The Swan Sisters Saga escrita por miaNKZW


Capítulo 66
Capítulo 14 - Três Estranhos




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 3 stranges

 

Meu coração estava batendo tão forte que pensei meu peito fosse explodir. Meus pés batem no chão tropeçando com medo. Meus pés batem a procura do chão. Meus pulmões queimam e eu tento desesperadamente respirar. Eu não sabia de quem ou do que eu estava correndo, mas alguém me seguia. Eu podia sentir sua presença. Minha mente estava em sobrecarga, adrenalina bombeamento meu corpo, derramando lágrimas de meus olhos. Senti o suor gotejando na parte de trás do meu pescoço como água em uma vidraça. O ar estava úmido e mofado, uma tempestade estava a caminho. Eu precisava sair. Eu precisava sair dos bosques.

A escuridão estava brincando comigo. As árvores estavam arranhando meu rosto, tentando agarrar-me com seus braços traiçoeiros. A lua me olhava com um divertimento macabro. Todas as criaturas da floresta estavam escondidas no mato, petrificadas de terror.

Sangue. O sangue estava secando em meus dedos, debaixo de minhas unhas, formando manchas escarlates tão escuras que me questionei por um momento se algum dia elas sairiam. Minhas mãos tremiam violentamente e minhas pernas pareciam gelatinas.

As primeiras gotas de chuva começavam a cair agora. Eu caí de joelhos e deixei minhas lágrimas misturarem-se com a chuva. Tateei meu corpo frio, mas não senti nada. Eu estava entorpecida. A chuva estava castigando o chão, esmurrando-o com cada gota que caía do céu. Eu estava encharcada até os ossos, meu cabelo colado em meu rosto, meu abdômen latejando com a dor que a ferida causara; e eu estava totalmente exaurida de energia. Eu só queria ir para casa. Eu só queria ir para casa.

Um estalo vindo de trás enviou uma onda de pavor por mim. Eu olhei ao redor pronta para lutar contra meu agressor. Não havia nada lá. Outro forte estalo veio de uma direção diferente. Virei-me rápido para ver o que estava fazendo o som... novamente, não havia nada. Eu estava apavorada. Eu continuei girando em círculos, virando minha cabeça de lado a lado, certificando-me que eu não seria emboscada.

A chuva tornava difícil decifrar tudo, mas eu notei três figuras nas sombras das árvores. Eles estavam encobertos sob o disfarce da noite e, de alguma forma não pareciam trabalhar juntos. Os três estavam separados por uma pequena, mas notável, distância. Aparentavam alheios uns aos outros. Um deles segurava um objeto em sua mão direita. Eles sabiam que eu os tinha visto, e ainda assim não fizeram nenhum avanço. Eles permaneceram escondidos, sob o manto da escuridão, imóveis e olhando fixamente para mim.

Eu não entendia, eu não sabia quem eram eles, mas eu sabia que não podia mais ficar ali. Então, me virei e corri...

A cada passo, vinha a imensa sensação de liberdade, como uma luz no final de um longo túnel escuro, enquanto a tempestade crescia e se tornava cada vez mais furiosa, enviando torrentes de e água em todas as direções. A lama e o sangue encharcaram meus jeans; minhas pernas e meus pés estavam submersos em poças escuras, mas eu não me importei. Eu precisava sair de lá de qualquer jeito. Cada som foi amplificado, já que ecoou por entre as árvores. Não havia sinais de vida, exceto as batidas ensurdecedoras de meu coração e minha respiração irregular. Forcei minhas pernas para continuar, apesar da surra que tomaram nessa noite. O primeiro raio de luz encheu o céu como o sol da meia-noite.

_ Já estou chegando, querida. - gargalhou uma profunda e rouca voz atrás de mim.

Um gemido escapou de meus lábios congelados quando virei minha cabeça para olhar para trás, por cima do meu ombro direito. Uma rajada enorme de vento fez meu cabelo encharcado grudar ainda mais no meu rosto, atrapalhando a minha visão. Eu arranhei meus olhos freneticamente, tentando desesperadamente tirar o cabelo deles. Então, de repente havia uma figura escura bem a minha frente. Eu forcei minha mente a voltar no tempo para ver o rosto sinistro do homem que tentou me agredir a poucas horas atrás. Mas este não era o mesmo, este era um outro homem. Este tinha um rosto branco como osso, marcado por profundas cicatrizes; com vinte e poucos anos, mas seus ferimentos o faziam parecer dez anos mais velho do que ele realmente era. Uma grande cicatriz descia da linha de seu cabelo escuro e encaracolado, passando pela sobrancelha até a ponta do seu nariz. Ele tinha outras cicatrizes marcando seu queixo pontudo e muitos ferimentos ao redor dos olhos. Mas apesar de suas marcas horrendas, ele mantinha o rosto sereno, friamente sereno. Não parecia haver maldade em seus olhos, somente dor. Seus olhos escuros, negros como todo o resto de seu corpo, me encaravam de uma forma estranha; não parecia ódio, mas era algo que eu jamais havia visto antes. Eu me assustei. Então, temendo que a escuridão daqueles olhos me tomasse eu corri e me lancei contra seu peito largo, como uma pancada e ele me segurou em seus braços fortes. Eu me retorci e lutei, mas seu punho de ferro me segurou no lugar. Ele me levantou do chão como uma criança. Tentei gritar, mas ele previu o que ia fazer e apertou a mão sobre minha boca. Eu mordi sua palma tão forte quanto eu podia, afundando os dentes em sua pele grossa.

Eu não ia morrer. Não depois de tudo que tive que fazer para chegar até aqui. Não assim, não esta noite.

Ele gemeu e me largou enquanto limpava a mão no peito. Eu cambaleei para trás e virei, preparando-me para correr, mas meu plano não deu certo. Duas figuras altas e magras, tão negras quanto o primeiro, estavam a alguns metros de distância de mim, mascarados pelas sombras e, imóveis como os ventos do verão. Senti uma respiração quente na minha nuca e depois tudo aconteceu tão rápido. Uma dor insuportável apareceu na parte inferior das minhas costas e eu gritei de horror, gritei com a dor. Lágrimas saltaram dos meus olhos transbordando pelas minhas bochechas dormentes enquanto a ferida em meu abdômen jorrava um fluxo intenso de sangue. Soltei um grito abafado quando me virei para encarar aqueles olhos, tão impiedosos e traiçoeiros.

_ Me ajude... – então ele sussurrou em meu ouvido, me pegando de surpresa.

“Ajudá-lo? Mas como?” pensei. Eu é que preciso de ajuda!

Quando percebi que a dor que sentia não vinha de uma nova ferida, mas da ferida infligida pelo estuprador, juntei as mãos pressionando para estancar o liquido quente que escorria pela minha roupa. E depois de entender que o estranho não havia me atacado, levantei os olhos para encará-lo e, mais uma vez, fui tomada pelo vislumbre daqueles estranhos olhos negros. Seu olhar tinha tanta intensidade que fez meu corpo vibrar em agonia. De repente, fui tomada por uma nova sensação. Senti meu corpo inteiro se aquecendo, lançando arrepios pelos braços, pescoço e nuca; meus dedos formigaram, implorando pelo toque daquele estranho.

Eu precisava tocá-lo. Eu precisava tocar aquele rosto distorcido pela dor, desfigurado pela solidão.   

_ Quem é você? – perguntei, estendendo as mãos em sua direção. Ele não se moveu, na verdade, ele se afastou encolhendo os ombros como se temesse algum ataque – Eu... eu não... deixe-me ajudá-lo – eu pedi.

Notei que seu corpo relaxou um pouco e me aproximei ainda mais. Eu ainda não sei por que, mas eu precisava tocar seu rosto.

Faltavam apenas alguns centímetros para saciar o desejo crescente de meus dedos quando a imagem do estranho desapareceu, desintegrando-se como fumaça bem diante de meus olhos. Eu olhei em volta, não entendi o que havia acontecido; procurei por ele em todo lugar, por todas as sombras, mas ele havia sumido.

As outras duas figuras ainda permaneciam lá, paradas como dois fantasmas de pedra, perfeitamente imóveis, olhando-me com olhos cegos. Estes eram fortes, eu podia sentir. Um deles emanava autoridade, olhava-me com olhos frios e duros; parecia indiferente e distante, como se estivesse ali só para observar. O outro era tão quanto negro quantos os anteriores, mas a posição de sua cabeça, inclinada para o lado, transmitia curiosidade; ele parecia instigado por alguma coisa que vira em mim; seu casaco longo e antiquado me lembrou um manto com capuz e, de alguma foram parecia intensificar ainda mais a força daqueles olhos reluzentes e curiosos que analisavam cada centímetro do meu corpo. E ele parecia... sedento.

_ Ivy... – o terceiro estranho chamou sorrindo.

O branco de seus dentes me cegou por um momento, eu pisquei e quando abri meus olhos novamente estava tudo escuro de novo.

Está frio. Está frio. Está frio.

“O que está acontecendo?” eu tentei gritar, mas quando abri minha boca senti meus pulmões saturados. Eu tinha perdido muito sangue, minha energia e adrenalina haviam se dissipado. Em desespero, eu procurei pelo ar e, minhas narinas arderam, minha garganta fechou. Quando meus olhos começaram a queimar percebi que era água, água salgada e escura me rodeava, restringindo meus movimentos. Meu corpo estava pesado e minhas pernas não me obedeciam mais, eu estava afundando e não tinha idéia de onde vinha tanta água. A escuridão me puxava para o fundo como um imã gigante, drenando minhas forças já quase extintas e, eu quis desistir.

_ Acorde agora, Nosferatus! – uma voz comandou, acendendo uma faísca dentro de mim. Eu tentei bater os pés, eu tentei subir, mas a água era impiedosa – Acorde agora! A transição ainda não terminou e você precisa acordar agora!

“Eu estou tentando, droga!” grunhi com raiva, “Estou tentando, mas eu não consigo!” gritei em minha mente.

_ Você é patética! – ele respondeu – Patética fraca e... pequena – ele concluiu, soltando uma leve gargalhada no final.

Havia sarcasmo naquela voz, ele parecia estar zombando de mim, da minha dor, da minha agonia. E eu senti ódio! Eu quis encontrar o dono daquela voz e socar-lhe a boca com toda a minha força. O ódio me tomou e eu senti meu corpo enrijecendo pela fúria, eu busquei nas minhas entranhas mais profundas e encontrei a energia para tentar mais uma vez e, então eu subi em direção a luz acima de mim.

Quando emergi, instintivamente busquei pelo ar e ele me invadiu como se fosse a primeira vez que eu respirava.  Eu lancei meus olhos para o céu e vi o clarão de um raio. Ouvi um estrondo e outro trovão ecoou de longe iluminando a praia distante.

_ Agora nade até lá! – ordenou a voz novamente e, dessa vez eu obedeci sem pensar.

Sem que eu notasse, minhas pernas e braços começaram a se coordenar em movimentos rítmicos e uniformes, levando-me de volta a margem. “Eu não sabia que eu podia nadar assim...” pensei ironicamente e ri satisfeita comigo mesma.

Não demorou muito e eu senti o chão sob meus pés novamente, a areia dura da praia fornecia uma base firme o bastante para que eu pudesse caminhar. Mas assim que meu corpo deixou a água, senti minha energia sendo drenada novamente. Então, finalmente eu deixei que meu corpo descansasse e sucumbi; deixei meus olhos se fecharam e estava pronta para o abismo escuro do esquecimento quando me lembrei da voz. Cambaleante, eu levantei a cabeça uma última vez para procurar o dono daquela voz que embora sarcástica e rude, havia me salvado. Nas sombras escuras da floresta, bem no limiar onde as árvores cessavam e a praia começava, havia um homem. Uma sombra ainda mais escura que as sombras que a rodeavam. “O dono da voz” eu concluí.

Com uma risada eu abri minha boca, mas antes que eu pudesse formar as palavras, ele virou-se para floresta novamente, sinalizando que iria me deixar.

_ Não vá... não me deixe aqui sozinha... – eu implorei.

Eu não tinha certeza se realmente tinha dito aquelas palavras ou se eu só tinha pensado nelas, mas elas pareciam audíveis para o estranho porque ele se deteve por alguns minutos, mas não disse mais nenhuma palavra para mim. Ele lentamente olhou para mim e, eu notei um resquício de contentamento em seu rosto. No entanto, assim que percebeu minha descoberta, ele se refez e seu rosto mudou. Agora não havia absolutamente nenhuma expressão em seu rosto, sem calor ou misericórdia em seus olhos.

_ Durma agora... – ele disse e eu senti cada célula do meu corpo relaxando com o comando – descanse.

_ Quem... quem é... – eu quis saber, mas minha voz havia me deixado.

Houve silêncio por alguns minutos, então o último estranho sumiu na floresta.

_ Io sono tuo SALVATORE... - ele disse e sua voz ecoou em minha mente enquanto minha consciência era novamente tomada de mim. 

 


 


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