The Swan Sisters Saga escrita por miaNKZW


Capítulo 67
Capítulo 15 - Invadindo Propriedade Privada...




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Reservation

Eu acordei e tudo que pude ouvir eram meus próprios gritos. Eu não sabia o que tinha acontecido e não tinha de idéia de onde estava, mas eu precisava sair. Eu precisava continuar. Braços fortes me envolveram e me mantiveram na cama.

_ Hey, hey garota! – disse o dono dos braços – Calma! Eu não vou te machucar.

_ Quem é você? – eu gritei ainda me debatendo – Saia de cima de mim!

_ Joshua! – ouvi alguém chamar do outro cômodo. Eu não ouvi passos, mas em segundos um homem alto e forte entrou no quarto – O que está acontecendo aqui? – ele perguntou irritado e foi recolhendo o cobertor, o travesseiro e outras coisas que eu havia jogado no chão durante a “luta”.

_ Eu não sei! Eu vim aqui pegar meu violão e essa louca começou a gritar do nada... eu não fiz nada! Juro! Ela começou a se bater que nem um peixe fora d’água do nada!

_ Joshua... – ameaçou o homem – Eu já falei...

_ Já disse que não fiz nada, vô! Só vim pegar meu violão! Esse ainda é meu quarto, afinal de contas, não é? – o menino retrucou e bufando, se pôs para fora do quarto. Foi então que eu notei que Joshua não passava de um menino, treze ou talvez quatorze anos no máximo.

_ Me desculpe, meu neto é meio... xereta...

“Neto?” eu pensei. Esse homem não parecia ter mais que trinta anos, ele não poderia ter um... “neto” podia? Ainda assim, ele tinha um olhar antigo, sábio talvez. Era algo que não combinava com sua aparência, como se seus olhos tivessem envelhecido e, o resto de seu corpo tivesse congelado no tempo. Mas, ainda assim, ele não tinha cara de avô.

_ É... – Paul disse e soltou um ruidoso pigarro, depois puxou uma cadeira e se ajeitou ao lado da cama – Eu me casei cedo... bem cedo. – explicou, percebendo minha confusão – Eu sou Paul. – ele terminou estendendo a mão direita para mim.

Retribuí o gesto automaticamente e, nos cumprimentamos; mas depois de algumas “sacudidas”, Paul ainda não havia soltado minha mão. Ele me encarava com seus olhos cerrados como se estivesse esperando que eu dissesse algo.

_ E você... – ele balbuciou meio sem graça e, percebendo minha inércia, ele finalmente perguntou – Qual o seu nome, menina?

_ Ah! Eu sou... eu me chamo... – o nome estava na ponta da minha língua, mas por algum motivo ele não saía – Eu me chamo... – eu tentei vasculhar minha memória, mas eu não conseguia me lembrar do meu próprio nome – Eu... eu...

_ Amnésia... – Paul disse pensativo.

_ Não! Não, não... - Eu não sabia o meu nome, mas com certeza não era Amnésia! – Eu não... – Paul soltou uma gargalhada e eu corei.

“Ah, Meu Deus! Como eu posso ser tão idiota? É claro que meu nome não é Amnésia, não foi isso que ele quis dizer.”

_ Desculpa... é que... eu... – gaguejei sem saber o que dizer – eu não me lembro! Eu não sei porquê, mas eu não me lembro do meu nome! – quando terminei percebi que estava soluçando. Eu estava chorando e nem sabia o motivo do meu descontrole.

 _ Ow! Calma, calma... não tem problema. Eu não ligo, não ligo! – ele repetia nervoso e balançava as mãos sem saber o que fazer - Você não precisa ter um nome, eu não me importo!

_ Mas eu tenho um nome! – eu gritei – Só... só... não me lembro qual é... – eu chorei engasgando em soluços cada vez mais altos.

_ Tá... tá tudo bem. A gente... a gente pode inventar um nome, se você quiser.

_ Inventar... um nome?

_ É!

_ Que nome?

_ Ah... não sei... pode ser... Amnésia!

Eu ri. Paul riu. E o momento de descontração levou minha angústia embora.

_ Salvatore...

_ Ah? – eu perguntei e me virei para ver o dono dessa nova voz.

_ Ela ficava repetindo isso, Salvatore... - no batente da porta havia um outro homem, era mais velho que Paul, mas tinha exatamente o mesmo tipo físico que ele, só que com alguns dez ou vinte anos a mais. Provavelmente um irmão mais velho ou tio ou algum parente...

_ Oh, Ian... – Paul disse, voltando a sua seriedade de antes – você já chegou?

_ Joshua me ligou, disse que ela – o homem sinalizou para mim com a cabeça – tinha acordado, então resolvi vir...

_ Sim, sim... Ah... ela acordou agora pouco, mas parece que está com... – Paul soltou um sorriso interno – amnésia, não se lembra do nome e, acredito que...

_ De onde você é? – Ian interrompeu Paul rudemente – Como veio parar aqui? Quem... quem fez isso com você?

_ Ahn... eu... eu...

_ Ian! Já disse que ela não se lembra!

_ Ora, pai! Ela não tem sinais de trauma, não pode ter batido a cabeça com tanta força pra esquecer as coisas assim. Isso é ridículo! Ela só pode estar fingindo.

_ Não! – eu gritei, revoltada com as acusações - Me desculpe... eu... eu realmente... não me lembro como vim parar aqui e... e... – minhas palavras começaram a falhar e só percebi que tinha voltado a chorar quando um soluço alto escapou de meu peito – me desculpe...

_ Chega, Ian! – Paul ordenou e se levantou da cadeira – A menina precisa de tempo! Não é assim que as coisas funcionam.

_ E como você pode ter tanta certeza? Não sabemos quem ela é. E acompanhada de quem estava...

_ Ian! – Paul gritou dessa vez e foi como se um botão tivesse sido desligado em Ian porque ele abaixou a cabeça no mesmo instante, murmurou algo inteligível, mas não disse mais nenhuma palavra – Perdoe meu f... Ian... é que... isso tudo é muito novo para todos nós e não sabemos como lidar com... com essa situação. – Paul tentou amenizar – Você precisa descansar agora, durma um pouco. – então, ele seguiu até a porta puxando Ian pelo braço – Mas se você precisar de alguma coisa...

Fiz que “sim” com a cabeça e sussurrei um “obrigada!”, Paul retribuiu com um sorriso fraco e deixou o quarto levando Ian consigo.

Eu fiquei lá por um tempo, quieta, tentando não fazer barulho, tentando forçar minha memória, mas não havia nada. Nenhuma lembrança, nenhum nome... somente algumas imagens embaralhadas e confusas que não faziam sentido algum. Quanto mais eu pensava, mais perdida eu ficava. Não fazia sentido nenhum, eu não me lembrava do meu próprio nome, eu não lembrava se eu tinha uma família ou amigos, irmãos... mãe... um pai... não, eu não sentia que tinha um pai. Na verdade, ainda que não soubesse o porquê, eu tinha certeza que eu não tinha um pai. Mas eu me lembrava de algumas coisas. Eu sabia que gostava de Shakespeare, filmes de faroeste, do verde das árvores durante o verão... eu gostava de sol, não de tomar sol, mas da luz do sol, o jeito como tudo mudava quando a luz do sol surgia de manhã. E eu gostava de pipoca, e de leite com chocolate, e de pão...

Meu estômago roncou. Todo aquele exercício estava me deixando faminta, mas eu achei melhor continuar ali e esperar até que alguém viesse me chamar. Talvez, eles se lembrassem que eu precisava comer em algum momento.

Eu tentei dormir, mas o sono não vinha. E toda vez que eu fechava os olhos imagens estranhas saltavam da escuridão. Não era nada nítido ou familiar, nada que lembrasse... nada! Havia tantos rostos que eu não conhecia, lugares que eu não sabia onde ficavam e, essa urgência dentro de mim. Essa urgência... era um sentimento estranho, como se houvesse alguma coisa que eu precisava fazer. Alguma coisa ou alguém que eu precisava encontrar... e isso era frustrante! Eu me senti impotente e patética.

Minha cabeça estava latejando e eu já começava a sentir náuseas de tanta fome quando Joshua, o moleque que tentou me agarrar, apareceu.

_ Tá brava comigo ainda? – ele perguntou, só com a cabeça na porta.

_ Não... – respondi, tentando ser educada.

_ Então, eu posso entrar?

_ Esse ainda é o seu quarto, não é?

Ele riu e, sem constrangimento nenhum entrou e foi logo se sentando do meu lado na cama. Joshua tinha um jeito descontraído e tranquilo, como toda criança deveria ter.

_ Então... eu me chamo Joshua...

_ É... eu sei.

_ Errr... – ele disse, me analisando com olhos curiosos e faceiros – Ahn... seu... – ele apontou para meu cabelo e soltou uma risadinha envergonhada – seu cabelo tá parecendo um ninho de rato!

_ Ahn... tá? – eu perguntei retórica e imediatamente tateei o topo da minha cabeça. E... Joshua tinha razão! Um verdadeiro ninho de rato! – É! Parece que está mesmo... – eu reconheci enquanto tentava desfazer os horríveis nós daquele ninho. Eu devia estar ridícula, eu me sentia ridícula.

_ Não! – ele disse, segurando minha mão – Depois você tira, deixa assim... tá engraçado!

_ Hummm... acho que vou ter que raspar a cabeça.

_ Sério? Eu já raspei minha cabeça! Quer dizer, meu avô raspou minha cabeça uma vez...

_ É mesmo? E por que? Piolho? – eu provoquei.

_ Não! Eu não tenho piolho! É que... uma vez, eu grudei um chiclete no meu cabelo e... daí eu tentei tirar, mas ele não queria sair de jeito nenhum. Aí, eu peguei uma tesoura e...

_ Não! Você não fez isso, fez?

_ Arran! – Joshua afirmou orgulhoso como se gabasse de um feito incrível – Fiz sim. Mas o vovô Paul não gostou do corte que eu tinha inventado, sabe? E raspou tudinho... e eu fiquei careca durante um tempão.

_ Você deve ter ficado esquisito...

_ Por que?

_ Ah, sei lá... não consigo imaginar você careca. Acho que sua cabeça deve ter ficado ainda maior...

_ Ainda maior?? Como assim? Cê acha que eu cabeçudo?

_ Ahn... só um pouquinho – eu continuei a provocar.

_ Mentira, tá? Eu não sou cabeçudo! – ele disse e foi correndo até o espelho que ficava atrás da porta - Eu tenho uma cabeça perfeitamente normal – concluiu apalpando a cabeça, todo preocupado.

Joshua era uma criança vivida e energética, um pré-adolescente, na verdade. Mas era tão fácil conversar com ele, não havia maldade e nem desconfiança em suas palavras. E isso era bom.

Meu estômago roncou mais uma vez.

_ Cê tá com fome?

_ Humm... um pouco – eu menti.

_ Tá, então peraí.

_ Aonde você vai? – eu perguntei – Joshua? – mas ele já havia saído.

Não demorou muito e Joshua estava de volta com um prato cheio de coisas; eu estava faminta mesmo e não me importei em parecer educada ou algo assim. Devorei tudo num minuto.

_ Obrigada. – eu disse, ainda com a boca cheia.

_ Quer mais?

_ Humm... não. Já estou cheia, obrigada. Joshua? Onde está Paul? E... – eu quis perguntar de Ian, mas a lembrança da conversa anterior me deteve.

_ Ele tá lá fora conversando com os outros.

_ Outros? – e haviam mais? – Que outros?

_ O Ian, o Simon... o Liam e os velhos do Conselho...

_ Que... que Conselho?

_ Você num sabe mesmo onde está? – Joshua perguntou fazendo uma careta, eu fiz que “não” com a cabeça e ele continuou – A gente mora numa Reserva... tipo uma aldeia... tipo... a gente é uma tribo, entende?

_ Tipo... tipo tribo de índios?

_ É... – ele respondeu dando de ombros, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo, e eu fosse a pessoa mais estúpida do mundo – Nós somos os Quilleutes, você não viu as placas?

_ Mas, que placas?

_ As placas de aviso que dizem que você não pode entrar aqui sem autorização... quer dizer, não podia...

Eu não me lembrava de nenhuma placa; bom, eu não me lembrava de nada, então era normal que eu não me lembrasse de ter invadido uma propriedade privada!

_ Não. Eu não vi nenhuma placa.

_ Como não? Elas estão em todo lugar!

_ Ahn... eu não vi.

_ Humm... – Joshua murmurou e ficou pensativo por alguns instantes – É verdade que você num lembra nem do seu nome?

_ É...

_ Mas como?

_ Ah, sei lá... só sei que eu não me lembro! – respondi um pouco chateada com a pergunta.

_ Cê é engraçada!

_ Sou? Por que?

_ Cê faz bico quando fica brava...

_ É?

_ Arran – Joshua afirmou, torcendo a boca - Hein, quer ir lá na sala e ouvir o que eles tão falando?

_ Ahn... eu não... eu acho que é m...

_ Vem! – ele disse puxando minha mão – Vem logo!

 

Nós caminhávamos a passos curtos e cuidadosos pelo corredor escuro até chegar a pequena salinha de TV; Joshua ficava fazendo gracinhas, imitando o jeito que desenhos animados caminham e fazendo caretas a todo instante.

_ Pára! – eu disse, me segurando para não rir de suas brincadeiras.

_ Vem! – ele disse, gesticulando com as mãos para a janela da sala.

_ Não!

_ Deixa de ser besta! Vem logo!

E eu não pude resistir, eu também queria ouvir o que o Conselho estava falando de mim. Eles estavam falando de mim, eles só podiam estar falando da estranha sem memória que havia invadido a Reserva deles...

_ Ela não pode ficar aqui! – dizia Ian, levantando os braços com gestos nervosos.

_ Mas ela não tem para onde ir... – respondeu um senhor de idade bastante avançada que estava sentado a sua frente.

_ Isso não é problema nosso. Não conhecemos ela e não sabemos o que ela quer!

_ Ela não se lembra de nada, Ian. – Paul tentava apaziguar os ânimos de Ian – Não podemos simplesmente mandá-la embora.

_ Então chamem eles! – disse um rapaz que estava ao lado de Ian.

_ Eles não viriam até aqui só por causa disso...

_ Como você pode saber? A gente nunca tentou! – perguntou um outro rapaz.

No total havia nove homens na tal reunião do Conselho, quatro eram bem jovens com dezoito ou vinte anos e três anciões, “o Conselho” eu pensei; e então havia Paul e Ian que pareciam ter iniciado uma discussão.

 _ Eles não podem voltar! Nós vamos resolver isso por aqui mesmo, como sempre resolvemos.

_ Isso ainda não foi decidido e não é você quem nos dirá o que fazer.

_ Pai? Você não se lembra mais o que aconteceu na última vez que eles estavam aqui?

_ É claro que ele se lembra! – respondeu um dos mais jovens – Ele estava aqui!

_ Fica quieto, moleque! Você não sabe do que está falando.

_ Ian! Não fale assim com Noah. Você está nervoso, discutiremos isso depois... – Paul tentava finalizar a discussão.

_ Não! Vamos resolver isso agora! – Ian não estava disposto a colaborar – Já não basta aquele... aquele... aquela coisa do Gray andando por nossas terras como fosse dono de alguma coisa. Eu não vou permitir que o Clã volte aqui para acabar com a nossa paz de novo.

Os anciões murmuravam palavras que eu não podia entender, pareciam abalados com as palavras de Ian.

_ Filho, o Clã nos deu tudo que temos agora. – Paul disse num tom quase inaudível, mas pela posição que o resto do Conselho assumiu, eu presumi que ele falava sério dessa vez – O ambulatório, nossas casas, a própria Reserva foi conseguida através da ajuda deles... nós devemos muito a eles. E Dorian Gray... – Paul enfatizou o nome - tem a minha permissão para caminhar por estas terras - Todos se calaram de uma vez, pareciam submissos à declaração de Paul – Até que eu diga o contrário! - e Ian, mesmo que ainda furioso, havia se redimido e permanecia com a cabeça baixa.

E assim, a reunião terminou...


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