The Swan Sisters Saga escrita por miaNKZW


Capítulo 65
Capítulo 13 - Sangue!




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Blood

_ PARE JÁ COM ISSO! – gritou uma voz firme e autoritária, parecia ser de uma mulher. Pisquei algumas vezes, mas minha visão aguçada e meus instintos alertas como nunca antes, não detectaram nenhuma outra presença além do homem apavorado à minha frente.

Soluços histéricos e cada vez mais audíveis incitaram minha sede recém descoberta, tirando minha concentração e, de repente me dei conta do quão lúcida eu estava, apesar de todo o surrealismo da situação, eu nunca tinha me sentido tão desperta como agora. Mas, no interior de minha alma, eu sabia que havia alguma coisa errada. Eu não sou assim. Essa agilidade, essa força não é minha. Então era isso. É tudo um sonho, só mais um sonho e está tudo bem. Mas, e essa sede, essa fome? Por que dói tanto assim?

_ O... o... o que você é? – gaguejou o homem, interrompendo meus pensamentos – O que você quer de mim?

_ Qual o seu nome? – eu perguntei e, no mesmo instante hesitei com a voz doce e suave que saiu da minha garganta. “Essa também não é a minha voz“ pensei.

_ We... We... Wellington...

_ Bem... Wellington... – eu sorri e comecei a me aproximar lentamente; seu corpo vibrou em antecipação e, seu coração disparou tornando sua respiração pesada e ruidosa – Eu posso dizer que eu sou a última coisa que você vai ver nessa sua vida imprestável! - pude ver seu tórax subindo e descendo descompassado. Sem saber o porquê, inclinei-me em sua direção com o objetivo de sussurrar algo em seu ouvido; e senti o cheiro delicioso do sangue que escorria de seu nariz, sua jugular pulsava azul e palpitante, me convidando para mais um deleite. Quando dei por mim estava alisando seus cabelos e me aproximando cada vez mais. Wellington, por sua vez, parecia ter desistido; ele fechou os olhos e me ofereceu o pescoço sem dizer uma única palavra – Serei cuidadosa, eu prometo... – eu sussurrei agradecida e abri minha boca devagar, tentando saborear cada instante daquele momento. Senti minha garganta arder em antecipação.

_ NAAAAO!! – ouvi aquela voz feminina novamente, e de alguma forma parecia ainda mais urgente dessa vez.

_ Mas que merda é essa? – eu gritei, liberando os cabelos de Wellington. Ele me olhou assustado, mas não gritou e nem tentou fugir. Foi estranho, porque eu podia ver o medo em seus olhos; Wellington estava apavorado, mas continuava ali imóvel, esperando por mim e, eu estava com pressa – Quem está aí? – exigi e corri os olhos pela área, mas não havia sinal de ninguém, nenhuma outra presença além da nossa - Apareça! – eu gritei ainda mais enfurecida, mas não houve resposta.

Eu precisava ser rápida, podia sentir que algo iria acontecer; algo ameaçava interromper meu regozijo, mas eu estava com fome e, Wellington esperava por mim... Wellington... ele continuava ali.

_ Me desculpe, querido... – eu disse gentilmente - não deixarei que nada mais nos interrompa. – então, ainda que ressabiada, voltei-me para Wellington e cravei meus dentes em seu apetitoso pescoço sem hesitação.

Senti uma leve resistência quando meus caninos atravessaram a fina pele até a jugular de Wellington; um abafado gemido ecoou de sua boca, cessando em seguida. E desta vez eu encontrei uma veia, mas não a rasguei fundo o bastante. Um pequeno arranhão como aquele não era o bastante. O que eu precisava era rasgá-la, fazer jorrar o sangue quente e suculento que meu corpo tanto necessitava. Agora, não havia resistência alguma, parecia até que Wellington desfrutava do momento tanto quanto eu; e o sangue emergia abundantemente, lubrificando minhas entranhas ressequidas. Aquilo era o paraíso. A sensação de poder fluindo em minhas veias, sua força vital sendo transferida para mim com tanto bom grado era como um presente, o melhor presente que já recebi.

_ Oh! Wellington... – eu exclamei em êxtase enquanto examinava seu rosto a procura de algum vestígio de dor, mas o desespero anterior havia desaparecido completamente dando lugar a uma expressão serena, quase de contentamento.

Eu realmente não queria lhe causar sofrimento. Não, eu não queria que Wellington sofresse. Por mais que seu medo tivesse me levado ao clímax, sua rendição me fazia plena. Plena. Completa. E desperta. Eu sou uma Nosferatus e esse é meu destino, foi para isso que eu fui criada. Minha natureza clama por isso, todos os meus instintos clamam por isso. Sangue!

E sempre foi assim, agora eu sei. Eu sou uma Nosferatus!

_ Ivy! NÃO! – a voz voltou a me atormentar e, não estava sozinha dessa vez.

_ Oh! Por Meu Deus! O que você está fazendo?

_ Pare! Pare!

_ O que está acontecendo? O que é isso?

_ Pare! Por favor... – parecia que um rádio havia sido ligado. As vozes vinham de todos os lados, cada vez mais alto, cada vez mais urgente – Pare!

_ Cheeeega!! Calem-se! – eu ordenei em vão – Calem-se! Me deixem em paz! – mas as vozes não cessaram.

_ Isso não pode estar acontecendo... Ivy? – choramingava uma das vozes – Você não é assim... não é! Não pode ser...

_ Ele está morto? – a outra voz questionou em seguida – Ele está morto? – Imediatamente afrouxei os dedos que seguravam o corpo de Wellington e ele caiu sob meus pés – Ele está morto! – acusou a voz impiedosa – Vo... vo... você...

_ Oh, Ivy... não...

_ Não! – eu afirmei – Eu não... NÃO! – eu gritei em cólera, esmurrando o tronco da árvore onde antes Wellington apoiava o corpo – NÃO!

Mais um carro passou pela rodovia, seus faróis iluminaram o local por um segundo apenas, o suficiente para que eu visualizasse a atrocidade que acabara de cometer. De início, eu me assustei com a cena que vi. Eu não pude entender como tudo aquilo havia acontecido, o que havia me levado a cometer tamanha barbárie? O sangue que ainda escorria dos ferimentos de Wellington se misturava ao meu próprio sangue. Então olhei para minhas mãos e as vi vermelhas. Foi quando um estrondo chamou minha atenção, um som alto e estridente como os rojões e fogos de artifício que Jean insistia em usar nas muitas recepções que fazia em Moscou. Eu me virei e vi o estuprador arrastando seu corpo em minha direção, ele mostrava os sinais do embate anterior, mas seus olhos enraivecidos e atentos estavam fixos em mim e, me alvejaram como milhões de flechas.  Antes que eu pudesse reagir suas mãos fraquejaram, então um objeto escuro escorregou soltando um clarão avermelhado seguido de outro estouro. No mesmo instante, senti uma pontada no abdômen, baixei os olhos, mas não pude dizer se o sangue que escorria era meu ou de Wellington, ou mesmo do estuprador. Outra pontada me atingiu, ainda mais aguda e, instintivamente, minhas mãos se fecharam contra a ferida na tentativa de estancar o sangue.

_ Assassina! – ele disparou – Sua assassina! - e as palavras me feriram ainda mais que sua arma – ASSASSINA!

_ Não! Eu não... – eu balbuciei atordoada, sem saber o que dizer – Não! – eu não podia acreditar que EU havia feito aquilo, mas, diante daquela cena, eu não podia mais negar. Eu realmente era uma assassina... Então, eu simplesmente fugi – NÃO! - gritei uma última vez e corri o mais rápido que pude, procurando a escuridão da floresta para esconder a vergonha e a culpa que sentia pelo que acabara de fazer.

 

Então uma tempestade surgiu de repente, surgiu do nada, surgiu inesperadamente e estava exercendo seu poder destruidor sobre mim. Rajadas de ventos chicoteavam meus cabelos furiosamente e, as árvores ao meu redor estalavam resistindo ao castigo do clima impiedoso. O vento foi ficando cada vez mais forte e violento, dificultando minha respiração. Mas em meu âmago, eu estava grata. Eu esperava que a chuva levasse embora aquele cheiro tão tentador que me chamava de volta aos homens. Estava frio, meus lábios estavam dormentes, mas eu sabia que não podia parar, eu precisava correr. Precisava fugir. “Assassina! Assassina!” era tudo que eu conseguia ouvir enquanto forçava meus pés para longe daquela cena hedionda.

“Oh, Meu Deus! O que foi que eu fiz?” Eu ficava me perguntando. E então, o cheiro do sangue que parecia impregnado em minha pele, finalmente fez meu estômago revirar. Senti nojo, culpa, vergonha e finalmente medo. Percebi que estava ofegante, eu arfava o ar tão pesadamente que o som me lembrou um animal raivoso. Levei minhas mãos até os olhos e percebi que eles estavam cheios de sangue, com os meus dedos eu tentei remover aquela gosma deles; ouvi um barulho de sucção e comecei a enxergar de novo, então percebi que eu estava chorando e que as lágrimas estavam limpando o sangue dos meus olhos. De repente, me senti exausta e tudo começou a girar. Era como se a descarga de adrenalina que senti há poucos minutos atrás estivesse escoando de meu corpo rapidamente.

Vozes, tudo o que ouço são vozes em minha mente, falando, falando, me cobrando, me culpando. A noite está fria, escura e silenciosa. Só ouço as vozes em minha mente. Caminho lentamente e sem direção. Mal vejo onde meus pés me levam. Vejo as luzes de carros, piscando vermelhas, amarelas e brancas. Vozes, vozes, vozes em minha mente. Forço os pés a caminhar. Não sei para onde vou. Sigo pela floresta escura, pela simples inércia de não poder parar. As vozes não param em minha mente. Meus pés não param na terra fria em uma noite escura. Minha mente está confusa, não entendo o que as vozes me dizem, mas sei sobre o que elas falam. Não quero ouvir.

Um homem passa por mim, correndo com uma arma na mão. Olho para ele sem entender o que vejo. Dentes brancos me sorriem um riso macabro. Vejo o branco de seus olhos. Vejo o vermelho de seu sangue, ou será de meu sangue? Não sei mais. Não sinto dor. Não sinto nada. Vozes ainda falam em minha cabeça. Não sei de onde vêm. Vozes de mulher. Vejo sangue em minha roupa. Ouço vozes em minha mente. Uma criança chora. Não sei se é aqui ou apenas dentro de minha cabeça.

Sigo caminhando com passos trôpegos, sem saber para onde vou. Uma arma grita em minha mente. Olhos brancos estão ao meu redor. Dentes brancos e vermelhos piscam em todo lugar. Tapo os ouvidos para calar as vozes, mas elas falam por meus dedos. Vozes de mulher, choro de criança. Um riso macabro. Não consigo mais caminhar. As vozes não param em minha cabeça. Uma estrada reta e fria. Chão negro no meio da noite. As luzes da cidade distante lançam sombras longas e frias na terra escura. Me levanto e caminho no meio da noite. Não vejo o fim da floresta. A noite parece longa. As vozes ainda falam em minha mente. Vozes de mulher.

Sinto meus pés pisarem na areia fria e branca. A lua aparece escura sobre minha cabeça. As vozes me chamam, me acusam, me gritam e choram. A areia está fria e dura. Olhos vermelhos. A areia fria gela meus pés. O rosto molhado de lágrimas. Chove gelado. Meus braços estão caídos ao longo do corpo. Não consigo ver meu corpo. Não consigo ver as minhas mãos. As vozes continuam em minha cabeça. Não sinto mais meus pés. Vejo as manchas brancas da espuma. Ondas batendo numa praia fria. Água batendo em meus pés gelados. A noite escura. As vozes em minha mente. Um riso macabro e um choro de criança. Ouço uma voz de mulher. Não sei se é a mim que ela chama. Não sei quem eu sou. Não sei se ainda quero ser.

A água do mar escorre até meus pés congelados. As vozes me incriminam. Um homem passa por mim com uma arma na mão. Vozes, risos, vozes, vozes, choro. Vozes que gritam, que imploram, que me chamam, mas não sei mais quem sou.

Um cachorro negro me cheira os pés. Olho seus caninos vermelhos. Minhas mãos estão vermelhas. As vozes gritam em minha cabeça. Não entendo o que elas querem. Não ouço o mar batendo em minhas pernas e o frio adormece meu corpo. A espuma branca rodopia ao meu redor. Vozes me gritam na cabeça. Frio. A água salgada respinga em meus olhos. A lua parece desabar sobre minha cabeça, mas meus pés continuam caminhando. Não sei para onde eles me levam. Espumas rodeiam meu corpo. Vozes gritam em minha mente. Noite fria e escura. O luar vermelho mancha meu corpo. Um riso macabro, um homem com uma arma na mão. Caninos brancos me mordem as pernas. Não sinto o frio que adormece o corpo. Não entendo o que as vozes me dizem. Não quero ouvir meu nome. Um soluço abafado, uma mulher implora.

As vozes saem por meus ouvidos. Meus pés me levam para não sei onde e minha voz está muda. Não lembro meu nome. Não sinto mais o chão sob meus pés. Meu corpo está gelado e dormente. A lua desaba sobre mim, lua branca numa noite vermelha. Minhas mãos estão vermelhas. Está escuro e frio. A água salgada invade minha boca, tapa meus ouvidos. As vozes se calam uma a uma. A lua cai sobre minha cabeça. Fecho os olhos e vejo um rosto no silêncio da noite, meu próprio rosto definhando em desprezo.

Está frio. Está frio. Está frio. 


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