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Eu estava no meu quarto, encarando a parede atentamente. Mas pensando bem, não era a parede que eu encarava, mas sim, o alvo que havia nela, bem no centro. Olhei mais uma vez para a parede branca e depois fitei a pequena faca que minha mão direita segurava, joguei.

Me surpreendi, muito. A faca parou bem perto do ponto vermelho, e isso era muito bom para quem nunca havia jogado facas na vida. Sorri, ser lobisomem tinha suas vantagens. Era só eu treinar mais um pouco e estaria pronta. Deveria agradecer meu tio por ter me incentivado à isso, já que depois de recuperar-se do susto, ele disse que eu deveria tentar. E aqui estou eu.

Jogar facas era uma coisa muito útil, uma habilidade que provavelmente iria ser usada daqui um tempo. Imagine se eu entrevisto um psicopata e ele queira me atacar? Ou se trabalhar na delegacia tinha seus perigos? Ou pior ainda: E se eu realmente fosse um alvo por ser de uma família de caçadores?

Mexi minha cabeça para tentar afastar os pensamentos bobos e bufei. Um bufo cheio de frustração e ansiedade, queria saber mais sobre Beacon Hills logo, queria saber mais sobre Kate e quem mais estivesse envolvido... como Scott. E então outro pensamento surgiu na minha mente: e se talvez Scott esteja trabalhando com Kate, e Liam? Eles pareciam bem ligados a ela quando conversaram sobre isso semana passada. Não importava se Stiles e Lydia eram seus amigos, Scott poderia trabalhar com Kate, não podia? Eu só não sabia o porquê. Vou tentar ignorar isso por enquanto, mas não vou confiar cegamente em Scott ou nos outros, não ainda.

Mas e Kira? Meu subconsciente perguntou. Kira... Ela era uma boa garota, não sei se deveria duvidar dela, ela não parecia um perigo. Nem Malia, ou Stiles... Ou Lydia. Bufei em frustração novamente. Só me restava duas pessoas em quem duvidar: Scott e Liam.

Peguei mais uma das facas que eu havia comprado - tão linda e brilhante. Olhei para o pequeno alvo à minha frente e imaginei a cara de Liam e Scott ali, joguei a faca. Foi certeiro.

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Depois do meu pequeno show parecido com um de circo no quarto, eu me arrumei para ir para a escola. Acordei cedo demais, assim como aconteceu a semana inteira. Eu acho que estou ficando muito ansiosa, e isso não é legal. A delegacia acabou me contratando. Admito que me surpreendi, não pensei que eles se interessariam por alguém como eu, mas no fim, aceitaram. Eu estava louca para começar naquele lugar, e talvez uma grande parte da minha ansiedade esteja concentrada nisso, eu queria botar a mão naqueles arquivos logo.

— Nervosa para primeiro dia de trabalho? — Perguntou meu tio quando eu já estava na sala, com a mochila nas costas.

Eu estou nervosa porque têm um cara lá na escola que provavelmente está trabalhando com uma assassina muito perigosa, apelidada de werejaguar. E provavelmente seu amigo também. Eles estão me olhando estranho desde quando tiveram aquela conversa, que aconteceu porque eu entrevistei o amigo do cara. E eu escutei a conversa, porque afinal, eu sou um lobisomem, meus sentidos são mais aguçados, e acho que você sabe disso. Mas enfim, isso é legal.

— Não — disse simplesmente, optando pela resposta mais fácil, muito mais fácil. Eu estava decidida que só contaria tudo para o meu tio se a coisa ficasse realmente muito feia. Eu também não queria estragar a felicidade dele, e dizer que eu só entrei na delegacia por segundas intenções.

Ele franziu o cenho inicialmente, mas logo depois abriu um sorriso e me olhou carinhosamente.

— Essa é minha garota. Agora vai, não quero que de atrase.

Dei um beijo em sua bochecha e saí pela porta. Eu saí com um pouco de hesitação. Sei lá, entrar naquela escola estava se tornando cada vez mais difícil. Scott me olhava com uma cara nada agradável quando Kira não estava olhando, Liam era a menor das minhas preocupações já que eu não o via muito, porque era um ano abaixo do meu. Mas eu agradecia Scott e Liam ao mesmo tempo, já que não contaram para seus - e meus - amigos sobre isso. Talvez não contaram porque Kira e Malia não sabiam de Kate, ou porque eles não queriam se preocupar com algo, não sei por quê.

Cheguei na maldita escola e logo localizei Malia perdida na grande aglomeração de estudantes que só conversavam e caminhavam pelo corredor todo. Aproximei-me dela e dei um simples "olá". Eu apenas não sabia o que falar com ela, Malia era surpreendente de todas as formas. Uma hora estava me oferecendo pizza, depois pedindo para amarrar os seus cadarços, e logo depois perguntando a resposta da questão número sete. E eu sempre ria com todos os seus pedidos, não sabia o motivo, ela era uma figura, e orgulhosamente posso dizer, minha amiga também.

— Você sabe onde Kira está? — Perguntei para uma Malia olhando para o nada.

— Bem ali — ela apontou com o dedo para um casal conversando animadamente, logo reconheci. Fechei meus olhos lentamente ignorando a vontade de correr, Scott virou pra trás e me viu, minha vontade de correr foi maior ainda. Abri um sorriso como se não soubesse de nada, mas dele não arrancou nada. Olhei séria para ele e depois ele já estava se aproximando com Kira.

— Olá — falei para os dois, minha voz vacilou um pouco, mostrando o quanto eu estava nervosa na presença de Scott. Ele sabia ser intimidador quando queria.

Scott devolveu o cumprimento mas logo depois se afastou para o lado de Stiles que há pouco havia chegado, me deixando sozinha com Kira e Malia, suspirei aliviada, como fazia frequentemente.

Ouvi uma agitação pelo corredor e olhei para frente tentando prestar atenção e descobrir de onde vinha tudo aquilo. No corredor não havia nada demais, mas depois um rapaz surgiu de lá. Ele tinha um maxilar forte e bem marcado, e de longe eu conseguia ver suas íris bem azuis. Malia e eu encarávamos aquilo séria, e com muito interesse, pelo jeito só nós duas não o conhecíamos. O garoto olhou para Scott e abriu um sorriso, e eu posso afirmar, com todas as minhas forças, que o sorriso era de tirar o fôlego. Ainda bem que eu permanecia com o meu, já que ele era forte o suficiente para aguentar tudo aquilo. Mais um amigo para me apresentarem.

— Ele é... — comecei.

— Gostoso — disse Kira. Sim, ele era. Mas não era essa a palavra, ele era...

— Misterioso — falei achando a palavra apropriada, franzindo a sobrancelha.

Sim, essa era a palavra. Pelo pouco tempo que eu o vi, eu já pude perceber isso. Talvez eu julgasse as pessoas de uma maneira errada, já que não convivi muito com elas para saber certamente. Olhei para Malia e ela concordava comigo, assentindo a cabeça levemente para si mesma, bom, talvez fossemos apenas nós duas. Já que não conhecíamos o garoto.

O sinal tocou, e um a um, fomos para a nossa sala, mal chegamos e o treinador Finstock apareceu com seus cabelos arrepiados e totalmente pretos, e também com suas roupas atléticas.

— Para seus lugares. AGORA! — Gritou o treinador assoprando seu apito depois.