We Both Changed escrita por MsNise


Capítulo 18
Juntos


Notas iniciais do capítulo

Heeey!
Mais um capítulo de WBC! Esse dedicado à Filha de Poseidon, que recomendou Almost Human, Another Life e We Both Changed. Você não imagina a surpresa extremamente feliz que eu tive quando abri as minhas atualizações e tinha três recomendações de presente no mesmo dia! Muito obrigada, mesmo ♥
Espero que gostem do que esse capítulo reserva para vocês :3



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KYLE

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Eu a via todos os dias. Na sala de jogos, nos corredores, na cozinha, na plantação, nos espelhos. Eu costumava espiá-la discretamente. Quando chegava a noite, não conseguia dormir por conta de nossa distância; apenas me virava em sua direção e, mesmo no escuro, a imaginava linda, sorrindo para mim. Não conseguia suportar vê-la tão encolhida sozinha, sem meu suporte. Quando as luzes se apagavam, o alívio me invadia. E a dor da ausência também.

Eu amava Sunny. E aquilo nunca tinha estado tão claro para mim.

Quando esbarrei com ela no corredor sem ninguém por perto, não pude me segurar. Não havia aquela opção. Eu tinha que sentir seus lábios, sua pele, sua presença. Eu precisava senti-la, eu precisava tê-la.

Nossos corpos se encontraram; e eu soube imediatamente que era uma oportunidade única que saciaria todo o meu desejo contido.

— Sunny? — minha voz estava esperançosa. Coloquei minhas mãos em seu rosto e senti o encaixe perfeito. Senti o reconhecimento me inundar em uma dose maior. — Sunny?

Sem esperar que ela respondesse — e sem saber se responderia —, encaixei meus lábios nos seus. Seus lábios gentis e úmidos, prontos para me receber. Foi como se nenhum tempo houvesse se passado; foi como se todos aqueles dias distantes não tivessem existido. Eu sentia Sunny. Somente Sunny. Naquele momento, não havia Jodi, dúvidas ou receios.

Havia somente nós dois.

E então acabou. De algum modo, Jared me encontrou. De algum modo, eu não tive forças para lutar. Estava fraco e desamparado. Pela primeira vez desde que tinha chegado nas cavernas, não me senti Kyle O'Shea. Não me senti um humano sobrevivente e forte.

Senti-me fraco e errado. Eu tinha falhado com Sunny. Tinha falhado com Jodi.

Eu não tinha mais poder ou força para lutar por aquilo que eu acreditava. Portanto, quando estávamos a uma distância segura do lugar onde Sunny tinha ficado e Jared acreditava que eu não tentaria mais voltar, desvencilhei-me de seus braços e corri na direção oposta. Corri novamente para fora das cavernas. Porque eu não merecia a chance que eu tinha ganhado, nenhuma das chances. Porque eu era egoísta e estava incapacitado.

Era uma nova dor. Não a mesma que havia sentido no dia que Jodi tinha retornado; foi, de alguma forma, pior. E nem o ar frio do deserto e a chuva foram capazes de amenizar aquilo que queimava em meu peito. Eu sentia que a falha era minha; ou eu deveria ter deixado o corpo de Jodi em paz ou não deveria ter permitido que Sunny retornasse quando Jodi permaneceu desacordada.

Eu permiti que aquela história fosse tão longe e mal considerei as hipóteses. Porque, em minha mente, elas não existiam. Jodi tinha morrido, Sunny estava viva. Eu não podia ficar de luto o resto da vida, portanto me permiti amar novamente. Aquilo era tão errado assim?

Seria injusto se a Jodi voltasse e nos cantos mais recônditos de minha mente eu sempre tinha sabido disso, assim como sempre tinha tido certeza que ela nunca mais retornaria.

Mas ela retornou.

E eu, em contrapartida, queria desaparecer.

.

— Doc, eu quero trocar de corpo — ouvi o sussurro de Sunny quando estava quase entrando no consultório de Doc.

— Por quê?

— Porque Kyle merece ser feliz com Jodi — sua voz estava embargada. — E eu dividindo o corpo com Jodi só piora as coisas.

— Mas você vai sofrer — replicou Doc, cheio de piedade.

— Eu não me importo, Doc — ela soluçou. — Se Kyle estiver feliz, nada mais me importa.

Meu peito se contraiu de forma dolorida e meu sangue ferveu. O que ela pensava que estava fazendo?

— Isso me parece um pouco masoquista, Sunny.

— Isso me parece muito idiota, Sunny — retruquei, finalmente saindo da fissura no chão.

Estava voltando às cavernas quando ouvi a conversa particular entre Sunny e Doc e esperei um pouco até me revelar. Antes eu queria entender o que acontecia.

Odiei entender o que acontecia.

Sunny recuou assim que me viu; e ver lágrimas descendo por seu rosto me fez cambalear um passo também. Estávamos no mesmo lugar. E conversaríamos pela primeira vez em um longo tempo. Meu coração batia aceleradamente, fazendo minha cabeça latejar.

Sunny. Minha Sunny.

Quis cruzar o espaço que nos separava e beijá-la novamente.

Em vez disso, cruzei meus braços e me contive com uma força que não sabia que existia dentro de mim.

— É a minha decisão, Kyle — ela contestou assim que o choque passou. Sua voz ainda estava fraca. — Você não tem o direito de intervir.

— Não?! — bufei, sentindo minha expressão se crispar em indignação. — Você está decidindo sobre o meu futuro.

— Eu estou decidindo sobre a minha vida, Kyle. Sobre o meu corpo. Sobre quem eu sou. Sobre o que eu vou fazer a partir de agora — seu tom de voz estava mais alto e ela me encarava. Desconfiei que estivesse com os nervos em frangalhos tanto quanto eu e que não conseguisse controlar suas emoções. Seus olhos brilhavam cheios de lágrimas. — E não, você não tem o direito de intervir.

Cansado de guardar tudo dentro de mim, também me permiti explodir. Também me permiti dizer aquilo que queria, aquilo que pensava. Não havia mais sentido em guardar os sentimentos em caixas, em enclausurá-los. Não tínhamos mais o que perder.

— Pelo que eu entendi dessa conversa, você queria trocar de corpo porque estava resignada a decidir com quem eu ficaria — rosnei. — E isso, Sunny, isso não tem a ver comigo?

Ela fechou os olhos e tentou controlar sua respiração. Percebi que suas pequenas mãos tremiam ao lado de seu corpo.

— Sim, Kyle. Isso tem tudo a ver com você — sua voz estava branda e derrotada. — Mas quem está dividindo a cabeça com Jodi sou eu. Então acho que tenho o direito de tomar essa decisão, certo?

Ela tinha. Eu sabia que ela tinha o direito de tomar aquela decisão. Mas eu não queria. Deus, eu precisava impedi-la. Aquilo não estava certo e não era saudável. Aquilo era demasiadamente cruel; tanto com Sunny quanto com Jodi.

— Você tem o direito de tomar essa decisão — sussurrei. Lágrimas inundaram meus olhos; ela abriu os seus e me olhou atentamente. — É óbvio que sim. Mas eu não… quero que você tome essa decisão. Eu não posso deixar, Sunny.

Ela cortou a pequena distância que nos separava. Doc tinha deixado a sala; não soube se era por mera educação ou para avisar aos outros que eu estava com Sunny. Não fazia diferença. Naquele momento, éramos Sunny e eu, magoados, machucados, sozinhos.

Quis estender meu braço e puxá-la para mim.

Em vez disso, fiquei parado.

— Por quê? — ela sussurrou cheia de dor.

Sem conseguir me conter, segurei seu rosto entre minhas mãos e limpei suas lágrimas.

— Não é justo você querer ir embora de um lugar que conquistou — retruquei sussurrando também. — Você merece ficar, Sunny.

Ela ofegou e fechou seus olhos, franzindo seu cenho. Eu sabia que era mais uma das investidas de Jodi; Sunny parecia acostumada a elas. Da primeira vez que aquilo tinha acontecido, ela tinha praticamente definhado. Daquela vez, no entanto, permaneceu no lugar e precisou de pouco tempo para se acalmar.

Ela estava se acostumando a sofrer. E aquilo era cruel demais.

Como eu tinha permitido chegar àquele ponto?

— Não, Kyle — ela negou. — Eu não mereço ficar. Jodi sim; você procurou tanto por Jodi…

— Sim, eu procurei muito por Jodi, mas agora que a encontrei…

Agora que a encontrei percebi que não a quero mais.

Não pude falar a última parte, porém, porque uma multidão invadiu o consultório. Esperava por aquilo, somente não contava que eles fossem tão rápidos. No entanto, daquela vez não podia me permitir ceder. Kyle O'Shea estava forte novamente. Forte para proteger Sunny e impedir seu sofrimento maior.

Jared entrou primeiro, dando-me uma chave de braço e me afastando de Sunny. Debati-me violentamente para me soltar, mas logo Brandt e Aaron chegaram para reforços. Os três me contiveram enquanto Peg e Mel afastavam Sunny para um canto, bombardeando-a de perguntas.

— Me… soltem — urrei, tentando deferir um chute em qualquer um que estivesse me segurando. Meu pedido foi ignorado. Foi quando percebi Ian na porta do consultório, encarando-me com olhos insondáveis. — Ian, me ajude! Você sabe que eu não faria mal a Sunny!

— Nós só estamos tentando evitar um estrago ainda maior — retrucou Mel, virando-se em minha direção.

— Sério isso? — disse a voz de Sunny. Ela estava resignada naquele dia. Humana. Incrível. — Não tem mais estragos pra evitar; todos já foram feitos.

— O quê?! — Jared ofegou. — Nós estamos trabalhando arduamente…

— Para nos fazer sofrer ainda mais — concluí por ele, ainda me debatendo em seu aperto firme. — Acha que nos manter afastados adianta de alguma coisa?

— É claro que adianta! — Mel brandiu. — Assim Jodi está controlada!

— Jodi não está controlada — Sunny protestou. — De jeito nenhum!

Ela então apertou suas pequenas mãos em punho e fechou os olhos bem forte, recuando alguns passos.

— É isso que estamos tentando evitar, Sunny — disse Peg de forma angustiada.

Eu estava agoniado. Urrei e tentei me desvencilhar novamente, não obtendo êxito. Estava desesperado. Sentia meu sangue subindo e minha mente se descontrolando. Quem eles achavam que eram para mandar em nossas vidas?!

— Soltem-no — Ian ordenou, sua voz surpreendentemente calma em meio a toda confusão. — Agora.

— Mas Ian… — Jared tentou protestar.

— Agora — sua voz foi tão gélida que meus interceptores me soltaram sem questionar mais uma vez.

Lancei-lhe um olhar agradecido antes de me aproximar de Sunny e envolvê-la em meus braços. Ouvi protestos mudos, mas eles não importavam mais naquele instante. Sunny suspirou e se aninhou em meus braços, encontrando sua antiga posição. Acariciei seus cabelos e beijei o topo de sua cabeça.

— Vamos consertar isso, tudo bem? — sussurrei, apertando-a mais firme contra mim quando a senti estremecer. — Nós daremos um jeito.

— Estamos arruinados, Kyle — ela murmurou.

Engoli em seco e peguei seu rosto entre minhas mãos, enxugando lágrimas que escorriam pela sua delicada face. Sua aparência já não era mais a mesma; e a percepção daquilo me assustou. Ela parecia cansada e estava com rugas marcadas em sua testa e ao redor de seus olhos. Ela sofria.

— Não, Sunny, nós ainda temos chance — rosnei. — Não desista, por favor. Vamos conseguir.

Ela fechou seus olhos.

— Estou com tanto medo — sua voz falhou.

Puxei-a novamente para mim, abraçando seus ombros como um vício.

— Eu também, Sunny — e em minha voz percebi o quanto estava derrotado. Enterrei meu rosto em seus cabelos e firmei minha mão em sua nuca. — Eu também. Mas, dessa vez, conseguiremos juntos. Juntos. Ouviu bem?

Ela estremeceu novamente, provavelmente por causa de alguma investida de Jodi, mas resistiu firmemente. Suas mãos agarraram o tecido de minha camiseta e senti-a umedecer com suas lágrimas.

— Sim, Kyle, dessa vez juntos — sua voz estava abafada e ela não olhava em meus olhos, o que me levou a considerar que talvez ela estivesse mentindo.

Além disso, não pude deixar de perceber a falta de convicção em suas palavras.

Estremeci com a ideia que passou por minha mente, mas continuei segurando-a firmemente contra mim. Não a deixaria sair de perto. O que quer que ela estivesse planejando, não se concluiria.

Eu não permitiria.


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Notas finais do capítulo

E entãããão? O que acharam? Digam-me suas opiniões!
Eu, particularmente, tô com muito dó do Kyle e da Sunny. E vocês?
Até o próximo capítulo ♥