We Both Changed escrita por MsNise


Capítulo 12
Descobrindo


Notas iniciais do capítulo

Sexta-feira (ou quinta) significa mais um capítulo de WBC, que eu dedico à Ys que recomendou a minha história. Além de ter recomendado, sempre me ajuda opinando e conversando horas comigo sobre esses personagens lindos. Obrigada mesmo, Ys s2
Esse capítulo contém bastante spoiler de Almost Human e Another Life. Quem quiser ler fique à vontade, somente achei justo avisar para quem tiver a intenção de ler Almost Human e Another Life sem saber das surpresas que ambas as histórias aguardam :3
Espero que gostem :3



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Meu relacionamento com Sunny somente evoluía à medida que o tempo passava e, mesmo assim, admiti-lo para Ian era extremamente complicado. Eu simplesmente não podia assumir, o que era bem cruel com Sunny. Ela era a melhor mulher que eu poderia ter encontrado.

Ele sempre me perguntava se eu ainda queria Jodi. Não, eu não a queria. E, somente para não admitir que amava uma alma, dizia que sim. Uma mentira. Uma mentira deslavada. E ele não acreditava; eu sabia que não. Mesmo assim, eu insistia nessa ideia de manter tudo em segredo. Um tremendo covarde.

Por um tempo pensei que meu único problema fosse esse, mas eu estava terrivelmente errado.

Houve um dia — um único dia — que virou minha vida no avesso.

Estava conversando com Aaron e Brandt na grande praça quando Ian me puxou bruscamente pelo braço. Estava furioso e não parecia o Ian, o meu irmão. Era uma criatura diferente e movida pelo ódio. Ele me arrastou através dos corredores até o quarto de Susan, a garota humana que ele tinha resgatado quase três anos antes. Perguntei-lhe o que fazíamos ali e ele somente me mandou fechar a porta. Sua ira já estava me assustando; ele não deveria ser o calmo? E foi então que eu descobri tudo.

Susan era nossa irmã.

Houve uma série de gritos descontrolados e lágrimas; nada que fizesse sentido para mim, nada que eu conseguisse escutar. Era impossível entender tudo aquilo. Simplesmente não fazia sentido…

— Vocês sabem como era o pai de vocês — Susan explicou. — Minha mãe, ou melhor, nossa mãe, não gostava dele. Abominava suas atitudes e sua vida. Não se importava com seus sentimentos. Pensava somente em vocês dois. Mas um dia ela cedeu. Rendeu-se aos encantamentos de outro homem. Não considerava traição, mas engravidou tempos depois. Esse homem era casado e já tinha filhos, portanto não a aceitou. Ela teve que aguentar, e de fato aguentou, por meses, sabendo que carregava uma vida consigo… Começou a usar roupas diferentes, mais largas, para esconder a barriga. E conseguiu, por um bom tempo. Mas ela se viu encurralada. Estava quase aparecendo. Faltava pouquíssimo, muito pouco, então ela se preparou. Arrumou suas malas e, quando estava prestes a arrumar a de vocês, se tocou que vocês não teriam uma vida. Viveriam mendigando com ela. Ela os amava demais para ser capaz de deixá-los nessas condições. Portanto, em uma noite, partiu sozinha. Bom, comigo também, mas eu ainda estava dentro dela. Tinha em sua mente o plano de voltar para resgatá-los, quando achasse condições melhores. Mas, não muito tempo depois, apareceram os alienígenas. E ela ficou com medo de que vocês tivessem sido dominados, por isso não voltou para buscá-los. Vivemos perigosamente por anos, pulando de esconderijo em esconderijo — respirou fundo e então dirigiu-se ao meu irmão. — Quando você me resgatou, Ian, fazia apenas um mês que ela havia desaparecido. Ela gritava para eu partir. Não sabia o que fazer. Então, eu simplesmente fui… Sem saber que na verdade eu não queria aquilo.

Era um relato estranho e decisivo. A dúvida que me corroera por tantos anos havia sido respondida. Por que nossa mãe nos abandonara? Porque estava grávida e queria nos proteger. Somente isso. E, em minha frente, com semelhanças gritantes, estava minha irmã mais nova confirmando toda a história. Eu não conseguia suportar.

Saí cambaleante daquele quarto.

Sunny me consolou a noite toda e disse que tudo melhoraria, mas eu sabia que era mais complicado do que isso. Eu tinha uma irmã nas cavernas e não conseguia suportar sua presença. Ela era apenas uma adolescente apaixonada por Jamie, irmão de Melanie, e eu não tinha nenhum vínculo afetivo com aquela garota. Não como Ian, que se afeiçoou e até virou “amigo” dela. Comigo não havia tido nada daquilo. Ela não significava nada para mim.

Até aquele dia.

Pouco tempo depois, Ian e ela saíram fazer uma incursão juntos. Ele estava se sentindo traído pela mentira e não queria ir naquela incursão, apesar de Peg ser necessária. Tentou tirar a Susan daquela viagem, no entanto seus esforços não resultaram em nada; tiveram de ir juntos.

Em uma confusão com Buscadores, Ian levou um tiro. Deram-se ao trabalho de voltar às cavernas somente para me informar do ocorrido; a princípio, estranhei, afinal eles deveriam trazer a notícia somente na volta da incursão. Contudo, havia um motivo bem específico: as almas que hospedavam os corpos de meus antigos pais que conseguiram resgatar Ian.

Quando cheguei àquela casa onde tinha vivido quatorze anos de minha vida, fui invadido por uma enxurrada de sentimentos e de lembranças. Lembranças do último dia em que estivera nela e de dias anteriores, dias melhores. Tinha vivido tantas coisas naquele lugar… Felicidade, ódio, culpa, raiva. Por lá tinha passado várias versões minhas. E a última que eu tinha deixado para trás era um Kyle covarde que precisou de frases sábias do irmão para pular uma janela.

E ver meus pais novamente — ou, pelo menos, seus corpos — me fez quase desabar. Com sorte, Sunny estava segurando em minha mão. Eu queria gritar e exigir explicações; e não podia, porque não eram meus pais. Foi pior do que encontrar a Sunny em Jodi. Foi insuportável.

Ian estava desacordado, portanto pude sair para espairecer sem culpa. Fui sozinho durante uma manhã. Caminhei pelo bairro e por vários pontos da cidade que gostava de visitar e, por fim, parei em uma praça que costumava brincar quando era criança.

Encostei-me a uma árvore e fechei meus olhos. Deixei que algumas lágrimas escapassem de meus olhos; que mal elas fariam? O lugar estava deserto, portanto resolvi viver as minhas dores lá. Revivi o meu passado. Lembrei-me de minha mãe, que tinha fugido, que tinha me abandonado. Antes disso, porém, ela era dedicada e incrível. Uma heroína. Lembrei-me também de meu pai cruel e que tinha me salvado segundos antes de perder a própria vida. De alguma forma, ele se assemelhava a Jodi: ela não havia me salvado da mesma maneira? E eu não sentia nenhuma simpatia por ele, mesmo assim.

Será que, se eu tivesse a opção, os quereria na minha vida novamente?

Tendo contato com o meu passado, lembrei-me claramente de quando encontrei Jodi. Eu tinha fugido daquela casa, daquele lugar, e encontrado o amor de minha vida. Um amor temporário e talvez não tão verdadeiro, mas que tinha sido real por um tempo. Real até que eu entendesse que Sunny preenchia meu coração de forma que Jodi nunca fora capaz de fazer.

O passado. Tantos acontecimentos que determinaram quem eu me tornara. E se tudo tivesse sido diferente? E se não tivesse acontecido nenhuma invasão? Talvez tivesse fugido de casa, encontrado uma mulher e me casado com ela. Teria filhos, um emprego normal e manteria contato com Ian. Perderia completamente o contato com meu pai. E a vida seguiria.

Seria uma vida segura e feliz. Então porque eu preferia a vida depois da invasão?

Naquela vida tinha conhecido a pior forma de sofrimento; assim como a maior forma de amor. Em outra vida não haveria nenhuma Jodi, nenhuma Sunny, nenhuma caverna, nenhuma irmã — ou talvez haveria sem que eu a conhecesse. Eu gostava daquela vida, de viver perigosamente, de ter a consciência da morte, de ser corajoso, de amar com tudo o que me restava e com aquilo que eu nem tinha.

A verdade era que eu simplesmente não conseguia imaginar uma vida sem Sunny, Ian e as cavernas. Era uma realidade demasiadamente distante para mim. Talvez eu tenha simplesmente aprendido que era aquilo que eu tinha e então começado a gostar. Porque eu gostava. Não era conformismo. Não era falta de opção. Era, de alguma forma, tudo questão de escolha. Eu tinha escolhido aquela vida, aquele amor, aqueles sorrisos.

E não queria aquela praça e aquela casa. Não mais. Mas talvez eu quisesse meus pais.

Quando voltei para casa pouco depois, a enxurrada de lembranças não me trouxe saudade. Trouxe-me apenas a consciência de minha realidade; e eu gostava dela.

Quando Ian finalmente acordou — depois de ter quase me matado de angústia —, as almas que hospedavam os corpos de nossos pais ofereceram os corpos novamente. Eu os queria; poderíamos começar a vida novamente nas cavernas e nossos pais se adaptariam também. E seríamos sobreviventes. Então tudo seria perfeito…

Ian e Susan não os quiseram, no entanto. Segundo Ian, era “injusto” com as almas que já tinham construído uma vida. E, obviamente, ele tinha razão. Seus argumentos tinham fundamento e suas armas, de alguma forma, também. Seu “exemplo” foi Sunny; ele me disse que Sunny tinha conquistado sua vida assim como aquelas almas que hospedavam os corpos de nossos pais. Sim, eu concordava. Sim, eles conquistaram suas vidas. Mas o orgulho e a teimosia não me deixaram concordar. Explodi e falei que ainda queria nossos pais e que seus argumentos não tinham fundamentos. Falei que teríamos a nossa vida completa novamente — o que eu não queria de verdade — e que eles eram idiotas por não conseguirem aceitar.

Com sorte, eles permaneceram em sua decisão. Então entendi que não seria nada perfeito se nossos pais voltassem. Provavelmente seria um inferno com Luís ainda sendo cruel e com nossa mãe cicatrizada pelo tempo. Certamente eles não poderiam mais nos controlar, no entanto nos culpariam se não quisessem aquela vida. Ao final, Susan e Ian estavam terrivelmente certos e eu tive que aceitar aquilo — secretamente, aceitei de bom grado.

Depois disso, a vida seguiu normalmente. Eu estava conseguindo assumir para Ian o quanto Sunny importava para mim e também estava aceitando melhor a presença de Susi. Queria conhecê-la melhor. Propus que fizéssemos uma “terapia familiar” — uma pequena reunião que Ian e eu costumávamos fazer — e até mesmo incluí Susi no pacote. Eu estava disposto a tomá-la como a irmã que ela era, assim como Ian havia feito.

E então houve um dia que Susan caiu enquanto limpava os espelhos e quebrou sua perna. Não havia remédios e Jamie, Ian e Peg saíram rapidamente para tentar consegui-los em uma incursão. E demoraram mais que o necessário para voltar. Sunny e eu fomos atrás de notícias e descobrimos que Ian e Peg haviam sido capturados e que Jamie tinha morrido em um acidente durante uma perseguição. Susan desabou assim que recebeu a notícia; e me usou como seu pilar.

Conseguimos descobrir então que Jamie havia fugido para a floresta depois do acidente e que, na verdade, não tinha morrido. Susan estava prestes a partir sozinha quando a interceptei; eu iria junto. Afinal, eu era seu irmão. E enfrentaria aquela provação com ela — já tinha suportado dores o suficiente para querer que minha irmã mais nova sofresse tanto quanto eu. Eu a ajudaria. Ela não perderia Jamie sem lutar.

Fomos para a floresta. Lá houve momentos de verdadeiro estresse e tortura e momentos que eu somente pensava em ir embora. Sunny invadia meus pensamentos constantemente e o meu peito ardia de saudade. Mas, apesar de tudo, descobri coisas sobre Susan que jamais saberia. Ela era forte; mais forte do que eu havia sido aos dezesseis anos. Ela sucumbiu, mas se levantou com força suficiente. Era corajosa e brilhante. E, em vez de desanimar quando falei que nossos dias na floresta eram contados — depois de dois meses, viriam nos procurar e então correria o risco de nos perdermos de todo mundo —, procurou por Jamie com mais afinco.

E, embora tivéssemos procurado por Jamie por dois meses, ele não estava na floresta. Enquanto voltávamos para as cavernas, percebi o quanto Susi era admirável e que deveria ter me aproximado dela antes. Eu a amava verdadeiramente; dois meses em que ficamos “trancados” dentro de uma floresta, sustentando nossas dores e superando nossos medos nos fizeram nos conhecer. E eu passei a admirá-la e a amá-la com uma força invencível.

Ela tinha ganhado, apesar de não saber naquele momento. Tinha ganhado uma história e uma luta. E sobreviveria. Todos sobrevivem a algo terrível durante a vida, e com ela não seria diferente. Com ninguém é diferente.

No entanto, Jamie já estava nas cavernas com Ian e Peg quando voltamos. Eles tinham vivido por dois meses infiltrados em meio às almas e puderam voltar com segurança para as cavernas. A família estava completa novamente. Eu tinha Sunny, Ian, Susan e um lar. O meu lar. E estava imensamente feliz.

Mas, quando pensei que mais nada pudesse acontecer, o inesperado chegou.


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Notas finais do capítulo

Foi somente uma retomada explicando do parentesco da Susan com os O'Shea. Nada que quem tivesse lido Almost Human e Another Life já não soubesse; somente foi apresentada a reação de Kyle diante de todos os acontecimentos. Ainda assim, quero saber sobre a opinião de vocês! E muitas surpresas aguardam o próximo capítulo - que já nos traz ao presente -, então preparem seus corações!
Até sexta :*