A Proposta escrita por Larissa Carvalho


Capítulo 6
Haunted


Notas iniciais do capítulo

Galera, me perdoem pela demora, estava bem ocupada.
Segue o que houve na cabana para aqueles que estão curiosos.
E eu quero agradecer a quem está comentando, favoritando e acompanhando.
Desculpem qualquer erro!
Esse é o último capitulo lento, a partir do próximo vou colocar a ação e suspense que vocês tanto gostam.

Haunted - Beyoncé



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Um ano antes...

Eu saltei do carro dos meus pais e corri até a casa de Olena. Lissa tinha me ligado aos prantos e eu não tinha entendido nada. Alberta topou me levar na casa de Vikka para buscar Lissa, mas Olena mandou que ela voltasse, pois eu e Lissa dormiríamos ali. Já que Dimitri e André não estavam.

Eu corri até Lissa sentada em um banquinho no jardim de Olena com Vikka ao seu lado, confortando-a. Ela tinha o rosto inchado e eu respirei fundo já querendo bater em quem tinha feito algo para a Lissa. Eu pensei em Cristian Ozera automaticamente. Eles estavam saindo há duas semanas, não era nada sério. Mas eu nunca gostei dele, só pelo fato de ser irmão da Vacatasha.

Ok. Todos foram criados juntos e com nossas famílias felizes. O Dimitri e o André eram inseparáveis assim como eu e Lissa. Nossos pais eram sócios. Por mais que eu vivesse na casa de Lissa e convivesse mais com Dimitri do que o normal, eu o odiava. Se a Tasha não fosse uma vaca pra mim eu daria um abraço nela, por ter partido seu coração. Até porque eu passei minha infância tentando partir a cara dele e não consegui, ela teve mais sucesso.

Eu até gostava do André. Ele era como eu irmão mais velho que eu não tinha. Até mesmo quando ele inventou aquelas coisas, ruins da Mia Rinaldi, eu não o julguei nem deixei de amá-lo. Ele era parte da minha família, assim como o babaca do Belikov. E falando da Vikka. Ela era perfeita. Apesar de ter um irmão insuportavelmente gostoso, ela e a Olena eram maravilhosas. Era o único motivo para eu frequentar esse lugar.

Eu cheguei perto de Lissa e ela levantou a cabeça junto a Vikka para olhar melhor para mim. Estava quase anoitecendo e eu tinha uma apresentação no dia seguinte. Eu me xinguei por não estar praticando. Pelo contrário, eu estava imaginando Cristian sendo atropelado por um caminhão.

– Rose. – murmurou. Depois ela correu até mim e me abraçou. Senti suas lágrimas no meu ombro.

– O que houve? – perguntei. Ela se afastou o suficiente para que eu a visse fungar.

– O Oscar. Ele fugiu para a floresta e não voltou ainda. – ela chorou novamente. Dessa vez Vikka já estava com a mão em seu ombro e eu levantei o cenho.

Serio? Eu corri por isso? Por esse gato estupido?

– Ele vai voltar. – foi tudo que eu disse. Ela me olhou. Quando ia abrir a boca para continuar chorando, seus olhos mudaram para trás de mim. E ai eu escutei um barulho de porta sendo fechada. Porta de carro.

– André. – gritou Lissa enquanto corria até o irmão. Eu corri seu percurso com meus olhos e agora Vikka estava ao meu lado enquanto eu fazia carranca.

Dimitri estava descendo do carro.

Eu suspirei pesadamente. Ele fez o mesmo quando me viu.

– Calma Lissa, nós vamos encontra-lo. – sussurrou André. Ele sorriu para mim em meio aos cabelos de Lissa no seu rosto. Eu sorri de volta.

– Eu posso tentar acha-lo. – falei depois de alguns minutos de silencio e o choro de Lissa. Todos olharam para mim. – Eu conheço essa floresta muito bem. Já fiquei perdida tantas vezes quando era pequena que conheço cada pedacinho.

Vikka sorriu. Lissa deixou o brilho aparecer nos seus olhos.

– Eu vou com você. – disse Lissa. Ela largou André e foi sua vez de receber o olhar de todos.

– De jeito nenhum. – gritei. – Você nesse estado vai piorar o meu humor de entrar naquela floresta, Vasilisa. Você vai sentar sua bunda real naquele banquinho e eu vou procurar por esse gato e me lembrar de dar uma coleira com GPS de presente.

Ela me olhou chorosa e eu senti por ter alterado a minha voz. Mas não me desculpei só a olhei do modo que dizia para ela fazer o que eu tinha mandado. Ela assentiu devagar e eu recebi um olhar agradecido de André.

– Eu vou junto. – disse Vikka. Eu a fitei por alguns instantes.

– Não. – falei. Ela fez carranca. E Dimitri pigarreou.

– Por mais que eu queira que você encontre um buraco ou uma areia movediça e morra por ali, eu não posso deixar um corpo na minha propriedade. Você viva já é uma merda, imagina você fantasma. Não seria uma experiência legal, Hathaway. – eu revirei os olhos. Aquele ódio que eu sentia dele tinha sido duplicado naquele desabafo.

– O que você sugere? – perguntei com desdém.

– Que eu vá com você e André com a Vikka. Assim ninguém se perde e vocês ficam seguras. – ele estava com aquele sorriso cafajeste.

– Você não precisa ir com ele se não quiser Rose. – disse André.

Meu coração estava acelerado de raiva. Ele achava que eu não era capaz de me cuidar sozinha? Que atrevimento. Fui eu a responsável por tirar ele do lado da casa dos meus pais enquanto ele estava se afogando e tudo graças à droga da minha consciência pesada.

Aprendi a lição quanto a não empurrar alguém que não saiba nadar em um lago.

– Não tenho medo dele, André. Eu vou com ele. – falei ríspida. Ganhei um sorriso desconfortável ao invés de uma resposta.

– Vou pedir lanterna para a mamãe. Já vai escurecer. – Vikka saiu em disparada para a casa deixando um clima pesado e olhares de fuzilamento entre mim e Dimitri.

Depois de algum tempo já estávamos entrando na floresta. Eu e Dimitri iriamos na direção que explorava mais a floresta e André e Vikka iriam só para as partes que tinham uma saída obvia.

Cada um de nós tinha uma lanterna em mãos, há essa hora já estava escuro e nós escutávamos apenas os gritos um do outro, com a leve esperança de Oscar reconhecer a voz de um de nós. O pensamento de que se Lissa estivesse aqui e gritasse o nome dele, como nós estávamos fazendo, me passou pela cabeça e eu constatei que ele viria. Gritar o nome dele é inútil. Ele nunca gostou de mim. O sentimento era recíproco.

Eu continuei pisando firme na terra enlameada e desviando de alguns galhos. Mais a raiva foi tanta que eu nem prestei atenção e pisei em um buraco. Belikov idiota! Ele estava certo sobre eu me machucar e ser frágil. Deixei o grito percorrer todo o lugar. Quem sabe alguém tinha se assustado. Até mesmo o Oscar. Mas a dor era insuportável. Deixei-me cair no chão de terra, mal me importando com a lama na minha calça jeans.

Tirei meu tênis e comprovei o quão rápido o meu pé estava inchando.

– Rose? – gritou Dimitri. Ele me viu um pouco de longe e quando eu não respondi por causa da cara de dor, ele correu até mim, largando a lanterna ao meu lado.

– Você está bem? – perguntou. Eu balancei a cabeça para os lados negativamente.

– Ta doendo. – gemi. Ele pegou meu pé e apertou. Eu gritei.

– Ta inchando rápido demais. – constatou. Eu rolei os olhos.

– Jura gênio? – perguntei com ironia. Ele levantou pegando uma das lanternas e olhando em volta.

Estava escuro, frio e ventando. O que eu pude constatar, era que se depois viesse à chuva e se eu estivesse bem para correr, eu ficaria realmente mais tranquila. Porem, eu estava com o pé doendo, jogada na terra, no meio de uma floresta com Dimitri, o cara que eu mais odeio na face da terra e que pode me abandonar ali, para compensar todo o mal que eu fiz para ele na nossa infância.

Será que eu faria isso por ele? Será que eu o deixaria?

Então ele me olhou e avaliou a minha situação.

– Não podemos achar o Oscar assim. Não vamos conseguir voltar com você e esse pé, e se conseguirmos vai chover e não recomendo que fiquemos aqui com essa lama toda e com chuva.

– Já pensou na possibilidade de me deixar aqui? – ele voltou seus olhos para os meus de um modo assustado. Eu continuei a encará-lo.

– Não. Isso nem ao menos passou pela minha cabeça, Hathaway.

Eu arfei. É claro que tinha passado.

– Eu nunca faria tal coisa. – falou. Ele se agachou ao meu lado e colocou nossas lanternas em meu colo, logo em seguida me pegando em seus braços. A sensação era boa. Por mais que eu a odiasse.

– O que você vai fazer? Me carregar até a sua casa? Estamos no pior lado Dimitri, você vai morrer enquanto me carrega.

– Não vamos para a minha casa, Rose. – eu coloquei as mãos em volta do seu pescoço e ele sorriu para mim. – Vamos para outro lugar.

Eu não disse mais nada. Ele continuou sério enquanto caminhava comigo em seus braços. As lanternas quase caíram do meu colo, mas eu consegui equilibra-las para me ajudarem nessa situação ao invés de me atrapalhar. Já era ruim estar ali nos braços dele.

Depois de um tempo nós chegamos á uma área com poucas árvores e logo depois eu avistei uma casa... Uma cabana.

Eu sorri. Era o lugar que Olena tanto contava suas histórias e falava que era aonde ninguém nunca conseguia chegar. Ela contava para que nós nunca entrássemos na floresta. Mas eu sempre ia. E pelo visto, Dimitri também. Algo em mim, também se arrepiou, mas por incrível que parecesse, eu confiava nele.

Ele abriu a porta com o pé e me pôs em cima da grande cama que tinha li dentro. Os lençóis estavam novos e tudo tinha um cheiro bom. Tinha uma pequena cozinha e uma mesa com três cadeiras de madeira. Eu sorri e só então notei que Dimitri já tinha fechado a porta e que não estava na minha frente como antes. Assim, que ele voltou com gelo eu sorri ao ver o alivio que foi na minha dor.

Ele abriu a porta quando meu gelo já tinha quase acabado. Eu coloquei o que tinha restado do pano com gelo no criado mudo perto da cama e mexi meu pé devagar. Eu sorri quando senti apenas um incomodo.

– Eu consegui sinal para falar com o André. – ele se sentou na beira da cama, o mais longe possível de mim. – Parece que eles acharam o Oscar. – eu respirei aliviada sabendo que Lissa estava bem.

– E a chuva? – perguntei.

– Esta chuviscando Rose. Não vamos conseguir voltar hoje.

Ele percebeu o quanto eu fiquei nervosa. Nunca tinha ficado mais de uma hora perto dele, só nós dois. E eu não gostava de sua presença assim como ele também não gostava da minha. Ele pegou minhas mãos e sorriu de forma acolhedora. Eu intercalei meu olhar entre ele e sua mão na minha.

– É melhor tentarmos um tratado de paz hoje.

Eu gargalhei.

– Tudo bem. – respondi. Mas logo ele se levantou e tirou suas mãos de cima da minha. Eu mordi a boca com a falta do seu calor.

– Vou tentar ver se tem alguma coisa pra gente comer. – então ele foi para a cozinha.

Demorou algum tempo, mas logo já estava no meu segundo prato de macarrão. Ele já tinha comido e me olhava curioso. Eu parei de mastigar e finalmente o encarei.

– O que foi? – perguntei. Ele sorriu.

– Gosto de ver você comer. – falou. Eu hesitei antes de sorrir.

– Um cara normal ia gostar de me ver tirando a roupa. – rebati. Ele gargalhou.

– Então eu sou um cara normal. – ele se debruçou sobre o seu prato de comida vazio. E me olhou nos olhos como nunca antes. Eu me senti quente.

– Vai ficar me vendo comer desse jeito? – perguntei atônita.

– Vou. – respondeu com seu sorriso cafajeste.

– Então perdi a fome. – eu empurrei o prato para o meio da mesa e me joguei na cadeira. Observei meu pé em cima de outra cadeira com a faixa que Dimitri tinha posto e cruzei os braços na frente do peito.

– Eu vou te ajudar a ir para a cama. Você deve estar cansada. – ele se levantou e antes que eu pudesse responder ou manda-lo ao inferno eu já estava nos braços dele novamente.

Ele me pôs na cama com cuidado e logo em seguida sentou na minha frente para ajeitar meu pé machucado à almofada. Ele tinha tanto cuidado que pareceu que eu era de porcelana.

Eu observei por um tempo enquanto ele verificava a faixa, se ela estava apertada ou boa para eu aguentar. Ele estava realmente preocupado com meu pé.

E foi ai que eu não resisti.

Eu o puxei pelo colarinho e fitei-o. Ele tinha sido pego de surpresa, eu também. Seus olhos me encararam com intensidade.

– O que você está fazendo? – perguntou aos sussurros.

– Não sei. – murmurei próxima à sua boca. – Eu só... – me interrompi para consegui respirar. Dimitri nunca tinha me deixado com essa sensação. Ele nunca tinha me feito pensar nele de outra forma.

– Não fala nada. – murmurou. Foi rápido demais. Ele me beijou.

Puxou-me pela nuca e me beijou.

Eu nunca imaginei beijar Dimitri Belikov na minha vida. Mas lá estava eu. Beijando-o. Com uma sensação de eletricidade passando entre nós. Sentindo suas mãos na minha cintura. Eu já tinha esquecido a dor do meu pé a essa altura. Só me restava aquele calor que eu estava sentindo. Só me restava ele.

Eu interrompi nosso beijo. Ele colou sua testa na minha e eu lhe dei um pequeno sorriso. Ele também estava sorrindo. Mais não era aquele sorriso cafajeste que me deixava irritada. Era um sorriso que eu só vi quando eu dividi minha rosquinha com ele uma vez quando tínhamos sete anos.

E foi aí que eu percebi. Eu estava completamente apaixonada por Dimitri Belikov durante todos esses anos e achei que tudo o que eu tinha por ele era ódio, quando na verdade era amor e a vontade de tê-lo para mim.

– Eu não acredito que fiz isso. – murmurei. Nossas testas ainda estavam coladas uma na outra. Ele sorriu.

– Eu não acredito que um de nós cedeu. – eu corei. E depois afastei meu rosto para olhar o seu.

– Para onde foi aquele ódio? – perguntei. Ele levou a mão ao meu cabelo desgrenhado.

– Às vezes o ódio é mais fácil. – murmurou. – Mas eu acho que eu nunca te odiei. Só precisei de um beijo para ver isso. – ele sorriu. – Você me despertou.

– Eu digo o mesmo.

– E o que fazemos agora? – perguntou. Eu fitei-o.

– O que você faria em uma cabana com alguém como eu? – provoquei-o, lhe dando o meu sorriso matador de homens.

– Tudo.

– Sabia que diria isso.

Ele passou as mãos pelos meus cabelos e sussurrou em meu ouvido para que só eu ouvisse:

– Roza...

Depois disso eu não resistir e o beijei como nunca tinha beijado ninguém antes. Suas mãos estavam arrancando minha blusa agora e eu lutava contra os botões da sua camisa branca. Nunca odiei tanto essas blusas.

Eu estava apenas de sutiã quando tirei meus pés da almofada e me percebi em cima dele. Nós dois sorrimos e ele me beijou. Aquilo era o que eu precisava. A cada peça que ele tirava, ou a cada vez que ele beijava meu pescoço, ou minha barriga nua, eu só pedia por mais. Era assim que eu o queria. Era assim que sempre quisemos um ao outro.

Quando nossas roupas saíram, nós nos olhamos e soubemos, não tinha volta. Não tinha nada que pudesse nos impedir de seguir em frente com aquilo. Eu amei pela primeira vez em uma cabana no meio de uma floresta, no meio da casa dele e eu não me importei com o que estava certo ou errado. Nós queríamos.

Ele beijou meu corpo, beijou minha boca e minha alma. Ele usou seus braços quentes para me aquecerem enquanto a chuva caía lá fora e a cada palavra sussurrada naquela noite eu soube que eu tinha escolhido certo, mesmo naquelas circunstancias.

Eu sempre odiei esse homem e bastou um toque para perceber que eu o queria na minha vida em todas as formas. Eu o queria para mim. Eu o tinha para mim. E eu não ia perder isso.

Quando acabamos, ambos estavam sorrindo e ele não perdeu tempo de me manter nem um minuto longe. Ele me apertou tanto que eu mal conseguia respirar meu próprio ar. O lençol cobria apenas algumas partes de nós. Ficamos em silencio por um tempo escutando o barulho da chuva. Ele fazia pequenos círculos no meu braço com o dedão e eu acariciava seu peito. Ele beijou minha cabeça e eu olhei para ele, levantando minha cabeça para ele.

– Eu era pra ter feito isso há mais tempo. – sussurrou. – Não perco mais um segundo longe de você, Hathaway. – eu sorri.

– Nem eu, camarada. – ele sorriu e me puxou para um beijo.

– Acho que eu me apaixonei por você, quando você me tirou daquele lago. – sussurrou.

– Acho que eu me apaixonei por você quando eu te joguei nele. – eu hesitei, mas depois voltei a falar. – Você disse coisa demais antes de eu tomar aquela atitude. – eu suspirei. – Você disse coisa suficiente.

Ele gargalhou.

– Acho que te amo, Roza. – eu sorri ao ouvi o novo apelido. E o puxei para um beijo mais demorado.

E foi assim que passamos a noite. Nós não dormirmos.

No dia seguinte, Dimitri e eu colocamos as roupas, mas não conseguimos isso muito facilmente. Eu queria voltar para aquela cama e parece que ele também. Mas tínhamos uma realidade fora dali. Olena devia estar furiosa e eu garanto que no seu lugar também estaria.

Voltamos de mãos dadas até certa parte da floresta. Meu pé estava bem melhor, mas ele não arriscou e me pegou no colo umas duas vezes, durante uma boa parte do caminho. O que me aliviou muito. Eu estava dolorida e cansada também, o que me fez quase dormir nos seus braços.

Escutei a voz de André e me despertei. Eu tinha cochilado nos braços de Dimitri. Ele tinha me carregado e mal parecia cansado. Eu apertei meus braços em volta do seu pescoço e ele me passou para o colo de André. Ele também era forte, mas o suficiente para me aguentar até o quarto de Vikka. Eu estava sonolenta e percebi Dimitri se sentir culpado por isso. Eu sorri para ele quando André me ajeitou em seu colo e eu desabei com cabeça em seu pescoço.

– Acho melhor ir ao seu quarto. – falou André. Ele tinha os olhos esbugalhados e eu olhei para Dimitri. O próprio assentiu e me deu um último olhar, antes de André sair em disparada para a casa dos Belikov.

Depois que André me colocou na cama da Vikka eu não me lembro exatamente o que aconteceu, mas me lembro de ver a hora no radio relógio na escrivaninha.

Acordei com um baque. Abri os olhos assustada e quando me sentei olhei para meu pé com uma nova faixa. Eu tentei mexe-lo e já estava quase bom. Eu sorri por isso. Olhei para o rádio relógio e revirei os olhos por dormir por uma hora inteira.

Eu estava quase conformada quando escutei outro grito, mas não consegui identificar de quem eram. Levantei-me completamente e fui até a porta, abrindo-a devagar. Depois de esperar o silencio eu fui andando até o corredor. Senti o cheiro da comida, e era de Olena.

Fui em direção ao quarto do final do corredor. Era de Dimitri. Eu andei devagar e estranhei os gritos e então o silencio de repente. Depois minha mente procurou até a última frase que ouvi André dizer antes que eu apagasse – Acho melhor ir ao seu quarto – eu engoli a seco. Então, eu empurrei a porta e morri.

Abri minha boca na intenção de deixar um soluço escapar, mas não veio nada além de raiva e ressentimento. Ele tinha dito as palavras, ele tinha dito que – Achava que me amava – ele não pode fazer isso. Ele não pode me usar e jogar fora assim.

Eu tentei correr dali, mas quando eu dei um passo para trás algo caiu quando esbarrei com meu cotovelo. Os dois olharam para mim. Natasha apenas sorriu. Ela estava apenas com sua roupa intima, enquanto Dimitri tinha sua blusa jogada em alguma parte do quarto. Ele a empurrou e por um momento rápido que acreditei ter visto desespero nos seus olhos.

Eu estava indefesa demais naquele momento. Eles tinham me surpreendido. Ela estava na cama com ele. Beijando-o. Ele estava correspondendo com a mão em sua cintura.

Eu finalmente deixei as lágrimas caírem e não consegui fazer nada além de correr. Meu pé reclamando era a menor das minhas preocupações.

Ele tinha me usado.

Eu não era para ter acreditado nele. Nunca nele. Como eu fui estupida e como eu sou uma idiota de primeira. Eu não era para ter escutado ninguém além do meu ódio.

Senti uma mão no meu braço antes que eu descesse a escada e o cheiro dele. Dimitri me virou com seus olhos assustados. Ele olhou para as minhas lágrimas visíveis e afrouxou um pouco seu aperto ainda me encarando.

– Roza... – eu o interrompi.

– Nunca mais me chame assim. – cuspi. Me desvencilhei de seu aperto. – Perdeu o direito de até mesmo olhar para mim ou lembrar-me daquela noite.

– Rose me deixa explicar. – ele não conseguiu nem chegar perto de mim dessa vez.

– Eu morri pra você, Dimitri. – falei. – Vai embora. Vá com ela. – apontei para o fim do corredor onde Natasha ainda estava de sutiã. Ele a fitou depois se voltou para mim. – Você fez sua escolha.

Ele segurou meu braço quando eu tentei descer as escadas e eu o olhei mais uma vez.

– Se é para escolher, eu escolho você. Rose, por favor. – implorou. Eu o olhei com raiva.

– Vai para o inferno– falei antes de voltar-me para as escadas e correr dali.

Eu saí definitivamente dali.

Um ano depois...

Eu respirei fundo antes de dar o próximo passo. Eu sabia que só Dimitri poderia me achar ali e quando abri a porta da cabana eu não me importei.

Olhei em volta e finalmente para a cama. Fui até ela e sentei-me, passei as mãos pelo lençol e percebi ser diferente do daquela noite. Aquelas memórias quase nunca vinham à tona, mas não me deixavam mais com medo como antes.

Foi horrível ir embora. Mais foi pior ainda olhá-lo enquanto passava a mão nela ao invés de mim. Eu queria tanto que aquilo não fosse verdade. Eu queria não ter que me lembrar da melhor noite da minha vida e depois pensar que Dimitri escolheu ela.

O beijo que eu vi foi suficiente para que eu soubesse o que tinha realmente acontecido na noite anterior. Não tinha acontecido nada.

Senti passos e olhei para a minha frente. Era Dimitri. Ele estava ali parado me encarando não sei há quanto tempo. Consegui ver o sangue no canto da sua boca e senti uma pontada de preocupação por ele. Era minha culpa, ele ter levado aquele soco.

– Está ai há quanto tempo? – perguntei. Ele continuou sério e com os braços cruzado perto do peito.

– Têm uns dois minutos. – falou. – Eu te segui. Disse para o seu pai que te acharia e te levaria em segurança.

– Não preciso que me leve a lugar nenhum. – retruquei. Ele revirou os olhos e descruzou os braços.

– Você correu por algum motivo. Certo? – ele se aproximou de mim e sentou ao meu lado, fazendo a cama balançar.

– Sim. – confessei. Deixei um suspiro escapar e senti seu olhar em mim. Era a primeira vez que estávamos juntos naquela cabana.

– O que o Jesse falou... – ele se interrompeu por alguns instantes. – Era verdade?

– O que? – perguntei depois de um riso sem humor. – Que eu fui para a cama com ele? – perguntei. Ele relutou por um tempo, mas depois assentiu.

– Você foi o primeiro, Dimitri. – ele se mexeu desconfortável. – E foi o único. – ele me encarou com seus olhos chocolate e pode ver quando um brilho desconhecido surgiu.

– Como eu te amo, Rose. – ele levou as mãos ao meu rosto e encarou minha boca. Eu estava pronta para manda-lo ao inferno, e correr dali. Ele estava mentindo de novo. Estava me usando como sempre fez.

Eu queria responder ou me mover, mas não consegui nada além de encará-lo. Ele estava tão próximo. Tão bonito como da ultima vez. E eu queria estar perto dele, mas também queria ficar longe e ajudar meu coração a recuperar aquela ferida ainda mal cicatrizada. Ele voltou com o passado e com lembranças ruins. E eu não podia e nem queria reabri-las.

– Não. – falei, enquanto me levantava e saía da cama. Ele me olhou triste. Eu suspirei e voltei a olhá-lo. – Eu vou pegar o kit de primeiros socorros, eu ainda lembro onde fica.

Eu segui até o pequeno armarinho de madeira preso à parede perto da cozinha e peguei a caixinha branca com algumas coisas para limpar aquele sangue na boca de Dimitri.

Sentei à sua frente novamente e abri a caixa pegando todo o conteúdo e despejando na cama. A sensação de ter minha mão no rosto dele foi maravilhosa. Tentei me concentrar em limpar o machucado devagar, enquanto ele fazia alguns barulhos desconfortáveis.

Até uma súbita raiva me atingir e eu limpar com força demais. Ele afastou seu rosto e gemeu baixinho, enquanto eu pegava outra gaze com mais remédio.

– Não desconta no meu machucado. – retrucou. Eu olhei nos seus olhos.

– Cala boca. – eu peguei seu rosto e voltei a fazer o mesmo que antes. – Não mandei você se achar o um lutador e socar o Zeklos.

Ele sorriu.

Não estou achando graça. – retruquei.

– Eu não contava que ele fosse se recuperar tão rápido. – ele estava com brilho nos olhos. – Você faz milagres, Roza. – eu apertei a gaze ao machucado com violência novamente. Ele gritou.

– Não me chame assim. – rosnei. Ele me olhou.

– Eu sempre vou te chamar assim.

– Não vai não. – falei jogando os remédios na caixinha. Eu já tinha acabado com Dimitri e quando pus a caixinha de volta no lugar eu me voltei para ele. – Você perdeu qualquer direito comigo. Fez sua escolha.

– Eu já disse que te amo. – ele deu um pulo e quando percebi já estava na minha frente. – Eu fui um babaca, Rose e você tem todo o direito de me xingar por isso. Eu também o faria. Mais eu quero que você saiba que eu fui atrás de você na noite do acidente. – minhas pernas me entregaram. Eu consegui alcançar a cadeira antes de qualquer outro sentimento me invadir.

– O que? – perguntei tão baixo que me admirei quando se ajoelhou na minha frente e abriu a boca para responder a minha pergunta.

– Eu fui atrás de você. Só que você não foi para casa depois que correu. Você foi para outro lugar e sumiu para todos. Eu me lembro de te procurar em todos os lugares possíveis. Por isso eu não estava naquele carro indo para Nova York ver a faculdade com o André e os pais. Eu estava atrás de você. Eu estava disposto a qualquer coisa. O que eu fiz de beijar a Tasha e de você olhar aquela cena foi errado e eu fui um idiota de não ter percebido que eu já estava apaixonado por você há muito tempo.

Eu olhei em seus olhos e percebi algo diferente.

Ele estava falando a verdade.

Pela primeira vez, Dimitri estava falando a verdade.

– Eu corri para o bar do Mikhail. – sussurrei. Ele me encarava. – Eu chamei a Lissa e depois que ficamos bêbadas ela ligou para os pais e eles voltaram. E então, aconteceu.

– Eu quase morri, quando vi você naquele estado, Rose. Eu já tinha perdido um irmão, e não aguentaria perder você. – murmurou.

– E foi embora? Sem esperar eu acordar e se explicar. – falei levantando-me.

– Não. – falou enquanto se levantava. Eu dei as costas a ele. – Eu esperei dois meses naquele hospital esperando você dar algum sinal de vida e quando você acordou por covardia eu fui embora. Fiquei com medo de você não me aceitar. De não acreditar que eu te amava. – eu me virei para encará-lo.

– E o que você queria que eu fizesse? – perguntei. – Que eu ficasse feliz que tinha me escolhido? Você a beijou, enquanto eu estava no outro cômodo.

– Ela me beijou. – falou.

– Quando eu cheguei lá, não pareciam estar te forçando a nada.

– Ela me beijou e eu não resisti porque não sabia o quanto ela pode ser ruim. Eu não senti a mesma coisa que senti quando beijei você. Eu senti amor e não desejo carnal.

Eu o encarei.

Ele estava falando a verdade novamente, o que estava me surpreendendo. Eu voltei para aquela noite novamente e me lembrei em trechos do acidente e da primeira vez que vi a luz do quarto de hospital depois disso. Eu me lembro dos machucados pelo braço de Lissa e da minha mãe com cara de chorosa.

Ela e meu pai estavam em discussão para uma possível separação e ai eu sofri o acidente. Eles disseram que eu fui fundamental para uma reconciliação. Meu pai disse que a minha mãe era o que sustentava ele, na alegria e na tristeza. Disse que a esperança dela foi à única coisa que manteve a nossa família unida.

– Eu prometo Rose. – murmurou. Sua voz me tirou dos meus devaneios. E eu o encarei novamente.

– Promete o que? – perguntei.

– Prometo te reconquistar. Prometo te mostrar o quanto eu te amo e acima de tudo vou pedir perdão por desconfiar do que eu senti por você até o fim da minha vida. – falou. Eu me assustei um pouco, mas logo voltei a encara-lo.

– Você pretende me reconquistar? E o que te garante que você já tinha conquistado antes? – perguntei. Eu lhe lancei meu sorriso matador de homens. Ele suspirou.

– O jeito que você ficou nos meus braços naquela noite, há um ano. – eu o encarei sorrindo.

– Faça o que quiser. – retruquei. – Vai ser divertido ver você sofrer durante os três meses do nosso plano. – ele gargalhou se aproximando de mim.

– Não importa o quanto demore Roza. Você fale o esforço. – ele levou a mão ao meu rosto e depois aos meus cabelos. – Eu vou fazer a esperança ser só um detalhe.

Eu senti vontade de soca-lo pelo apelido.

Mas depois senti vontade de me socar, por relutar contra tudo de bom que eu sentia sobre esse homem dentro de mim.

– Boa sorte. – falei indo em direção à porta. Eu sorri. – Isso não vai ser fácil.

– Se fosse fácil não teria graça.

Ele sorriu. Eu sorri.

Algo em mim começou a voltar.

Algo que eu senti na noite da cabana.


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Notas finais do capítulo

Comentem e digam o que acharam!
Posto o próximo o mais rápido possível!



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