar. – pensei.

Respirei fundo e sentei na frente de Sydney. Ela me olhou assustada, mas eu lhe estendi a água e sorri. Ela pegou a água e imitou meu gesto, finalmente me reconhecendo. Ela não tinha traços de cigana, mas se morava no acampamento, não era desde pequena. Eu nunca a tinha visto antes e eu tinha uma boa memória.

– Sou Rosemarie Mazur. – apresentei-me. – Filha do Abe.

Ela sorriu recordando-se por completo.

– Amiga do Adrian, certo? – perguntou agarrada à sua garrafa de água.

– Sim. – respondi. – Ele foi para a nossa mesa, pediu para chama-la.

– Ah claro. – respondeu levantando-se. Eu segurei seu braço e a fiz sentar novamente. Pronto. Agora ela estava realmente assustada.

– Adrian sabe que você é cigana? – perguntei. Ela ficou mais pálida que antes.

Um ponto para mim.

– Não. – disse gaguejando. Eu assenti condescendente.

– Preciso de sua ajuda. – ela voltou a ter a cor natural em seu rosto, que agora tinha muita raiva nitidamente estampada.

– Quer me chantagear? – perguntou. Eu balancei a cabeça para os lados.

– Não. Foi só para saber se estava sendo realmente sincera com ele e... – eu me interrompi olhando-a nos olhos. – Acho que não.

Ela abaixou a cabeça.

– Você não entende... – eu a interrompi.

– Entendo. – ela voltou a me encarar. – Eu também sou uma cigana. Bom, na verdade a minha mãe, mas ela abandonou o acampamento pelo meu pai.

Sydney pareceu triste.

– Você vai ao acampamento? Eu nunca a vi lá.

– Você é nova. – respondi. – Quanto tempo ficou fora? – perguntei.

– Dois anos. – falou.

– Eu descobri há dois anos sobre minha mãe. Por isso não me via lá. – falei. Ela assentiu com um novo sorriso.

– Por favor, não conte para o Adrian. – implorou. Eu assenti.

– Não vou. Isso não é assunto meu. – falei. – Mas você vai contar. Adrian não é como os outros. Ele vai aceitar sua família.

Ela sorriu.

– E parece que você também é minha família. – falou. – Quando eu cheguei ao acampamento tinham me falado de uma nova irmã cigana, mas não tinham me dado certeza de seu nome.

– Eu pedi para que a Sonya escondesse. – falei. Seus olhos brilharam.

– Você conhece a minha madrinha? – perguntou.

– Ela é a minha prima, Sydney. – falei.

– Então você é mesmo da minha família. – murmurou. Depois seus olhos passaram para os meus. – Eu ajudo família. O que você deseja? – eu respirei fundo.

– Quero que você encontre duas pessoas. Eles não têm registro em lugar nenhum e é um caso de vida ou morte. – ela se assustou um pouco com a intensidade que eu falei, mas logo suavizou sua expressão. Pegou um guardanapo e depois remexeu sua bolsa.

– Escreva-os aqui junto ao seu telefone. Eu prometo ajuda-la.

Eu assenti sorrindo. Peguei a caneta e escrevi no guardanapo tudo que ela queria saber, depois devolvi os dois para a própria, que me encarava pensativa.

– Obrigada.

– Tudo bem. – falou. – Só não conte para o Adrian sobre... – ela hesitou. – Nós.

– Sem problemas. É você quem deve contar.

Eu me levantei ainda com a cerveja na mão e ela fez o mesmo. Caminhamos em silencio até o final do bar e eu sentei no lugar ao lado de Dimitri. Ele passou o braço por meu ombro tentando disfarçar uma carranca, mas eu não me importei, só bebi a cerveja em goles longos.

– Vejo que foi generosa conosco mandando uma rodada de bebida, Hathaway. – disse Eddie.

– Agradeça ao Mikhail. – murmurei me afundando na cadeira. Dimitri ainda me encarava, mas sem deixar que percebessem. Estávamos na ponta da mesa, o que nos deu um pouco de privacidade quando todos os outros começaram uma conversa em meio a tanta bebida. Eu ainda segurava a cerveja.

– O que a Sonya te falou hoje? – perguntou para que só eu ouvisse. Eu fitei-o.

– Nada demais. – sussurrei. Ele sorriu.

– Você mente mal.

– Não mais que você. – rebati. Em pensar que eu tinha salvado ele da morte depois de tudo o que houve. Eu ainda me sentia mal perto dele. Sabendo que eu podia morrer por um atentado a qualquer minuto. Que eu era a caça agora.

– Rose eu faria qualquer coisa para manter você feliz. O que eu faço para consegui isso? – sussurrou. Seus olhos me aqueciam.

– Fique vivo. – falei. Seus olhos brilharam. – Me prometa que não vai deixar nada acontecer com a Lissa, nem o Adrian, nem meu irmão. – ele me encarou assustado.

– Por que... – eu o interrompi.

– Prometa. – exigi. Ele assentiu relutante.

– Eu prometo. – eu deixei meu corpo ficar calmo novamente.

– Por que tudo isso? – perguntou aos sussurros.

– Só garantindo. – murmurei. Levantei, me desvencilhando de seus braços e deixei a cerveja na mesa, indo em direção ao bar.

A noite ia ser cheia.

Depois de um tempo já estavam todos já estavam indo embora. Lissa não deixou Cristian dirigir, e me avisou que não ia dormir em casa hoje. Ela levou Mason e Eddie para casa e me deixou sozinha com Dimitri. Eu tinha ganhado um olhar de te ligo de Sydney e agradeci por só eu vê-lo.

O carro estava silencioso e quando Dimitri parou o carro no portão da minha casa eu pedi para que um dos seguranças o abrisse. Ele continuou andando com o carro até a minha porta e eu tirei o cinto já sentindo minha cabeça pesar. Ele pareceu não perceber e foi ai que eu me toquei, eu não sabia se ele estava sóbrio o suficiente.

– Você bebeu? – perguntei ao encará-lo. Ele revirou os olhos.

– Não. – falou. – Com você eu tenho que ser responsável.

– Então eu bebi por nós dois. – murmurei. Ela sorriu, também tirando o cinto.

O silencio permaneceu por algum tempo.

– Eu não consigo acreditar. – murmurei. Ele me olhou.

– Em que? – perguntou.

– Em tudo. – confessei. Ele deixou seus olhos ficarem vazios e eu ainda encarava o começo do gramado do meu jardim à minha frente. Tudo escuro por causa da falta de luz externa.

– Você acreditou da primeira vez? – perguntou. Eu mordi a minha boca. – Acreditou em mim na cabana?

– Se eu morresse, o que aconteceria com você? – perguntei mudando o assunto. Ele se virou para mim espantado com a pergunta, mas eu só encarava o que tinha a minha frente.

– Como assim? Nunca cogite isso. Eu te busco no inferno Rose, mas você não vai ficar longe de mim.

– Inferno? – perguntei sorrindo. Virei-me para ele por alguns segundos. Ele tinha a expressão mais calma. – Se eu sou uma garota impura foi culpa sua e daquela cabana.

– E você gostou. – eu gargalhei.

– É. – falei. – Mas eu não vou poder casar de branco.

– Ninguém precisa saber. – falou. Eu sorri.

– E a minha consciência pesada? Onde fica? – perguntei. Ele me lançou um sorriso lindo.

– Você tem consciência? – perguntou. – Eu não sabia.

Eu sorri. Respirei fundo e voltei ao silencio anterior, encarando o nada. Ele estava me encarando. Seus olhos me faziam ficar quente.

– Se você morresse, eu morreria junto. – sua voz rouca e sexy quebrou o silencio. Eu me permiti sorri.

– Que feio, Belikov. – eu disse ainda sem encará-lo. – Tentando diminuir a população de Montana.

– Nós podemos aumenta-la se você quiser. – eu o encarei. Ele tinha seu rosto sério enquanto me encarava.

Eu fiquei em silencio por alguns minutos o encarando. Eu tinha vontade de beijá-lo e leva-lo para meu quarto, mas eu não podia. Não de novo.

– Até amanha, Dimitri. – falei relutante. Ele apenas sorriu decepcionado e sem resposta.

– Boa noite, Roza. – eu revirei os olhos e ele sorriu me puxando pela nuca para ele. – Algumas coisas nunca mudam. – sussurrou antes de me beijar. Não foi algo longo, nem curto. Foi o suficiente para me fazer ficar mais quente do que eu já estava.

– Isso foi fingimento? – perguntei ainda procurando meu ar.

Ele encostou a testa na minha.

– Nunca é fingimento.

Eu sorri e me afastei dele abrindo a porta do carro. Eu não falei mais nada depois do beijo, só tentei ignorar e entrar em casa. Subi as escadas e pude constatar a casa silenciosa.

Amanha seria pior. – pensei.

Era dia de compras.

No dia seguinte, eu coloquei um jeans e uma blusa branca. Peguei meu casaco e desci as escadas indo direto para a comida do café. Eu precisaria de uns remédios para dor de cabeça também, então não me importei de toma-los no caminho para o shopping. Lissa tinha chegado a tempo de tomar um banho, já que tinha tomado café com Cristian.

Minha mãe tinha em seu corpo um vestido longo perfeito para exibir sua barriga que com cinco meses já se mostrava enorme. Eu sorri por isso. Depois de chegarmos ao shopping, eu fui obrigada a entrar em todas as lojas de bebê que tinha.

O motorista já não tinha mais braço para tanta roupinha. Nunca vi a dona Janine tão empolgada com algo, ou pior, nunca vi Lissa tão empolgada com algo. Era horrível ser a única que não gostava de nada aquilo ali. Não pude ver nada para mim, e nem ao menos pensar. Não aguentava mais ver roupinhas azuis na minha frente.

Lissa me puxou para um quiosque de perfume no shopping e eu dei graças a Deus que não tinha para bebes, ao contrário da minha mãe que pedia para a funcionária conferir no estoque. Eu apenas ria disso tudo.

E foi ai que aconteceu.

Eu peguei um pequeno frasco tentando ler o nome e a discussão entre a minha mãe e Lissa sobre qual perfume era o melhor me fez coloca-lo na frente do meu peito, para só então ele se espatifar na minha mão.

Já tentava organizar uma desculpa para a vendedora, mas não era preciso, já que ela estava abaixada junto a minha mãe com Lissa ao seu encalço e eu era a única em pé, quando todos corriam. Senti algo passando próximo e só então outros perfumes quebrarem ainda na prateleira do quiosque. Eram tiros. Estavam atirando e não era um assalto. Era um atentado. Aqueles tiros eram para mim e eu fui salva pela droga de um perfume.

Abaixei-me perto de Lissa e da mãe que conferiu cada pedaço meu. Até parar na minha mão cortada com o vidro do perfume. Lissa olhou-me espantada, enquanto a policia invadia o shopping. Os tiros tinham cessado e agora minha mão doía pelo corte. Eu respirei tentando absorver cada informação.

– Vocês estão bem? – perguntei. Elas assentiram

– Sua mão, Rose. – falou minha mãe. – Vamos agora para o hospital.

– Não. – falei. – Eu estou bem.

– Mas Rose... – eu interrompi Lissa.

– Vamos para casa. – disse por fim. Eu não podia arriscá-las mais.

Assim que cheguei em casa, minha mãe se espantou com a quantidade de carros. Meu pai tinha convocado mais seguranças para a casa e a policia, e depois de um abraço longo na minha mãe ele olhou para a minha mão em um pano branco, agora vermelho, com meu sangue. Ele arregalou os olhos.

– Mas o que houve? – perguntou.

– O tiro que deram no shopping foi direto para o vidro de perfume que a Rose segurava. – explicou Lissa. Meu pai ficou pálido.

– O perfume me salvou. – falei. Ele me apertou em seus braços por um longo tempo até eu escutar meu nome em uma voz extremamente sexy e preocupada.

Olhei entre a movimentação da minha casa e observei Dimitri vindo à minha direção, com Cristian logo atrás dele. Eu saí de onde eu estava e algo não planejado aconteceu. Eu corri para os seus braços jogando o pano em algum lugar pelo caminho. Não me importei de sujar sua blusa com meu sangue já que era preta.

Ele me apertou mais forte do que o normal e eu amei estar em seus braços. Foi uma sensação maravilhosa levando em consideração o que eu tinha acabado de passar. Sonya estava certa, estavam tentando me matar. Eu só tinha que descobrir quem era.

– Você está bem? – perguntou assim que sai de seu abraço. Ele me analisou por inteira.

– Vaso ruim não quebra, Dimitri. – disse Cristian. Eu revirei os olhos.

– Fica quieto, Ozera. – falei. – Choraria feito uma moça se aquele tiro me pegasse em cheio.

– Tiro? – perguntou Dimitri.

– Eu te explico. – disse meu pai se desvencilhando da minha mãe, que parecia cansada e angustiada. – Venha você também, Ozera.

E eles foram.

Eu subi com Lissa e tomei um banho bem demorado. Troquei minha roupa para um short jeans e uma regata vermelha. Deixei meus cabelos soltos e molhados e desci para a cozinha. Minha casa tinha policiais e seguranças do meu pai monitorando absolutamente tudo. Ele, Dimitri e Cristian ainda estavam no escritório com alguns desses seguranças.

Fui até a cozinha esperando encontrar Lissa, mas só vi Alberta. Ela olhou para minha mão e saiu da cozinha me mandando sentar na cadeira, eu o fiz. Quando ela voltou limpou minha mão e colocou um curativo. Não tinha sido um corte fundo, mas tinha um machucado bem feio. Ela sorriu para mim.

– Eu já volto. Preciso ver se sua mãe está bem. – eu assenti.

Também tinha ficado preocupada com ela e com meu irmão. A ideia de proteger quem eu amo só se reforçou. Em pensar na sorte que eu tive...

– Com licença. – disse um policial. Ele era moreno e com os olhos pretos. Eu sorri autorizando-o a entrar na cozinha. – Achamos algo que poderia ser seu, Srtª. Mazur.

– O que? – perguntei. Não me lembro de ter deixado nada cair.

– Isso. – ele tirou um anel de seu bolso e eu o peguei, reconhecendo de imediato o brasão ali contido. Era o brasão dos Zeklos. Eu me levantei da cadeira em um pulo.

– É seu, não? – perguntou. Eu fitei-o.

– É. – menti. – Aonde o achou? – perguntei.

– Na verdade, meu colega achou. – falou. – A Srtª. Dragomir disse que vocês rodaram o shopping, bem provável ter caído aonde possivelmente atiraram.

Eu assenti forçando um sorriso.

– Se você me der licença, policial. – falei. – Tenho que achar meu noivo, ele ficou abalado com tudo isso. – ele assentiu.

– Claro. – eu não esperei dizer mais nada, apenas fiz o que tinha acabado e falar.

Cheguei à sala e olhei para Dimitri no meio dos seguranças com meu pai ao seu lado. Esperei que ele me olhasse e fui até o escritório. Agradeci por estar vazio.

Logo, escutei quando a porta atrás de mim bateu. Quando virei-me, Dimitri me encarava.

– O que houve? – perguntou.

– Um policial veio me entregar isso. – eu estendi o anel para Dimitri que encarou ainda tentando entender.

– É um anel comum, Rose. – falou. Eu revirei os olhos.

– Não, não é um anel comum. – falei. – É o anel com o brasão dos Zeklos. – Dimitri me encarou surpreso.

– Como você sabe?

– Porque esse anel com o brasão e com as palavras gravadas por dentro em latim, estavam na mesa de cabeceira do quarto do Jesse. – agora Dimitri me encarou com raiva.

– O que você estava fazendo no quarto do Jesse? – perguntou. Eu rolei os olhos.

– Essa camarada, é uma péssima hora para querer saber se mais alguém além de nós dois, viu a cor da minha calcinha. – ele engoliu a seco desconfortável. Eu estava nitidamente irritada e nervosa e ele pareceu perceber.

– Rose... Você tem ideia do que está acusando? – perguntou. – Isso muda tudo. Isso muda o jogo.

– Eu sei. – disse. Meu coração apertou. – Na verdade, eu já sabia. – ele me olhou confuso. – A Sonya me alertou de algumas coisas que eu ainda não posso te falar, mas que vão nos dar vantagem na procura pela irmã ou irmão desaparecido da Lissa. – sussurrei.

– E o que seria? – eu o encarei. – Rose para de esconder o jogo.

Eu respirei fundo por alguns instantes.

– Sonya disse que o acidente, não foi fatalidade. O acidente que quase me matou, foi proposital. Tudo foi. O acidente que matou os Dragomir foi planejado. Era para eliminar qualquer possível herdeiro. E você era para estar no carro, não eu. Muito menos a Lissa. O acidente era para você e André. – ele me encarava com a boca aberta e confusa. E então seus olhos voltaram aos meus com mais força.

– Você me salvou. – sussurrou ainda confuso. Eu me senti tensa.

– Eu aceito recompensas. – falei irônica. Ele revirou os olhos e voltou-se para o anel. – Tem outra coisa. – murmurei. Ele voltou a me olhar.

– O que?

– Quando a Lissa passou tudo para o meu pai e eu acordei do coma, tudo passou para mim por questão de lógica. Eu sou a herdeira mais forte por aqui. Até mesmo que você. – ele levantou o cenho. – Por isso você foi descartado, Dimitri. Eu sou a caça agora.

– Então, aquele atentado no shopping... – ele se interrompeu deduzindo o obvio. Sua expressão ficou vazia e eu assenti.

– Estão tentando me matar e não vão parar até conseguirem. – ele ainda tinha uma expressão vazia. – E com esse anel, eu descobri quem está tentando.

– Tasha e Jesse. – deduziu. Eu assenti.

A raiva subiu por meu corpo causando uma estranha reação e eu o olhei. Ele se assustou com o meu olhar, mas não desviou dele.

– Já chega Dimitri. – falei. – Ela mexeu com o André, com a Lissa, com a minha família. Ela quase fez minha mãe perder meu irmão hoje. – eu recuperei o folego por um momento. – Ela quer me matar? Ótimo. Quer jogar sujo? Melhor ainda. Mas ela nunca mais vai encostar nas pessoas que eu amo. Se ela quer brincar de vivo ou morto achou alguém à altura. – eu hesitei por alguns segundos. – Eu sei ser uma garota má.


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Notas finais do capítulo

Comentem e me digam o que acharam!
BJS