Depois da melhor, porém cansativa, noite da minha vida, eu acordei com um sorriso no rosto e me sentindo menos... Má. A verdade é que o Castiel trazia meu melhor lado à tona, como se fosse meu ponto de equilíbrio espiritual e pela primeira vez ele estava lá ao meu lado pelo amanhecer, estava com a cabeça encostada em seu ombro e brincando com o sino enquanto ele deslizava sua mão pelas minhas costas.

– Estranho... - Ele comentou - Acho que tem algo errado comigo.

– Por quê? - Levantei o rosto e vi a feição confusa que ele apresentava, comecei a me preocupar.

– Eu não quero sair daqui dessa cama, nunca! - Ele estreitou o olhar e isso me fez rir - Megan, não ria, isso não é normal!

– Ai, eu amo esse seu lado totalmente desentendido... Isso é normal, Cass. - Dei um beijo em seu queixo - Eu também não estou com a menor vontade de sair daqui.

– Ah! Achei que eu estava sem energia ou algo do tipo.

– Quem me dera! Você não cansa nunca?

– Desculpe, estava com saudades. - Ele me abraçou mais forte - Eu te amo.

– Eu também te amo! - Abri um sorriso de orelha a orelha para ele, estava adorando esses momentos de paz.

– Mas sinto dizer que teremos que sair daqui. - Ele jogou o lençol de lado e se levantou, ah que visão linda. Eu amava ver o corpo daquele anjo, a forma como ele se movia com calma porém com ações firmes e bem definidas, evidenciando seus músculos indiretamente. Então ele acabou com minha alegria quando se vestiu.

– Ah, estraga prazer! - Me levantei e vesti meu roupão - Vou para o banho.

– Te encontro lá em baixo. - Ele sumiu deixando o barulhinho de asas que eu tanto amava.

Eu estava mais tranquila, porém sempre que eu me deixava levar pelos meus pensamentos, ficava um pouco perturbada e deprimida. Eu tinha que superar, não podia deixar meus sentimentos acabarem com meu dia feliz. Logo depois que estava pronta, fui saltitando para a cozinha e encontrei com o Alce no corredor.

– Está com o humor melhor hoje. - Ele observou - Teve uma noite agradável?

– Sim! - Rodopiei ao redor dele - E olha o meu cabelo, voltou ao normal!

– Está lindo. - Ele riu de mim e me puxou para perto dele.

Ao chegar na cozinha onde Dean estava fritando alguma coisa, que identifiquei ser bacon pelo cheiro, Claire estava na mesa com o notebook aberto e Castiel ao seu lado de cara feia.

– Bom dia, pessoas! - Cumprimentei a todos.

– Meghan, que bom que chegou! - Claire se virou para mim - Pode dizer ao Castiel que ele é muito paranoico, por favor?

– O que foi agora?

– Achamos um caso, mas ele não quer me deixar ir! - Ela virou a tela do notebook para mim - São Djinns, eu tenho certeza.

– Hum... Eu nunca cacei um Djinn antes. - Me aproximei - Eu quero ir também!

– Tem certeza? Você acabou de voltar, não quer mais uns dias de folga? - Sam me perguntou.

– Não mesmo, vamos todos juntos.

– Mas... - Castiel tentou protestar, mas eu o interrompi.

– Você cuida da Claire e os garotos me orientam, assim todos ficam felizes!

– Por mim está tudo certo. - Dean comentou e Sam assentiu em concordância.

– Ah, tudo bem. - Claire fechou a tela do notebook - Indiana... Eu posso ir dirigindo?

– Oi? - Me virei para Claire - Um ano fora e você está caçando e dirigindo? Algo mais que eu precise saber? Um piercing ou tatuagem, sei lá!

– Tatuagem. - Ela puxou a gola da camisa e mostrou a tatuagem antipossessão na parte de trás do ombro.

– Gostei! Mas então, que horas nós partimos? - Fui até o Dean e olhei por cima do ombro dele procurando algo que gostasse.

– Depois do café da manhã, que disposição, hein? - Ele me encarou e depois olhou para o anjo, deve ter pensado em comentar algo, mas desistiu assim que abriu a boca.

Depois de comermos, fomos arrumar as coisas e eu tenho certeza que ninguém estava tão animado quanto eu, estava indo caçar algo que nunca havia lidado antes e todos estavam indo junto. Programa de família perfeito! Claire tinha ganhado uma picape Chevy azul marinho do Bobby, era até conservada e mais tarde descobri que ela era de 1953... Sério? Esses caçadores tem problemas com carros com menos de 20 anos? Ela queria ir dirigindo, mas era uma viagem de 10h e ninguém sabia o que podia rolar no meio do caminho. Ah, só para constar, meu Porsche foi trazido junto de mim no dia em que eles me salvaram... Não sei o que eu faria se tivesse perdido aquele carro! Acho que surtaria completamente e sairia ameaçando mil e uma pessoas de morte até encontrá-lo.

– Ah... Meu pequeno! - Deslizei minha mão pelo painel do carro - Será que eu cuidei bem de você no último ano?

– Nossa, como o Castiel não sente ciúmes do carro? - Claire perguntou de forma irônica.

– Se você tivesse um carro que realmente tivesse significado para você, também o amaria. - Dei a partida e fui acompanhando os garotos - Aliás, se você quiser, podemos comprar um carro novo para você.

– Eu gosto da picape, o Bobby a reformou para mim e é meu primeiro carro. - Ela deu de ombros.

– Entendo, mas me conta aí... Sei que tem mais novidades. - Eu ergui uma sobrancelha - Não vai me dizer que passou um ano presa em Sioux Falls.

– Na verdade, eu passei sim. Só saí para caçar algumas vezes com o Bobby... Eu passei uns dois meses trancada no bunker depois daquela noite, estava me sentindo culpada por você e pelo Benjamin... - Ela soltou um riso - Então aqueles dois vieram conversar comigo e disseram que naquele ponto eu só tinha que fazer uma escolha: Superar tudo e tentar seguir uma vida normal ou superar tudo e entrar de vez nesse mundo.

– Por que escolheu a segunda opção?

– Porque eu iria viver paranoica e preocupada, querendo ou não eu me apeguei à todos... E eu queria me redimir também.

– Consumida pela culpa e buscando redenção, parabéns, já cumpriu o básico para ser uma caçadora. - Eu ri e ela me acompanhou - Só tenha cuidado com os garotos nesse ramo.

– Ah, sério isso? - Ela cruzou os braços - Você está mesmo me dizendo isso? Sra. Peguei-todos-os-homens.

– Também não é assim... Tá, é assim mesmo!

Nós conversamos mais algumas banalidades e no meio da viagem nós paramos em um posto para abastecer e os garotos foram comprar comida. Eu fui até o banheiro para jogar uma água no rosto, o cansaço da noite mal dormida estava começando a aparecer. No entanto, quando cheguei lá, senti algo estranho, como se alguém estivesse me observando.

Eu toquei a faca que estava dentro da minha jaqueta, pronta para atacar o que quer que aparecesse ali.

– Olá, garota! - O reflexo de Crowley surgiu atrás de mim no espelho.

Eu puxei a faca e me virei na direção dele rapidamente, o demônio apenas ergueu as mãos para mostrar que não estava ali para lutar, apesar de que ele fez aquilo apenas por "atuação" já que a faca que eu empunhei era inútil contra ele.

– O que você quer comigo? Já não bastava o que fez? - Cuspi as palavras nele.

– O que eu fiz? Te dei uma chance incrível, você estava poderosa... E ainda estava ao lado do seu irmão! - Ele começou a andar de um lado para o outro - O que foi mesmo que os Winchester fizeram por você? Ah sim! Te trouxeram de volta para a vida humana, cheia de dor e ainda por cima mataram seu irmão de vez.

– Eles me salvaram, eu era um monstro! E deram paz ao Kyle, você não pode mais mexer com ele! - Dei um passo a frente - Eu não tenho medo de você, Crowley... Minha única vontade é de te matar e eu vou fazer isso!

– Vai? - Ele ergueu uma sobrancelha - Vai mesmo? Veremos... Lembre-se que eu te dei uma chance de ouro, você pode se gabar de ter ido ao inferno sem sofrer e ter virado um dos demônios mais poderosos que já existiram, ao lado de um membro da família!

– Eu era uma criatura asquerosa! E eu nem lembrava do meu irmão, eu o odiava, você não fez nada de bom por mim.

– Chame do que quiser, mas na próxima vez eu vou te levar comigo e farei questão de te torturar diariamente pela eternidade! - Ele gritou - Você não sabe o que te aguarda...

E dizendo isso, ele sumiu na minha frente. Saí correndo do banheiro e fui até o Impala, os garotos já estavam esperando por mim, mas ao me verem saíram preocupados.

– O que houve? - Castiel perguntou quando o alcancei.

– Crowley, ele veio até mim... Disse que ia me matar, me levar de volta e me torturar!

– E por que não nos chamou? - Sam questionou.

– Por que estava ocupada tentando me livrar do Rei do Inferno que podia facilmente quebrar meu pescoço no menor sinal de que algo daria errado pra ele! - Esbravejei dando um passo em direção ao irmão mais novo - Eu nunca vi o Crowley daquele jeito, principalmente comigo!

– Calma, não vamos deixar ele fazer nada com você. - Dean me assegurou - É melhor o Cass ir no Porsche com vocês.

Depois dessa "visitinha", nós ficamos um pouco tensos e quase desistimos das caçadas, mas isso seria antiprofissional e covardia. Castiel seguiu o resto da viagem comigo e com a Claire no meu carro e não demorou muito para que chegássemos à Indiana, mais precisamente em Muncie.

Pelo o que vimos desse caso, algumas pessoas estavam desaparecendo pela cidade, não tivemos maiores pistas de qualquer outra coisa que denunciasse outra criatura, normalmente esses Djinns se escondiam em lugares amplos e Muncie tinha muitos lugares assim.

Paramos em um hotel para descansarmos até a noite, Castiel ficou nos vigiando pela tarde toda, eu aproveitei para dormir um pouco e a loirinha ficou com o notebook assistindo alguma série.

Quando anoiteceu e todos estávamos bem descansados, decidimos procurar pela área em que mais houveram sumiços, cerca de dez pessoas sumiram nos últimos dias, não deixaram rastros e nenhum corpo foi encontrado. Os Djinns são criaturas antigas que se alimentam do sangue das vítimas enquanto as mantém presas em alguma realidade onde a pessoa vive a vida que sempre desejou.

Os Winchester já enfrentaram alguns e inclusive o Dean foi pego por um, ele disse que no começo achou que estava numa vida perfeita, mas não foi bem assim depois de um tempo, ele e Sam não estavam juntos, nunca conheceram o Bobby e nunca caçaram. Isso seria desastroso.

Ao chegarmos em um galpão gigante, decidimos nos separar, Claire e Castiel foram procurar alguma pista na área externa, eu e os Winchester continuamos procurando por dentro. Como haviam muitos corredores, decidimos nos separar para procurar melhor.

Cada um de nós estava armado com uma faca banhada em sangue de cordeiro, Sam estava na parte inferior e Dean procurava por algumas salas próximas à entrada, eu comecei a vasculhar entre uns arquivos até que ouvi um ruído abafado, me virei bruscamente e coloquei a faca à minha frente.

Dei passos largos e silenciosos, precisava voltar para perto dos garotos antes que algo desse errado novamente, no entanto, um homem gigante, careca e com o corpo totalmente coberto de tatuagens surgiu na minha frente e me pegou pelo pescoço.

Tentei acertá-lo com a faca mas ele segurou meu braço e o bateu contra a estrutura de ferro, o que me fez soltá-la, tentei gritar mas a falta de fôlego não deixava a minha voz sair. Dei um chute na barriga do monstro, mas ele apenas resmungou, nem afrouxou o aperto no meu pescoço.

Os olhos da criatura ficaram azuis e suas tatuagens se iluminaram na mesma hora, ele ergueu a mão livre e uma chama azul a envolveu... Eu sabia muito bem o que viria a seguir, ele iria me envenenar, me levando à alguma realidade aleatória enquanto me matava! Ah não, eu havia acabado de voltar e já iria morrer de novo. O Djinn colocou a mão na minha cabeça e aos poucos fui perdendo a consciência.