Beijo de uma rosa escrita por TessaH


Capítulo 2
Conto 01 - Breve vida




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Conto 1 – Breve vida

Like A Prayer

“A vida é um mistério. Todos devem permanecer sozinhos. Você não é aquilo que parece ser.”

Draco não gostava de frequentar as festas, cujos convites eram ricamente ornamentados e enviados para a Mansão. Ele sabia que definitivamente teria que bancar o velho Draco, a versão mais nova de seu pai, Lucius, e no meio daquela alta sociedade bruxa puro-sangue, ele odiaria cada diálogo e depois odiaria cada uma daquelas pessoas que insistiam em organizar festas para esbanjar. Porém desta vez não havia escapatória: era o casamento de um de seus antigos amigos de Hogwarts.

Draco lembrava vagamente de Theodore Nott, mas de Daphne Greengrass não esqueceria.

– Como ele conseguiu casar com ela? – o homem se perguntou, divagando em suas lembranças de tanto tempo. Depois da derrota de Lord Voldemort e o triunfo de Harry Potter, tudo mudara para a família Malfoy. Mesmo que seu pai tivesse sido libertado de Azkaban depois de entregar outros comensais, os Malfoy só caíram em desgraça a cada dia. Draco tinha decidido não voltar a Hogwarts – uma escolha perspicaz, digamos – para ajudar a família que tanto necessitava dele. Embora fosse a escória no mundo bruxo pós-guerra, eles ainda possuíam uma afortunada conta no Gringotes que precisaria renovar-se para se perpetuar. O jovem Malfoy era mais afim de Poções no colégio, mas agora nada poderia fazer no mercado bruxo, pois todos o odiavam. Seu orgulho era muito grande por ser Malfoy e ninguém poderia tirar-lhe aquilo, mas ele não seria humilhado aos outros, por isso contentou-se em manter as finanças estáveis na Mansão até que pudesse ter outra ideia.

Lucius nada mais poderia fazer, pois suas estadias na prisão o mudaram permanentemente, física e mentalmente. Narcisa precisava claramente de seu filho para se sentir segura e agora os pais de Draco não tinham mais condições de se manterem sozinhos, e visto que ele agora era maior de idade e um homem, Draco Malfoy tomou conta da situação.

– Querido? – Narcisa bateu na porta do quarto de Draco. – Então... Confirmo presença no casamento de Theodore Nott?

Draco sacudiu a cabeça, livrando-se dos pensamentos.

– Hm... – ele pigarreou só para sua mãe ficar mais ansiosa, porém os dois sabiam que sempre que ela lhe pedia para confirmar o convite é porque já o tinha feito e estava apenas avisando-o. – Claro, mãe.

Narcisa esboçou quase um sorriso.

– Tudo bem. Quando iremos ao Beco falar com a costureira?

Draco suspirou. Sua vida resumira-se a planejar roupas de festas, gastando cada vez mais, com seus velhos pais? Mesmo após seis anos da guerra?

Aquilo não era nem uma vida, mas era o que ele ainda possuía.

*§*

– Não consigo me lembrar com clareza de Daphne Greengrass, Draco. – Narcisa Malfoy anunciou enquanto via o filho se arrumar para o casamento que iriam. – Vocês eram próximos em Hogwarts?

Pelo espelho, Draco viu a figura magra e ereta de sua mãe em sua poltrona verde. Ela passava os longos dedos pelo braço de onde estava sentada e isto indicava um nervosismo contido. Sempre era assim. Ela ficava nervosa por lembrar-se pouco da sua antiga vida, já que viveram presos na Mansão todos esses anos, e tinha consciência de que não era a mesma. Ninguém o é, pensou amargamente Draco.

– Mais ou menos. – ele respondeu e ajeitou a gravata de fino tecido. – Ela era mais amiga da Pansy e nos víamos em alguns momentos.

– Oh. – a mulher respondeu. – Claro, claro. E ela era bonita?

Draco pensou rapidamente onde sua mãe queria levar aquele diálogo.

– Sim. Alta, magra, loira. – respondeu. – Orgulhosa.

– Como todos os sonserinos verdadeiros devem ser. – Narcisa sorriu, presunçosa.

Draco ainda escutava conversa como essas de seus pais e o irritava, mas ficava calado.

– Lembra-se da família dela? – continuou a mãe.

Draco bufou.

– Não me recordo, não, mãe. Desculpe, mas por que quer saber de tudo isso?

– Sabe que não quero cometer nenhuma gafe na festa! Gostaria de saber os detalhes, apenas isso.

– Ok. – Draco terminou e virou-se. – Lembra-se de Theodore?

– Sim, sim. – Narcisa acompanhou o filho para fora do quarto. – Não preciso de um dossiê de um velho amigo seu.

Draco limitou-se a assentir, contendo-se em perguntar a mãe o que era amigo, pois se Theodore o foi, Draco não saberia o que era amigo.

– Papai onde está? – os olhos cinzentos de Draco varreram a sala.

– Ele insistiu em ir conosco – Narcisa falou mais baixo. – Sabe como ele vem doente esses dias, porém recusou-se a ficar.

– Sei como ele é.

Draco ficou ao lado da mãe, esperando pelo pai – que descia miseravelmente a escada – e aparataram até onde aconteceria o casamento.

*§*

O casamento tinha ocorrido e Draco já cumprimentara os noivos e, por mais incrível que fosse, ele conseguiu notar sentimento em Daphne e Theodore, o que acharia impossível. Meio amargurado e com uma inveja de algo por seus conhecidos, Draco decidira que beberia para aproveitar a festa, afinal era tudo tão luxuoso que as bebidas também deviam sê-lo.

No salão, existia a parte das mesas com convidados, a área para dançar e mais reservada – por traz de escuras portas – tinha a mesa do bar com uma pista de dança diferente da que tocava lá fora. Era... Aconchegante para alguém que não queria falar com ninguém.

Já estava na sexta, sétima, oitava dose de uísque quando fora surpreendido.

– Por Merlin! – uma mulher sentou-se abruptamente ao seu lado e agarrou seu antebraço, forçando-o a quase cuspir a bebida fora. Ele iria gritar com ela, saber o porquê daquilo, mas ela o calou antes.

– Eu... Ai, Merlin, não dará para explicar nada! – o rosto branco e fino dela o fitou, os olhos verdes arregalados de temor. – Eu vou fazer uma coisa por um bom motivo, depois explico, me desculpa!

Draco franziu o cenho, vendo a mulher olhar para a porta e depois para ele e então o agarrou, aproximando-se ainda mais de Draco e suas mãos geladas alcançaram os lados do rosto dele. E o beijou.

Atônico, Draco não reagiu. Talvez pelo susto ou por ser uma mulher como ela. Durante todos os anos ele não tivera nada mais que alguns casos com bruxas da alta sociedade, então suas necessidades eram saciadas por outro tipo de mulher; o que era totalmente diferente de estar sendo beijado por uma mulher... Como aquela.

Quando tomou consciência, após as mãos da mulher passar por sua nuca e a outra descer em suas costas, Draco reagiu e a beijou do mesmo jeito feroz. As mãos do Malfoy tomaram conta das costas nua dela e do cabelo solto que cobria sua nuca, puxando-o para aprofundar a proximidade.

Em fim, eles se separaram em busca de ar. Draco arriscou dar um olhar à desconhecida e a viu, a face tão branca contrastando com os lábios extremamente vermelhos. Os olhos piscaram lentamente, as pestanas descansando na maçã da bochecha. Ela segurou o ar e suspirou aliviada logo depois.

– Bom... – ela se pronunciou, quase evitando encarar os indagadores olhos cinza-gelo.

– Estou esperando uma explicação. – Draco disse e não percebera o tom cortante que sua voz adquirira.

– É o seguinte: eu tenho um probleminha com meu ex-namorado... – ela torceu as mãos nervosamente. – E ele meio que ficou obcecado e você deve saber o quão chato isto é, então eu tive que fugir e encontrar algum cara para que fingisse ser meu atual namorado, que eu fui inventar para ele me deixar em paz e... – ela gesticulava loucamente e tocou o braço de Draco de novo. – Por favor, me diga que não é casado e que minha situação não ficou ainda pior!

– Não sou.

– Aleluia! Nem comprometido, é?

– Não. – ele grunhiu, sentindo uma dor de cabeça se aproximar. Pediu outro drinque depois de beber o outro de uma vez só.

– Me desculpa mesmo. – a mulher continuava a ladainha. – Como posso me desculpar com você? Parece que pedidos não bastam.

– Pode ir embora. – Draco não estava com mais vontade de continuar a vê-la e se lembrar do beijo que trocaram. – É, pode me deixar sozinho novamente e resolver sozinha o problema com seu namoradinho.

– Ele não é mais meu namorado! – ela protestou e depois o olhou, esboçando um sorriso maroto. – Oh, oh, Merlin. Você é o Draco Malfoy?

Ele sabia o que se seguiria: a mulher o olharia com repúdio e diria coisas como “não tem vergonha do que fez ao mundo bruxo?” “como pôde seguir Voldemort?”. Essa era uma das razões que fugia dos eventos com bruxos. Porém se surpreendeu ao encarar a mulher duramente e vê-la recostada confortavelmente ao banco e olhá-lo sorrindo.

– Sou. E você...? – ele perguntou apenas para manter o nome dela bem longe das suas vistas e evitá-la para todo o sempre.

– Não acredito que beijei Draco Malfoy! – ela exclamou, ignorando-o. – Uau! O que falarei de você nas rodas sociais e confessar que você beija muito bem? Estou encrencada.

Draco poderia estar surdo, só podia. Pediu mais uma bebida.

– Acho que você está bebendo demais.

– E você é muito intrometida.

– Ah – ela abanou o ar com a mão. – Uma das minhas qualidades.

Ela tagarelou sobre como fugia do ex-namorado e Draco escutava bem pouco, querendo ficar sozinho ou ir para casa o mais cedo possível, dormir e se livrar da dor de cabeça. Mas a curiosidade para saber o nome dela não o abandonava como o juízo com as várias bebidas.

– Acho que já passou da minha hora. – em algum momento ela disse. – Realmente desejo que nos vejamos uma próxima vez. Você é um ótimo ouvinte!

Ela riu e atraiu a atenção de Draco. Ele não se despedia, claro que não. Só a olhou, com o pouco de consciência que tinha, e ela pareceu ler a pergunta em seus olhos.

– Só direi meu nome depois que você responder sinceramente a minha pergunta.

Draco bufou. A mulher era um saco, além de atrevida demais para seu tamanho.

– Qual o gosto? – ela soltou. – Qual o gosto do beijo?

Draco não se envergonhava, ainda mais na frente e por causa de uma mulher. O silêncio era a melhor resposta, pois não tinha certeza se estava lúcido o suficiente ou idiota que responderia “rosas”, sem hesitar.

– Você não é muito de falar. – ela se aproximou e sussurrou, com a respiração quente batendo na bochecha de Draco. – Mas, além de uísque caro, você tem gosto de... Menta. Arde, mas é refrescante.

Draco riria das idiotices que ela falava, ou poderia dizer que era seu creme dental, mas quem ligava para ela?

Ela riu mais uma vez, da forma que agitava seu cabelo e diminuía seus olhos verdes enquanto aumentava o sorriso e mostrava sua fileira e dentes.

– Astoria. Astoria Greengrass. – ela disse. – Esse tem que ser nosso segredo.

Ela virou-se e não olhou para trás, com passos firmes se dirigiu para fora e desapareceu da vista de Draco.

Não podia ser a irmãzinha de Daphne, aquela criancinha que vinha citada em algumas cartas da irmã ou escondida nas fotos que ela recebia.

Não podia ser. Mas fazendo as contas, com a cabeça já grogue, ela teria que ter vinte anos, alguma ideia entre esses meios.

Ele voltou à bebida e tomou mais algumas.

Anos depois, Draco saberia que fora naquele inusitado encontro que sua vida se dividira em antes e depois. Antes, uma breve vida. Depois de Astoria Greengrass, uma vida com mistérios.


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