Eu olhava admirada ao meu redor. Eu reconhecia aquele lugar, eu reconhecia aquela pequena cabana cercada por flores silvestres no meio da campina que se abria na floresta. Detalhes nunca antes percebidos agora saltavam aos meus olhos exigindo minha atenção a todo instante. 

- Angel? Você está bem?

- Oh... sim... é que é tudo tão colorido e... vivo! Sempre foi assim?

- Querida... – Janet sorria despreocupada – os olhos têm outras prioridades quando somos humanos, entende?

Eu não entendia e esperei que Janet continuasse enquanto eu admirava uma pequena joaninha que pousara sobre meus dedos reluzentes.

- Meu bem, não há espaço suficiente no cérebro humano para processar tantas informações ao mesmo tempo... então o que ele faz é selecionar o que é mais importante... mas agora, sua mente funciona de outra maneira. Tudo muda com a transformação, Angel! Bem, quase tudo.

- Humm... entendo! Mas é tão difícil manter a concentração quando tem tantas coisas interessantes berrando por atenção!

- Eu sei... eu sei... mas você se acostuma, querida.

Janet e eu seguimos pelo caminho de pedras que Jake arrumou até a porta de entrada e adentramos na casa. Um odor característico de eucaliptos e jasmim tomou minhas narinas e eu permaneci estática enquanto saboreava aquela nova sensação.

- Angel? – a voz suave de Janet me tirou do transe e chamava em direção ao quarto.

Tudo continuava como antes, só que mais brilhante e definido, parecia que de repente havia uma quarta dimensão no meu mundo e tudo estava mais nítido. Minha visão tinha um alcance inacreditável, meu olfato estava tão aguçado e a sensibilidade de minha pele fora elevada ao quadrado, não, multiplicada em centenas de vezes. Nesse instante, Janet abriu as cortinas e deixou a luz do sol entrar pelas imensas janelas. O tom dourado dos raios de sol invadiu tudo tornando o quarto um recinto confortável e convidativo. Sobre a cama havia duas combinações de roupas. Uma consistia basicamente num vestido de verão, todo florido, de tecido leve e esvoaçante; e a outra era um par de jeans e camiseta.

- Obrigada Janet – eu sorri tímida alcançando minha escolha que sem duvida nenhuma já era de conhecimento de Janet.

- Alice achou que não custaria tentar... – Janet sorriu sem jeito quase se desculpando.

Eu regozijava com a sensação reconfortante de poder vestir minhas velhas roupas novamente – aqueles vestidos e camisolas brancas que eu usara nos últimos dois dias não me deixavam à vontade – quando Janet abriu a porta do armário que ocupava uma parede inteira do quarto e revelou um enorme espelho. Ela me convidou a me olhar fazendo um gesto com as mãos.

A imagem refletida no espelho parecia outra pessoa. Eu olhava pasma enquanto procurava por algum detalhe que indicasse que aquela mulher realmente era eu. Minhas mãos instintivamente tocaram meu rosto - no espelho a imagem correspondeu - e percorreram a linha do pescoço resplandecente tocando os cabelos longos que caiam em cachos dourados sobre os ombros.

- Não pode ser...

- Eu sei... você esta realmente maravilhosa Angel!

- Uau!!! Eu estou... loira?

Janet sorriu.

- Dourada! Reluzente como o Sol meu bem...

O Sol... é por isso que Jake insistia em me chamar de Sol desde que eu havia acordado. Eu não conseguia entender, mas agora, enquanto focaliza meu reflexo tudo ficava mais claro. Meu corpo todo brilhava sob a luz do sol emitindo um tom âmbar, como pele bronzeada depois do verão – algo que nunca me acontecera antes, minha pele pálida nunca aceitou nenhum tipo de cor oferecida pelo Sol. Meus cabelos dourados brilhavam com pequenos reflexos das mexas que variavam em tons de castanho acobreado ao bege do mel; e desciam até abaixo da linha dos ombros em cachos leves e soltos. Mas o que mais me surpreendeu foram os olhos. Meus olhos tinham adquirido o mesmo tom amarelado que eu vi nos olhos de Giacomo, com grandes pupilas negras dilatadas no centro, a lembrança do assassino fez meu corpo estremecer.

- O que foi Angel? Não gostou?

- Não, não é isso... é que eu não esperava por isso. Eu só preciso me acostumar, é só... e os olhos... por que meus olhos não são iguais aos seus e de Theodore?

- Ah, meu bem... é por causa da cor?

- Sim... são muito... muito amarelos! São como os de Giac... – eu não podia sequer pronunciar aquele nome.

- Eu sei... mas eles se atenuarão com o tempo. Essa cor é oriunda do sangue humano que ainda existe em seu organismo, querida. Quando ele for totalmente substituído e seu corpo estiver livre dele, seus olhos ficarão mais claros e logo não chamarão tanta atenção, não se preocupe.

- É sério? Tem certeza Janet? Eu não quero essa cor em mim...

- Claro Angel... não se preocupe. É absolutamente normal! Bella... sabe... sua irmã... teve uma reação muito similar a sua quando acordou.

- Ela teve?

- Sim, Bella também não esperava uma mudança tão pronunciada...

- Mas a Bells mudou tanto assim?

- Bem, Angel... Bella mudou tanto quanto você! Em outra direção é claro! Mas mesmo a transformação em criaturas tão diferentes, quase opostas, não foi capaz de tirar as semelhanças compartilhadas por vocês.

- Ah... mas Bella também ficou loira?!??

Minha dúvida provocou risos altos em Janet.

- Não, Angel... pelo contrario. Bella esta... como posso descrever... prateada! Sim! Essa é uma ótima definição. Bella esta prateada como a lua enquanto você é dourada como o sol! Uma é criatura da noite e a outra do dia...

 

...

           

Lua... foi a palavra que me veio à mente enquanto aguardava ansiosa pela chegada de Bella na clareira dos Cullens. O Sol estava se pondo e o crepúsculo dominava o ambiente. Ainda não era noite, mas já não era dia.

Minhas mãos aflitas procuraram as de Jake que estava bem ao meu lado e quando as encontrei segurei firme esperando pela calma que veio devagar demais.

- Quanto tempo ainda Jake?

- Só mais um pouco amor... só mais um pouco.

Janet cobriu meus ombros com seus longos braços – eu não podia dizer se seu intuito era me acalmar ou me segurar caso eu perdesse o controle, mas me deixei ficar ali aninhada entre Janet e Jake com Theodore mais a frente. Paul e Jared e os outros Quileutes em suas formas de lobo se mantinham nos flancos prontos para me segurar se fosse necessário.

Eu não conseguia decidir se o nervosismo que me atormentava naquele momento era causado pela ansiedade de reencontrar Bella e os Cullens ou apenas um reflexo do nervosismo de Jake e os outros lobos que vibrava ao meu redor. Então três lobos pequenos, muito menores do que eu esperava, saíram das arvores da floresta escura.

- Seth? – eu perguntei para Jake sem tirar meus olhos dos lobos.

- Sim... e Brady e Collin.

- Brady e Collin também...

- É... – Jake antecedeu minha duvida com resignação – somos dezessete agora... bem, se pudermos contar com Leah...

Eu supus que eu deveria ter previsto isto. Com tantos vampiros por perto, uma explosão na população de lobisomens era inevitável. E antes mesmo que eu pudesse começar a lamentar a parte triste de todos os acontecimentos dos últimos dias – a perda de Sam e Emily e a fuga de Leah – meus olhos focalizaram formas familiares se materializando por entre as arvores. Carlisle foi o primeiro a se mostrar, ele caminhava muito lentamente em nossa direção. A pele clara como neve parecia reluzir mesmo no escuro. Suas mãos levantadas pareciam indicar exageradamente que um ataque não era sua intenção.

- Carlisle! – causando surpresa em todos, eu gritei e corri em sua direção.

Carlisle, o mais surpreso de todos, parou. Seu corpo de mármore congelou com minha reação, bem a minha frente e há alguns metros de distancia. Uma brisa suave soprou vinda de sua direção e trouxe um odor pungente que queimou minha garganta. Eu instintivamente me afastei e torci meu nariz, mas me recompus tão depressa quanto fui capaz, não queria ofender Carlisle.

- Humm... desculpe-me, Carlisle! Eu não quis...

- Oh, Angel! – ele se antepôs e relaxou seu corpo – Não se desculpe minha criança! Sua reação só mostra o total controle que você mantém sobre seus instintos. Isto é realmente magnífico! Você esta magnífica, minha querida! – Carlisle agora se aproximava com um pouco menos de cautela – Fico tão feliz por poder testemunhar a forma espetacular que você e sua irmã lidam com a transformação!

Eu me mantive imóvel, esperando pela reação instintiva de repudio aos vampiros, que Theodore e Janet me alertaram que poderia sentir, mas ela não veio. Tudo que eu sentia era a ânsia de ver Bella. Carlisle mantinha o sorriso largo em seu rosto sereno ao se aproximar ainda mais de mim e me abraçar. Eu pude sentir a estática se dissolvendo no ar enquanto todos relaxavam com a cena.        

- Não se preocupe com o cheiro Angel... ele se atenua com o tempo – Carlisle murmurou em meus ouvidos tão baixo que tenho certeza que fomos os únicos a ouvi-lo.

- Bella?!? – eu perguntei dirigindo o olhar para as arvores e procurando por ela, já que não podia ver minha irmã entre os outros vampiros. Somente Jasper e Emmet estavam ao lado de Seth, Brady e Collin.

- Oh, sim! Edward? – Carlisle chamou.

Então eu pude reconhecer Edward no escuro, seus olhos âmbar pareciam quase calorosos ao me ver. Eu retribuí e sorri de volta. Inesperadamente um sentimento tomou conta de mim, era algo além de gratidão, Edward havia salvado a vida do meu filho e eu queria poder ser capaz de traduzir em palavras o que seu presente havia causado em mim.

- Edward... como eu posso... eu não sei como lhe agradecer...

- Não precisa cunhadinha! – Edward sorriu carinhoso e deixou um fraternal beijo em minha bochecha – somente o fato de você estar viva e bem já é o suficiente para mim... ainda mais pelo fato de você ser a causa do sorriso no rosto de minha Bella!

Edward, então, se virou e permitiu que eu avistasse Bella bem atrás dele. Nossos olhos se encontraram de novo e como em meu sonho eu encontrei a paz na presença de minha irmã. Eu estendi minha mão direita e Bella sem hesitar um segundo respondeu segurando-a com firmeza. O toque gélido de sua pele fez meu corpo estremecer, e como um choque elétrico a vibração pareceu percorrer meus braços e se transferir para Bella.

- Urgh... – Bella agora franzia sua testa de mármore e torcia o nariz exageradamente – você fede mesmo Angie!

- Ahn? – eu perguntei boquiaberta – eu? Eu estou fedendo? Você já sentiu o seu cheiro Bells? – eu terminei a brincadeira mostrando a língua para minha irmã, exatamente como uma criança birrenta.

Os braços de Bella me puxaram e nos abraçamos ternamente. Nós rimos e o som ecoou por toda a clareira causando outros risos em todos presentes. Emmet se aproximou e como no primeiro dia em nos conhecemos, ele me cobriu com seu abraço de urso.

- Hey, irmãzinha! Até que você não ficou tão feia assim!

- Humm... Emmet, seu tonto! – respondi com uma leve cotovelada em suas costelas.

- Au, Angie! Isso doeu, sabia?

- Doeu mesmo? – eu perguntei surpresa com a reação de Emmet.

- É claro que sim!

- Bom, Emm... – Jasper se aproximou sorrindo maliciosamente – parece que agora não é só a Bella que pode te vencer na queda de braço, huh? Que tal uma nova aposta, hein?