We Both Changed escrita por MsNise


Capítulo 21
Decidindo


Notas iniciais do capítulo

Heeey! Tudo bem com vocês? :3
Eu sei, fiquei uma semana sem postar :( E sinto muito MESMO (até avisei as pessoas que comentaram no capítulo anterior), mas foi porque eu estava com bloqueio criativo pra WBC e o capítulo que eu tinha escrito tinha ficado fraco e ruim. Então me permiti mais uma semana para reescrevê-lo e, felizmente, estou satisfeita com o resultado :3
Espero, do fundo de meu coração, que vocês também gostem ♥



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Os dias passavam arrastados e eram doloridos, porque não conseguia olhar para o rosto de Jodi sem imaginar como seria se Sunny estivesse em seu lugar. Era cruel iludi-la quando, na verdade, estava a dando apenas uma chance. Chance na qual nunca depositei fé alguma. Eu sabia a quem meu coração pertencia. O tempo que passava com Jodi era perdido; porque nele eu somente conseguia desejar Sunny.

Conviver com Jodi diariamente não era uma tarefa especialmente fácil para ninguém. Ela costumava reclamar bastante e não se relacionava bem com os outros humanos. Eu desconfiava que ela só não se desse bem com aqueles que tinham aceitado Sunny, com exceção de Ian e eu, que ela ainda considerava como parte da família.

— Quando formos embora daqui… — ela disse um dia enquanto caminhávamos para a cozinha — poderemos viajar muito! Conhecer todos os lugares!

Ela adorava dizer que iríamos embora. Não suportava o ambiente fechado e escuro das cavernas, muito menos a ajuda mútua nos trabalhos da comunidade. Segundo ela, os humanos das cavernas tinham imitado o sistema dos alienígenas, o que tirava toda a singularidade da resistência. Não éramos resistentes; tínhamos cedido aos alienígenas que tinham roubado nosso mundo.

— Você quer dizer: se formos embora daqui, poderemos nos arriscar muito — comentei acidamente.

Não gostava de conversar com Jodi. Não era a mesma coisa de anos antes e nem se comparava a Sunny. Era forçado e irritante. Acompanhava-a o tempo todo somente por consideração e esforço e, quando ela resolvia conversar sobre algo, tentava finalizar o assunto o quanto antes. Nem mesmo o seu tom de voz me agradava mais.

Ela revirou seus olhos de forma irritada.

— Não seja pessimista — resmungou. — Os Buscadores já não são mais tão nocivos quanto em nossa época. Eles não acreditam que ainda há seres humanos.

— Bem… mas há. E eu não estou a fim de ser descoberto — porque assim perderei a Sunny de vez. Porque assim não terei nem sua lembrança.

Ela balançou a cabeça negativamente em movimentos bruscos e apertou nossas mãos.

— Algum dia ainda te convencerei — disse com os dentes cerrados. — E você vai perceber o quão horrível esse lugar é.

Algum dia ela me convenceria de que a caverna não era um bom lugar? Era a minha casa. Talvez a única verdadeira que tinha encontrado na vida. Eu sabia que aquele era o meu lar que me acolheria sempre; o único lugar capaz de acolher os perdidos e os desesperançados. O único lugar que trazia alegria e luz, mesmo que no escuro. Era o meu lugar.

E ninguém me convenceria do contrário.

E somente quem não tivesse encontrado seu lugar no mundo que seria capaz de dizer coisas como as que Jodi dizia.

Ela ainda estava perdida; na adolescência, no mundo humano, na ideia de ter seus pais a esperando em casa. Jodi nunca tinha percebido o quanto tínhamos perdido e o quanto tínhamos que aceitar qualquer lugar que nos acolhesse. Nunca aceitou a morte de seus pais. Nunca aceitou que o mundo foi invadido e que ser livre era ficar escondido. Ser livre era se prender em um lugar com todas as pessoas que eram capazes de amar.

Era por tal motivo que não conseguia entender o amor entre Sunny e eu. Ela ainda vivia no passado, no momento em que odiávamos toda e qualquer alma, sem exceção. Idealizava que voltássemos para o instante em que nos conhecemos e tomássemos as precauções devidas, assim poderíamos ficar juntos para sempre em sua casa.

Mas não podíamos.

O mundo não permitia que os sentimentos retornassem iguais depois de toda uma vida de intervalo.

Foi Ian quem me convenceu a dar uma chance a Jodi. Eu não queria nem olhá-la, muito menos tentar manter algum contato. Mas, segundo Ian, ela merecia pelo menos uma chance. Talvez eu conseguisse resgatar algo do passado ou simplesmente conseguisse fazê-la entender o que era o real amor — o amor que atravessava as fronteiras de tempo, espaço e espécies. Por consideração a tudo o que tínhamos vivido, acatei a ideia de meu irmão. O que não queria dizer que eu concordava com ela.

Jodi dividia o colchão comigo na sala de jogos e se enroscava ao meu corpo exatamente como Sunny. Mas não era igual e eu sentia em meu íntimo. Ela simplesmente se prendia a mim de forma desesperada, como se quisesse me impedir de escapar. O que, na verdade, ela não conseguia fazer.

Todas as noites eu me esgueirava até o consultório de Doc e segurava o criotanque de Sunny em minhas mãos. Algumas vezes eu simplesmente ficava em silêncio, absorvendo sua presença silenciosa, mas em outras eu conversava com ela. Contava-a sobre o meu dia, sobre as minhas angústias e sobre a falta que ela fazia. Sobre a tremenda falta que ela fazia.

Depois de um bom tempo suportado entre trancos e barrancos, confessei a Ian que não sabia até onde poderia aguentar toda aquela situação. Eu sentia que Jodi jamais seria capaz de entender a verdade sobre o amor; assim como também não conseguiria conquistar seu lugar nas cavernas.

— Tínhamos que fazê-la virar amiga de alguma alma para que ela conseguisse entender que esse relacionamento é possível — Ian sugeriu, sem poupar esforços para encontrar novas opções.

Eu sabia que o seu coração gigante e bondoso não suportava a ideia de deixar Jodi ir embora sem gastar todas as fibras de seu corpo para fazê-la ao menos compreender um pouquinho da verdade. Contudo, mesmo com seus esforços, eu sabia que no fim ela não conquistaria seu lugar dentro de mim, ainda que eu mantivesse um carinho enorme por tudo o que ela tinha representado para mim no passado. Era impossível.

— Peg? — bufei.

— Não — Ian descartou a possibilidade. — Jodi não gostaria de Peg mesmo que ela fosse humana — ele soltou um riso fraco, balançando a cabeça. — Mas… Nate e Cal estão vindo fazer uma visita. Quem sabe Cal possa se tornar seu amigo.

Eu não acreditava na possibilidade. Mas também estava disposto a tentar todas as alternativas.

Na noite em que Cal chegou acompanhado de Nate, o puxei para uma conversa. Expliquei toda a situação e ele pareceu disposto a me ajudar — o esperado, considerando que ele era uma alma. Nate, no entanto, se opôs.

— Isso não é muito justo — disse. — Se a Jodi não é exatamente gentil e compreensiva, o esforço pode ser inútil.

— É a única opção. Ela precisa entender que… que… — fechei meus olhos.

— O que quer que ela entenda, Kyle? — Cal perguntou gentilmente.

— Quero que ela entenda que eu amo Sunny — suspirei ruidosamente. — Mesmo ela sendo uma alma. Ela não entende que eu amo a alienígena, não o corpo.

Cal balançou a cabeça de forma compreensiva.

— Eu entendo, Kyle. Mas tem um jeito mais fácil de fazer isso do que me usando como “isca” — ele respirou fundo. — Eu vou te ajudar, é claro, mas não posso ficar aqui por tanto tempo e Jodi é inflexível, até onde entendi. Então você pode tentar simplesmente explicar para ela.

— Mas eu já tentei!

— Explique para ela que não tinha como ser somente o corpo. Que as atitudes eram tomadas por quem controlava o corpo. E você se apaixonou pelas atitudes.

— Ela não vai entender…

— Você já tentou? — ele me interrompeu.

Não, eu não tinha tentado. Porque eu tinha medo de magoá-la ainda mais e do dano ser irreparável. Gostaria de consertar as coisas sem precisar magoar a Jodi ou a Sunny ou… ou a mim. Não precisávamos de mais dor; já estávamos machucados o suficiente. E se Jodi não tinha entendido com as minhas atitudes óbvias… como seria a dor se eu precisasse explicar para ela?

Senti uma mão pesada em meu ombro.

— Lembre-se do que Susi disse — murmurou Ian, entrando na conversa. Ele interrompeu o raciocínio para cumprimentar os convidados e só então me olhou firmemente. — Não tente poupar a dor a todos, só aos que mais importam para você.

Sunny. Ela, sem dúvida alguma, era a que mais importava para mim. Mas como poderia excluir os sentimentos de Jodi? Realmente, o egoísmo costumava ser mais prático.

Respirei fundo e encarei Cal.

— Tente. Se não funcionar… — mas não pude concluir a frase, porque nem mesmo sabia o que poderia acontecer.

.

Uma semana não foi o suficiente. Quando Cal foi embora, Jodi ainda estava cética de que as almas poderiam ser boas. Ela nunca perdia seus argumentos. Passei a me afastar e a desacreditar que pudéssemos conviver em paz. Ia todas as noites no consultório de Doc e murmurava como tinha sido meu dia para Sunny. Sempre prometia que a faria voltar, no entanto, a cada dia que passava se tornava mais difícil encontrar uma solução.

Jodi se dava bem com Lacey e Sharon, enquanto todas as outras pessoas da caverna se voltaram contra elas. Até os partidários à ida de Sunny estavam sentindo sua falta. Seu criotanque era visitado com mais frequência, não somente por mim. Todos a queriam novamente.

— Foi assim que me senti quando Wes partiu — Lily murmurou, sentando-se no chão ao meu lado na sala de jogos.

Naquele dia tinham resolvido fazer uma partida, contudo me recusei a jogar. Estava sem disposição. Praticamente não tinha dormido na noite anterior; nem mesmo a presença do criotanque de Sunny me deixava mais tranquilo para dormir.

— É horrível, não é? — resmunguei. Nunca tinha sido amigo íntimo de Lily, mas ela era uma boa pessoa e conhecia o meu sofrimento. E eu já não estava mais em condições de manter a pose do homenzarrão sem sentimentos; todos já tinham visto a dor clara em meus olhos azuis. — Não é a primeira vez que passo por isso. Só que… é a pior.

Ela sorriu gentilmente.

— Eu sei. Quando Jodi partiu pela primeira vez, você sabia que era definitivo. Então só restou a você superar. Aos poucos, com a dor eternamente machucando seu coração, mas uma hora… passou. Foi assim comigo e com Wes. Eu sabia que não tinha retorno e só conseguia ficar aliviada por ele ter morrido humano. Só me restou superar. Já com Sunny… você tem a opção. Mas não sabe o que fazer.

Estreitei meus olhos e observei Jodi correndo atrás da bola. Imaginei Sunny em seu lugar, usando seu corpo mais timidamente, mas com a mesma habilidade. Apertei minhas mãos em punhos por não conseguir controlar meus pensamentos.

— Como você enxergou isso tão claramente, Lily, se nem mesmo conversamos?

Ela deu de ombros.

— Quem um dia passa pela dor é capaz de reconhecer a dor do outro — ela desviou o olhar. — E é óbvio o que você está sentindo, até mesmo para os que nunca precisaram passar por isso — ela me lançou um sorriso fraco e deu duas batidinhas em minhas costas antes de se levantar. Brandt a chamava para o jogo. Estava quase se afastando quando se virou para mim. — Espero que você consiga passar por isso, Kyle. Sinceramente. E não será julgado por nenhuma decisão que tomar, pelo menos de minha parte.

E não será julgado por nenhuma decisão que tomar.

— Obrigado, Lily — e aquela frase, pela primeira vez desde que Sunny tinha partido, foi dita sinceramente. E com o coração.

.

— Ian, a Jodi tem que ir embora — murmurei, tendo tomado a minha decisão. — Eu vou pedir para ela.

Ele interrompeu a leitura e me encarou firmemente, tentando descobrir se eu falava sério ou simplesmente blefava. Ian sempre me criticava por eu tomar decisões repentinas sem pensar sobre elas. Mas naquela eu havia pensado muito, até mais do que minha cabeça era capaz de suportar.

Você não pode poupar a dor de todos”, Susi tinha dito. Realmente, não o tempo todo. Mas dar uma dose pequena de dor para alguém a fim de privá-la da próxima não era uma forma válida de poupá-la de um sofrimento maior? Era aquilo que eu pretendia fazer com Jodi. Machucá-la falando que ela jamais conquistaria seu lugar dentro de mim, mas a libertando para conquistar seu lugar no mundo.

— E se ela recusar? — Ian falou devagar, ainda absorvendo a informação.

Balancei a cabeça.

— Não vou mandá-la se suprimir. Vou pedir apenas que ela deixe as cavernas — suspirei. — Vou pedir para ela realizar seu sonho e ser livre. Para procurar seus pais. Para encontrar a vida que ela perdeu por tanto tempo. Para se permitir uma nova chance, em um novo lugar, com novas pessoas, com novos ares… Jodi precisa sair para entender tudo o que ela perdeu. Não posso permitir que ela fique presa a uma vida de infelicidade do lado de um homem que já não é mais capaz de… — fechei meus olhos, derrotado.

Ian ficou algum tempo em silêncio.

— Kyle… — ele murmurou. — Isso é mesmo altruísta? Ou você está pensando somente no seu bem-estar?

Abri meus olhos e sustentei seu olhar. Eu sabia que não precisava falar nada. Sabia que Ian compreenderia.

Ele sorriu de forma cansada.

— É mais uma forma de poupar a dor de todos, não é?

Assenti.

— Não toda a dor… apenas aquela que consigo evitar.

Ele desviou o olhar e deixou seu livro no colchão, levantando-se e parando em minha frente. Senti sua mão pesada caindo em meu ombro. Ele achava uma maneira boa de consolar.

— Kyle, você mudou tanto — ele sorriu. — Tanto que nem consigo acreditar. De um rapaz amargurado e egoísta — e, por favor, não me corrija porque somente estou falando a verdade —, você se transformou em um homem admirável, que aprendeu a amar com tudo o que tem. Sem medo do que pode acontecer — ele fez uma pequena pausa. — Eu tenho orgulho de você, Kyle. E espero, de verdade, que algum dia eu possa me tornar pelo menos um pouco da pessoa que você é.

— Mas eu não sou ninguém…

— Você venceu o mundo — ele suspirou e me deu um abraço forte. — E, acredite, isso faz de você alguém. Alguém muito bom.

Senti todo o gelo que tinha se formado ao redor do meu coração novamente se derreter. No lugar dele havia somente luz e batimentos quentes. Ian me admirava. Depois de trinta anos de fracasso, tinha finalmente conseguido ser o irmão mais velho que Ian merecia.

Alguém me admirava.

E aquilo me deixava forte. Forte o suficiente para vencer ao mundo mais uma vez.

Só que, daquela vez, realmente desejando fazê-lo.

E eu o faria.


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Notas finais do capítulo

E entãããão?
Eu achei bem fofinho, particularmente, a parte dos irmãos ♥ E vocês?
Digam-me suas opiniões! Espero que a espera (hahaha) tenha valido a pena :3
Até sexta que vem :3 (e, dessa vez, provavelmente eu não vou furar não :3)