Ele baixou a mão, dizendo:

- Olha, desculpe, de verdade. Pelo modo como as coisas aconteceram na última vez que nos encontramos.

Na última vez que nos encontramos. Instantaneamente fui transportada em pensamento para aquela floresta – que eu tinha visto frequentemente nos sonhos. Silencioso, e sombrio. E como Luke tinha tentado me seduzir, com umas cantadas. Eu ainda podia ver Luke arrancando sua camisa e deixando seu peitoral à vista. Se não fosse pelos lobos eu não queria nem imaginar o que poderia ter acontecido ali... Arrepiei.

Eu mal podia acreditar que isso estava realmente acontecendo. Eu estava ali parada no estúdio de testes, cara a cara com a pessoa que vinha perturbando meus sonhos havia dias.

- Quer dizer, a parte em que você tentou abusar de mim? – Falei com o meu melhor tom irônico.

Ele levantou sua mão grande e pálida e passou pelos cabelos lisos.

- Eu nunca tentei abusar de você, Aya. – disse ele, parecendo meio magoado.

Ri, não pude evitar. Meu coração estava na garganta, mas eu ri mesmo assim.

- Ah. Certo.

- Verdade, Aya. Não foi isso. Eu só... Eu só queria ver se você resistiria aos meus encantos. Não sou muito bom perdedor.

Encarei-o. Não importando o que disesse, ele tinha tentado se abusar de mim. E agora estava tentando dizer que era apenas falta de esportividade?

- Não entendo – falei, balançando a cabeça e me fazendo de sonsa – O que você perdeu? Você não perdeu nada.

- Não, Aya? – seu olhar se cravou no meu. Eu tinha ouvido aquela voz repetidamente nos sonhos. Era uma voz cheia de significado oculto...

Só que eu não tinha ideia de qual seria esse significado, ou do que ele estava dando a entender.

- Aya – disse ele com um sorriso. Sorrindo (e provavelmente zombando também) ele parecia um modelo. E não era só o rosto. Afinal de contas eu o tinha vista sem camisa.

- Olha, não fique assim – disse ele – Não precisa ficar com medo de mim.

- Não estou com medo de você. – falei depressa. O era verdade.

- Então o que é? – perguntou, com outro daqueles sorrisos que revelavam todos os dentes regulares e brancos. “Um sorriso de político”, pensei.

- Tenho nojo de você. Na verdade, você... É melhor você ficar longe de mim.

Ele pareceu achar isso tremendamente divertido.

- Ou então o quê?

- Ou então você vai se arrepender. – Falei convicta.

- Ah – ele disse com os olhos azuis lamacentos se arregalando de terror fingido – Você vai botar seu namorado e o cão de guarda atrás de mim?

Esta não era uma coisa com a qual eu brincaria se eu fosse ele. Jake poderia matá-lo – provavelmente mataria juntamente com Edward, se descobrissem que Luke tinha voltado a me encher. Só que ele não era exatamente meu cão de guarda, onde o serviço fosse me proteger de psicopatas como aquele que estava na minha frente.

- Jake não é meu cão de guardas. Idiota!

Ele me ignorou e riu.

- Não tenho tanta certeza quanto a isso. Nenhum dos dois faz o seu tipo. E não é o suficiente para você, minha boneca. Você precisa de alguém um pouquinho menos...

Ele não teve a chance de terminar a frase, porque eu interrompi-o.

- Boneca é a sua avó! – falei irritada.

Naquele momento Alma, minha mãe que vinha seguida por Karina – cheia de roupas nos braços – vieram na minha direção sorridentes.

- Aya, minha filha. Aí está você – disse Alma sorridente, então notou a presença de Luke e perguntou – Quem é o seu amigo?

Eu não ficaria ali parada fazendo apresentações. Estava pensando seriamente de falar que não o conhecia.

Mas ele estendeu uma daquelas mãos frias e fortes para Alma e disse com aquele sorriso que eu já havia considerado franco e agora me arrepiava até os ossos.

- Oi, eu sou Luke. Luke Clanks. Prazer em conhecê-la.

Luke Clanks, não era realmente o tipo de nome capaz de provocar terror no coração de uma mulher, hein? Quero dizer, parecia bastante inocente. “Oi, eu sou Luke. Luke Clanks. Prazer em conhecê-la” Não havia nada naquela declaração que pudesse ter alertado minha mãe para a verdade: Luke Clanks era doentio, manipulador, e tinha uma pedra de gelo no lugar do coração. Não, Alma Rey não fazia à mínima ideia. Porque eu não tinha contado, claro.

Se Alma achou os dedos de Luke um pouquinho frios para seu gosto, não deu a entender.

- Alma Rey – ela disse, enquanto apertava a mão dele com o seu jeito meigo – Você deve ser novo aqui, é um dos candidatos finalistas para o clipe?

Luke piscou, chamando atenção para os cílios, que eram realmente compridos para um cara. Quase pareciam pesados nas pálpebras, como se fosse difícil de levantar. Olhei preocupada para minha mãe, que era uma das pessoas mais ingênuas desse mundo, e que provavelmente não seria imune aos encantos de Luke.

- Sou um dos finalistas, sim. – disse Luke com outro riso daqueles – Sorte a minha conhecer a famosa cantora Alma Rey.

- Oh, imagina meu querido – mamãe soltou um riso – Fico feliz, teremos bons finalistas. Você é amigo de Aya?

- Não – falei depressa – Não. Olha, é melhor a gente começar a experimentar as roupas, se não atrasará os testes.

Mas Luke não estava preocupado com essa história de atrasar os testes.

- Aya e eu tivemos um caso no verão passado – informou ele a minha mãe, cujos olhos se arregalaram diante dessa informação.

- Um caso?

- Não houve caso nenhum – garanti às pressas – Acredite mãe, caso nenhum.

Os olhos da minha mãe ficaram ainda mais arregalados.

Estava claro que não acreditava. Bom, por que acreditaria? Eu era sua filha, verdade. Mas será que eu já tinha sido detalhista sobre minha vida amorosa com ela? Não. E ela claramente sabia.

- Ahm, então vocês terminaram? – Perguntou objetivamente.

- Não, nós não terminamos – disse Luke, com outro daqueles sorrisos cheios de segredo, de quem sabe das coisas.

“Porque nós nunca estivemos juntos” eu quis gritar “Você acha que eu sairia com ele? Ela não é o que você acha mamãe. Ele parece gentil, mas por baixa dessa fachada de garanhão ele é um... um...” Bem, eu não sabia o que Luke era exatamente, só sabia que ele é um vampiro. Mas isso definitivamente não poderia dizer à minha mãe.

Ainda que eu tivesse tido coragem para dizer alguma coisa desse tipo na frente dele, não tive chance, porque de repente soou um grito:

- Aya! Vem ver as roupas para o ensaio! – Mia estava com as duas mãos na cintura e com a cara feia – Se não atrasaremos os testes!

Mia corou ao notar que eu e minha mãe não estávamos sozinhas. Pelo olhar que ela dirigiu ao Luke pareceu que estava gostando do que estava vendo.

- Desculpe por incomodá-las, nos vemos mais tarde – ele disse fazendo uma cara de arrependido.

- Até breve. – minha mãe disse.

Assim que Alma se virou, Luke piscou para mim discretamente. Eu fiz careta, e ele deu uma risada abafada.