Já fazia um mês que tinha passado a temporada na floresta com minha irmã mais nova. Durante o dia tínhamos nos divertido jogando futebol e depois dançamos ao som de uma música tocada por Ian. Tinha sido um dia diferente e agradável, que me fez sentir como se eu fosse verdadeiramente um humano e não vivesse em um contexto de fim de mundo. Não que eu estivesse reclamando, mas me senti especialmente vivo. Completo.

— Acho que você devia se vestir, Kyle — Sunny comentou, sentando-se na beirada de nosso colchão.

Tinha acabado de sair de um banho quente e relaxante e vestia somente uma calça larga de moletom. Estava deitado com as mãos atrás de minha cabeça simplesmente observando enquanto Sunny guardava algumas roupas. Porém, quando ela acabou o seu trabalho e fez aquele comentário malicioso, um sorriso torto não pôde ser evitado.

— Por que está incomodada com a minha falta de roupa, Sunny? — questionei, sentando-me na cama e me aproximando dela, que corou imediatamente. Seus olhos se desviaram para o meu peito definido. — Algum problema?

Ela engoliu em seco, tendo problemas para respirar.

— Nenhum — ela respondeu. — É só que…

Ela parecia encabulada, sem conseguir completar a frase ou sustentar meu olhar. Sunny parecia tão vulnerável e, ao mesmo tempo, decidida. Como quando me disse aquela frase com um forte tom de malícia e logo em seguida não soube o que fazer.

Minha mão avançou para o seu pescoço, enterrando-se no seu emaranhado de cabelos. Seu pescoço estava quente e pulsante. Engoli em seco.

— O que foi? — murmurei de forma atenciosa, procurando por seu olhar.

Ela respirou fundo.

— São as lembranças que eu tenho de você e Jodi — ela esclareceu sem retribuir o meu olhar cuidadoso. — E eu queria sentir o que ela sentiu. Só que… eu não consigo ser espontânea como ela. Eu não sou ela.

Balancei minha cabeça negativamente.

— Você não tem obrigação nenhuma de ser ela — tranquilizei-a, um sorriso tomando forma em minha face. — E eu… quero que seja você — ela pousou sua mão sobre a minha. — Sunny… — minha voz não passava de um sussurro. — Eu preciso que seja você.

Seu pescoço ainda pulsava. Ela parecia perdida, sem saber para onde olhar e que rumo tomar. Sua respiração falhava.

— Não sei como prosseguir — ela admitiu, fechando seus olhos e corando delicadamente. — Mas eu quero muito. Muito mesmo — ela fez uma pausa tomando uma decisão. Por fim, disse: — Me conduza, Kyle. Leve-me para um lugar onde eu nunca estive antes.

Seu pedido me deixou estarrecido. Como continuaria? Com Jodi era uma coisa — ela era humana e tinha seus desejos carnais fortes e evidentes —, contudo com Sunny era um milhão de vezes diferente. O mais longe que fomos foram alguns beijos intensos e comportados em nossos aposentos. Ela era tão delicada, suave e vulnerável. Sentia que se a tocasse com a dose de força errada poderia quebrá-la em pedacinhos. Desmontá-la.

No entanto, ela não esperava que eu recuasse. Tendo acesso às lembranças de Jodi, conhecia o meu jeito objetivo e apaixonado. Em sua mente, eu não vacilaria. Como deveria agir? Obviamente, eu queria muito, tanto quanto ela. Talvez mais. Estava inseguro pelo fato de não saber a dose certa, a paixão certa. Estava totalmente inseguro.

Apesar disso, aproximei-me de seu rosto. Sua respiração quente se confundiu com a minha segundos antes de eu encostar nossos lábios com delicadeza. Suspirei em sua boca, intensificando o beijo, afundando-me em sua boca. Sua mão fria encontrou a curva entre meu pescoço e meu ombro e permaneceu lá enquanto eu avançava as minhas mãos para a sua cintura diminuta.

— Sunny — sussurrei, deslizando minha boca para o seu ouvido.

— Você pode fazer isso — ela murmurou, abraçando-se a mim.

Suspirei. Minhas mãos alcançaram a barra de sua blusa e eu a puxei para cima e um movimento rápido e sedento. Voltei a me ocupar com sua boca cálida e suave e ela me correspondeu com veemência. Suas mãos exploravam o meu pescoço e ela parecia entregue. Sua pele queimava sob o meu contato firme e ávido e ela parecia satisfeita ao desfalecer em meus braços e me deixar conduzi-la.

Beijei cada centímetro de seus ombros e seu pescoço, romanticamente, delicadamente. Ela apertava meu corpo, entregue, firme em sua decisão. Senti sua boca beijando meu pescoço. Senti suas mãos ávidas deslizando pelos músculos de meu braços e pelo meu peito, tão suavemente que parecia minha imaginação. Prendi-a em meus braços, beijando-a, agradando-a, acariciando-a.

Puxei Sunny para o meu colo enquanto a beijava apaixonadamente. Senti o tecido de renda de seu sutiã e deslizei as mãos delicadamente por suas costas, tentando encontrar o fecho. Ela desistiria? Minha outra mão estava firme em sua nuca, acariciando a base de seus cabelos.

Mas então…

Sua postura mudou de repente. Logo ela começou a se debater em meus braços e a tentar sair deles. Confuso, tentei segurá-la e, no entanto, ela continuava a me rechaçar violentamente. Quando finalmente a soltei, ela se ajoelhou na cama e fechou seus olhos, respirando ofegantemente. Por alguns instantes analisei-a somente com sua calça e com seu sutiã azul-marinho. Não parecia a Sunny; eu nunca tinha a visto daquela forma. Ela sofria. Eu podia ver em seu cenho franzido, em sua expressão concentrada. Concentrada para quê?!

— Sunny…?

Seus olhos se abriram.

— Não me chame assim! — ela gritou. Sunny não costumava gritar… e também não costumava me olhar com tanta fúria. Espera, o que ela tinha dito? — O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO?!

Eu nunca tinha conversado sobre aquilo com Jared. E nem precisava. Eu sabia que os humanos podiam tomar o controle das almas, somente precisavam de força e de algum evento que os chocasse e, portanto, os fortalecesse…

E, naquele instante que os olhos de Sunny, prateados, dominados, se abriram, eu soube. Eu tive certeza. Não era Sunny. Não era a alienígena que controlava o corpo, a alienígena pela qual eu havia me apaixonado.

Era Jodi.

Jodi tinha voltado.