Aqueles ratos me prenderam na masmorra do bunker com correntes que neutralizaram meus poderes e no meio de uma armadilha para demônios gigante, amarrada numa cadeira ainda por cima. Malditos! Ficavam parados me olhando, horrorizados... Idiotas. Acham que vão ter a Meghan medíocre de volta.

– Será que vai dar certo? - O loiro desmiolado perguntou.

– Espero, ela está péssima! - Gabriel comentou.

– O que foi, gente? Não gostam do que estão vendo? - Os provoquei soltando um leve rosnado.

O imbecil mais novo me olhava com pena! Mas que otário... Pena do quê? Eu estava mais forte, bonita e poderosa. Podia ter qualquer um na minha mão.

– Vamos te tirar daí, Meghan. - Dean me prometeu.

– Ah, por favor! - Revirei os olhos - Não tem o que tirar, essa sou eu! Não ache que me tornei uma coisa totalmente diferente, eu me lembro de vocês.

– Já percebemos. - Dean cruzou os braços, evidenciando seus músculos.

– Ah, Dean... Não faça isso... Você não tem noção do quanto fica sexy com essa pose de machão. - Mordi os lábios.

Notei um anjo franzir o cenho, visivelmente incomodado. Achei aquilo incrivelmente divertido e decidi provocá-lo mais um pouco. Coloquei os olhos escuros a mostra e os quatro ergueram as sobrancelhas, em surpresa.

– Dean... Você não sente falta de mim? - Perguntei com uma voz manhosa - Aposto que sente e daria tudo para me ter novamente. Talvez o anjinho não ligue em me dividir só um pouquinho com você.

– Melhor deixarmos ela sozinha enquanto pensamos em algo. - Sam sugeriu.

– Ah Sammy, vai me largar aqui? - Fiz beicinho - Sabe, eu sempre tive um desejo oculto por você... Nunca escondi minha preferência por homens altos e você é um belo exemplar, principalmente quando usa camisas com gola V... Me dá vontade de morder você. - Abri um sorriso torto.

– Vamos sair antes que o Castiel entre em combustão. - Gabriel tentou empurrar o outro anjo.

– Ah, Candyman, você não fica muito atrás... Apesar de ser baixinho... Tenho certeza que dá conta do recado. - Pisquei um olho para ele.

Os quatro me ignoraram e desligaram a luz ao sair da sala. Me largaram no escuro por longas 3 horas... Bom, pelo menos parecia que havia passado 3 horas. Me remexi tentando soltar as correntes, mas era inútil. Aqueles palermas iriam pagar caro, eu adoraria assistir o Crowley estripá-los por terem me sequestrado e matado o Kyle.

Pensando bem, eu mesma iria abri-los ao meio, a começar pelo maldito anjo que me enganou, ainda não sei como ele conseguiu isso... Mas ele era tão saboroso, a pele dele tinha uma textura tão rígida e macia ao mesmo tempo... Era diferente. Ah, que coisa! Eu não podia matá-lo antes de tê-lo!

Enquanto eu estava imersa nos meus adoráveis pensamentos, ouvi alguns passos por trás das estantes. Não pareciam os passos firmes dos homens, esses eram delicados e apressados... Era uma garota. Ela puxou as estantes para o lado e veio andando até mim.

Parecia uma bonequinha com cabelos ondulados e loiros, olhos azuis adoráveis, bochechas rosadas... Argh! Que vontade de rasgar a face dela.

– Meghan? - Ela me chamou com a voz vacilante.

– Quem é você?

– Você não se lembra de mim? - Ela levou as mãos à cintura - Sou eu, Claire.

– Não, não me lembro mesmo... - Dei de ombros - Por que deveria?

– Por que não? Passamos metade de um ano brigando e a outra metade nos dando muito bem.

– Então você não fez nada de útil para mim, tá explicado porque não lembro de uma pirralha detestável como você. - Exibi os olhos escuros.

– Nossa. - Ela revirou os olhos - Só não vá se arrepender dessas palavras depois.

– Quando eu sair daqui, eu vou te jogar numa fogueira! - Dei um sorriso entusiasmado.

– Você só vai sair daqui quando estiver de volta ao normal.

– Claire! - Um voz rouca ecoou pela sala - Eu disse para não vim para cá!

– Ah, desculpe, Bobby... Fiquei entediada lá fora.

O tal do Bobby veio até nós, ele me olhou de cima a baixo e balançou a cabeça negativamente, com uma bela expressão de decepção.

– Qual o problema, velhaco? - Perguntei.

– Olha o respeito comigo, te criei a vida toda! - Ele apontou o dedo na minha cara.

– Eu não... Pode ter sido a Meghan idiota, mas por mim você nunca fez nada!

– Olhe a boca, menina... Eu já acabei com milhares da sua raça.

– Ótimo, mais um motivo para eu te matar lentamente quando meu titio vier aqui me soltar.

Bobby fez uma cara de espanto e estreitou os olhos.

– Titio? Aquele demônio não é seu tio! Ele acabou com você! - O velho explodiu e ficou vermelho de tanta raiva.

– Ei! O que está acontecendo aqui? - Dean apareceu, seguido por Sam que trazia uma bandeja e os outros anjos.

– Resolvam logo isso antes que eu enfie água benta pela garganta dela para lavar essa boca! - Bobby resmungou e saiu da sala.

– Ah, que pena que ele se foi... Adoraria vê-lo tentar. - Dei uma risada.

– Claire, é melhor você sair... Não sabemos direito o que pode acontecer aqui. - Sam alertou à garota.

– Eu quero ficar, eu aguento. - Ela cruzou os braços.

– Tanto faz, vamos começar. - Castiel falou e foi até a bandeja que Sam trouxe e colocou na mesa ao canto, ele pegou uma seringa cheia de sangue e veio caminhando até mim.

– O que pensa que vai fazer? - Perguntei em tom de deboche.

– Curar você. - Ele disse e enfiou a agulha no meu braço.

Aquela coisa doía! Puta que pariu! Doía, queimava, rasgava... Muitas sensações ruins.

– O que é isso? - Perguntei retomando o fôlego.

– Sangue do Dean, purificado. - Gabriel falou.

– Purificado? Essa é boa! Nem que ele nascesse de novo iria purificar essa sangue ruim! - Cuspi as palavras na direção do loiro - Eu disse, eu me lembro de vocês! Mas lembro de coisas bem específicas, do tipo que o loiro aí adora uma sessão de auto piedade, sempre se culpando pelos cantos para que alguém venha sentir pena e dizer "Não, Dean, não foi sua culpa"... Mas quer saber a grande novidade, bonitão? É sua culpa sim!

– Aplique outra dose, Cass. - Dean pediu com a voz firme e o anjo obedeceu.

Soltei um grito ensurdecedor e meus olhos ficaram escuros involuntariamente, alguns flashs preencheram minha mente, eu estava em um lugar bem parecido com esse, mas deitada em uma maca, amarrada.

– Acham que vão me trazer de volta? - Me virei para o irmão mais novo - É bem provável que me matem... E aí o pobre Sam vai ter mais uma morte para carregar nas costas. Não só a da mamãe e da namoradinha de faculdade... Vai carregar a morte da sua "irmãzinha". É isso que você quer, Sammy?

– Outra dose, Cass...

– Espera! - Sam pediu - Tem que ter intervalos maiores entre as dosagens.

– Ah, então vamos esperar lá fora. - Dean saiu e todos o acompanharam.

– Não vão, eu quero falar mais algumas verdades! - Gritei para eles, que fecharam a porta na minha cara.

Eu não iria aguentar outra dose daquelas, seja lá o que raios fizeram com o maldito sangue, estava acabando comigo. Tentei me libertar das algemas, mas estavam muito fortes... No entanto, de tanto me remexer acabei afrouxando as cordas. Me libertei delas e levantei da cadeira, caminhei lentamente pela armadilha e saí dela! Talvez o sangue humano estivesse servindo para alguma coisa. Eu precisava fugir, mas ainda estava algemada com essas coisas que neutralizam meus poderes, o sangue não foi suficiente para me livrar delas também.

Procurei pelos arquivos algum clipe que pudesse abrir as algemas, mas elas tinham uma tranca especial, não dava para escapar de qualquer jeito. Então decidi dar minha cara à tapa e tentar escapar correndo.

Quando cheguei perto da porta, Gabriel entrou. Admito, a cara que ele fez ao me ver de pé foi muito engraçada, parecia que estava vendo um... Demônio. Antes que ele gritasse, joguei meu corpo contra o dele e o derrubei no chão, o prendi no lugar com minhas pernas.

– Nem pense em fugir, docinho. - Me inclinei sobre ele e o beijei, sugando o máximo de energia que podia. Nossa... Era muito forte, perfeito!

Ele tentou se soltar, mas quanto mais eu insistia e aprofundava o beijo, mais ele se submetia à mim... Até que ele acabou perdendo toda a noção, agarrou minha nuca e me puxou mais para perto. Ótimo, ia acabar com ele ali mesmo.

Então senti algo muito pesado me atingindo e me jogando para longe do arcanjo, quando abri os olhos, lá estava o imbecil do Sam Winchester me prendendo contra a parede.

– Ah, calma Sam... Tem Meghan pra todo mundo.

– O que foi isso? - Gabriel se levantou atordoado - O que eu estava fazendo?

– Como você saiu? - Sam me perguntou.

– Não faço a menor ideia, acho que esse sangue que vocês me deram estava me deixando um tanto humana... Saí andando da armadilha... - Exibi os olhos escuros - Mas não humana o suficiente.

Dei uma cabeçada nele, que cambaleou para trás e eu aproveitei para fugir, saltei por cima do arcanjo que ainda estava no chão com cara de confuso. Cheguei na sala e todos se levantaram, alarmados. A garota estava ao meu lado e eu passei os braços algemados pela cabeça dela e a puxei pelo pescoço.

– Ah! Dean! - Ela gritou.

– Ok, vocês vão me deixar sair ou eu acabo com a mascote de vocês. - Olhei de Dean para Bobby, que estavam com caras aterrorizadas.

– Meghan, não faça nada com a Claire... - Dean falou com calma e deu um passo em minha direção.

– Fique longe de mim, Winchester. - O alertei e apertei mais o pescoço da garota, que levou as mãos para os meus braços.

– Tudo bem, nós vamos te deixar ir... Apenas solte-a. - Bobby ergueu as mãos.

– Não confio em vocês.

– Você é o demônio aqui, nós é que não confiamos. - Dean falou.

– Meghan, solte-a. - Bobby pediu novamente.

Sam e Gabriel vieram correndo e eu puxei a Claire comigo para me virar na direção deles, que pararam ao me ver fazendo a garota de refém.

– Eu vou sair daqui com ela e lá fora eu a liberto... Se vocês tentarem algo, eu juro que arranco os olhos dela com minhas próprias garras. - Ameacei.

– Tudo bem, apenas não a machuque. - Sam falou.

Fui andando de costas até as escadas do bunker e eles vieram acompanhando vagarosamente. Subi as escadas já perdendo a paciência com aquela garota que tropeçava a toda hora. Quando finalmente saímos, me pronunciei novamente.

– Vocês vão me deixar ir, entenderam? - Encarei todos ali e eles assentiram.

Libertei a menina e ela foi correndo para o Gabriel e todos se viraram preocupados para ela, não quis ficar tempo o suficiente para ver o que fariam em seguida e me virei pronta para correr.

– Acabou, Meghan. - Castiel surgiu na minha frente e me agarrou, exibindo todo o brilho nos seus olhos.

– Não! - Gritei rosnando para ele, com os olhos escuros - Me largue!

– Meghan, pare... Acabou. - Ele sussurrou no meu ouvido com uma voz rouca.

Aquele maldito me levou de volta para a masmorra! Não sei como esqueci da existência dele! Que inferno! Me amarraram novamente e todos ficaram na sala dessa vez, logo me deram mais uma dose de sangue humano.

Eles repetiram aquela tortura por horas, cada vez mais eu sentia como se estivesse me acabando por dentro, mal conseguia manter os olhos abertos. Mais alguns flashs preencheram minha mente; Crowley com uma seringa metálica no meu pescoço, depois injetando um sangue roxo no meu braço, Kyle.

Não sei bem em que momento ocorreu, mas perdi a consciência do que acontecia do lado de fora, vez ou outra ainda sentia a dor que o sangue me causava, mas era quase imperceptível. Foi aí me que milhares de coisas voltaram à minha cabeça.

Ah! Tudo que eu fiz nesse ano como demônio e uma bela retrospectiva da minha vida, como se eu estivesse morrendo. O que aconteceu comigo? O que eu fiz? Eu magoei o Cass, magoei toda a minha família. Estive com Kyle e nem sabia quem ele era, deixei o Crowley me manipular! Matei tantos homens que nem podia contar, falei coisas horríveis para os Winchester, Bobby e quase matei o Gabes! Minha Nossa... No quê me transformaram?

Senti outra picada no meu braço, mas não tinha mais dor dessa vez, na verdade eu não sentia mais nada fisicamente... Já no meu psicológico, eu não poderia dizer o mesmo.

– Meghan? - Aquela voz rouca e firme me chamou, senti uma emoção tão grande que mal notei que algumas lágrimas estavam escapando dos meus olhos.

Balancei a minha cabeça que estava pendida para o lado e foquei nos olhos azuis bem próximos de mim, tão preocupados... Não pude deixar de tentar sorrir.

– Hey, Cass.

Ele sorriu de volta para mim, limpou minhas lágrimas e começou a me desamarrar da cadeira, notei os outros se entreolhando com feições de alívio e Dean veio até mim para abrir as algemas.

– Bem vinda de volta, ruiva! - Ele sorriu pra mim.

– Obrigada, loiro...

Quando eles me soltaram e eu tentei levantar, acabei ficando tonta e caindo de volta na cadeira, então o anjo me rebocou para fora da sala.

– Ah Deus... Gente, me perdoem. - Eu parei no meio do caminho e me virei para os cinco que nos acompanhavam - Por favor, me perdoem.

– Não se preocupe com isso agora, Megh, você precisa descansar. - Bobby veio até mim.

– Não! Eu falei coisas horríveis, tentei matar a Claire e o Gabriel...

– É melhor esquecermos essa parte, Meghan. - O arcanjo pediu, assim como eu, ele nunca me viu como algo além de uma amiga.

– Adoraria que esquecessem! - Castiel comentou.

Nós todos rimos do ciúmes do anjo, eu me apoiei no pescoço dele pois ainda estava muito fraca e encostei minha cabeça no ombro dele e inalando aquele perfume tão característico... Ah Deus! Um ano longe do meu anjo! Tudo bem que nós nos pegamos loucamente na noite anterior, mas não era eu... E ainda por cima estava tentando matá-lo.

– Talvez seja melhor descansar um pouco. - Ele me falou e começou a me guiar de volta para o quarto.

Me joguei na cama e só então notei as roupas que estava usando, mas estava tão exausta que nem quis trocar.

– Não ouse me deixar aqui sozinha. - Segurei o braço dele assim que ele fez menção de sair - Um ano, Cass...

– Eu só vou conversar com os outros, descanse e eu estarei aqui quando você acordar. - Castiel me prometeu.

Rolei os olhos e assenti, o anjo se retirou e eu me joguei no sono tão rápido que nem tive tempo de pensar.