We Both Changed escrita por MsNise


Capítulo 11
Ganhando


Notas iniciais do capítulo

Sexta-feira (ou noite de quinta) e aqui estou eu com mais um novo capítulo! Mais um pouquinho do relacionamento do casal mais improvável da literatura ♥
Espero que goste :3



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Foi na segunda semana. Durante duas semanas, Sunny e eu agimos como se nada tivesse ocorrido. Nem o beijo nem a discussão crucial. Ela continuava me acompanhando continuamente — salvo durante as horas de trabalho que cada um se dirigia a um lugar — e não tocava no assunto. Pensei que ela tivesse esquecido, mesmo percebendo o quanto ela demorava para dormir e como o sono dela tinha se tornado agitado.

Queria conversar com alguém sobre isso, mas a mera menção de eu admitir em voz alta para um humano que estava perdidamente apaixonado por uma alma era apavorante. Uma atitude repugnante? Com certeza. O meu único consolo era que eu ainda era humano e humanos erram, mesmo que o meu erro não tivesse justificativa.

Pensei em ir conversar com Ian, pelo menos, no entanto essa era a conversa que mais me apavorava. Justo ele que eu havia criticado por se apaixonar por uma alma. Justo a alma dele que eu tinha tentado matar. Não, Ian não. Fora de cogitação.

Depois pensei em Jared, mesmo que não tivéssemos muita intimidade. Pensei que ele pudesse talvez me entender porque a Melanie voltou realmente com uma alma na cabeça… e ele nunca desistiu dela. Provavelmente me consideraria fraco por eu abandonar a ideia de conseguir Jodi novamente e aceitar Sunny.

Considerei Peg. Peg era amiga de Sunny, a primeira que realmente a acolheu. Além de tudo, ela havia se apaixonado pelo meu irmão humano e deveria saber ou, pelo menos, ter alguma ideia de como Sunny se sentia. Isso, é claro, se Sunny já não tivesse contado para ela.

Procurei-a durante uma tarde em que finalizei o meu trabalho antes da hora. Torci para ela não estar com Sunny e, desse modo, eu não precisar justificar a sua saída. Ignorei os trabalhos mais pesados e segui direto para a cozinha. Peg fazia pão com frequência, mas naquele dia ela não estava lá. Segui então para o lugar onde estavam fazendo sabão e Peg também não estava lá. Decidi então ir para o riacho onde costumavam lavar as louças e… bingo!

— Ian foi muito corajoso aquele dia, sabe? — era a voz de Susan que, naquela época, era simplesmente uma humana qualquer nas cavernas. Nada que pudesse mudar a minha vida.

Peg não respondeu imediatamente, no entanto eu vi um sorriso em seus lábios quando ela olhou para Susan.

— Ele brigou com Jared só para te salvar — Peg comentou soltando um risinho em seguida, mas quando Susan respondeu um clima sóbrio pareceu ter caído sobre elas.

— Eu sei.

Depois disso não houve mais conversas e me senti livre o bastante para caminhar até elas e solicitar a presença de Peg. Susan me encarou com o cenho franzido e eu a respondi com apenas um dar de ombros.

— Pode terminar isso aqui para mim, Susi? — Peg perguntou, levantando-se e secando sua mão no pano que a garota segurava. Sua resposta foi um dar de ombros idêntico ao meu.

Conduzi Peg através dos corredores e entrei em algum aleatório e aparentemente vazio. Ela não falou comigo enquanto andávamos e simplesmente me seguiu em silêncio. Ela não me temia; pelo contrário, confiava que eu não fosse levá-la até a sala de banhos e tentar matá-la novamente. Estremeci com a lembrança de minha crueldade.

Parei no meio do caminho em um lugar que eu considerei seguro. Virei-me para ela e não consegui distinguir muito de seus traços. Não estava muito claro onde estávamos. Se tivesse alguém escondido, poderia ouvir a nossa conversa… Que se danasse!

— Eu beijei Sunny, ela pediu um tempo e faz duas semanas que ela age como se nada tivesse acontecido entre nós — despejei tudo de uma única vez, fazendo Peg se retrair um pouco. — O que eu faço?

Ela respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos da calça que estava usando.

— Certo — ela murmurou em uma voz calma. — Como foi isso exatamente? Você forçou? Foi um beijo surpresa? Ela sabia da sua intenção? Ela simplesmente pediu um tempo sem mais explicações?

E então eu contei os detalhes para Peg. Contei sobre o ano que eu esperei, sobre o fato de eu tê-la beijado, ela ter me ignorado, eu tê-la beijado novamente, ela ter pedido um tempo e ela agir como se absolutamente nada tivesse acontecido.

— E o que você esperava, Kyle? — pelo tom de Peg, ela parecia falar com uma criança. Franzi o cenho diante de suas palavras. — Esperava que ela te correspondesse e agisse como se você fosse namorado dela assim, de primeira? Você acha que Ian e eu, por exemplo, engatamos em um relacionamento logo depois daquele beijo no consultório de Doc? Acha que não houve dúvidas e, principalmente, tempo?

— Mas já faz duas semanas! — protestei em uma voz desesperada.

— E você vai esperar mais um ano, se for o que Sunny desejar — ela retrucou e em seguida sorriu. — Ela teve que esperar um ano sem reclamar, não é?

— É diferente — murmurei.

— Com certeza é diferente — ela concordou, balançando a cabeça e saindo de perto de mim. — Apenas pense em como isso é diferente.

Como isso é diferente? O que Peg queria dizer com aquelas palavras? Sunny teve que esperar durante um ano, mas eu ainda procurava por Jodi e tentava superá-la. Era um caso diferente. Agora eu a estava dando tudo o que ela sempre quis: o meu amor, sem objeções, sem outra pessoa para nos separar. Não era justo eu ter de esperar. Já tinha esperado tempo o suficiente.

E então eu entendi.

Sunny também tinha o direito de me fazer esperar. Eu era realmente tudo o que ela queria, no entanto como ela poderia agir normalmente comigo, como se sempre tivéssemos nos amado reciprocamente? Ela com certeza merecia esse tempo e eu não queria dá-lo a ela por puro… egoísmo.

Essa era a diferença. Ela me deu o tempo que eu precisava sem reclamar e somente agora eu percebo o quanto tudo isso deve ter sido torturante para ela. Esperar, sempre esperar, sem saber se eu a aceitaria algum dia. Ela estava sendo altruísta, deixando-me pensar e me acostumar até eu tomar a minha decisão. E o que eu estava fazendo com ela? Exigindo uma decisão rápida. Eu tinha tido o meu tempo para me acostumar, ela teve o tempo de esperar.

E então invertemos a situação.

Que criatura deplorável eu era!

Passei o resto do dia preocupado com aquilo que Peg havia me dito. Eu era egoísta e certamente Sunny não merecia isso, então como eu simplesmente poderia dizer isso sem magoá-la? Ela tinha que encontrar alguém que realmente a fizesse feliz, não uma deplorável criatura egoísta que nem mesmo se importava. O pior é que eu me importava. Estava confuso com tanta informação.

Decidi que deixaria passar aquela noite até eu reorganizar minha mente. Sunny se enroscou em mim como sempre, demorando para dormir. Não… não… Kyle, Jodi… Não…”. Poucos minutos depois de cair em um sono agitado, acordou com um grito agudo de dor. Mesmo que meio desorientado, prendi-a contra mim e tentei acalmá-la.

— Foi um pesadelo — sua voz parecia descontrolada. Ela se segurou mais a mim enquanto tentava acalmar a respiração. — Era a Jodi falando que desistiria de você e não tinha nada que a prendesse à Terra.

Ela estava tremendo. Mesmo que eu também estivesse nervoso com o pesadelo dela — que, na verdade, era apenas uma lembrança —, tentei acalmá-la. Era uma lembrança que me afetava muito, mas não queria assustá-la dizendo que aquilo tinha sido real. Que não era apenas um pesadelo.

— Shh — acariciei freneticamente seu braço. — Está tudo bem. Tudo bem. Tudo bem…

Ela ficou presa a mim até sua respiração se acalmar. Seu rosto estava empapado de suor e seus olhos estavam distantes, consternados. Ela demorou a relaxar em meus braços. E, mesmo depois de relaxar, levou um tempo para encontrar sua voz.

— Kyle — ela sussurrou timidamente, erguendo seu olhar para mim. Seus olhos estavam vivos e atentos. — Eu nunca desistiria de você. Nunca. Eu… queria que você soubesse disso.

E só então, olhando em seus olhos, eu percebi a verdade de meus sentimentos. Ela não me deixaria, não desistiria de mim. E eu… não desistiria dela. Jodi era outra vida e eu não a desejava mais; desejava ardentemente Sunny. Eu a amava. Eu a queria comigo. Precisava dela.

— Eu também nunca vou desistir de você, Sunny.

Seus olhos estavam marejados.

— Mas… Kyle, e a Jodi?

— Ela desistiu de mim uma vez — tentei ignorar o corte da navalha em meu coração. — Já está na hora de eu deixá-la no canto dela. Sunny, acabou com a Jodi — a verdade das minhas palavras fez minha voz tremer ligeiramente. — E é de você que eu não vou desistir.

— Foi só um sonho — ela protestou em voz baixa. — Ela não desistiu de verdade de você, não é?

Encarei o teto acima de minha cabeça.

— Não foi um sonho — sussurrei. — Foi uma lembrança. Jodi desistiu de mim, Sunny. E talvez ela tenha se arrependido pouco antes de ser capturada… — fechei meus olhos e expulsei as lágrimas deles. — Mas ela realmente disse que não tinha nada que a prendia à Terra.

— Ela disse que não aguentava mais perder ninguém pouco antes de ser capturada…

— Então não faria mal nenhum se ela mesma se perdesse, não é? Não se incomodava com o que a perda dela pudesse causar — respirei fundo. — Sunny, ela não era como você. Ela não se importava com o que os outros pensavam. Era egoísta, tanto quanto eu.

— Mas você nunca desistiu dela. E, até onde sei, isso não é egoísmo.

— Agora eu desisti.

— Naquela época, quero dizer — ela se apressou em me responder. — Você se esforçou tanto por ela Kyle. Sinto muito que ela não tenha se esforçado por você também.

— Mas ela escolheu morrer no meu lugar, Sun — engoli em seco. O teto da caverna não era capaz de me distrair. — Isso foi o suficiente para eu perdoá-la.

— Não foi intencional, você sabe — ela murmurou parecendo culpada. — Quando ela se jogou na frente do Buscador não foi como se ela estivesse entregando a vida por você. Era mais como… Ah, Kyle, era mais como um pavor e um impulso. Como se ela quisesse conferir o que estava acontecendo.

Nunca tinha pensado por aquele ângulo. Na minha mente Jodi tinha dado sua vida por mim no último momento… mas tinha sido uma falha do Buscador. E uma falha dela. Talvez ela não quisesse me proteger. Talvez só tivesse se sobressaltado e corrido conferir em um momento de azar…

— Mas você devia perdoá-la mesmo assim — Sunny acrescentou apressada. — Ela te salvou de verdade, Kyle — e então balbuciou tão baixo que pensei que tivesse sido ilusão. — Ela te salvou e te colocou na minha vida. E eu a agradeço tanto por isso… — ela ficou alguns segundos em silêncio. — Eu morreria no seu lugar, Kyle. E nunca vou desistir de você, não importa o que aconteça.

Não era como se eu estivesse desistindo da Jodi, não realmente. Era só uma aceitação. Aceitação de que tudo entre nós havia acabado, que ela não voltaria para mim e que eu tinha o direito de ser feliz. Ter Sunny tão bondosa ao meu lado prometendo que sempre me apoiaria e que não desistiria de mim me fez perceber o quanto eu tinha me tornado um cego. Eu nunca desistiria dela também. Eu queria Sunny.

Estar apaixonado por ela já não era uma novidade. Mas era mais do que aquilo, mais do que uma paixão desenfreada. Eu a amava. Porque não somente me contentava que ela me fizesse feliz; queria desesperadamente que ela fosse feliz também. E providenciaria de tudo para fazê-la a mulher mais satisfeita do mundo em sua prisão nas cavernas.

Abaixei minha cabeça e deixei que nossos olhares se encontrassem.

— Sinceramente, Sunny… eu nunca vou desistir de você também.

Ela continuou sustentando o meu olhar até o momento em que me rendi e encostei nossos lábios. Ela não tentou se afastar de mim. Pelo contrário, prendeu-se ao meu corpo confortavelmente enquanto eu a beijava da maneira mais gentil que conseguia. Estava imensamente feliz em tê-la em meus braços. Ter Sunny em meus braços, não Jodi, não o fantasma que nos rodeava e me impedia de amá-la.

Agora eu entendia. Eu havia amado muito Jodi, até a sua forma mais fria e irritada, e, no entanto, ela era uma vida passada. Uma vida que eu não gostaria de voltar. Preferia a minha vida segura nas cavernas. Preferia, principalmente, Sunny, o retrato da delicadeza e da bondade. Eu amava Sunny, a centopeia prateada que controlava o corpo, não apenas o corpo. Eu amava, mesmo que de uma forma diferente, o brilho prateado nos olhos que antes eram totalmente humanos. Eu amava sua delicadeza, sua vulnerabilidade e sua força para me suportar mesmo quando eu não a queria totalmente. Eu amava que ela quisesse me proteger. Eu amava amar e ser amado.

— Kyle — ela sussurrou ofegante contra meus lábios. — Eu não trocaria essa vida que tenho agora, trancada dentro de uma caverna com pessoas que certamente gostariam de me aniquilar, pela liberdade do mundo das almas ou pela imortalidade que tenho a oportunidade de ter — abri um pouquinho meus olhos, vendo sua pele oliva perto de mim. Estávamos tão próximos que eu não conseguia distinguir claramente o que via. — Esperei tanto por isso…

— Então venha cá — sussurrei agoniado, prendendo sua nuca com a minha mão e puxando seus lábios para os meus novamente. Ela soltou um suspiro satisfeito, relaxando em meus braços.

Era mais do que eu havia pedido. Nunca pensei que eu pudesse ficar tão feliz em ter uma alma segura em meus braços, dizendo pelas entrelinhas que me amava. Senti minha pele arder nos lugares em que Sunny estava encostada. Era tão agradável, real, brando, delicado e gentil que não parecia que estava acontecendo comigo. Mas irremediavelmente estava, e eu não pude conter um sorriso diante dessa perspectiva.


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Notas finais do capítulo

E entããããão? O que acharam? O nosso casal finalmente juntos, assumidos, lindos, perfeitos ♥ Digam-me suas opiniões!
Até sexta que vem :3



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