Depois de um sono regado de pesadelos horríveis com mortes alheias, eu queimando no Inferno e Crowley decapitando Castiel, eu acordei me sentindo um pouco melhor... E com muita fome. Olhei ao redor e o anjo não estava lá, iria dar uma boa bronca nele por não cumprir o que me prometeu.

Me levantei da cama e me arrastei para o banheiro, estava louca para me livrar daquele vestido, quando entrei no cômodo e me olhei no espelho soltei um grito de susto.

– O que houve? - Castiel surgiu do meu lado no mesmo segundo.

– M-Meu cabelo... - Apontei meu reflexo enquanto gaguejava - ESTÁ LISO!

– Meghan, calma... Ele pode voltar ao normal. - Ele riu de mim.

– Mas... Isso tá... Liso! - Esmurrei o balcão da pia - É bom que não seja permanente, ou eu vou surtar aqui.

Me virei de costas para o anjo e comecei a tentar me livrar do vestido, tinha um motivo para eu não gostar dessas coisas e era porque eu sou toda desajeitada com eles.

– Precisa de ajuda? - Castiel veio até mim.

– Acho que sim... Estou um pouco... Ai! - Eu resmunguei com o vestido entalado nos meus ombros.

Castiel me ajudou a puxar o vestido e não pude deixar de notar seu olhar percorrendo o meu corpo.

– Er... Eu vou me livrar desse vestido e te esperar lá fora. - Ele disse tentando não olhar para mim.

– Tudo bem, Cass. - Eu segurei o riso, ele era muito fofo - Leva isso também! - Eu tirei aquela maldita pulseira que o Crowley me deu de natal e que eu usei durante todo o ano.

Ele saiu do banheiro e eu fui para debaixo do chuveiro, torcendo para que meu cabelo voltasse ao normal. Deixei a água o mais quente possível para relaxar, parece que eu teria um tempo para pensar um pouco e é óbvio que a primeira coisa que veio na minha cabeça foi o meu irmão.

Ah, eu ainda não acredito que passei um ano ao lado dele sem nem saber quem ele era, na verdade o odiei na maior parte do tempo e ainda por cima ele foi morto, novamente, bem na minha frente. E pensar que ele vinha sendo aquele tipo demônio há tanto tempo me dava náuseas. Aliás, pensar em tudo que eu fiz me dava náuseas. Eu me sentia suja e usada... Como uma verdadeira prostituta, aliás, foi isso que fui durante aquele ano. Me dava até arrepios só de pensar em tudo.

E tudo que eu fiz e falei para os Winchester... Que monstro. Não me surpreenderia nem um pouco se eles começassem a me tratar diferente, mas eu faria de tudo para que eles não me odiassem... E o Gabriel! Oh Deus! O que fui fazer?

...

Não que tivesse sido ruim, mas assim como o Sam, não dá! Não consigo! Ele é meu melhor amigo, meu Candyman, meu anjo da guarda! Não podia perdê-lo.

A cada segundo eu estava me odiando mais e mais, por tudo que fiz, tudo que não fiz. Eu quase matei a pobre Claire, tratei o Bobby mal e magoei o Cass de uma só vez... Também tentei matá-lo.

Comecei a chorar em silêncio, tentando não soluçar para que o anjo não escutasse e me sentei no chão do banheiro encolhida para abafar mais o som. Eu era um fracasso tentando proteger as pessoas que amava, sempre fazia escolhas que se tornavam piores depois.

Passei um bom tempo chorando encolhida, até que o barulho de asas me chamou atenção, olhei para cima e lá estava Castiel com um olhar penalizado sobre mim. Ele desligou o chuveiro, pegou uma toalha e me envolveu, me puxando para ele.

Castiel me levou de volta para o quarto em seus braços e me colocou sentada na cama sem dizer uma única palavra, ele apenas sentou do meu lado e me abraçou, afagando meus cabelos molhados e esperando que eu me acalmasse.

E foi o que logo aconteceu, impressionante como ele conseguia me trazer calma apenas por estar ao meu lado.

– Me desculpe, Cass... Por tudo! - Eu falei.

– Não tem do que se desculpar, não era, inteiramente, você! - Ele levantou meu queixo e olhou nos meus olhos - Eu te perdoo porque... Eu te amo.

– Ah... - Um arrepio percorreu meu corpo inteiro ao ouvir aquelas palavras, afinal, eu sempre quis ouvir o anjo dizer aquilo para mim - Parece que a Claire deu o meu recado...

– Sim, ela deu... Me desculpe não ter ido te buscar e não ter dito que te amava antes. - Ele abaixou o olhar.

– Shiu, você não tem o que se desculpar! - O repreendi - Eu tentei te matar e você ainda está aqui... Como você é bobinho.

– Sou mesmo. - Ele soltou uma risada.

– Eu adoro bobinhos. - O abracei mais forte.

– Você está melhor? - Ele deslizou os dedos pelo meu rosto e eu assenti - Dean fez uma comida gordurosa para você.

– Ah! Comida gordurosa! - Meus olhos brilharam ao ouvir aquilo e saltei da cama indo procurar minhas roupas.

Me vesti o mais rápido que podia, afinal fazia séculos que eu não comia nada. Quando terminei, Castiel me olhava com cara de bobo e segurando o riso, me aproximei dele, sentei em seu colo e o beijei, ele retribuiu com calma e ternura pois achava que eu precisava disso para me recuperar do trauma, mas eu não precisava de calma... Eu precisava dele e fiz questão de demonstrar isso o puxando mais para perto pela gola do sobretudo e jogando meus braços ao redor do pescoço dele em seguida. O anjo levou suas mãos firmes para minha cintura e minha nuca para aprofundar nosso beijo.

Escutei uma batida ritmada na porta, sabia que era o Dean mas não estava com a menor vontade de soltar o anjo tão cedo.

– Meghan... É o Dean... - Castiel sussurrou entre os beijos.

– Eu sei, se a gente ignorar, ele vai embora! - Eu continuei a beijá-lo e então o loiro adentrou o quarto nos fazendo saltar de susto - Ou não!

– Ah... Desculpem atrapalhar. - Ele tentou segurar o riso - Não achei que fossem recuperar o tempo perdido tão cedo.

– Não estávamos fazendo nada demais, Dean. - Castiel o fuzilou.

– Sei... Olha, entendo que vocês passaram um ano sem... - Ele fez alguns gestos agressivos com a mão tentando interpretar algo - Mas enfim, nós também queremos conversar com a Meghan.

– Tudo bem, Deano. - Eu me levantei - Eu também quero falar com vocês, vamos lá, Cass.

Nós o acompanhamos até a cozinha, onde todos estavam. Sam e Claire estavam na mesa, Gabriel sentado no balcão com um pote de sorvete e Bobby tomava uma cerveja encostado no balcão.

– Por que demoraram? - Gabriel perguntou com um meio sorriso.

– Porque eles tem um problema de se manter juntos e vestidos ao mesmo tempo... Ai! - Dean começou a falar e eu dei um tapa no ombro dele - Achei que tinha se curado da agressividade.

– Eu sempre fui agressiva. - Me sentei na mesa ao lado do Alce - Cadê minha comida gordurosa?

– O que você vai querer? - Sam olhou para o balcão - Tem chesseburguer, lasanha, pizza...

– Ah... Eu quero tudo! - Senti meus olhos ficarem marejados, era uma verdadeira emoção.

– Claro que quer. - Bobby rolou os olhos - Parece que ela está mais do que bem.

Dean colocou toda a comida na minha frente e eu ataquei, nem estava ligando para os olhares assustados sobre mim.

– Não me julguem, eu passei um ano me alimentando de fumaça! - Eu falei com a boca cheia.

– Bom, parece que tudo está bem normal... Temos nossa ruiva de volta. - Gabriel ressaltou.

– Bom saber. - Claire falou sem tirar os olhos do celular - Porque eu acho que temos um espírito vingativo em Ohio.

– Você está caçando?! - Me virei para Claire.

– Um pouco... - Ela deu de ombros.

– Isso ainda não foi decidido. - Castiel falou sério - Isso é muito perigoso.

– Tarde demais, anjo. - Ela o encarou - Você devia ter tentado me impedir antes, o Bobby me ajudou a treinar durante muito tempo e você não apareceu nem para saber se eu estava viva.

Castiel abriu a boca mas não falou nada, eu logo entendi que ele largou a Claire com o Bobby por minha causa, me senti culpada e larguei o garfo, me virei para o anjo mas não podia reclamar com ele por me procurar e não podia reclamar com a Claire porque talvez ela não tivesse mais escolha.

– Tio, como a Claire está? - Perguntei ao Bobby.

– Muito bem, já a levei comigo para caçar algumas vezes e ela se saiu muito bem, já matou até vampiros.

– Claire, o que você acha disso? - Me virei para a loira.

– Eu... Não tenho nada melhor para fazer e é a única coisa que eu realmente sei fazer. - Ela esclareceu.

– Hum, acho que não temos mais o que discutir então... Alguém além do Castiel se opõe? - Olhei para todos e eles apenas balançaram a cabeça negativamente.

– E pensar que ela nem queria morar com a gente. - Dean sorriu para a garota - Daqui a pouco vai estar caçando melhor que a Megh.

– Não mesmo! - Exclamei.

– Cuidado aí, ruiva. - Claire ergueu uma sobrancelha - Vou tirar seu título de melhor caçadora de Wendigos.

Meu sorriso diminuiu naquele instante, wendigos me lembravam o Kyle e só então lembrei o que passamos no último ano. Obviamente todos notaram minha mudança repentina e logo Sam começou a falar.

– Meghan... Nós... Er...

– Eu sei, não tinha jeito... - O tranquilizei - Só queria ter me lembrado dele antes, mas eu não... Eu o odiava, pra falar a verdade.

– Como eram as coisas na sua mente quando você era um demônio? - Bobby perguntou.

– Basicamente obscuras e obscenas, eu não pensava muito e era tudo bem instintivo... Como se eu fosse um animal. Assim que eu acordei depois da transformação estava queimando de "fome" e Crowley me explicou o que eu tinha que fazer para aliviar o que estava sentindo. - Dei uma pequena pausa - Eu nem raciocinei e matei três homens seguidos na primeira vez, claro que aquele pequeno demônio gostou do resultado e então me jogou junto do Kyle para caçar as vítimas... Devo ter condenado centenas de almas ao Inferno no último ano.

Um arrepio percorreu meu corpo, senti nojo de mim mesma. Eu fui o pior tipo de monstro e nem sei como os garotos ainda estavam me tratando normalmente.

– Não foi sua culpa, não estava consciente. - Sam me tranquilizou - A essa altura já devia estar acostumada com essas situações, principalmente depois de conviver com a gente.

– Verdade... Mas ainda assim, é complicado... - Me virei para o Dean - E você aí, se me lembro bem, precisava de sangue purificado para curar um demônio... Sério que usaram o seu?

– Ah... É. - Ele concordou e estava visivelmente desconfortável.

– Você se confessou?! - Perguntei mais chocada ainda - Não creio que Dean Winchester soltou os seus pecados por aí... Conte-me sobre isso. - Apoiei meu queixo em uma das mãos.

Ele olhou para todos, ao que parece, eu não era a única curiosa sobre a purificação do Winchester mais velho.

– Foi normal, eu me confessei numa igreja local com um padre... Não foi nada demais.

– Você levou duas horas lá! - Gabriel informou e foi fuzilado com o olhar do loiro.

– Isso não importa, eu falei o suficiente para traumatizar o padre porque queria ter certeza que teria o sangue em perfeito estado para a cura. - Ele esclareceu.

– Awn, muito obrigada, Deano! - Eu sorri para ele - Isso foi uma atitude linda vindo de você, mas por que não usaram o sangue do Sam ou do Bobby?

– Tivemos medo, o Bobby já fez um pacto com o Crowley antes e o Sam, além de ter aquela situação com sangue de demônio, é o receptáculo de Lúcifer... Apesar de já ter ido ao Inferno, o Dean era a opção menos demoníaca. - Castiel explicou.

– Ah sim, faz sentido.

– Agora que a trouxemos de volta, temos que nos preocupar com o Crowley. - Bobby veio até a mesa e sentou na minha frente.

– Ok, Bobby, uma batalha de cada vez. - Sam pediu - Estamos acabados...

– Tudo bem, eu acho que vou voltar para casa por enquanto.

– Por que não fica por aqui, tio? - Perguntei.

– Alguém tem que atender aos telefonemas. - Ele deu de ombros e se virou para Claire - E parece que perdi minha assistente.

– Eu odeio atender telefones. - Ela riu - Mas agradeço por tudo, Bobby.

– Não tem de quê... Eu vou indo, se cuidem e qualquer coisa podem me ligar. - Ele veio até mim e deu um beijo na minha cabeça, eu adorava esse lado fofo do Bobby.

Ele se despediu de todos e saiu. Gabriel disse que ia voltar para o céu e também se despediu, ele me deu um abraço bem demorado e me deixou alguns doces, logo Claire também disse que ia dormir e saiu da cozinha com o celular debaixo do nariz.

– Bom, acho que também vou indo... Estou feliz que tenha voltado, ruiva. - Sam me falou e saiu da cozinha - Boa noite!

– Tchau, Sammy! - Eu e Dean falamos ao mesmo tempo.

– Eu vou pegar isso daqui - Dean pegou um dos sanduíches -, e vou para o quarto, boa noite, casal! - Ele acenou para nós.

Eu olhei para o anjo, ele estava sério e encostado no balcão de cabeça baixa.

– Ei, Cass... - Me levantei e fui até ele - O que houve?

– Nada. - Ele mentiu, claramente, na minha cara.

– Claro que não foi nada. - Falei com ironia - Foi por causa do que eu fiz?

– Não, eu entendo, não era você! - Ele disse, irritado - É a Claire.

– Não quer que ela saia caçando por aí?

– Ela vai acabar se machucando ou pior... Eu prometi que cuidaria dela e não fiz isso!

– Porque estava ocupando caçando sua namorada demônio. - Cruzei os braços e fui para o lado dele.

– Não é culpa sua, eu não soube separar as... Namorada? - Ele me olhou erguendo uma sobrancelha.

– Hum... É, acho que depois desse tempo todo... Talvez... - Mordi meus lábios e me amaldiçoei por falar sem pensar.

– Que estranho... Um anjo com uma namorada humana. - Ele pendeu a cabeça de lado.

– E que já foi um demônio, vale ressaltar! - Comecei a rir - Ai, que vida complicada!

– Realmente é um relacionamento bem peculiar. - Ele se virou de frente para mim e levou suas mãos para minha cintura - Mas eu gosto.

– Eu também. - Dei um beijo nele - Sabe de uma coisa? Eu dormi bastante e não estou com um pingo de sono agora... O que acha de recuperar o tempo perdido?

– Em uma noite? Não vejo como isso seria possível. - Ele sorriu para mim - Mas podemos tentar.

– Nos leve para o quarto! - Eu joguei os braços ao redor do pescoço dele.

– Só um minuto... - Ele remexeu no bolso do sobretudo e puxou o colar com o sino dele - Agora já posso voltar a usar.

– Oh! - Eu congelei no lugar e levei minha mão para o meu próprio pescoço - O colar que você me deu! Castiel, me desculpe!

– Não tem problema, Meghan...

– Tem problema sim! Era especial... Ai que ódio daquele demôn... - Castiel me interrompeu tomando meus lábios em um beijo ardente e nos levou para o quarto. Eu me afastei dele e o empurrei contra a cama - Ok, eu expresso minha raiva depois.

O anjo soltou uma gargalhada melodiosa e me puxou para junto dele, eu estava com tantas saudades que fiquei meio desesperada ao tentar arrancar as roupas dele e me atrapalhei com tanto tecido e botões.

– Meghan, perdeu o jeito? - Ele me provocou.

– Nossa, olha só como você está provocante...Por que não me ajuda?

Ele ergueu uma sobrancelha e nossas roupas sumiram, ah, as maravilhas de se ter um anjo.