All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 49
All Out War – Part Three: Made to Suffer


Notas iniciais do capítulo

Hei!

Acabo de chegar com a terceira parte do arco final de All Out War!

O capítulo de hoje está repleto de ação, digno da grande guerra que vem assolando com os nossos sobreviventes.

Fiquei bem contente ao dar uma última olhada nos números da fic, e ao ver que mesmo com o estado avançado em que ela se encontra, novos leitores continuam surgindo. Eu sabia desde o começo que essa história não receberia muitos comentários e recomendações, já que foge um pouco do estilo que comumente é procurado nesse gênero. Mas eu sabia também que aqueles que conseguisse cativar, não iriam se arrepender, pois, nunca deixei de me esforçar (e de ouvir preciosas dicas) para que essa fic crescesse e se tornasse um projeto de qualidade. Agora que ela se aproximando do fim, sinto que consegui isso...

Obrigado a todos os leitores, sem exceção! Até mesmo aos fantasminhas (como diria Menta hehe)! Agradeço a Menta e Sami, em especial, por estarem sempre ao meu lado, comentando, opinando e me incentivando! Kiitos! Dedico esse capítulo, ou melhor, dedico a história inteira a vocês duas!

Teremos quatro POVS nesse capítulo. Iniciaremos e finalizaremos com POVs do xerife Grimes, e ainda teremos Ezekiel e Carl. A ação vai comer solta por aqui, em mais um capítulo cheio de tiros, explosões e sangue espirrando para toda a parte! Hehehe...

Espero que curtam! Boa Leitura!



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Do outro lado do Potomac River, já adentrando o território de Arlington County, avançando pela 23rd Road, o grupo liderado por Rick e Jesus aproximava-se do primeiro dos quatro postos avançados dos Salvadores que Dwight lhes marcara nos mapas.

A dica dada dizia a respeito de uma base grande, a maior de todas, suprida e armada o bastante para se manter independente do Santuário por bastante tempo. De todas as cabeças da monstruosa rede desenvolvida por Negan, essa com toda a certeza era a mais bem articulada. Cortá-la então, significaria enfraquecer ainda mais os Salvadores.

A seu favor, Rick e a Aliança possuíam o elemento surpresa, já que pela distância e por tudo o que ocorrera nos portões do Santuário, ninguém ali sequer imaginava que o local havia se tornado um alvo. Se tudo corresse bem, seria rápido, seria preciso, e seria mais uma grande vitória dos Sobreviventes.

O lugar era um velho engenho, mas que aparentemente fora reativado pelos homens de Negan. O moinho movido à água desviada do Potomac parecia funcionar a todo o vapor, o que provavelmente fornecia energia e mantimentos ao grupo de milicianos. No terreno auxiliar, cercado por uma coluna de grossos troncos de madeira e arame farpado, uma plantação de milho era mantida.

O grande galpão no centro do terreno, protegido por uma mureta de concreto com não mais do que um metro e meio, servia como morada e depósito para os Salvadores daquele posto avançado. Construído totalmente em madeira, e que visivelmente passara por reformas posteriores, o QG possuía duas grandes portas, sendo que uma delas posicionada estrategicamente nos fundos.

As trancas internas pareciam ser grossas e resistentes, algo que também provavelmente fora implementado pelos homens de Negan. Sentinelas faziam a vigia externa, dois sentados em frente à entrada do galpão e outros três circundando a área, atentando-se a qualquer movimentação hostil e cuidando dos errantes que hora ou outra tentavam invadir o lugar.

Alguns homens cuidavam das plantações, enquanto que outros realizavam tarefas dentro da própria sede. Quarenta e cinco homens no total, fora o que o motoqueiro lhes dissera. Grimes levara trinta e três combatentes, espalhando-os em um raio de até duzentos metros do local a ser atacado.

Três frentes avançariam de uma única vez, enquanto snipers lhes dariam cobertura. Jesus lideraria o primeiro grupo, que atacaria pelos fundos, cuidando também dos desgarrados Salvadores que trabalhavam nas plantações. O segundo grupo, comandado por Eloise, iria pelas laterais, inutilizando as defesas dos sentinelas, ao mesmo tempo em que Rick, juntamente com a terceira tropa, invadiria pela porta da frente o posto avançado dos milicianos.

Seria tão rápido e intenso, que aqueles sujeitos sequer teriam tempo de mensurar o que estava ocorrendo.

O ônibus da Aliança, de prontidão para partirem assim que fosse necessário, havia sido estacionado em um ponto estratégico, em uma estrada auxiliar ao largo, longe do campo de visão dos Salvadores. Rosita Espinoza ficara responsável por cuidar da fuga e dos possíveis feridos em combate.

As arestas estavam aparadas e tudo parecia pronto para que mais uma etapa da grande guerra se iniciasse. Protegidos pelas carcaças de carros espalhados pela autoestrada, tarefa essa feita pelos próprios milicianos, como forma de resguardar sua base dos mortos vivos, os soldados de Rick esgueiravam-se como ladinos, ganhando terreno em movimentos silenciosos e furtivos.

A brisa gelada uivava na medida em que a manhã avançada. O tempo fechado, com nuvens carregadas tomando conta dos céus, indicava que uma tempestade logo iria cair por aquelas bandas. Tudo parecia conspirar para mais uma vitória da Aliança.

— Há dois homens mais próximos aos portões, chefe.

Niko, um rapaz de vasta barba ruiva e cabeça raspada, um dos moradores do Hill Top que se recusaram a abandonar o fronte, posicionava-se ao lado de Grimes, ambos agachados atrás de uma Mercedes incendiada. Observando toda a movimentação com um binóculo, o combatente passava a posição inimiga ao líder daquelas tropas.

— Perfeito. – Totalmente concentrado, Rick verificava a quantidade de munição que possuía, exibindo mais uma vez a habilidade que desenvolvera em recarregar sua pistola com apenas uma das mãos – Eloise trouxe a chave. Vamos precisar ser rápidos, assim que o sinal for dado aos snipers, avançaremos com tudo, sem olhar para trás. Isso só vai funcionar se os três grupos estiverem em sintonia.

Recostado no mesmo automóvel, Tom Price parecia tentar controlar a própria respiração. Com uma AR-15 em posse, o corpulento homem também preparava-se para o avanço, exatamente como fora planejado. Virando a cabeça velozmente, o soldador observara a olho nu os dois sentinelas a quem Niko se referira.

— Não seria melhor que a Imperatriz avançasse na frente, já que ela está com a chave? – Questionara Price em sussurros, escondendo-se outra vez – Isso abriria mais espaço para que o restante pudesse invadir.

Sem nem sequer piscar, a cara amarrada em profunda seriedade e concentração, o xerife respondera a indagação.

— Não. Não podemos dar chance alguma para que eles respondam. Apesar de termos o elemento surpresa do nosso lado, ainda estamos em menor número. A chave só será usada no momento em que não houver mais possibilidade deles se defenderem. Será o nosso xeque mate.

O homem negro, mesmo reticente, concordara com o xerife após sua explanação. Rick dera mais uma olhada, passeando com os olhos uma última vez, verificando se todos os pontos estavam em seus devidos lugares. Acabara aprendendo com a própria afobação que movimentos impensados poderiam trazer graves consequências. Portanto, era melhor não arriscar daquela vez.

Abrira um dos botões da surrada camisa que usava, manchada de terra e areia. Segurara nas mãos a corrente que lhe circundava o pescoço, cerrando os olhos por alguns instantes. Pensara em Carl, pensara em Andrea. Pensara em todas as pessoas que dependiam daquela vitória. Dependiam do sucesso da missão.

Não podia errar. Não iria errar.

Retirara então a corrente, que trazia presa a si um apito prateado, entregue em mãos por Jesus, quando os líderes ainda bolavam os pormenores a serem realizados. Respirara profundamente, sentindo o oxigênio renovado lhe invadir os pulmões.

Estava pronto. Daria mais um passo rumo ao novo mundo.

— Rapazes... – Grimes olhara para os dois homens ao seu lado – Sabem o que fazer.

Niko e Price concordaram em um gesto de cabeça. A tensão exalava por seus poros. Rick Grimes levara o apito até a boca, soprando-o fortemente ao mesmo tempo em que tomava a pistola companheira em sua mão esquerda.

Simultaneamente ao som agudo e estridente que produzira, o policial erguera-se, juntamente aos demais soldados, correndo em disparada em direção aos portões da base avançada dos Salvadores. Os disparos dos atiradores da Aliança, posicionados a distância em diferentes pontos da estrada, davam cobertura para o início do voraz ataque.

Assim como haviam imaginado, a ação articulada tomara os milicianos totalmente de sobressalto. Sem tempo de reagirem, vide a surpresa da investida arquitetada, os homens de Negan expostos do lado de fora, tombaram um a um com os tiros dos snipers. Aqueles que conseguiam sobreviver não encontravam tempo nem para retirar suas armas dos coldres, já que os combatentes a pé, liderados pelos gritos do xerife, os exterminavam sem piedade.

Rick olhara para o fronte. Naquele momento tudo parecia ocorrer em câmera lenta, ali, diante dos seus olhos.

Enquanto carregava sua rurger, pudera ver Aaron, em meio à fúria trazida em seu peito após a morte de Eric, fuzilando três inimigos que tentavam proteger-se nas plantações, com tiros de rajada dados pela submetralhadora que portava.

Tom, que assim como o próprio xerife, também precisara aprender a se virar com apenas uma das mãos, no caso, um dos braços, apoiava a AR-15 um pouco abaixo da clavícula, segurando o tranco e disparando ininterruptamente, sem dar chances para que os sentinelas, que ainda tentavam evitar a invasão pelos portões frontais, pudessem realizar qualquer tipo de contrataque. Vira também quando um tiro em resposta atingira Price em cheio, fazendo com que o corpulento homem caísse ao solo de lado.

Niko dera dois rolamentos, resguardando-se assim que o reforço dos Salvadores começara a surgir, atirando pelas janelas do galpão central. Um dos tiros quase o atingira, mas o ruivo fora rápido o suficiente para se arrastar, atirando com o rifle e se aproximando de Price, que seguia imóvel no chão. Rick lhe dera cobertura para que pudesse finalizar a ação de socorro.

Pelo que pudera observar, Jesus também estava obtendo sucesso, vide o intenso tiroteio que ocorria nos fundos do QG. Com dez combatentes a seu lado, o habilidoso barbudo conseguira distrair a linha inimiga, obrigando-os a se dividirem em duas frentes, dando espaço então para que Eloise, Hanso e Elizabeth Penn conseguissem avançar pelos flancos, trazendo a tão citada chave.

PROTEJAM-SE! – Bradara Rick, ele próprio se lançando atrás de uma proteção de concreto, bem próximo a entrada do posto avançado – Não parem! Não parem!

Os corpos já começavam a se acumular no pátio, mas naquele momento, a grande preocupação era com os homens enfurnados dentro do galpão, já que possuíam uma ampla visão do campo de batalha, além de se encontrarem protegidos dos disparos da Aliança.

O limite de avanço havia sido alcançado. As cercas já haviam caído e os combatentes de Grimes e Jesus agora amparavam-se como podiam, tentando evitar as baixas, enquanto que os Salvadores, já cientes do que estava ocorrendo, descarregavam suas munições contra os sobreviventes.

Da forma que estava, era praticamente impossível dar um passo a frente que fosse. Invadir o QG então, algo mais do que improvável. Mas para a sorte da Aliança e daqueles que de alguma forma torciam para a derrocada de Negan, os líderes daquela tropa haviam previsto que isso poderia acontecer. E a chave para reverter a situação estava nas mãos de Eloise McIntyre.

Rick erguera a mão espalmada, girando-a no ar. Os seus soldados sobreviventes entenderam o recado, espalhando-se, escondendo-se da melhor maneira que conseguissem encontrar. Por breves instantes, os tiros da Aliança haviam cessado por completo.

Levara então a mão ao apito novamente, assoprando-o e fazendo ecoar o estridente e agudo som outra vez.

PROTEJAM-SE! – Após o grito, só tivera tempo de levar as mãos aos ouvidos, antes de uma enorme explosão se propagar.

A RPG trazida por Hanso, o braço direito da Imperatriz, lançara uma granada-foguete de encontro com uma das paredes laterais do galpão utilizado como base do posto avançado. O estrondo fora quase ensurdecedor, e destroços de madeira se espalharam pelo ar, caindo metros de distância do local atingido.

Gritos puderam ser ouvidos assim que a fumaça começara a baixar. A frágil estrutura do galpão ajudara para que a investida fosse ainda mais mortal, já que as bases construídas em madeira fizera com que boa parte do lugar desabasse, não suportando a violência da explosão.

O instransponível esconderijo havia acabado de ser aberto.

AGORA! COM TUDO! VAMOS!

O xerife erguera-se, trazendo com ele os seus soldados, os homens que haviam prometido lutar por aquela causa, livrar-se daquele déspota. Talvez inocentes pudessem estar pagando o preço da guerra, mas Grimes preferia acreditar que no fim o saldo seria positivo.

Não dá para entrar em uma guerra sem ter baixas. E uma vez dentro, é preciso ir até o final.

Atirara duas vezes no peito de um Salvador que, em meio aos escombros, tentara juntar a pistola perdida entre as tábuas e telhas destroçadas. Aqueles que haviam sobrevivido, que ainda insistiam em responder de alguma maneira, iam agora sendo facilmente exterminados.

Havia muito sangue no chão. Membros decepados se espalhavam por toda a parte, principalmente próximos ao grande rombo, que ainda expelia a fumaça do impacto. Os homens de Eloise e de Jesus também avançaram, e como faxineiros, limparam as impressões digitais restantes de Negan naquela área. Finalizando finalmente com o massacre.

Quarenta e cinco Salvadores mortos contra sete membros da Aliança tombados. Uma vitória contundente.

O pequeno grupo de Rosita fora avisado e logo o ônibus aportara no posto recém-tomado. Como já havia sido feito em outras situações, Grimes pedira que os corpos de seus combatentes fossem enrolados em lençóis, para serem devidamente enterrados em suas comunidades de origem.

Ao mesmo tempo, os cadáveres inimigos eram empilhados uns sobre os outros, sendo amontoados para depois serem queimados. Tudo sendo feito de forma veloz, já que muito provavelmente, após tantos tiros e explosões, uma grande quantidade de errantes logo rumaria para aquela direção.

Os feridos eram agora tratados, e o mais grave de todos parecia ser Price, que tombara logo no início dos confrontos. Salvo por Niko, que conseguira retirá-lo do fogo cruzado, o ex-soldador recebera dois tiros em sequência, muito próximos, ambos lhe atravessando o lado esquerdo do abdome.

Estava inconsciente e sangrava consideravelmente. Mais um motivo para que não se demorassem por ali. Assim que tudo estivesse pronto, partiriam de volta a Alexandria.

— Já estamos com quase tudo pronto, Oficial. É só nos dar o aval e partimos.

A Imperatriz aproximara-se, os olhos rodeados por uma maquiagem ainda mais negra do que o habitual. Na lâmina de sua prótese podia-se ver manchas de sangue recente. Provavelmente a utilizara para matar Salvadores durante a batalha.

— Você o tem. – Respondera. Eloise estacionara ao seu lado.

Grimes a olhara, os dois encontravam-se de frente a toda a movimentação dos combatentes, que aceleravam o passo, arrumando-se para partir o mais rápido possível.

— Preciso agradecê-la outra vez... – Rick voltara-se para a Imperatriz – Não sei se teríamos conseguido sem a sua ajuda. Aqui e no Santuário... É bom tê-la de volta Eloise.

A mulher sorrira brevemente, encarando o horizonte em seguida.

— Não gosto de quebrar promessas. – Ela então começara a retirar a prótese, exibindo o braço esquerdo – Irmãos de guerra... Ainda se lembra?

O xerife tocara o braço esquerdo da Imperatriz com o coto, repetindo o mesmo gesto que firmara o acordo entre as duas comunidades, logo após a Imperatriz tentar de forma frustrada invadir a zona segura de Alexandria.

Alguns grunhidos próximos podiam ser ouvidos. Assim como havia sido previsto, uma grande quantidade de mortos vivos ia pouco a pouco se aproximando. Logo se amontoariam as centenas. Era melhor não estar ali quando isso ocorresse.

— Acha que eles estão rindo de nós? – A indagação de McIntyre soara vazia aos ouvidos de Grimes, que fitara o seu rosto, ainda concentrado no horizonte. – Sabe... Os errantes. Acha que eles estão rindo de nós?

Rick arqueara uma sobrancelha.

— E por que eles fariam isso?

A mandatária seguira com os olhos presos na imagem de um bando achegando-se, caminhando lentamente pela estrada principal.

— Tenho certeza que se eles pudessem estariam rindo. – Dissera – Eles estão sempre por aí, sem rumo, escondidos a cada esquina, apenas esperando o melhor momento para nos matar e devorar. E então o que nós fazemos? Matamos uns aos outros. Só estamos facilitando o trabalho deles.

Rick também focara os olhos no horizonte. As primeiras gotas de chuva começavam a cair, enquanto que os trovões soavam como tambores indígenas. Mais um sinal de que estava na hora de seguir em frente.

— Não devemos pensar nisso. – Grimes fora seco em sua resposta – Pensar em coisas desse tipo só irá nos enlouquecer mais rápido. Vamos – Ele tocara o ombro da líder do Garden –, temos um longo caminho de volta para casa.

O policial se afastara, dirigindo-se até o ônibus que já os aguardava. A Imperatriz o seguira, recolocando a prótese no ombro esquerdo.

Após mais uma vitória, uma dura vitória por sinal, o xerife, apesar de contente pelo resultado de seus esforços, ainda mostrava-se bastante cauteloso. Sabia que tratava-se apenas dos primeiros passos, e mesmo com os dois acachapantes sucessos, preferira não comemorar, e não permitira que ninguém o fizesse.

Olhara para Aaron, sentado nos fundos do ônibus escolar, os olhos vermelhos, tomados por lágrimas que pareciam que jamais cessariam. A camisa manchada de sangue alheio, dos inúmeros homens que matara naquela manhã. Ao lado dele, recebendo cuidados a todo o momento, Tom Price parecia afogar-se no próprio sangue, o abdome sangrando, o corpo aparentemente sem forças para se recuperar.

Sete mortos na contenda, onze no total. Quarenta e cinco Salvadores ardendo em meio às chamas que lambiam os seus corpos.

Será que realmente haveria um vencedor após essa implacável guerra?

Rick Grimes sentara-se em um dos bancos mais a frente, ao lado de Jesus, sinalizando para que Hanso, que assumira o volante, retirasse o grupo daquela terra morta.

Iria para casa. Abraçaria Andrea e Carl outra vez.

 

*****

 

Estávamos em vinte e oito.

Partirmos junto com o grupo do Rick, mas nos dividimos depois que o grupo dele tomara a 23rd Road. Eu e meus homens seguimos para Cherrydale, onde Dwight havia nos apontado ser a localização de mais um posto avançado.

Aportamos na Lorcom e seguimos a pé, cautelosamente até chegarmos a Military Road, onde conseguimos avistar o posicionamento da base dos milicianos. O lugar era um bar, um restaurante a beira da estrada. Um pequeno prédio de dois andares, protegido apenas por algumas muretas e entulho amontoado.

Eu achei que estávamos com a vantagem... Como eu pude ser tão tolo assim!

Logo que chegamos, dividi a tropa exatamente como havíamos combinado. Os atiradores ficaram a distância, prontos para nos darem cobertura, enquanto que a linha de frente, esgueirara-se, escondendo-se e aguardando o sinal. Vinte homens no fronte. Vinte.

Não foi suficiente.

Não havia nenhum Salvador fazendo a ronda naquele horário, nenhum do lado de fora da base. Não me atentei a isso, fui arrogante. Quando percebi o que realmente estava ocorrendo, infelizmente já era tarde demais.

Eles começaram a atirar primeiro, antes mesmo que eu pudesse dar o sinal. Nos pegaram de surpresa, viraram o jogo. Os homens de Negan haviam detectado nossa presença, e aguardaram que nos aproximássemos para que pudessem dar cabo de meus homens com maior facilidade.

Eu demorei muito para perceber que estávamos sendo massacrados. Demorei muito para perceber que aquela era uma batalha perdida.

Os nossos snipers tentaram responder, mas todas as nossas investidas eram frustradas pelo poder de fogo dos nossos inimigos. Implacáveis, os Salvadores iam derrubando um a um. Eu tentei atirar contra eles, exigi que os meus soldados respondessem, mas... Não tinha mais jeito.

Um grupo tentou fugir. Foram assassinados com tiros pelas costas. Caíram do meu lado, o sangue espirrando em minha camisa. Foi nesse momento que Alex também morrera... Alex. O meu mais fiel combatente. Em meio a toda a minha encenação, Alex era os meus olhos e ouvidos. Um grande amigo.

Fazia tempo que não via um amigo se transformando em uma daquelas criaturas. Principalmente tão rápido quanto ocorrera. Isso é algo que você, definitivamente, não se acostuma.

Gritei então para que recuássemos, para que fugíssemos dali, salvando nossas vidas. Mas aquela altura grande parte da nossa tropa já estava morta. Os corpos tombados no solo, afogados no próprio sangue. Não olhei para trás. Corri, tentando me proteger dos disparos que me seguiam.

Perdi os demais de vista... Eu mal sabia para onde estava correndo. Os Salvadores pareciam dispostos a acabar com todos nós, pois assim que começamos a fugir, eles deixaram a base, nos perseguindo, prosseguindo com o massacre. Os errantes também se aproveitavam de toda aquela celeuma para nos cercar, alimentando-se dos corpos mortos e buscando novas presas vivas.

Me vi cercado, acuado. Um grupo de cinco milicianos me capturara, e me mataria provavelmente. Bom, por saberem quem eu sou, provavelmente fariam pior do que isso. Mas felizmente para mim, ainda havia um filete de esperança em meio a tanta desolação.

Um dos homens se distraíra com a perigosa aproximação de um dos inúmeros famintões que se encontravam por ali. Tive tempo então para correr, movimentando as pernas o mais rápido consegui, sentindo as balas zunindo em meu ouvido. Para minha sorte, nenhum disparo me atingira.

Me embrenhei pela mata, chutando os errantes, livrando-me das vis criaturas que tentavam alimentar-se com minha carne. A adrenalina tomava conta de minhas veias, sentia o meu coração extremamente acelerado, parecendo inclusive que iria atravessar o meu peito. Tropecei em uma pedra, rolei uma pequena ribanceira e acabei caindo dentro de um riacho.

Assim que me ergui, a cabeça girando, cortada em um ferimento um pouco acima de minha sobrancelha, vi que estava cercado mais uma vez. Os mortos vivos haviam tomado as duas margens, e já começavam a caminhar sobre a rasa água corrente que seguia sobre as pedras. Estava desarmado. E estava sem esperanças.

Mas novamente o universo resolvera me dar uma chance.

Shiva surgira, saltando sobre as criaturas, dando-me brecha para escapar, para sobreviver. Eu havia deixado-a no ônibus, não queria que ela tivesse participado da batalha. Fui extremamente egoísta, não deveria sequer tê-la levado comigo, mas achei que venceríamos com facilidade, que ela não correria risco algum.

Talvez ela estivesse me procurando, talvez estivesse preocupada comigo. Minha tigresa rasgara a carne pútrida dos errantes, lidando com três, quatro de uma única vez. Eu a chamei, chamei para que ela viesse comigo, mas ela não me ouviu. Havia tantos monstros, tantos... Ela não conseguiu lidar com todos, fora cercada e cruelmente começara a ser devora, ali, na minha frente.

E outra vez eu não pude fazer nada.

Acho que ela sabia que eu não iria sobreviver sem a ajuda dela. Talvez tenha realmente se sacrificado por mim, ou... Eu não sei. Ainda dói tanto...

Dois tiros de rifle à distância acabaram com o sofrimento de Shiva. Olhei para o alto do pequeno morro e vi Goodwin, chamando por meu nome, me dando cobertura para que eu conseguisse me salvar. Ele acabara sendo o verdadeiro líder ali, o verdadeiro rei.

Salvara cinco dos nossos, levando-os até um local seguro, e ainda retornara para me salvar... Era melhor que tivesse me deixado morrer junto a Shiva... Pelo menos assim eu não sentiria um vazio tão grande quanto estou sentindo agora.

...

— Seria melhor se eu tivesse morrido no campo de batalha, Michonne... – De olhos fechados, Ezekiel, que havia acabado de retornar da missão, sentava-se ao lado da espadachim, em sua casa, contando-lhe tudo o que havia ocorrido na frustrada batalha que liderara – Me sinto péssimo por ter perdido tantos homens. Me sinto... Envergonhado.

A samurai lhe servira chá, cuidando de seu superficiais ferimentos enquanto tentava de alguma forma consolá-lo.

— Tudo seria bem melhor se eu tivesse morrido. O meu povo veria minha morte como um ato heroico, como um símbolo para essa guerra que tanto queremos vencer. Mas agora... Eu serei visto como um covarde, como o rei que abandonara o fronte, que deixara sua tigresa se sacrificar por ele...

Sem conseguir controlar-se, Ezekiel deixara uma grande quantidade de lágrimas descerem por seus lacrimais. A voz estava embargada, presa à garganta, engasgando-o.

— Eu perdi pessoas que amava quando tudo isso começou. Grandes amigos... Não eram minha família, mas era o mais próximo que pude chegar disso. Meu pai estava morto para mim desde que eu era criança, e minha mãe... Ela nunca fez por merecer esse título. Eu também nunca sorte com mulheres...

— Alex, Lewis, Shiva... Eles eram minha família. E eu os amava como se fizessem parte de mim. – Michonne tocara o ombro do rei, que seguia fitando o solo, a cabeça baixa – Essas pessoas vieram até mim em busca de orientação... Elas olhavam nos meus olhos como se perguntassem “e agora, o que eu faço?”. Enquanto isso eu apenas as via sendo metralhadas, sem dar nenhuma resposta...

— E Shiva... Era meu dever protegê-la, minha obrigação. Ela sequer sabia que eu permiti que ela se sacrificasse por mim... – O homem levara uma das mãos até os olhos, enxugando as lágrimas que não paravam de escorrer – Eu não quero mais continuar com isso... Não quero mais liderar. Eu não posso mais... Eu os levei até um matadouro, foi tudo minha culpa! E isso jamais poderá ser desfeito... Esse peso é tão... É tão... Eu acho que eu não consigo mais suportar...

SLAPP!

A samurai desferira um forte tapa no rosto do mandatário do Reino. Quase caindo da cadeira, o homem arregalara os olhos, fitando-a sem conseguir entender a repentina atitude tomada por ela.

— Essas pessoas têm famílias que vivem na sua comunidade, e elas precisam de você. – A mulher o encarava com reprovação no olhar – Você não vai deixá-las na mão! Se você é tão covarde assim, então faça o que sempre soube fazer de melhor... Finja que é homem!

 

*****

 

— Senhorita Fisher?

Carl Grimes girara a maçaneta, abrindo a porta da casa onde a adolescente grávida residia. Adentrando lentamente, o garoto atestara que aparentemente não havia ninguém por ali.

Irrequieto pela demora do pai, que ainda não havia retornado da batalha, e ainda mais preocupado após a atroz derrota das tropas de Ezekiel, o filho do xerife tentava focar sua mente, apesar de saber que seria difícil voltar os seus pensamentos a um único ponto, vide tudo o que estava ocorrendo ao mesmo tempo.

Andrea, provavelmente atenta ao seu estado, distribuíra tarefas ao menino, ocupando-o por boa parte do dia, tentando de alguma forma fazer com que ele fosse produtivo, esquecendo-se nem que fosse por alguns instantes, do perigo que Rick Grimes e seus homens corriam lá fora.

Depois de verificar se os sentinelas, liderados pelo casal Magna e Yumiko, precisavam de alguma coisa, a sardenta pedira que ele levasse uma cesta de suprimentos – bem básica, já que a comunidade não se encontrava com os níveis altos – para a garota, que após a morte de Isaiah e a ida de Tom para a guerra, encontrava-se sozinha naquele casarão.

— Senhorita Fisher? – Indagara mais uma vez, ampliando o tom de voz.

A cozinha estava vazia, assim como a sala de estar. Do primeiro andar viera um grito de “Aqui em cima, estou no quarto!”.

O garoto então subira as escadas, arrumando o chapéu de cowboy sobre a cabeça e escondendo o enorme ferimento na face com uma longa mecha de seu cabelo negro e rebelde. Ainda sentia vergonha do rosto deformado, mas depois do encontro com Negan, não recolocara mais os curativos.

Seguira os degraus, chegando ao andar superior. Caminhando pelo corredor, estacionara em frente à porta do quarto de Fisher, onde era possível ouvir sua movimentação do lado interno. Carl então girara a maçaneta e adentrara o cômodo, sem avisar.

Leah ainda terminava de se trocar. Apenas de calcinha, a adolescente colocava um vestido florido, as estampas vivas como se fossem saltar do tecido. Mas não fora bem nisso que o olho do jovem Grimes se focara. Fora a primeira vez que vira uma garota nua na sua frente.

Totalmente desconcertado pela intromissão, virara-se de costas, retirando o chapéu e mal sabendo como agir. Passara uma das mãos nervosamente sobre os oleosos cabelos, girando o pescoço e olhando de esguelha, lutando contra a tensão do momento que acelerara os seus batimentos cardíacos repentinamente.

— Me... Me desculpe senhorita Fisher... Juro que não fiz por mal, eu...

Ele ouvira a loira dar um risinho, comportando-se de forma natural, como se nada tivesse ocorrido.

— Não precisa se desculpar Carl, pode se virar. – Lentamente o menino virara-se, ela agora estava vestida, mas seu olho não conseguia se focar nos de Fisher. – Tenho certeza que ainda verá muitas garotas nuas nessa vida, se é que já não viu antes. E por favor, pare de me chamar de senhorita. Eu sou apenas dois anos mais velha que você, e essa barriga aqui não o credencia a me tratar como se já tivesse quarenta. Me chame apenas de Leah.

O garoto abrira um sorrira amarelo, erguendo o olho e recolocando o chapéu.

— Eu... Eu trouxe isso para você. Na verdade, Andrea me pediu para trazer.

Ele esticara o braço, oferecendo a cesta com suprimentos a jovem futura mãe. Ela recebera o regalo, sempre se mostrando bastante simpática.

— Obrigado Carl... – Sua voz parecera cair uma oitava naquele instante – Eu estava mesmo precisando disso. E estava precisando de uma visita também. – O filho de Rick seguia sem saber como agir, seu desconforto estava aparente. Ainda assim, Leah insistira – Você não poderia ficar um pouco? Sabe... Me fazer companhia durante um tempo?

Educadamente o filho do xerife aceitara, apesar de ainda não compreender o porquê de Fisher convidá-lo para permanecer por ali. Inevitavelmente sua mente se voltava às lembranças do corpo desnudo da garota, e ficar diante de sua presença, só parecia ampliar os confusos pensamentos que agora tomavam conta de sua cabeça.

Aquilo provavelmente era pior do que enfrentar uma horda de errantes. O valente Carl Grimes nunca havia se sentido tão tenso como naquele momento. Era estranho, diferente.

Os dois desceram até a cozinha, onde Leah organizara na despensa os poucos suprimentos que recebera. Sentado em frente ao balcão, o garoto apenas observava os movimentos da grávida, quieto, cauteloso.

A barriga proeminente já se destacava mesmo quando a menina escolhia vestidos mais largos. O corpo pequeno e magro começava a ganhar volume com o passar dos meses. A gravidez fizera com que Leah aparentasse ser mais velha, mais mulher.

Retornando ao encontro de Grimes, após terminar a arrumação, Fisher sentara-se após puxar uma das cadeiras da mesa de jantar. Em suas mãos trouxera uma garrafa e dois pequenos copos de vidro.

— Você já bebeu alguma vez, Carl?

A indagação caíra com surpresa nos ouvidos do menino. Ele retesara as costas, coçando levemente a cabeça antes de responder.

— Já provei vinho... – Dissera – E cerveja também, as escondidas é claro. Acho que há uns dois anos atrás.

Fisher expandira o sorriso, abrindo a garrafa e servindo os dois copos.

— Sendo assim... – Ela tomara a palavra, enquanto enchia com o líquido alcoólico os dois pequenos recipientes – Se você não contar nada para o seu pai, acho que posso te mostrar o que é bebida de verdade.

Carl retirara o chapéu, olhando instintivamente para os lados, como se esperasse ser flagrado por estar fazendo algo de errado. Recebera então o copo, inspirando e sentindo o cheiro forte do álcool atravessando suas narinas.

— Isso é vodka. – Leah virara o copo de uma vez, bebendo em um único gole a dose que colocara para si. Fechara os olhos por alguns instantes, mas por suas reações, parecia já estar habituada – Recomendo que vire de uma única vez. – Ela lambera sutilmente os lábios – Se tomar aos poucos é bem pior.

O garoto refletira por alguns instantes, observando o líquido que segurava nas mãos. A sensação do proibido de certo modo era excitante. O que o deixava ainda mais confuso. Olhara então para Fisher que o incentivara ainda mais, gesticulando para que ele o fizesse. Tomando corajem, Carl virara a dose de vodka, bem como fora instruído, engolindo de uma única vez.

Sentira sua garganta queimar, o corpo todo esquentando em uníssono. O gosto forte lhe tomara conta de todas as papilas gustativas, invadindo o seu paladar como um exército tomando uma base inimiga. Fizera uma careta, colocando a língua para fora e balançando a cabeça algumas vezes. Era mais forte do que imaginava.

A adolescente grávida gargalhara, não conseguindo se conter ante a reação do garoto.

— E então? – Ela servira a si mesma com mais uma dose da bebida.

— Forte. – Fora tudo o que conseguira responder, ainda tentando retornar a normalidade após o choque de sensações.

Leah dera mais dois goles, reagindo naturalmente ao álcool introduzido. O jovem Grimes não conseguia entender como ela parecia imune aos efeitos estrondosos que havia acabado de experimentar pela primeira vez.

— Eu gosto de vodka. Me traz boas lembranças... – Manifestara-se Fisher – Boas e más lembranças ao mesmo tempo... Ela esquenta o corpo, te protege do frio, te faz esquecer a fome... Acho que é um dos melhores remédios para todas as merdas que estamos vivendo. Mas, bom – Ela tocara a própria barriga –, não posso exagerar.

— Com o tempo você se acostuma. Essa aqui – Leah erguera a garrafa – foi um presente do Vincent, quando ele ainda morava em Alexandria, e é claro, quando ele ainda estava vivo... – Carl percebeu a repentina mudança de humor da adolescente ao tocar naquele assunto – E para soar com ainda mais ironia, essa garrafa é de uma vodka finlandesa, a nacionalidade do Isaiah... Isso é uma merda, não é mesmo?

— Eu... – As reações de Leah haviam se modificado por completo. Totalmente diferente do que se mostrara até aquele momento, a jovem grávida agora parecia insegura, nervosa. Soltava as palavras pelos lábios como se as mesmas fossem uma carga com toneladas de peso – Eu estou sozinha, Carl. Nunca me senti tão solitária quanto agora. E eu estou com tanto medo...

O filho de Rick erguera-se. Caminhando em direção à garota, sentara-se ao seu lado, servindo o próprio copo com mais uma dose da bebida. Não sabia se aquilo poderia ser algum efeito repentino de sua primeira experiência com álcool, mas passara a se sentir mais solto após a rebeldia primeva. Além disso, estranhamente sentira-se conectado com a menina que, como já citado, era apenas dois ou três anos mais velha do que ele. O medo que ela confessara sentir, já estivera presente no peito do menino.

Ele reconhecera aquele mesmo olhar.

— Tom foi para a guerra... E eu não sei se ele vai voltar. – Agora era Fisher que não encarava Grimes nos olhos – Na verdade eu já estou até contando com o fato de que ele não irá voltar... Ultimamente eu tenho perdido todas as pessoas que se aproximam de mim. Vincent, Isaiah, Tom... – Ela suspirara – Enid pulou os muros, disse que não conseguia mais ficar aqui, que não queria ver o resultado da guerra, pois... Segundo ela, de qualquer forma, até mesmo se ganharmos, iremos perder.

— Eu contava com ela, sabe. Apesar de tudo ela era minha amiga, o meu elo com a normalidade, já que todos os meus outros relacionamentos fogem totalmente do padrão. Mas agora eu estou sozinha... – A garota tocara a barriga outra vez – Estou com tanto medo de não conseguir. Eu tento não demonstrar, mas a verdade é que... Não sei se estou pronta para ser mãe. Maldição, eu ainda sou tão nova... Não sei se eu vou conseguir ser mãe.

Espontaneamente, Carl Grimes dera um novo gole na bebida alcoólica.

— Nós morávamos em uma prisão, ainda nas redondezas de Atlanta. – O menino passara a olhar fixamente para o copo, enquanto resgatava as dolorosas lembranças de sua mente – Não era seguro, mas com muito esforço conseguimos transformar aquele lugar no nosso lar. Só que nós fomos invadidos... Um homem que se chamava de Governador arrebentou os nossos muros, matou os nossos amigos, destruiu nossas plantações... Boas pessoas morreram naquele dia.

— Eu, o meu pai e minha mãe, que carregava minha irmãzinha recém-nascida nos braços, corremos em direção à mata, fugindo dos zumbis que haviam se aproveitado da confusão para se tornarem os novos donos do lugar. Eu ouvi um tiro... Eu quis olhar para trás, quis fazer alguma coisa, mas... Um tiro de escopeta acabou matando minha mãe e Judith... O tiro atravessou as duas.

A confissão saíra fria, o que provavelmente assustara Leah, já que a jovem agora o encarava com espanto. Talvez estivesse surpresa com o teor da história, ou apenas impressionada com a forma como ele aparentemente lidava com aquilo. O fato era que, pela primeira vez, Carl Grimes sentira-se a vontade para falar sobre o assunto.

— Eu levei um tiro na cara, perdi um dos olhos e ganhei uma marca que vou ter que carregar para sempre. – O menino jogara o cabelo para trás, exibindo o buraco do lado direito da face, fazendo com que Fisher reagisse com espanto contido. Ele não ligara, prosseguindo com o discurso – Eu perdi minha mãe e minha irmã, o meu pai perdeu a esposa e a filha, Sophia viu a mãe se suicidar na prisão, e depois viu sua outra mãe ser massacrada por Negan... Eu perdi tantos amigos que nem mais consigo contar...

— Mas o meu pai seguiu em frente. Sophia e Glenn seguiram em frente. Eu... – Ele olhara para Leah, que naquele momento, já deixava as primeiras lágrimas escorrerem – Eu segui em frente, também. Eu aprendi que enquanto houver pelo que lutar, não podemos nos dar ao luxo de desistir. – Carl apontara para uma das janelas – Meu pai tá lá fora, arriscando a própria vida nessa guerra. Mas eu sei que ele está fazendo isso por mim, por Andrea, por todo mundo que ele ama... Ainda há pelo que lutar. Tenho certeza que Tom está fazendo o mesmo. Sabe... Por você e o bebê.

— E você também tem pelo que lutar. Nem que seja por você mesma, por sua criança... Só o que não podemos fazer é desistir. Principalmente quando há outras pessoas dependendo de nós.

Leah Fisher enxugara as lágrimas que desciam de seus claros orbes. Abrindo um sincero sorriso, a menina amarrara os cabelos, tentando se recompor.

— Esse bebê é do Vincent. Ele foi o meu primeiro, você sabe... – A garota rira ainda mais quando Carl se mostrara desconcertado outra vez – Eu espero realmente encontrar essa força que você encontrou. Algo que me mova a não desistir nunca... Eu preciso disso.

Fisher levantara-se da cadeira, respirando profundamente.

— Bom... Não quero ser cobrada pela Andrea e muito menos pelo Rick por ter embebedado o filhinho deles. – Carl rira. A jovem retirara a garrafa e os copos da mesa, resguardando-os no pequeno bar próximo ao balcão – Acho que você tem que ir, não é mesmo?

Grimes olhara brevemente pela janela. O sol já estava se despedindo, e a noite começava a cair. Os ventos gélidos faziam com que as copas das árvores do bosque adjacente à comunidade dançassem de um lado a outro. As horas vindouras prometiam ser frias. Mas ali, sentado ante a adolescente que de certa forma se mostrara tão parecida com ele, Carl sentira que não havia outro local em que ele quisesse estar.

— Não tenho nenhum lugar para ir agora. – Respondera simpaticamente.

Fisher ampliara o sorriso. Indo até o menino, que permanecera sentado, dobrara o corpo lentamente, dando-lhe um beijo na testa.

— Você é um amor, Carl. – O menino ruborizara – Obrigada... Obrigada de verdade.

 

*****

 

Rick retornara a Alexandria pela manhã. Trazendo os sobreviventes consigo, após mais uma acachapante vitória contra o exército dos Salvadores, o xerife nem sequer imaginava que encontraria um cenário tão desfavorável em sua volta para casa.

Michonne lhe relatara que retornara sem danos, cuidando da segurança da comunidade e se preparando para caso houvesse alguma resposta imediata e inesperada de Negan. Mas o mesmo não havia ocorrido com Ezekiel. Perdendo mais de vinte homens no ataque frustrado, o líder do Reino não só fora derrotado em campo, como também tivera sua alma arrancada. Não estava sabendo lidar com todas as perdas, principalmente com a de Shiva.

Sem tempo para descansar e muito menos para comemorar, Grimes solicitara uma reunião de emergência, convocando as lideranças na igreja de Gabriel, com o objetivo de traçarem os próximos passos da guerra, mas principalmente para se prepararem para a retaliação que ocorreria com certeza.

Andrea, Jesus, Michonne, Eloise, Goodwin, Magna e Rosita recostavam-se aos bancos da capela, enquanto o xerife discursava no palco, em frente ao púlpito. Todos estavam cansados. Cansados e amedrontados. Rick precisava de todos cem por cento, não podia deixar seus homens esmorecerem.

— O ataque de Ezekiel a um dos postos avançados não foi bem sucedido. – Iniciara – Não sei se há algum tipo de protocolo, mas acredito que após um confronto desse porte, os Salvadores devem se deslocar para avisar Negan sobre o ocorrido. Isso significa que se Negan e seus homens não conseguiram se livrar dos errantes que levamos até o Santuário, então o grupo que derrotou Ezekiel deverá finalizar esse trabalho.

— Devemos considerar que eles não ficarão ilhados por muito tempo. – O policial orava com dureza no olhar, gesticulando enquanto formulava as frases – E devemos considerar também que o próximo passo é um contrataque, que ocorrerá aqui. É certo que eles virão atrás de nós, e nesse momento estamos vulneráveis.

Magna coçara a cabeça, parecia até mais tensa que os demais. Ela erguera um dos braços, solicitando espaço para indagar.

— O que te faz pensar que eles virão até aqui? O Garden, o Hill Top e o Reino também fazem parte dessa Aliança...

O xerife respondera sem titubear.

— As relações entre os Salvadores e as demais comunidades estavam estáveis até nós aparecermos. Eles sabem que fomos nós que instigamos tudo isso, Magna. Negan me considera o culpado.

— Gregory está do lado do Negan. – Manifestara-se Jesus – O que significa que o Hill Top seguirá submisso. O Garden é muito isolado, talvez não valesse a pena um ataque. E entre o Reino e aqui... Não tenho dúvidas que eles escolherão Alexandria.

Rick concordara em um aceno, prosseguindo logo depois.

— Eu conversei com Olivia e Eugene. Ele e o resto do pessoal acabaram de terminar mais um lote de munição. Entregaram hoje pela manhã, o que teoricamente nos dá certa vantagem. Não tem como ele estar fazendo o mesmo que nós. Os Salvadores provavelmente possuem um estoque, mas não irá durar para sempre.

Agora fora Andrea quem indagara.

— E quanto nós temos?

— Duas caixas. – Respondera o xerife. – A quantidade padrão. Sinceramente, com o equipamento que eles possuem, acho que não há como produzir mais rápido. Eugene e seu grupo têm dormido na fábrica nas últimas semanas, estão trabalhando noite e dia. Fazendo o melhor que podem. – O policial passou a mão nos cabelos, arrumando as mechas que lhe caíam sobre os olhos – Rosita, como estão os feridos?

A latina baixara brevemente os olhos.

— Tom é o pior. Acho que consegui estabilizar o sangramento, e Yumiko e Leah estão me ajudando, mas... Não acredito que ele vá sobreviver. Nossa morfina já acabou, assim como boa parte dos antibióticos.

Rick suspirara. Não esperava que tantos problemas surgissem de uma única vez. Precisaria lidar com aquilo, mas no momento, ainda havia como empurrar um pouco mais com a barriga.

Ok. Bom, voltando ao plano. – Seguira – Eu quero atiradores em todas as casas próximas aos portões. Quero também que aqueles que residem nessas casas, se mudem para residências afastadas da linha de tiro. Precisamos encontrar uma forma de proteger aqueles que não lutarão. Andrea, quero que você...

PKOW!

PKOW!

— O que foi isso? – Eloise erguera-se do banco, assim como todos os outros.

Grimes correra até a porta de entrada da igreja. Os tiros de aviso significavam que o inimigo se aproximava.

— Esse é o nosso sinal, significa que eles já...

KA-BOOM!

Uma granada lançada por sobre os muros explodira no ar, estourando os vitrais da pequena igreja, e fazendo com todos que nela se encontravam, fossem lançados ao solo. Rick levara a mão esquerda ao coldre, retirando sua pistola. Precisava organizar os combatentes, precisava proteger sua família, sua casa.

A guerra havia acabado de chegar a Alexandria.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Tom está correndo sérios riscos, e Ezekiel acabou perdendo feio, o que colocou Alexandria no centro dos combates...

Quero saber o que acharam do POV do Carl e de Leah. E já aviso logo, não transformarei esses dois no próximo casal da fic, viu?

O episódio 50 será especialíssimo! Preparem-se para ação do começo ao fim, e uma surpresa que (utilizando-me agora de toda a minha redundância) será realmente surpreendente!

Nos vemos nos comentários!

Moi moi.



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