We Both Changed escrita por MsNise


Capítulo 23
Decidindo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem com vocês?
Aliás, ainda não respondi os comentários porque fiquei totalmente sem tempo ;-; Mas algum dia eu vou responder todos, prometo! Não fiquem bravos comigo D':
Muitas emoções nesse capítulo 'o' Espero que gostem dele, amores ♥



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JODI

Esperei mais um dia. Talvez porque eu quisesse adiar o inevitável e ficar com Kyle mais tempo. Mais um último dia. No entanto, para Ian eu disse que queria apenas resolver algumas coisas antes de partir. Fingi alguma praticidade; nada de sentimentalismo.

Na primeira hora da manhã já fui até o consultório de Doc.

— O que eu posso fazer por você, Jodi? — Doc tinha um ar cansado.

Respirei fundo. Tentei falar, não consegui. Estava tremendo e suando. Temia. Gaguejava. Nada. Nenhuma palavra. Nada que eu quisesse proferir.

— Jodi… — ele parecia calmo. — Simplesmente fale.

Fechei meus olhos. Estava na hora de dizer as palavras que decretariam a minha morte.

— Coloque Sunny em mim novamente.

As palavras saíram rasgadas e trêmulas. Inseguras. Droga, nada do que eu queria passar. Nenhum pingo de coragem em minha voz. Nenhuma nobreza em minha atitude. Eu estava com medo da escuridão.

— Tem certeza disso? — ele estava tentando me transmitir uma calma detestável. Parecia meio inseguro, mas não tanto como eu achei que estaria. Não tanto como no dia em que Sunny decidiu partir.

— De noite. Não muito tarde, porém. Não quero estar mais aqui quando Kyle der por minha falta.

— Ele não sabe?

— Não te interessa — retruquei e o encarei com o olhar firme. Ele permanecia intacto. Maldito. Até parecia aquele velho de expressão impenetrável. Como o chamavam mesmo? Jeb. Todos tinham uma devoção doentia a ele, um homem que carregava uma espingarda para cima e para baixo. Ridículo. — Esteja aqui de noite e não hesite em colocar Sunny dentro de mim novamente, tudo bem?

Ele assentiu relutantemente.

Voltei para o quarto e fiquei lá até Kyle me chamar para comer. Ele segurou em minha mão, mas tive certeza de que foi mais pelo hábito do que por sua própria vontade. Quando comecei a reparar verdadeiramente em suas atitudes, percebi o quanto ele mantinha uma distância fria de mim. Como se me temesse. Ele não conversava comigo.

Sentamos perto de Ian, que conseguiu manter a conversa mais animada. Ele fazia-me falar algumas vezes, no entanto não forçava a barra com Kyle, que permanecia em um silêncio distante e assustador. Ele estava de luto, entendi pela dor em seus olhos e pelo fato de ele ter comido menos que o habitual. Ele estava de luto por Sunny. Isso me entristeceu.

Lembrei-me de quando Sunny foi recolocada nesse corpo. Ele também tinha ficado de luto por mim, um luto rápido e frágil, que se quebrou por causa da companhia de Sunny. Ele já não esperava que eu voltasse como o seu sol, portanto não afastou Sunny. Ou talvez estivesse cheio de esperanças. Se era esse o caso, ele não demonstrava.

— Você cuida dela, Ian? — Kyle murmurou com a voz rouca. Reparei, pela primeira vez, em suas olheiras evidentes. Ele estava cansado. Não havia dormido durante a noite; tinha estado com Sunny. Isso também me entristeceu.

Ian assentiu.

— Preciso falar com você em particular — sussurrei para Ian, que assentiu discretamente. Torci para que ninguém tivesse escutado.

Depois que terminamos de almoçar, ele deu um selinho em Peg — o que me fez repudiá-lo por alguns segundos — antes de me arrastar através dos corredores da caverna até o meu quarto. Já estava enjoada daquele lugar monótono — todos os corredores eram iguais, todas as pessoas tinham uma camada fina de poeira sobre suas peles, ninguém se cuidava muito. Talvez eu não pudesse aguentar muito tempo ali mesmo, afinal.

Quando chegamos ao quarto, ele segurou em minhas duas mãos e me olhou de forma triste. O meu irmão.

— Adeus, Ian — e meus olhos se encheram de lágrimas.

Ele me puxou para perto de si, fazendo-me afundar no aperto reconfortante de seus braços. Seu corpo era tão aconchegante quanto o de Kyle. Meu Kyle, que eu nunca mais veria novamente. Meu Kyle, que jamais voltaria a ser meu.

— Sinto muito por isso acontecer, Jodi — ele murmurou, afastando o meu rosto e limpando as minhas lágrimas. — Você merecia uma coisa melhor. Você merecia o mundo normal, onde você poderia se apaixonar por Kyle e lhe dar esperança. Você merecia seus pais. Não uma caverna, não um lugar para ficar presa para sempre.

Se eu não poderia mais ter essas coisas, então a escuridão era a melhor opção. A escuridão era a melhor opção para deixar Kyle ser feliz também e era esse o único objetivo de minha vida que sobrara. Porque viver… bem, esse objetivo foi por água abaixo na noite anterior.

— Diga que eu o amo — implorei, amassando a sua camiseta em nervosismo. — Por favor, diga que…

— Não, não — ele negou, sentando-nos no colchão. — É você quem vai falar isso.

— Eu não posso — protestei em desespero. — Ele não sabe, Ian. Ele não sabe de nada!

— E quem disse que ele precisa saber? — ele tentava frear o meu desespero. Segurou firme em meus ombros e me encarou. — Diga que o ama, apenas. Sem nenhum motivo. Apenas deixe isso informado a ele — Ian hesitou um pouco. — Ele vai entender quando souber.

Fiquei simplesmente olhando-o, a respiração ofegante, o coração acelerado, os olhos cheios de lágrimas. Estava desesperada, tremendo por dentro e por fora. Na frente de Ian, eu jamais esconderia os meus verdadeiros sentimentos. Nunca houve segredos entre nós dois.

Ele puxou-me para mais um abraço.

— Você não sente medo — ele afirmou e eu pude imaginar um sorriso em sua boca. Ele me falava esse tipo de coisas muitos anos atrás, quando nos conhecemos. Eu não sentia medo naquela época.

Fechei meus olhos e passei meus braços ao redor de sua cintura.

— Não? Pois agora eu estou morrendo de medo. Por que a escuridão me apavora tanto?

Ele ficou me segurando por um bom tempo, até a minha respiração se acalmar. Até o mundo entrar nos eixos novamente. Até eu entender mais uma vez que o que eu estava fazendo era o certo. Era o necessário.

— Por que está falando sobre escuridão, Jodi? — ele perguntou com a voz inflexível.

Afastei-me um pouco.

— Porque vou me suprimir. Porque Sunny vai voltar para esse corpo.

Ele arregalou seus olhos.

— Não, não… era apenas para você partir. Conquistar o mundo. Ser livre… você não pode ser um bicho acuado, escondido em algum lugar. Você é um pássaro do mundo, Jodi. Tem que ser livre!

Quando entendi as suas intenções, senti o peso em meu coração diminuir um fardo. Na noite anterior tinha pensado que Ian queria a minha morte, mas ele apenas desejava a minha liberdade. Liberdade que eu não poderia ter. Liberdade que não queria; não sem Kyle.

Sorri de forma melancólica e toquei delicadamente em seu rosto.

— Sinto muito, mas eu prefiro partir — lágrimas escorreram pelo meu rosto. — Por Kyle. Na escuridão eu não vou sentir nada… não vou nem notar que estou na escuridão. Se eu ficar, por outro lado, vou viver minha liberdade presa no passado. Presa em um amor que não pôde acontecer. A minha liberdade agora é a escuridão, Ian.

Ele fechou seus olhos e crispou seus lábios, parecendo imensamente triste. Não sabia que eu entregaria meu corpo. Não sabia em qual sentido eu estava partindo. Sentindo que a situação tinha se invertido, abracei seu corpo e acariciei seus cabelos. Era eu quem o consolava. Aquilo, de alguma forma, fez eu me sentir melhor. Mais forte.

— Tem certeza? — ele sussurrou com a voz embargada.

— Nunca tive tanta certeza em minha vida. Não se preocupe — e eu sabia que falava a verdade. Segurei seu rosto entre minhas mãos. — E quero que saiba que vou te amar como um irmão até mesmo na escuridão.

Ele beijou minha testa.

— E eu vou te amar como uma irmã até mesmo quando você não estiver mais aqui.

Suspirei, deixando que ele passasse seus braços pelos meus ombros. Permiti-me desabar um pouquinho.

— Aproveite aquela alienígena que você diz que ama — murmurei com a voz chorosa. Ele limpou uma lágrima que escorreu pelo meu rosto.

— Fique em paz na escuridão, Jodi — ele sussurrou. Sua voz estava meio embargada. Ele também sofria pela minha perda. Ian também me amava, apesar de tudo.

— Vai ser o melhor para mim — e a minha frase soou muito verdadeira.

Ele me deu um último beijo na testa antes de me deixar sozinha para organizar meus pensamentos até a noite. Nunca mais veria Ian. Nunca mais andaria por aqueles túneis. Veria Kyle apenas uma última vez.

A não ser que…

E se desse errado? E se eu não encontrasse apenas a escuridão; e se eu permanecesse viva dentro de Sunny? E se eu não conseguisse me aniquilar totalmente, desaparecer, morrer dentro de mim mesma? Estava fazendo aquilo para deixar Kyle feliz e para isso Sunny teria de estar satisfeita. Ela nunca estaria satisfeita se eu ficasse viva dentro dela, sentindo ciúme cortante e dor profunda. Ela não aguentaria e seria incapaz de fazer Kyle feliz.

Como eu me aniquilaria agora que eu tinha aprendido a voltar à vida? Mesmo que eu não quisesse, será que o meu corpo não resistiria? Por que eu tinha voltado? Seria tão melhor se eu permanecesse na escuridão, inconsciente. Os meus sentimentos eram lancinantes demais para serem mantidos quietos dentro de mim. Talvez eu jamais fosse capaz de me suprimir novamente.

Eu teria que arriscar. E se eu acordasse no corpo junto com Sunny… bem, me esforçaria para me suprimir. Ou ficaria quieta, disfarçando a minha dor e sendo tão discreta que Sunny não seria capaz de me sentir. Por Kyle. Apenas por Kyle.

Fiquei deitada, esperando que Kyle viesse me buscar para irmos jantar. Ele veio. Sentamo-nos em uma mesa com Ian e a parasita, sua mais nova irmã, Susan, e o irmão de Melanie. Não me recordava de seu nome. Enquanto comíamos, muitas pessoas perguntavam coisas para Peg sobre os alienígenas. Não gostei das histórias. Todas elas se resumiam a uma criatura controlando um corpo que não a pertencia.

Kyle comeu pouco e não falou nada. Também não tinha muito estômago naquela noite. Ele segurou em minha mão quando terminou de comer e se levantou, me arrastando com ele. Lancei uma última olhadela cheia de sofrimento para Ian.

— Boa noite — Ian disse e sua testa estava vincada em preocupação. Kyle o ignorou.

— Boa noite, Ian.

— Durma bem — quase chorei quando ele proferiu aquelas palavras. Porque eu sabia o que elas realmente significavam. Era para que o meu sono na eternidade fosse bom. Assenti com os olhos cheios de lágrimas.

Durante o caminho até o quarto, limpei as lágrimas que tinham escorrido por meu rosto. Kyle não podia vê-las; eu não queria que ele me questionasse um motivo que eu não saberia explicar.

— Já tomou banho? — ele perguntou.

— Não.

E então ele me levou para a sala de banhos. Pensei que fosse me convidar para ir junto com ele, no entanto Kyle simplesmente disse para eu ir antes. A maldita distância fria permanecia entre nós. Mergulhei na água quente, tentando esquecer os meus problemas e tentando não pensar muito que era o último banho da minha vida. Cada passo que eu dava me levava para o fim, que se aproximava rapidamente.

Kyle demorou no banho e saiu com o cabelo pingando. Ele estava cheiroso e a pele de sua mão estava enrugada; senti quando ele me segurou. A nossa distância se resumia basicamente à questão espiritual, porque Kyle não se esforçava para me manter longe dele no sentido físico. Pensei que talvez assim ele pudesse ficar próximo de uma Sunny que não estivesse mais aqui.

Quando nos deitamos abraçados um no outro, eu levantei a minha cabeça para olhá-lo. Ele encarava as pequenas fissuras no teto e tinha um ar pensativo. Eu tinha que falar para ele que o amava. Estava tremendo.

Ele jamais diria que me amava também.

— Eu amo você, Kyle — minha voz estava fraca e embargada. Não queria que os meus olhos tivessem se enchido de lágrimas.

Ele simplesmente me olhou, o cenho franzido, o olhar doloroso, a boca crispada. Nunca tinha o visto sofrer tanto como estava vendo naqueles dias.

— Perdão — ele sussurrou.

Aproximei nossos rostos e encostei nossas bocas em um último beijo de despedida. Seus lábios estavam rijos e secos. Suspirei, não achando que ele fosse capaz de corresponder ao meu beijo. Ele não foi. Nossos lábios permaneceram encostados por um bom tempo. Lágrimas escorreram pelo meu rosto e eu senti o seu gosto enquanto nossas bocas estavam encostadas.

Ele tinha pedido perdão. Ele tinha pedido perdão porque não era mais capaz de ser como era e de me amar na mesma intensidade que antes. Ele queria Sunny; ele queria um sol, não as nuvens. Eu o entendia. E, já que estava prestes a ir embora para sempre, o perdoei do fundo do meu coração. Eu fazia aquilo por vontade própria, não é mesmo? Não me faria mal algum perdoá-lo por ele ter entendido que eu nunca mais seria a mesma.

— Está tudo bem — murmurei, deslizando a minha cabeça para o seu peito. — Eu te perdoo.

Ele resistiu a dormir. Mas a minha resistência o manteve no quarto, ainda me abraçando. Alguma hora ele se cansaria. Não me esperaria dormir pelo resto da vida. Quando ouvi o seu ronco e soube que talvez ele não acordasse naquela noite, esgueirei-me para fora do quarto e fui até o consultório de Doc. A débil luz azul me esperava.

Não houve muitas conversas. Ele simplesmente confirmou se eu tinha certeza. Disse que sim.

Deitei-me no catre. Ele pressionou um pano com clorofórmio em minha boca depois de me dar o Corta Dor. Não tive muito mais o que pensar. Não dava mais tempo. A única coisa que eu realmente me permiti pensar foi que estava fazendo aquilo por Kyle e que ele ficaria feliz sem mim. Era um sacrifício. E ele saberia que eu realmente o perdoava e o amava.

A escuridão me envolveu. E então não houve mais nada.

Nunca mais haveria.


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Notas finais do capítulo

JODI FOI EMBORA
JODI DEIXOU O CAMINHO LIVRE
TADINHA DA JODI ;-;
Então, eu quis caprichar bastante no motivo pra ela morrer como uma heroína, mas acho que deixei ela tão detestável que vão acabar comemorando seu trágico fim HDIUSDAHDAS Eu fiquei triste com ele, de verdade. Apesar de tudo eu gostava da Jodi ♥
Mas a opinião que importa realmente é a de vocês. Digam-me o que acharam!
Até sexta que vem ♥