Família Dixon escrita por Andhromeda


Capítulo 14
Ela não sabe o poder que tem


Notas iniciais do capítulo

Oie!! o/ o/ o/ Olha eu de volta...
Gostaria tanto de agradecer por todos os comentários que recebi - mesmo que eu tenha sido uma vaca, por não estar respondendo tão rápido quanto deveria...
Então, sei que prometi postar na quinta e tal - grande parte de mim, realmente quis cumprir essa promessa, mas tive dois contratempos, um chamado "família que adora uma festa de desconhece o fato de que feriado foi feito p/ se ficar em casa" e o "deserção total da inspiração/criatividade".
Mas em lugar de ficar aqui me desculpando por meu vacilo e tal - estou realmente arrependida T.T - vou deixar que o cap. fale por mim =^.^=
Esse é realmente dos grandes!



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Ao sair da vila de cabanas, Beth logo avistou Liza na pequena horta improvisada – a garota cantarolava enquanto retirava da terra o que parecia ser uma cenoura minúscula. Um pouco mais a frente, ela podia distinguir o chapéu de Ranger no auto da “torre” de vigia. Maurice – que tinha um olhar miserável e o rosto um tanto pálido – estava recostado na parede conversando com Tommy.

Ao vê-la, o irmão de Miranda pronunciou as palavras “ressaca de Tequila é a pior” sem realmente soltar um som. Sorrindo a Greene devolveu um “nem me fala” e logo seguiu seu caminho.

Havia se esquecido de prender o cabelo e Judith tinha enfiado suas mãos pequeninas entre a massa loira – vez ou outra, a adolescente tinha que afastar a cabeça para impedir que a menina enfiasse as mechas claras na boca.

Ao entrar na segurança obscura do refeitório – por mais que amasse a luz do Sol, ela estava fazendo com que seus olhos doessem – a adolescente suspirou. O lugar estava vazio, as janelas faziam com que o ambiente todo fosse iluminado e as grandes mesas ficavam juntas em um canto.

Beth sentiu o cheiro remanescente de salsicha frita no ar e rumou para a cozinha que ficava nos fundos.

A Sra. Parks estava limpando o fogão com um pedaço de pano e uma esponja. Em uma das cadeiras da mesa de madeira – de cabeça baixa e os cabelos desgrenhados, como sobrevivente de um desastre – estava Jessie.

– Ah – se assustou a senhora, quando se virou e encontrou a Greene parada a porta – não a escutei chegando, querida – seu olhar surpreendido rapidamente se transformou em preocupação – como esta se sentindo?

– Estou bem.

– Seu marido lhe deu a Aspirina?

– Sim, senhora.

– E os Bolinhos de Trigo?

– Bem, ele me deu, mas estava enjoada demais pra comer – Beth admitiu envergonhada – só que dormi um pouco e agora estou melhor.

– Sorte a sua – disse Jess, a ruiva levantou a cabeça com uma sofreguidão cômica, piscava os olhos vermelho e enevoados, como uma coruja preguiçosa – a maioria de nós simplesmente morre em agonia.

– Não ligue pra ela – a Sra. Parks foi em sua direção e passou a mão carinhosamente nos cabelos ralos da bebê em seu colo – alguns ficam de mal humorados quando estão se recuperando de uma bebedeira.

– A palavra recuperar, dá a entender que estou melhor do que quando acordei, o que não é o caso – a ruiva tirou o cabelo do rosto, depois colocou os cotovelos em cima da mesa e sustentou o peso da cabeça com as mãos em concha – sabe quem criou a ressaca, Beth?

– Não – a loira respondeu, tentava ao máximo não deixar transparecer em sua voz a diversão que sentia.

– Deus – Jessie afirmou com fatalismo.

– Não seja desrespeitosa, menina – a Sra. Parks a encarou com um olhar que só uma religiosa fervorosa poderia ter – não culpe Deus por suas escolhas.

– Não culpo, sério – longe de parecer intimidada, a ruiva continuou – raciocina bem, foi ele e o Diabo criou a bebida.

– Não deveria ser o contrario? – a Greene murmurou na tentativa de ajudar a menina, o olhar severo da Sra. Parks ficava cada vez mais assustador.

Não – negou Jess com convicção, totalmente indiferente ao perigo que lhe cercava – Deus em sua infinita sabedoria, criou a ressaca pra que nós, pobres mortais, não nos afogássemos no álcool e depravação – a garota voltou a deixar a cabeça cair na mesa com um choramingo abafado – Senhor, eu nunca mais vou beber.

Sendo filha de um homem devoto, que havia freqüentado as missas na igreja nos dias de Domingo desde que se entendia por gente, Beth ficou no dilema entre rir – pela forma exagerada que a outra falava – ou ficar indignada como a Sra. Parks pelo obvio desrespeito da ruiva.

– Não deveria falar essas coisas – a loira fez o possível para que seu comentário fosse o mais neutra possível, mas pelo olhar desconfiado que recebera da idosa, percebeu que não havia feito um trabalho tão brilhante.

– Eu não deveria estar com uma dor de cabeça dos infernos – Jessie gemeu.

– Vai melhorar – Beth podia senti uma pontada de empatia pela ruiva.

– Não devia beber se no dia seguinte ira ficar falando esses disparates, menina.

– Concordo plenamente com a senhora – Jess devolveu, nem ao menos levantou a cabeça para encarar a mais velha – vou estampar essa frase em uma das minhas camisetas, pra ver se lembro da próxima vez.

– Você não tem jeito – suspirou e balanço a cabeça com exasperação, olhar pela janela e depois encarou a Greene – vou lá fora impedir que minha neta acabe com as poucas verduras que temos – apontou para um prato tampado por um pano quadriculado em cima da mesa – se você quiser, pode se servir de alguns bolinhos que sobraram do café da manhã.

– Tudo bem, obrigado – a adolescente agradeceu.

A mais velha sorriu e logo depois saiu pelas portas de metal.

– Judy... – Beth tirou o cordão de prata que usava da boca da bebê, a menina titubeou, mas logo desviou a atenção pro cabelo da loira – não pode enfiar tudo que encontra na boca – encarou os olhos tão azuis quanto os seus, mas recebeu em troca apenas um sorriso desdentado – o que faço com você?

– Aauuuuua – veio à resposta, sem resistir, a Greene encheu o rosto da criança de beijos.

As portas voltaram a se abrir para dar passagem a Miranda. Diferente do que parecia ser o resto do mundo, a mulher tinha um sorriso de orelha a orelha e olhos brilhantes.

– Boa tarde, meninas! – ela cumprimentou.

Como os braços de Beth estavam começando a doer com o peso de Judy – a menina realmente pesava mais do que parecia – ela rumou para o lado de Jess e sentou-se. A bebê se inclinou para colocar a boca na quina de madeira da mesa, porém – prevendo esse ação – a Greene chegou a cadeira para trás e ficou balançando a menina na tentativa de distraí-la.

– Como você se atreve a entrar aqui com essa cara de quem fez sexo selvagem a noite inteira, quanto estou morrendo? – rosnou Jessie, a garota levantou a cabeça como um raio vermelho.

– Simples, porque eu fiz – o sorriso da morena cresceu ainda mais – e tem coisas na vida que não dá pra esconder.

– Você... – pela primeira vez desde que a conheceu, Jess pareceu estar sem palavras.

– Feche a boca, querida – os olhos de Miranda estavam tão satisfeitos quanto os de um gato que havia acabado de comer o canário da gaiola.

– Desgraçada – Jessie se levantou tão rápido que sua cadeira caiu para trás, assustada, Judy soltou um gritinho e encarou a mulher com olhos enormes – você o ludibriou.

– Claro que não!

– Ele estava bêbado!

– Sean bebeu dois copos, ate mesmo você precisa de mais que isso pra ficar bêbada – a morena rebateu, ultrajada.

– Não importa, foi golpe baixo.

– Não seja uma vaca, Jess – Miranda foi ate à amiga, levantou a cadeira que caiu no chão e se sentou, Jessie a encarou por alguns segundo, seus olhos verdes prometiam uma vingança sanguinária – e pare de fazer drama.

Beth não estava entendendo nada – alem do fato de que Miranda e Sean tinham passado a noite juntos – e uma pequena parte de si estava muito interessada em descobrir.

– Eu não estava errada – cruzou os braços e fechou a cara, como uma criança birrenta

– Deixa de fazer bico, ruiva – a morena se recostou na cadeira e lançou um olhar divertido pra amiga – suas idéias loucas foram por água abaixo.

– Não sei se lembra bem, mas eu disse que o faria se apaixonar por você – Jess cuspiu – não sei quais são seus conceitos de amor, mas uma transa de uma noite não o qualifica como tal.

– Ele vai se apaixonar – a outra devolveu, e Beth poderia apostar que a mulher não estava tão certa disso quanto suas palavras proclamavam.

– No futuro, não presente – salientou Jessie, as duas se encararam por mais alguns segundos, ate que Miranda suspirou, derrotada.

– Odeio quando você tem razão – disse a morena, emburrada – vaca.

– Sempre – disse Jess com um sorriso, totalmente recuperada da “briga” anterior, a ruiva foi em direção a Miranda e a abraçou ate que a outra também estivesse sorrindo– então, como foi?

– Humm, talvez eu devesse voltar depois – a Greene murmurou.

Mal conhecia as duas e aquela parecia ser uma conversa muito intima, sentia-se como uma intrusa –com Judy arrulhando em seu colo e totalmente perdida.

– Claro que não – disse Miranda, com simplicidade – é uma conversa de mulheres, você pode participar.

– Ok, tudo bem...

– Pronto, resolvido – disse Jessie, puxou uma cadeira ao lado da morena e se sentou– agora me diga como foi, Miranda!

– Bem, não posso dizer que fui surpreendida, sempre achei que o Australiano fosse... – hesitou – não sei qual palavra usar.

– Selvagem, grande, enorme, bem dotado – a Jess começou a sugerir, cada vez mais entusiasmada – não precisa procurar por palavras bonitas, muito pelo contrario, pode ser bem explicita, gosto de detalhes.

Beth não pode conter o sorriso que se formou em seu rosto – toda aquela “conversa de menina” era tão novo para ela. Quando houve a virada, a garota tinha apenas 16 anos e por mais que tivesse algumas amigas, seus assuntos sobre garotos giravam em torno de beijos roubados e recados anônimos que misteriosamente apareciam no seu armário da escola. Nenhuma das suas colegas haviam se quer passado da “segunda base” com um menino, e por mais que já tivesse 18 anos – ou mais provavelmente 19 – e tenha tido 2 namorados, permanecia sendo tão inexperiente quanto a filha de 16 anos de uma fazendeiro da Geórgia.

– Você que manda, ruiva – a morena disse com malicia – Sean pode ter uma língua afiada, mas vocês não fazem idéia das coisas que ele sabe fazer com ela – ela se inclinou sobre a mesa e destampou o prato com os Bolinhos de Trigo, ainda mornos, do café da manhã – o homem sabe o significado da palavra generosidade – sorriu quando Jess se afastou do bolo como se Miranda tivesse aberto as portas do Inferno – não sei se foi efeito da bebida, mas sentia que as mãos dele estavam em todo lugar a todo o momento – suas próximas palavras saíram meio abafadas, pois ela ficou muito empenhada em comer, mas as garotas estavam tão interessadas que não se importaram – ate ontem, achava que o termo “orgasmo múltiplo” fosse uma fabula, como Papai Noel e a Fada do Dente...

A mulher começou a explicar – detalhadamente, conforme solicitado – como tinha sido sua noite. Beth sentia seu rosto esquentar cada vez mais e por mais que não conseguisse uma imagem mental de todas as discrições que a morena tão animadamente ilustrava, a Greene estava adorando.

– Senhor – Jess aproximou sua cadeira mais para perto das duas.

Aproveitando seu momento de distração, Judith pegou um punhado de seda vermelha – encantada com a cor – e enfiou na boca, para testar se o gosto era tão diferente dos de Beth quanto parecia – ou pelo menos, essa foi à conclusão que a Greene chegou, quando persuadiu a menina a soltar as mechas ruivas.

– E o melhor – Miranda comeu mais um pedaço do seu café da manhã tardio.

– Fala logo – guinchou Jessie, quando a morena passou tempo demais saboreando o Bolinho de Trigo, fez um carinho na cabeça da bebê e recebeu em troca um sorriso babado.

– Ele é insaciável ela deu um olhar coquete – já estava quase amanhecendo quando enfim me deixou dormir.

– Puta merda – sussurrou a Jess – acho que é porque ele tinha toda essa energia acumulada desde o inicio do Apocalipse – ponderou.

– Sorte a minha – Miranda catou os últimos bolinhos do prato – estou faminta.

– Você é tão cruel – choramingou a ruiva – mas pondo de lado a pequena parte de mim que esta se afogando em inveja mal reprimida, fico feliz que tenha conseguido, a brincadeira de cão e gato entre os dois estava começando a me encher o saco.

– Bem, não sei se a brincadeira acabou – murmurou – quando sai da cabana dele, Sean ainda estava dormindo – a morena assumiu um ar de serenidade e preocupação – e como você disse, foi apenas uma “transa de uma noite”, não acho que ele vá cair aos meus pés por isso.

– Não leve a sério toda idiotice que digo – disse Jessie – e homens são criaturas idiotas, provavelmente ele ira lutar antes de cair sobre os encantos dos seus lindos olhos castanhos, mas vai acontecer.

–Talvez, ruiva – Miranda concordou.

– Vai, sim – afirmou Beth, não por estar em acordo com as mulheres, mas por sentir que realmente deveria falar algo sobre o assunto.

Como dois faróis, os olhos das mulheres se fixaram nela. A Greene sentiu um arrepio na espinha e chegou à conclusão de que independente do que estava por vir, ela não gostaria.

– Então, Beth – disse Jessie em um tom enganosamente desinteressado – eu tenho que perguntar...

– Jessica – Miranda advertiu, em um tom baixo e ameaçador.

– Qual é, não aja como se não quisesse saber também! – a ruiva devolveu.

– Do que exatamente estamos falando? – perguntou Beth, olhava entre as duas, confusa.

– Como o Sr. Dixon é?

– Como assim?

– Você sabe... – a ruiva fez um gesto de amplitude com as mãos.

Quando Beth continuou olhando-a confusa, Jessie fitou Judy incisivamente.

– Oh! – a compreensão floresceu na consciência da loira e ela podia sentir o rubor de embaraço subindo por seu pescoço e colorindo seu rosto

– Encare isso como um bem ao próximo, porque diferente da princesa aqui – apontou para a morena – nem todos nós temos a sorte de encontrar um sujeito falador e bom de cama, alguns podem apenas se agarrar as historias picantes dos outros, é triste eu sei, mas cada um sabe o peso de sua cruz.

– Ahm... é que... – como explicar o que não existia, a coisa mais remotamente sexual que tinha feito com Daryl havia sido o beijo da noite anterior e considerando que Miranda e Jessie achavam que eles eram casados e inclusive tiveram um bebê, Beth não poderia contar a verdade a elas, mas também não queria mentir, não parecia certo – não sei como explicar...

– Vamos lá, Beth – Jess a incitou – eu não estou interessada em seu homem, ou algo do tipo – a tranqüilizou – só estou curiosa, ele é todo rude e brusco, sabe... Com a coisa da besta e bíceps a mostra, mas que se transforma em um grande gato felpudo em volta da sua garota – ela abanou o rosto com as mãos em gesto de brincadeira – ele é uma coisa quente!

Por mais que Maggie tivesse Glenn, e nunca tivesse sido reservada quanto a sua vida sexual, ela nunca tinha conversado com a mais nova sobre sexo. Maggie – como todos os outros – sempre a trataram como uma menina inocente e tão desinteressada nesses assuntos como uma santa. Por isso, não tinha exatamente um repertorio extenso e explicito como o de Miranda – senhor, nunca tinha ao menos assistido um filme pornô em toda a sua vida.

– Bem, ele é quente – nem percebeu que tinha dito as palavras em voz alta, ate que as mulheres lhe encararam com expectativa – e... bom.

– Beth, por mais que eu seja do tipo complacente e tal, gostaria muito que você fosse um pouco mais... – disse Jess, com toda delicadeza que poderia, quando a garota ficou em silencio.

– Explicita – completou Miranda e trocou um olhar cúmplice com a ruiva.

Se um beijo era a única coisa que tinha, iria fazer jus a ele – não seria exatamente uma mentira, não é?

– Eu... eu já tive alguns namorados antes dele – começou meio insegura – porém, só percebi o quanto eram inexperientes quando Daryl me tocou – pigarreou – ele não é do tipo gentil, ou suave, mas... – faminto, a palavra quase saltou de sua boca, no entanto se controlou, parecia uma colocação muito intima – intenso, como se eu fosse à única mulher no mundo e que nada mais importava alem de nós dois, do aqui e agora.

Respirou fundo e tentou recordar aquele momento maravilhoso e inesperado.

– É confuso e assustador, porque quando estou com ele, sinto-me tão segura e perdida ao mesmo tempo – era impressão sua ou o refeitório estava assustadoramente quente? – como se estivesse dormindo e tendo o sonho mais... excitante da minha vida, é quase mágico.

– Odeio pessoas apaixonadas – suspirou Jessie, mas tinha um sorriso em seus lábios.

– Você odeia o fato de não estar apaixonada – disse Miranda.

– Deus, sou tão patética, já que esses relatos são o máximo de atividade sexual que terei pro resto da minha vida – choramingou Jess.

– Isso porque você quer – salientou Miranda, nada solidaria – a melhor estratégia é o ataque, ruiva.

– Com o Sean isso pode ter dado certo, mas não com o Tommy.

– Homens são todos iguais – a morena disse com desprezo, encarou Beth – acho que você provavelmente esta perdida – sorriu – a Jess tinha o plano de...

– Não fale plano nesse tom, me faz parecer uma víbora ardilosa – Jessie a interrompendo – chame de teoria.

Pode chamar do nome que quiser – Miranda se virou para encará-la – ainda será uma armadilha, ruiva.

– Não é não – fez sua melhor expressão de superioridade.

– Então por que você o chama de “O plano”?

– Porque chamá-lo de “Teoria da Evolução e Relações Humanas” não parecia tão legal.

– Sobre o que é a sua teoria? – perguntou a Greene, ao mesmo tempo encantada com o dialogo das duas e curiosa.

Oh, não deveria ter perguntado – Miranda lamentou.

– É sobre a teoria da Evolução Humana – disse a ruiva, ignorando totalmente a amiga – muitos gostam de pensar que os homens estão no topo da cadeia alimentar, mas se enganam, somos nós mulheres é que estamos – a garota inchou como um pombo – comparados a astucia feminina, um homem se torna tão esperto quanto um recém nascido.

– Jessie é uma feminista – disse Miranda e revirou os olhos, Beth só pode sorrir quando a morena foi fuzilada pelo olhar assassino da ruiva.

– Você também seria se não ficasse perdendo seu tempo com os prazeres da carne.

– Não, muito obrigado.

– Cadela – Jess sibilou como uma cobra.

– Vaca.

– Vamos simplesmente ignorá-la – a ruiva disse a Beth – onde eu estava... oh, sim.

“Homens foram geneticamente construídos para serem mais fortes, eles precisavam ser porque eram responsáveis por prover os alimentos – o que na época, consistia em matar grandes criaturas ferozes e tal. Só que, com isso também vieram alguns traços de personalidade, que são tão arraigados, que se perpetuam ate hoje.”

Ela deu um chute na perna de Miranda, quando a morena fez uma cara cômica de tédio.

Eles são diretos e objetivos – em qualquer situação. E isso pode se tornar um grande problema se o homem em questão pensar que não esta interessado em você. Já nós, mulheres, fomos feitas para resistir há tudo, de mudanças de temperatura a dores insuportáveis – como o parto. Temos quase um sexto sentido quando se trata de nossos filhos e nos dias de hoje, podemos fazer praticamente tudo que eles, só que melhor, pois com a clássica desvantagem da força, encontramos formas variadas e infimamente mais inteligentes.”

– Eu disse, uma feminista doida em pleno fim do mundo – murmurou Miranda.

– Um cenário onde essa diferença se torna gritantemente aparente é na sedução, eu, por exemplo:

“Estou muito interessada no Tommy e ele sente o mesmo por mim, porém, o garoto parece ter a idéia idiota de que não deve se meter comigo por causa do meu Tio, já que segundo suas palavras ‘respeito muito seu tio pra me enrolar com a sobrinha dele’. Tudo isso é bobagem, mas eu não posso simplesmente falar isso pro imbecil. Não posso nem cogitar a possibilidade, pois isso o intimidaria e o faria recuar.

Sabe o que eu disse sobre ser o provedor? Não é uma coisa que eles possam controlar, ou sejam conscientes. Os homens precisam pensar que estão no controle de todas as situações, e quando pensam que estão nos protegendo então...?!”

Miranda sussurrou as palavras “doida de pedra” para Beth – alto o bastante para que apenas ela ouvisse – e a Greene teve que fazer um esforço monumental para manter a expressão séria e interessada.

– Por isso, tenho que fazer com que ele pense que a decisão foi dele – Jess continuou, imperturbável – é ai que entra “O Plano”.

Beth sentiu Judy se recostar no colo dela – encostou a cabeça em seu peito – a bebê esfregou os olhos e soltou um bocejo.

– A primeira parte é o “Provocar” – Jess ainda parecia abatida e sonolenta, no entanto, parecia tão empolgada quanto uma criança na manhã de Natal – eu não vou provocá-lo de verdade, seria muito agressivo – lançou um olhar significativo para Miranda – é mais como dar um motivo pra fazer-lo pensar em mim, algo que o faça parar de me olhar como “a garota que nunca vou colocar minhas mãos” e comece a me ver como “a garota que não sai da minha cabeça e me deixa com uma puta ereção matinal”.

– Você já fez isso? – Miranda ecoou a pergunta que passava pela cabeça de Beth.

– Sim, ontem – a ruiva sorriu maliciosamente – quando ficamos sozinhos na vigia.

– O que você fez, ruiva?

– Eu o beijei – ela deu um olhar a sua volta, como se pela primeira vez estivesse preocupada com a possibilidade de ser ouvida por alguém que não fosse às duas mulheres – não foi um beijo comum, eu realmente me empenhei e não é pra me gabar, mas sem duvida, foi o melhor beijo que dei em minha vida.

– E o Ranger, ele saiu daqui resmungando e foi atrás de vocês.

– O santo tio Ranger – a ruiva levanto as mãos aos céus como se em oração – ele nos pegou no flagra e foi perfeito.

– Não entendi – Beth murmurou.

– Foi o time perfeito, o objetivo do “Provocar” é esse, sem desculpas, conversas constrangedoras, ou amassos quentes – explicou – o tio chegou e eu dei no pé.

– Como tem tanta certeza que seu plano insano e manipulador, funcionou?

– Você não viu a cara do Tommy, ele estava tão... fofo – Jessei quase vibrava de animação – definitivamente, eu mudei os rótulos, não me surpreenderia se ele começasse a me ver como “a garota que beija como o inferno”.

– Esta muito orgulhosa de si mesma, não é? – perguntou Miranda.

– Pode apostar!

Beth ficou olhando de uma mulher para outra – impressionada. Judith havia dormido, então a Greene a mudou de posição – invés de sentada, a menina estava deitada em seu colo – suas mãos pequeninas fechadas em punhos, seu rosto tão relaxado que era quase angelical.

– Agora vem a segunda parte, o “Cortejar” Jess continuou – não vou falar com ele sobre o beijo, vou agir como se não tivesse acontecido.

– Mas se você agir como se não o tivesse beijado, não vai meio que te fazer voltar pro inicio – a Greene perguntou.

– Não, só vai fazer com que o Tommy não fique na defensiva – disse Jessie – isso vai facilitar a segunda etapa, que consiste basicamente em me fazer presente, sabe como é, conversar com ele, ficar por perto, tocá-lo sempre que possível, essas coisas...

– Sinto pena do pobre garoto – disse Miranda – ele nem vai saber a merda que o atingiu.

– Essa é a intenção – sua voz baixou um tom – depois vem à parte que mais gosto, o “Xeque mate”, que é simplesmente deixar que a natureza resolva as coisas por mim – Jessie tinha uma expressão ardilosa, recostou-se na sua cadeira e sorriu – já vou estar tão entranhada na cabeça dele, que Tommy não terá outra escolha...

– E vai pensar que a decisão foi dele – Beth concluiu.

– Exato!

– E isso não lhe parece à porra de uma armadilha? – perguntou Miranda com indignação fingia.

– Cale a boca!

– Não se sente culpada? – a Greene perguntou.

– Não, porque faria?

– Bem, você o esta manipulando – disse meio incerta.

– Não vejo dessa forma, só estou usando as armas disponíveis no meu arsenal – Jessie suspirou – o fim do mundo é muito ruim pra se passar sozinha, Beth.

“Eu quero um homem pra me aquecer durante a noite, alguém pra voltar quando estiver em uma corrida e que me diga o quanto sou importante e vital pra sua vida, sabe como é?”

– Talvez você tenha sorte, o mundo é um lugar injusto – disse a loira – eu perdi toda a minha família, e nem sei se estão vivos ou mortos, tudo que tenho é a Judy e o Daryl, mas não faz idéia do quanto é aterrorizante saber que eles podem ser tirados de mim a qualquer momento, que apenas um erro, uma decisão mal calculada e BAM!

– Se você pudesse escolher nunca ter conhecido seu homem, não ter tido sua filha, você voltaria atrás? – Jess a questionou.

Beth sentiu o corpo quente de Judy contra o seu e pensou na forma que tinha encontrado Daryl brincando com a menina quando tinha acordado apoucas horas atrás seu coração se apertou.

– Não – porque se fosse diferente, ela não teria os pequenos momentos.

– É isso que eu quero – disse Jess, a garota lhe encarava com tanta intensidade que a Greene tinha certeza, ela podia ver a sua alma – tem razão quando diz que o mundo não é um lugar justo, mas droga, todos nós estamos fadados a morrer desde o primeiro suspiro, posso muito bem fazer da minha vida algo mais importante do que apenas sobreviver – olhos verdes encontraram os azuis – posso escolher amar.

Essas simples palavras tocaram no fundo da alma de Beth e ela decidiu – com uma determinação que nunca tinha tido antes.

Sim, ela também escolhia amar.


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Notas finais do capítulo

Então????